Emmanuel
Bezerra dos Santos
Militantes políticos assassinado pela
Ditadura Militar
IMAGENS... E A IMAGEM
DE EMMANUEL
Anchieta Fernandes P. (*)
Fui amigo de Emmanuel
Bezerra dos Santos. Fui companheiro em inesquecíveis bate-caixas sobre
temas literários. Nunca esqueci de um fato que demonstrou a sua modéstia:
ao ser lançado um concurso de critica literária sobre a obra de João
Cabral de Melo Neto, pelo jornal "Correio do Povo", nos
idos de 1963, Emmanuel me perguntou se eu ia participar do concurso,
e eu ao responder afirmativamente ele então disse que não iria mais
participar.
Mas Emmanuel Bezerra
dos Santos que eu acho importante recordar não è o jovem literato,
autor de alguns poemas bonitos, e sim o Emmanuel que foi Presidente
da Casa do Estudante do Rio Grande do Norte no ano de 1967, Aquele
foi um ano de dificuldades para a casa. No livro "História da
Casa do Estudante do Rio Grande do Norte", Aluisio Azevedo registra
que desde o inicio de 1967 a referida entidade estava passando por
sérias dificuldades financeiras, com enormes débitos agravados com
o corte da subvenção federal.
Aluisio diz textualmente:
"Talvez o mais triste de todos os registros encontrados nas atas
das sessões da Casa do Estudante, durante este período de seus 36
anos de existência, tenha sido o da reunião de 04 de abril de 1967,
onde se lê: "na despensa da instituição só havia o depósito de
02 sacos de feijão. Nem sal de cozinha havia. O débito era muito grande
e na Tesouraria havia um saldo de apenas quatro cruzeiros (Cr$ 4,00).
Pois bem. Emmanuel Bezerra
teve uma administração excelente, passando por cima das dificuldades,
reduzindo despesas e apelando por ajuda ao Governo do Estado, à Prefeitura
de Natal, à SUDENE e prefeituras do interior.
Era o Emmanuel dinâmico,
o Emmanuel que já demonstrara sua capacidade, agindo na direção do
jornalzinho "Boletim Mensal", do Grêmio Lítero - Cultural
Câmara Cascudo, da Casa do Estudante do Rio Grande do Norte, onde
o próprio Emmanuel escrevia artigos sobre o papel da burguesia nacional
no momento histórico que então vivíamos, e onde se revelaram os futuros
jornalistas da cidade, como João Batista Machado (escrevendo sobre
o problema do sal na economia do RN). Na época, o grêmio literário
da Casa do Estudante estimulava bastante as atividades culturais,
promovendo concursos de prosa e poesia, palestras dos intelectuais
da cidade no recinto da casa, exposições de artes plásticas dos residentes.
Depois, o Emmanuel tornou-se
ativista político, ingressando nos "aparelhos" que atuaram
em quase todo o país. Perdi contato com ele. Eis que de repente, em
certo dia dos idos de 1973, a reportagem sensacionalista do "Diário
de Natal" noticiava que fora assassinado em São Paulo, em troca
de tiros com a polícia, o "terrorista" Emmanuel Bezerra
dos Santos. Ilustrando a matéria, a foto mostrando o rosto sereno
de Emmanuel, com aquele olhar inteligente e aquele bigodinho misto
de nordestino e mexicano, aquela enorme testa, os cabelos alisados
para trás, romântico, a boca sensual meia aberta em um quase sorriso.
* Jornalista e escritor. |