Emmanuel
Bezerra dos Santos
Militantes políticos assassinado pela
Ditadura Militar
EMMANUEL, PRESENTE, PRESENTE,
PRESENTE!
Dermi Azevedo (*)
Emmanuel tinha paciência,
a firmeza e a simplicidade de um revolucionário. Nós, que descobríamos
no movimento estudantil os primeiros passos na luta por uma nova
sociedade, tínhamos nesse corajoso companheiro uma permanente
referencia.
Nos finais de tarde e
começo de noite, quando nos encontrávamos para um balanço das lutas
cotidianas, sempre ouvíamos dele palavras de encorajamento. Ele nos
lembrava o eixo central de nosso trabalho político: "Desgastar a
ditadura e formar quadros para a Revolução".
Incentivava-nos sempre
para o estudo, o aprofundamento teórico de nossa prática. Quantas
vezes nos reunimos para o estudo e debate em grupos, a partir da leitura
de clássicos da luta revolucionária. O pátio do antigo restaurante
universitário funcionava transformava-se, então, numa escola "sui
generis" em que tecíamos - o fim do arbítrio e o nascimento de
uma nova nação de homens e mulheres livres.
Lutávamos nas ruas de
Natal contra a submissão do Brasil aos vorazes interesses do
capitalismo internacional. Denunciávamos em nossas assembléias a
utilização dos mais empobrecidos do Rio Grande do Norte e do Nordeste
como cobaias de experiências "educativas", "made in
USA" e incipientes e massivas campanhas de controle da natalidade.
Enfrentávamos a diabólica
aliança entre os senhores das armas, do dinheiro e do saber oficial que
se uniam para reprimir a mobilização literária dos estudantes. E logo
passamos a sofrer as conseqüências de nossa adolescente conscientização.
Foi em meio à luta que
conheci Emmanuel. Foi ele que me fez conhecer, mais tarde, Manoel Lisboa
de Moura, revolucionário de Alagoas, andarilho da libertação do
Nordeste e do Brasil. Certa vez, encontramo-nos os três nos batentes de
uma escadaria da Ribeira para uma avaliação de nossas tarefas. Eu, um
aprendiz. Emmanuel e Manoel, mais experimentados, mais tarimbados...
Ao testemunhar
recentemente a exumação dos ossos de Manoel e Emmanuel em uma vala de
indigentes no cemitério de Campo Grande, zona sul de São Paulo,
disse aos legistas, policiais, coveiros e militantes de direitos humanos
que ali se encontravam: "Saibam todos vocês que estes ossos foram
o alicerce de duas grande personalidades, de dois lutadores que foram até
o fim na busca de um Brasil sem miséria, de uma América Latina sem
tantas desigualdades, de um mundo sem exploradores, nem
explorados". Na sepultura, encontravam-se camisas de flanela (era
quando ao algozes descontaram em Emmanuel e Manoel seu ódio contra a
justiça, a paz e a democracia). A terra também não destruiu as
chinelas de couro, tão usadas nas andanças dos camponeses
nordestinos...
Emmanuel volta agora à
nossa terra norte-riograndense. Com ele, todos aqueles que foram também,
um dia, de um modo ou de outro, vitimados pela sanguinária ditadura:
Djalma Maranhão, Luís Maranhão, Virgílio Gomes da Silva, Anatália,
José Silton Pinheiro, Kerginaldo e tantos outros, companheiros e
companheiras...
È este um momento de
reencontro do Rio Grande do Norte com sua memória, com sua história.
História de muitas gerações de revolucionários, desde a Comuna de
Natal em 1935 até à saga dos trabalhadores rurais por terra para
trabalhar e sobreviver. História também daqueles que se colocaram ao
lado dos opressores e que se apropriaram da atividade política deste
Estado em favor de interesses oligarquicos. Ou mesmo daqueles que
procuram esconder da própria historia a responsabilidade que tivemos
nos conchavos da repressão e da perseguição política.
Na permanente transmutação
da vida e da natureza, os ossos de Emmanuel transformam-se em poderosas
armas que atingem e sacodem as consciências acomodadas e despertam as
gerações de hoje para a sua responsabilidade na construção de um
mundo justo e fraterno.
A luta de Emmanuel,
Manoel e de tantos outros companheiros e companheiras do Rio Grande do
Norte não foi em vão. Os frutos já podem ser vistos na crescente
organização dos trabalhadores potiguares, na constituição da Frente
Popular de Natal, na administração popular e democrática de Janduís
cidade do Rio Grande do Norte, no trabalho do Centro de Direitos Humanos
e Memória Popular de Natal e em tantas outras iniciativas libertadoras.
Engana-se quem pensou que a luta revolucionária foi assassinada nos porões
da ditadura!
Por tudo isto, meu caro
Emmanuel, você está mais do que nunca presente, presente, hoje e para
sempre!
* Jornalista e dirigente
do MNDH - Movimento Nacional de Direitos Humanos. |