Emmanuel
Bezerra dos Santos
Militantes políticos assassinado pela
Ditadura Militar
EMMANUEL, DEUS ESTÁ CONOSCO
Edilson Freire Maciel (*)
Há nomes que trazem uma
carga arquetípica bastante forte. Vários relacionados a nomes de
santos, dados pela nossa formação judaico - cristã. Muitos deles vem
resgatar valores teológicos na esperança inconsciente de que os mesmos
incorporem um conteúdo místico, a saga de libertação e redenção
dos primeiros cristãos ou adeptos de Jahvé.
São comuns nomes como
Moisés, Isaías, Abraão, Jacó, José, João, Jorge, Marcos, Miguel,
Francisco, Thiago, Pedro, etc. Principalmente na região nordeste de
nosso país, área mais assolada pela miséria. Portanto, a expectativa
mística, a esperança de uma ação social der caráter esotérico, é
alimentada inconscientemente pelas multidões religiosas a procura de
Canaã, da terra prometida, do paraíso perdido, passando pelos Macabeus
e Canudos.
É nesse contexto que a
pessoa de Emmanuel se insere, na projeção arquétipo, de um animus
justiceiro e condutor de homens; o seu nome em hebraico significa Deus
conosco. É a justiça divina revelando-se na aspiração inconsciente
do povo, tendo o seu filho como mensageiro.
A soma das letras do seu
nome dá o número oito. Este número na iconografia do Taro representa
o arcano da justiça, o qual revela-se por uma mulher sentada com uma
coroa sobre a cabeça. Na sua mão direita empunha uma espada com a
ponta para cima e na mão esquerda segura uma balança. A sua roupa
predomina o vermelho e o azul, sendo o restante da figuras pintada em
amarelo.
Este arcano exprime justiça,
equidade, retidão, equilíbrio, plenitude; valores estes perseguidos
por Emmanuel. A balança representa a dualidade: O Bem e o mal, divisão
dicotômica em que se assentava sua ideologia, a nível interior há um
chamamento à individuação no sentido do equilíbrio entre os opostos,
o que ia de encontro ao pensamento político do mesmo. A espada é um
sinal de proteção para os bons e de ameaça para os maus. Foi nesse
sentido que ele assumiu esta anima ao abraçar a causa da revolução.
O vermelho e o azul, reúnem
os princípios masculino e feminino. Estas cores determinavam
comportamentos a nível do inconsciente dotando-lhe o vermelho para a
exteriorização e o azul para a interiorização; princípio feminino
de todo o processo de criação, daí o seu lado revolucionário e poético.
O azul é uma cor espiritual eis a sua religiosidade expressa na dedicação
à causa revolucionária.
O amarelo representa o
verbo, é a cor dos intermediários entre os homens e o céu, a todos os
grande iniciadores, aos condutores de almas. Não era sem razão o seu
nome Emmanuel - Deus conosco.
A sigla do seu partido
era constituída por três letra, o símbolo da santíssima trindade.
Tal algarismo representa o fogo. Em sânscrito a palavra vahni fogo e três.
A fração cabalística das três letras dá o resultado 1, cuja vibração
vermelha, significa poder e liderança, e a cor também representa a
bandeira de sua causa de significado profundamente altruístico. Este
altruísmo remonta dos heróis míticos; de Apolo, deus músico, deus da
adivinhação e companheiro das musas, o vencedor da serpente Píton em
Delfos; o dragão que reinava sobre as trevas.
Como cristão, Emmanuel
foi batizado com a água e o sal, símbolo da purificação. São João
Batista ao fazer alusão a Jesus, o anunciava como aquele que deve
batizar não mais com a água, mas com o fogo. João Batista já antevia
as provações por que ia passar o Cristo.
No movimento revolucionário
era comum a expressão: batismo de fogo, um simbolismo de maior provação
na vida de um revolucionário. Emmanuel teve inúmeros batismos nas águas
purificadas do mar de Caiçara do Norte, como também vários batismos
de fogo nesta página vergonhosa de nossa história que foram os
macabros cárceres da ditadura.
Como uma personificação
arquetípica, ele cumpriu a sua missão com estoicismo. As suas aspirações
tinham um fundo mitomístico inconsciente, ficando difícil delimitar as
fronteiras entre o real e o mágico. Esta aura mística, de mago, com
certeza ele trazia. Alguns companheiros o cognominavam de monge, talvez
pela sua calma, sabedoria ou obstinada esperança.
O Leviatã com as suas
garras assassinas lhe dilacerou a carne, roubando-lhe a vida, só não
matando a esperança de seu povo. Quando a Lua estiver lá no alto,
dependurada na cumieira do céu, os homens lembrarão de São Jorge
Guerreiro na luta contra o dragão, ele estará também inspirando
amores e poesias e nós diremos: Emmanuel, Deus está conosco.
(*) Ex-militante do PCR. |