Comitê
Estadual pela Verdade, Memória e
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de Concentração no RN
Torturas
na Base Aérea de Natal 1952-1953
Coleção Repressão
no RN - Volume 07
Apresentação
Na
esteira da Guerra Fria
Maria
Conceição Pinto de Góes
Capítulo do Livro
A Aposta de Luiz Ignácio Maranhão
Filho, páginas 82 a 101
“Mas
o tempo não espera,
O círculo não é redondo.”1
O
mundo repleto de mudanças ao final
da Segunda Guerra Mundial com a vitória
das forças democráticas, comportando
em seu interior os dois sistemas, o capitalista
e o socialista, partia para uma nova reordenação.
Embora ainda vigorassem, começavam
a se esfacelar os impérios coloniais.
O socialismo apresentava-se como uma alternativa
para as jovens nações e também
para os povos que viviam na periferia do
sistema capitalista, numa situação
de pobreza e dependência. O capitalismo
não era mais, portanto, a única
possibilidade para os povos mais pobres.
Essa questão levava à bipolarização
do mundo entre o Ocidente capitalista e
os comunistas, estes acrescidos pela China.
Um terço dos homens viviam sob o
socialismo.
Os Estados Unidos da América formavam
o Estado economicamente mais forte do pós-guerra
e acreditavam falar em nome da democracia
e da liberdade.
Começava a Guerra Fria.
Em 1946, em Fulton, Estados Unidos, o primeiro-ministro
inglês Winston Churchill explicou
o sentido da Guerra Fria. E, ao fazê-lo,
chamou a atenção dos Estados
Unidos para a nova missão que esse
país deveria desempenhar na liderança
do mundo capitalista. A esse país
caberia, também, centralizar as decisões
e as ações necessárias
à preservação e expansão
do capitalismo. Acreditavam que o confronto
com os comunistas, ou o que consideravam
como os conflitos entre o Ocidente e os
Estados comunistas, seriam indiretos e,
portanto, poderiam ser deslocados para o
Terceiro Mundo, nas áreas subdesenvolvidas.
O presidente Truman declarava que a paz
dependia da vitória da democracia.
E, assim, a “Doutrina Truman”
justificava as intervenções
norte-americanas em assuntos internos de
outros países. Os norte-americanos
começavam a capitanear a recuperação
da Europa e do Japão.
Na América Latina, a política
da boa vizinhança de Roosevelt,
que vigorara durante a década de
30, ia sendo substituída por uma
política intervencionista e agressiva,
nos moldes da ação imperialista
e na ideologia da Guerra Fria. Para tanto,
fora criado o Ponto IV, um projeto que visava
dar assistência e cooperação
aos países subdesenvolvidos.
Nessa conjuntura, foi instalada, em 1948,
no Chile, a Comissão Econômica
de Estudos para a América Latina
(Cepal), órgão ligado à
Organização das Nações
Unidas. Nessa instituição,
intelectuais latino-americanos desenvolvem
e aprofundam o estudo da teoria da dependência
econômica, constatando, através
de análise histórica, que
o desenvolvimento e o subdesenvolvimento
são partes de um mesmo processo,
resultado das trocas desiguais entre o centro
e a periferia. Era a primeira escola de
pensamento na América Latina que
se voltava para pensar soluções
para os problemas estruturais da América
Latina. Entre esses estudiosos estavam o
argentino Raul Prebich e o brasileiro Celso
Furtado.
Esse quadro tornava-se mais importante numa
situação em que o movimento
social na América Latina comportava
lutas populares e reivindicações
que extrapolavam as questões salariais.
O processo de urbanização
e industrialização, mesmo
dentro dos limites impostos pelas nações
industrializadas, aumentara. Havia uma concentração
da força de trabalho e uma visível
desigualdade social.2
Os trabalhadores, através de seus
setores mais dinâmicos e organizados,
acrescentavam às suas reivindicações
de classe a defesa das riquezas nacionais.
“O petróleo é nosso”
era a frase mais repetida no Brasil desse
período nas manifestações
de trabalhadores e estudantes. Estes, desde
1937, estavam organizados em uma entidade
de caráter nacional, a União
Nacional dos Estudantes (UNE).
Os últimos anos da década
de 40 assistiram, em Natal, como em todo
o País, a comícios e conferências
nos quais os temas abordados eram, na perspectiva
do nacionalismo econômico, a defesa
do petróleo, a paz mundial e uma
Constituição democrática.
Uma dessas manifestações foi
considerada de grande importância,
pelo número de pessoas presentes
e pela tônica dos discursos: a condenação
da “Carta fascista de 37”. Entre
os oradores estavam o jornalista Sandoval
Wanderley, que falou em nome dos cafeístas;
Raimundo Nonato Fernandes, representando
a “esquerda democrática”;
Moacyr Duarte, pela UDN; e estudante Lenine
Pinto, pelo Movimento Juvenil; João
Antônio Bezerra, pelo Movimento Unificado
dos Trabalhadores. Pelos comunistas falaram
Cândida Maranhão, Luiz Maranhão
Filho e Gerson Pena.3
Não obstante o governo do general
Dutra iniciar o período chamado de
redemocratização, logo mostrou
sua face reacionária e anticomunista,
ao expurgar os funcionários públicos
ligados ao Partido Comunista. E, devido
à grande atividade política
desenvolvida pelos comunistas em oposição
ao seu projeto conservador, Dutra pediu
ao Tribunal Superior Eleitoral a cassação
do registro eleitoral do PCB, no que foi
atendido em 7 de maio de 1947, por três
votos a dois.
Não
tardaram as perseguições políticas.
Luiz Maranhão foi demitido do cargo
de professor do Ateneu (o interventor no
Rio Grande do Norte era o general da reserva
Antônio Fernandes Dantas). Embora
as eleições tenham sido realizadas
em 19 de janeiro de 1947, o governador eleito,
José Augusto Varela, só tomou
posse em 1º de agosto.4
Foi com perplexidade que os comunistas assistiram,
dentro do Congresso, à formação
de uma comissão para estudar o pedido
feito pelos procuradores do governo de Dutra
para a cassação de seus mandatos.
Mais perplexos ainda ficaram com o número
reduzido de apoio que obtiveram. Entre estes,
o do presidente da comissão, Agamenon
Magalhães, além dos de João
Café Filho, Hermes Lima, Nélson
Carneiro, do udenista José Augusto
Bezerra de Medeiros e de João Mangabeira.
Em 8 de janeiro de 1948, os mandatos foram
finalmente cassados por 181 votos a 74.
A reação do partido foi insólita:
pediu a renúncia de Dutra. E os comunistas
passaram a uma semiclandestinidade, embora
atuassem sistematicamente na Campanha da
Paz e do Petróleo É Nosso.
O jornal Folha Popular, que pertencia ao
PCB de Natal, manifestava em seus editoriais
a necessidade da luta em defesa das riquezas
nacionais e da democracia. Em sua edição
de 4 de dezembro de 1948, comunicava a instalação
do “Centro de Jornalistas em Defesa
do Petróleo” e, em sua primeira
página, noticiava a marcha do Exército
Comunista da China sobre Nanquim e Shangai.
Luiz Maranhão dividia com o jornalista
Hiram Pereira a direção e
a redação da Folha Popular.
Em 13 de janeiro de 1948 os dois foram presos
e recolhidos à Delegacia de Ordem
Política e Social, sob a acusação
de que o jornal que dirigiam tinha “incorrido
em incitamento e propaganda de guerra e
de métodos violentos para subverter
a ordem política e social”.
O promotor público de Natal, segundo
o jornal Diário de Natal, em face
de representação feita pelo
chefe de Polícia, coronel do Exército,
ofereceu ao juiz Carlos Augusto denúncia
contra o jornalista Hiram Pereira, “dizendo-o
incurso no Decreto-Lei 431, de 18 de maio
de 1938, por ter o mesmo, na qualidade de
diretor do jornal comunista Folha Popular,
que se edita nesta capital, e portanto responsável
pela matéria publicada no aludido
jornal, admitindo que, na edição
de 27 de dezembro último, fosse publicado
um comentário injurioso ao governo
do general Eurico Gaspar Dutra e ao ministro
do Trabalho”. A denúncia também
se refere a um telegrama publicado no mesmo
jornal, “na edição de
10 do corrente, em que qualifica a maioria
da Câmara Federal de traidora, desmoralizada
e covarde, em virtude da cassação
dos mandatos dos parlamentares comunistas”.5
A denúncia foi rejeitada. Mesmo assim,
Luiz e Hiram passaram dez dias detidos na
Delegacia de Ordem Política e Social.
O advogado Raimundo Nonato Fernandes impetrou
habeas-corpus em favor dos presos. Os acontecimentos
não passaram despercebidos. Na quinta-feira,
22 de janeiro, quando foi julgado o habeas-corpus,
o Tribunal de Justiça ficou com suas
dependências lotadas. O Diário
de Natal noticiou: “dos desembargadores
presentes sendo no final concedida a ordem
impetrada por 4 votos contra 2”. Votaram
a favor da concessão os desembargadores
Félix Bezerra, Canindé de
Carvalho, Régulo Tinoco e Dantas
Sales; e contra, os desembargadores Virgílio
Dantas e Sinval Moreira Dias. Compareceu
ao Tribunal de Justiça talvez a maior
assistência já registrada nas
sessões daquela Corte de Justiça,
para assistir ao julgamento do pedido de
habeas-corpus impetrado pelo dr. Raimundo
Nonato Fernandes em favor dos jornalistas
Hiram de Lima Pereira e Luiz Maranhão
Filho, diretores da Folha Popular, que se
encontravam presos e recolhidos na Delegacia
de Ordem Política e Social. Uma hora
depois de concedida a medida, os dois jornalistas
deixaram a delegacia. Não chegaram,
entretanto, a reabrir o jornal. De madrugada,
o prédio onde funcionava a redação,
na Rua Felipe Camarão, 724, foi arrombado,
os móveis, destruídos, misturados
os tipos do jornal, havendo o “empastelamento”
dos tipos e composições. Segundo
as notícias publicadas pela imprensa.
A
máquina impressora foi também
violentada e teve retiradas algumas de suas
peças. O chão foi deixado
em grande confusão de papéis
e originais espalhados, assim como documentos
e cadernetas profissionais dos operários
que ali trabalhavam. O intuito dos assaltantes
era, talvez, incendiar o prédio também,
objetivo não conseguido, possivelmente
por falta de tempo. No chão foi deixada
uma grande pira de papéis, panos
e peças da máquina impressora.
O aparelho de registro de luz na parede
sofreu depredação, talvez
quando os assaltantes se retiravam, deixando
a luz acesa, provavelmente para que houvesse
circuito e consequente incêndio. Entretanto,
apenas os vidros do aparelho foram partidos,
e o disco medidor parado, empenado pela
violência. Segundo, ainda, a mesma
fonte, o delegado da Ordem Política
e Social, Wilson Dantas, compareceu ao local
e, após certificar-se do ocorrido,
mandou instalar o competente inquérito.6
As
notícias da concessão dos
habeas-corpus aos jornalistas e do assalto
à redação da Folha
Popular saíram na mesma edição
do Diário, pois foram acontecimentos
simultâneos. O julgamento se prolongou
por mais de quatro horas, entre vivos debates.
Embora estudando no Recife, Luiz Maranhão,
a cada período de férias em
Natal, tentava começar seu trabalho
de jornalista. Suas atividades políticas
eram basicamente ligadas à edição
e redação da Folha Popular.
Mas tomava parte também nos comícios
contra o envio militar de tropas para a
guerra da Coréia.7
Terminado o curso de Direito, Luiz retornou
a Natal tentando reeditar a Folha Popular,
mas não conseguiu recursos financeiros.
Suas atividades políticas nesse período
foram alternadas com estudos realizados
sobre a produção de algodão,
de sal, dos minérios e da cera de
carnaúba no Rio Grande do Norte e
as aulas no Ateneu, visto que fora reconduzido
ao cargo de professor.
Os anos 50 prometiam ser de grande vitalidade
política. Começavam com as
eleições para a Presidência
da República, tendo como candidato
preferencial o ex-ditador Getúlio
Vargas. Os comícios objetivando sua
candidatura, aos quais ele comparecia, atraíam
multidões, ansiosas por vê-lo
e tocá-lo. No imaginário popular,
Vargas era ainda o “pai dos pobres”,
aquele que criara o salário mínimo
e toda a legislação trabalhista,
conforme o divulgado pelo DIP (Departamento
de Imprensa e Propaganda).
Nesta eleição, a segunda depois
do Estado Novo, ficou evidenciada a fragilidade
dos partidos políticos como canais
de representação de uma sociedade
em processo de abertura. Os grandes partidos
– PSD e UDN – não conseguiram
eleger seus candidatos. Getúlio Vargas
venceu pela composição PTB-PSB.8
Por outro lado, as forças conservadoras
que apoiavam a volta de Vargas ao poder,
inclusive o presidente Dutra, ainda assustadas
com a votação do Partido Comunista
nas eleições anteriores, confiavam
no tom anticomunista de Vargas e acreditavam
que ele aglutinasse em torno de si o operariado,
que poderia ser atraído pelos comunistas.9
A partir do momento em que é tornado
ilegal, com seus parlamentares cassados
e suas lideranças perseguidas, o
PCB divulga um Manifesto de 1948, em que
afirma:
Estamos
de fato diante de um governo de traição
nacional que, a serviço do imperialismo
norte-americano, esfomeia nosso povo, liquida
a indústria nacional, que impede
o progresso do País e entrega a Nação
à exploração total
dos grandes bancos, trustes e monopólios
norte-americanos. Os sérios golpes
contra nós desfechados, com a cassação
do registro eleitoral de nosso Partido e,
agora, dos mandatos parlamentares dos representantes
comunistas, vieram chamar a atenção
de todos, do povo em geral, da classe operária
e do próprio Partido, com especial
vigor, para a ativa luta de classes que
se trava no País e para as contradições
que se aprofundam no campo internacional.
E
prosseguia, em autocrítica:
Foram
os graves acontecimentos últimos
que nos vieram despertar, fazer compreender
aos que ainda não haviam compreendido
e aos que se deixaram tranquilamente levar
pelas ilusões reformistas, que nossas
perspectivas estão intimamente ligadas
tanto ao desenvolvimento das contradições
internacionais quanto ao da luta de classes
no interior do País, e, fundamentalmente,
estão ligadas ao nosso trabalho e
nossos sucessos, porque nosso trabalho e
nossos sucessos são, na verdade,
a forma concreta de nossa intervenção,
no sentido de conseguir modificar a favor
das massas trabalhadoras e das forças
democráticas, tanto a correlação
de classes no País quanto, na medida
do possível, a própria posição
internacional do Brasil.10
Em
1950, o Manifesto de Agosto, fazendo inicialmente
uma análise histórica do País,
convocava uma Frente Democrática
de Libertação Nacional para
a ação e para a luta com o
seguinte programa:
1.
Um governo democrático e popular...;
2. Pela paz e contra a guerra imperialista...;
3. Pela imediata libertação
do Brasil do jugo imperialista...; 4. Pela
entrega da terra a quem a trabalha...; 5.
Pelo desenvolvimento independente da economia
nacional...; 6. Pelas liberdades democráticas
para o povo...; 7. Pelo imediato melhoramento
das condições de vida das
massas trabalhadoras...; 8. Instrução
e cultura para o povo; 9. Por um exército
popular de libertação nacional...11
Seguindo esse caminho, muitas vezes voluntarista,
exigia-se dos militantes uma disciplina
rígida, de acordo com os estatutos
do partido e, também, com o autoritarismo
de alguns membros da direção.
Havia, muitas vezes, uma certa competição
entre os quadros partidários ligados
à burocracia do Partido, “a
máquina”, e os intelectuais;
às vezes, entre intelectuais e lideranças
operárias. Luiz Maranhão,
durante algum tempo, sofreu pressões
da direção no Rio Grande do
Norte. Por essa razão preferiu exercer
o trabalho político em Recife, como
jornalista da Folha Popular. Essas dificuldades
com a direção não o
impediam de seguir a linha do Partido no
sentido de organizar novos sindicatos no
interior do Estado. Procurava também
fazer articulações com grupos
de fora do Partido, com setores católicos
e com o líder destes, Otto de Brito
Guerra.
Em 1951, o Partido Comunista em Natal tinha
de seis a sete células espalhadas
nos bairros da cidade, na Base Aérea,
na Base Naval, no Serviço de Febre
Amarela e uma no porto. Consta no inquérito
de Luiz Maranhão:
Em
fins de 1950 promovemos o II Congresso Sindical
do Rio Grande do Norte. Esse trabalho absorveu
toda nossa atividade durante dois meses.
Foi realizada uma conferência preparatória
em Mossoró. Na ocasião, foi
organizada a Associação Geral
dos Trabalhadores de Mossoró, tendo
participado dos trabalhos o então
prefeito daquela cidade, Dix-Sept Rosado,
que seria depois governador do Estado. Em
Natal, o Congresso Sindical obteve, também,
o apoio de várias pessoas, entre
as quais Otto Guerra, diretor do jornal
católico A Ordem, que participou
de quase todas as sessões. Nesse
congresso foi criada a União Geral
dos Trabalhadores do Rio Grande do Norte,
sendo eleito para presidi-la João
Gomes Duarte.12
Em
agosto de 1951, o PCB promoveu para seus
militantes um curso sobre fundamentos filosóficos
do marxismo, do qual Luiz Maranhão
não pode participar, pois preparava-se
para ir a Recife tratar da saúde.
Na ocasião passou por Natal, a serviço
do jornal A Voz Operária, um de seus
redatores, Henrique Cordeiro, que transmitiu
a Luiz Maranhão um convite para trabalhar
na Folha do Povo, do Recife, o qual foi
prontamente aceito, em virtude da necessidade
de sua permanência naquela cidade.13
Getúlio Vargas volta à Presidência
da República (1951-1954), através
de eleições diretas realizadas
em 1950, momento em que a sociedade brasileira
é mais complexa, devido à
intensificação do processo
industrial. Nesse duplo processo de industrialização
e urbanização, destacam-se
a classe média, uma burguesia nacional,
e a classe operária. Era junto a
dois desses setores sociais – a classe
operária e a classe média
– que o Partido Comunista procurava
expandir-se, mesmo na clandestinidade.
As questões com as quais mais se
ocupavam os militantes do PCB eram: a denúncia
da penetração do capital estrangeiro
na exploração das riquezas
minerais, notadamente o petróleo;
a possibilidade de participação
do Brasil na guerra da Coréia, enviando
tropas; a ratificação dos
acordos militares entre o Brasil e os Estados
Unidos; e a estabilidade dos sargentos,
seu direito de voto e de organização
em associações.14
Por outro lado, a questão agrária
assumia uma importância política
que mostrava a necessidade de organização
dos trabalhadores rurais. Nesse sentido,
procurava o PCB intensificar a criação
de sindicatos rurais.
No Manifesto de Agosto, o Partido Comunista
pregou o voto em branco, acusando Vargas
de “agente do imperialismo”.
Essa postura levou o PCB a um certo isolamento
frente aos trabalhadores, e somente a partir
de 1952, quando seus militantes se aproximam
do PTB, a situação começa
a se modificar.
A derrota do brigadeiro Eduardo Gomes frustrara
os setores conservadores e reacionários
em consonância com a doutrina da Guerra
Fria. Havia um grande ressentimento político
nos quartéis e, também, nos
setores conservadores, que assistiam à
volta de Vargas pelo voto popular, tendo
como vice-presidente João Café
Filho. Mais uma vez a UDN amargava uma derrota.
Seus quadros temiam a participação
popular, os setores nacionalistas, que pareciam
dar sustentação ao novo governo.
A escolha do general Estilac Leal, ligado
aos setores nacionalistas do Clube Militar,
para o Ministério da Guerra só
fez aumentar a ansiedade dos setores mais
conservadores.
Dentro de sua política de conciliação,
Vargas escolhia Estilac Leal, ligado aos
setores nacionalistas que se opunham ao
envio de tropas brasileiras para a Coréia,
solicitação feita pelos Estados
Unidos, e nomeava para o Ministério
das Relações Exteriores João
Neves da Fontoura, francamente favorável
ao pedido norte-americano, como ficou evidenciado
na IV Reunião de Consulta dos Chanceleres
Americanos. A reunião, realizada
em Washington de 26 de março a 7
de abril de 1951, convocada pelos Estados
Unidos, tinha como agenda a cooperação
política e militar para a defesa
do Continente, a segurança interna
dos povos do hemisfério e a cooperação
econômica de emergência.
No clima da Guerra Fria, a ameaça
interna era apresentada como proveniente
dos comunistas, e não da pobreza
existente. Em seu discurso na IV Reunião,
João Neves da Fontoura alertou para
o “perigo comunista”:
Os
comunistas estão explorando a miséria
que se seguiu ao conflito mundial, para
fazer penetrar entre os povos os ideários
do paraíso marxista. A América
está, como em 1940, convocada a opor
o escudo de sua consciência democrática
e de suas possibilidades materiais aos atentados
que se preparam na treva. Os partidários
do comunismo, em sua fidelidade à
URSS, estão, inclusive, negando a
ideia de pátria. Impõe-se,
portanto, o combate às “ideologias
subversivas” e aos partidos que, dizendo-se
nacionais, operavam sob o comando de potências
estrangeiras, organizações
sectárias e grupos extracontinentais.
A ameaça à democracia deveria
constituir-se em fator de agregação
dos interesses continentais.15
O
PCB procurava, através de sua imprensa,
de seminários, de conferências
e comícios, denunciar o imperialismo,
a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos,
que discutia um plano de ajuda mútua.
Esse plano previa a saída, do Brasil,
de minerais estratégicos e culminou
com o acordo militar de junho de 1952. Embora
a opinião pública brasileira
e setores significativos da sociedade política
se manifestassem contra a participação
do Brasil no conflito da Coréia e
em defesa de uma política nacionalista,
aos comunistas era creditada uma força
política que ameaçava as negociações
e as instituições democráticas.
Havia uma nítida divisão nas
Forças Armadas. De um lado, os nacionalistas,
do outro, os que agrupavam na chamada Cruzada
Democrática, conhecida por seu anticomunismo.
Em um país onde os partidos políticos
eram frágeis, e a política
um “assunto” das elites, as
manifestações populares assustavam.
Os primeiros a serem coibidos eram os comunistas.
Luiz Maranhão, que fazia seu caminho
no sentido oposto ao do poder dominante,
numa aposta incondicional, ia conhecer o
sentido das palavras de Zarastutra: “O
que há em ti de mais suave deve,
agora, tornar-se o que haverá de
mais duro.”16
Caminhava ele, numa manhã de dezembro
de 1952, pela Rua Imperial, no Recife, como
fazia tantas vezes ao se dirigir à
redação do jornal A Folha
do Povo. Pensava, em aflição,
nos companheiros presos em Natal. Tinha
publicado uma nova denúncia sobre
as torturas que eles sofriam. Na rua estreita,
um carro freou com grande ruído de
pneus. Pelas carrancas de seus ocupantes,
Luiz percebeu sinais de que algo diferente
estava acontecendo. Ainda teve tempo de
gritar: “Eu sou o jornalista Luiz
Maranhão Filho, da Folha do Povo,
avisem ao jornal que estou sendo preso!”
Provavelmente, nenhuma obra de ficção
poderia retratar o terror e a crueldade
que se haviam implantado em Natal, precisamente
no interior da Base Aérea, sob o
comando do coronel Honório Ferraz
Koeler, do subcomandante major Roberto Hipólito
da Costa, do capitão Ivan Machado
Pereira e dos tenentes Carlos Alberto Bravo
da Câmara, José Correia Pinto
e Alberto Sartori. O Ministério da
Aeronáutica era ocupado pelo brigadeiro
Nero Moura, e estava no comando da 2ª
Zona Aérea o brigadeiro Ivo Borges,
sendo seu sucessor o brigadeiro Reinaldo.17
No final de 1953, o general Arthur Carnaúba,
presidente da Associação de
Defesa dos Direitos do Homem, recebeu um
abaixo-assinado, que assim relatava o ocorrido
com o jornalista Luiz Maranhão:
Dr.
Luiz Ignácio Maranhão Filho,
32 anos, solteiro, advogado, jornalista,
membro da Norte-rio-grandense de Imprensa
e do seu Conselho Deliberativo, professor
do Colégio Estadual do Rio Grande
do Norte.
Sequestrado no dia 4 de dezembro de 1952,
no Recife, em plena Rua Imperial, pelo tenente
Ney Noronha e patrulha. Recolhido a um campo
de concentração, com cerca
de arame farpado, no Quartel-General da
2ª Zona Aérea, Piedade, onde
demorou uma hora, foi transportado de avião
para Natal, sob ameaça de ser algemado.
Em Natal, foi recolhido ao campo de concentração
da Base Aérea. Tendo exigido o seu
direito, como advogado, de ser recolhido
à sala do Estado-Maior, foi jogado
numa cela-túmulo.
No mesmo dia foi à presença
do coronel Koeler, comandante da Base, que
ordenara sua prisão. Exigia o coronel
Koeler “explicações”
sobre várias reportagens publicadas
na Folha do Povo do Recife, sobre torturas
a presos políticos em Parnamirim.
No dia seguinte foi levado, à meia-noite,
para o que chamavam uma “sessão
espírita”, sendo então
espancado e torturado por um grupo de oito
oficiais e um sargento. Nessa noite, foi
espancado até clarear o dia, sendo
colocado despido com fortes refletores sobre
o rosto. Espancaram-no brutalmente a cassetetes
de borracha em todo o corpo, inclusive na
cabeça e garganta. Foi esmurrado
no rosto até sangrar pelo nariz e
pela boca. Essas torturas prosseguiram durante
quinze dias. Por ordem do major Hipólito
foi metido em camisa de força e amarrado.
Depois de assim imobilizado, teve o saco
escrotal amarrado a um cordão, que
era puxado pelo tenente Câmara e ao
qual o mesmo oficial pendurou um peso de
madeira. Pelo major Hipólito foi
espancado a cassetetes até cair sem
sentidos, após o que era levantado
do chão pelos cabelos. Teve, depois,
a cabeça e sobrancelhas raspadas.
Sofreu de parte dos tenentes Câmara
e Correia Pinto, durante vários dias,
torturas a golpes de jiu-jitsu, em consequência
das quais seus braços ficaram deformados
pelas inchações. Numa das
noites de suplício, quando um oficial
o segurava, o major Souza Mendes o espancava
na cabeça, o sargento Correia o espancava
na planta dos pés, e o tenente Câmara
queimava seu corpo com um cigarro aceso.
Em consequência o seu corpo ficou
cheio de queimaduras e bolhas, a ponto de
os soldados da guarda se mostrarem atemorizados,
imaginando tratar-se de varíola.
Durante os espancamentos foi obrigado a
ingerir doses de óleo de rícino.
Sentado diante de uma mesa, teve os braços
imobilizados por um oficial, que se postou
sobre seus braços. Isso serviu para
que o tenente Câmara, rindo sadicamente,
introduzisse agulhas em suas unhas, das
quais várias apodreceram. Na cela,
era constantemente espancado a pontapés
nas costelas e nas pernas. Também
batiam violentamente a sua cabeça
nas paredes de cimento-armado, ficando em
estado de delírio.
Foi ameaçado de atos de pederastia,
e o tenente Câmara tentou introduzir
um cassetete em seu ânus. Numa das
“sessões espíritas”
(sobre as quais esclareciam ser aquele o
método de Boré), abriram sua
boca e jogaram um besouro vivo na garganta.
Várias vezes foi ameaçado
de morte. O major Souza Mendes ameaçava
cortar seus pulsos com gilete. Retirado
da cela foi colocado no xadrez, frente ao
qual funcionava um alto-falante dia e noite,
idêntico ao das celas.18
Tudo
leva a crer que a angústia e o medo
provocado pelas sessões de tortura
tomaram conta de seu corpo dolorido, naquelas
horas noturnas, quando se sentia absolutamente
só. Podia lamber as feridas da alma
aberta em chagas, pois no corpo não
podia tocar, tanta era a dor que lhe provocava
uma simples carícia. Mas sentia.
Era preciso não sucumbir. Se estava
vivo, havia possibilidades. A capacidade
de sentir era um sinal. Aquele corpo machucado,
que fora capaz de perceber a delicadeza
da água e a força do sol nos
intermináveis banhos de mar, de enlevar-se
ao sentir-se penetrar pela música
numa irresistível atração
pela dança, resistiria. Agora, depois
da proximidade da morte, vislumbrava como
uma pulsão o desejo da vida. Da vida
em sua plenitude. Sentiu-se invadir por
grande sabedoria: “Assim, eu lhes
mostro somente o gelo e o inverno dos meus
cumes – e não que o meu monte
ainda amarra nos flancos todos os cintos
do sol.”19
Foi numa madrugada de muito calor, naquele
dezembro de 1952, que o comerciante Poty
Aurélio Ferreira, preso desde outubro,
foi acordado e levado para a “sala
dos suplícios”, na prisão
da Base Aérea de Natal, em Parnamirim.
Ao entrar, viu aquele moço sentado
no chão, com o rosto inchado, “papudo”,
os olhos vermelhos, os cabelos raspados
na cabeça e nas sobrancelhas. Antes
de tomar consciência da situação,
o major Roberto Hipólito, subcomandante
da base, gritou: “Conhece esse filho
da puta?” Poty respondeu que nunca
tinha visto. O major, então, virou-se
para o moço e disse: “Filho
da puta, diga o seu nome!” O jovem
falou: “Luiz Maranhão Filho”.
Lembra Poty que, mesmo após essa
confissão, foi difícil reconhecer
naquele homem disforme pelas pancadas recebidas
no rosto o jovem alegre que possuía
a mais sonora risada da cidade. Foram colocados,
depois, na mesma cela, onde já se
encontravam outros.20
Ali começava uma sólida amizade
e admiração mútua.
A necessidade de ajudar companheiros mais
frágeis, que não suportariam
as torturas, que em desespero procurariam
negar qualquer vinculação
com eles, foi assumida com generosidade
e grandeza.
Algumas vezes eram levados para uma cela
em total isolamento, lá permanecendo
por vários dias, sem sanitários,
etc. Essas celas eram de cimento-armado,
medindo 1,90m de altura, 1,90m de comprimento,
e 0,90m de largura, com porta inteiriça
de aço. O teto, também de
aço, possuía dois orifícios
circulares com 5cm de diâmetro. Um
possante alto-falante emitia sons agudos
e estridentes, dia e noite. Todos passaram
por essa cela, mas o preso Vulpiano Cavalcanti,
cirurgião agraciado pela Academia
de Ciências por desenvolver uma técnica
de sutura em cirurgias de apendicite, e
que teve os dedos quebrados para que nunca
mais pudesse exercer a profissão,
passou 135 dias. Saía somente para
interrogatórios seguidos de espancamentos.21
Devido à sua posição
social e ao prestígio que obtivera
nas cidades de Mossoró, Macau e Areia
Branca, introduzindo métodos e técnicas
novas na medicina, como a cesariana, numa
região onde mulheres morriam como
moscas em consequência de partos desassistidos,
Vulpiano Cavalcanti de Araújo, por
ser um dirigente comunista, causava muita
inquietação às autoridades
civis, eclesiásticas e militares.
Ao chegar em Areia Branca, foi brindado
com um sermão do pároco, que
alertou aos católicos para a chegada
de um enviado da “Rússia”.
Até um aperto de mãos poderia
causar danos. Mas o pároco gostava
de jogar xadrez. Na cidade, só o
médico recém-chegado sabia
jogar.
As mulheres, mais do que os homens, gostavam
de ver, nos finais de tarde, o padre e o
comunista na calçada da igreja, com
um tabuleiro de xadrez em um tamborete,
num jogo sem fim. Quando a notícia
chegou aos ouvidos do bispo de Mossoró,
acabou o xadrez de fim de tarde. O pároco,
amargurado, comunicou ao médico o
ocorrido. “Que fazer? Obedeça
ao seu bispo.”22
Arrastado do consultório, onde atendia
uma cliente, que ficou na mesa ginecológica
com uma crise histérica, Vulpiano
Cavalcanti não sabia que estava entrando
no inferno, no qual se tinha transformado
a Base Aérea de Natal. Ouviu dos
oficiais que devia escrever a Café
Filho, vice-presidente da República,
ou mesmo ao presidente Getúlio Vargas,
sobre o que estava acontecendo ali. Caso
eles fossem até lá, “serão
colocados nas latrinas para sentirem o cheiro
da m... de vocês”.23
Outra vítima de tortura foi o sargento
Geraldo Teixeira, depois de transferido
para o Q.G. da 2ª Zona Aérea,
no Recife. Seu corpo foi todo pintado com
palavras pornográficas e desenhos
de órgãos sexuais, além
de ter um cassetete introduzido no ânus
pelo tenente Câmara. Seus lábios
foram queimados com brasa de cigarro, seus
testículos amarrados e puxados pelo
tenente Câmara, que, não satisfeito,
esfregou a boca do sargento no chão
cheio de fezes.
Obrigado a ficar de quatro pés, foi
montado pelo major Hipólito, com
o qual, depois, teve de lutar boxe, com
os olhos vendados.
O mesmo sargento Geraldo Teixeira foi forçado
a representar o papel de Café Filho,
no enterro simbólico do vice-presidente
da República, realizado em meio a
atos indecorosos e promovido pelos majores
Roberto Hipólito e Souza Mendes.
Deitado no chão e amarrado, colocaram-lhe
uma vela acesa no ânus. Alguns dos
presos foram forçados a ficar em
volta assistindo à galhofa dos torturadores,
que lamentavam “o morto” com
apupos e palavras de baixo calão.
“Esses oficiais, que, bem sabemos,
em nada representam as Forças Armadas
do Brasil, ameaçavam assassinar qualquer
um que denunciasse seus crimes.”24
As primeiras prisões ocorridas em
Natal foram de militares que serviam na
Base Aérea. Os sargentos Enéas
de Oliveira Filho, Antônio Paulo Andreazi
e Armando Pulis Gomes, nos dias 13, 14 e
23 de fevereiro de 1952, respectivamente.
Em obediência a um habeas-corpus,
foram soltos e presos em seguida.
A partir dali, a cidade assistiu a uma série
de prisões arbitrárias, com
residências de militares e civis invadidas.
Alguns recusavam seguir sem protestar. Foi
o que fez Hermínio Alves de Brito.
Ao ver a patrulha da Aeronáutica
invadir sua casa, exigiu o mandado judicial.
A exigência foi o suficiente para
que o primeiro sargento Genaro Alves da
Fonseca, de 29 anos, que tomava parte da
referida patrulha, “lhe atracasse
pelo pescoço”,25
sendo ajudado pelos outros integrantes da
repressão que o arrastaram até
o carro e o levaram imobilizado para o Campo
de Concentração da Base Aérea.26
Foram presos pela Aeronáutica, em
Natal, de fevereiro a dezembro de 1952,
os civis Vulpiano Cavalcanti de Araújo,
Luiz Ignácio Maranhão Filho,
José Costa, Eider Toscano de Moura,
Poty Aurélio Ferreira, Adauto R.
Sales, Adauto Fernandes de Figueiredo, José
Cabral de Oliveira, Hermínio Alves
de Brito, José Gomes da Silva, Pedro
Celestino Neves, Luiz Simeão Ferreira,
Simplício Teixeira Peixoto, José
Renovato dos Santos, Severino Miranda, Tasso
de Macedo Wanderley, Joaquim Miguel da Costa
Filho e Nazareno Rodrigues.
Cinco presos não suportaram as torturas,
perderam as referências, enlouqueceram:
Tasso de Macedo Wanderley, Simplício
Teixeira Peixoto, Severino Miranda, José
Renovato dos Santos e José Galvão.27
Tasso de Macedo Wanderley, após ter
sido espancado com uma tábua de madeira
onde havia um prego que lhe penetrou a cabeça,
foi interrogado pelo major Souza Mendes.
Apontando-lhe uma pistola, ameaçou-o
de morte, e Tasso não resistiu: cobriu-se
de tenebrosa culpa. Tinha 33 anos. Achava
que nunca mais veria a família. Ouvia
vozes estranhas e estampidos de armas. Um
dia, sangrando e com os pulsos abertos,
foi internado no Hospital da Base Aérea.
Levado de Natal para Recife, o preso Simplício
Teixeira Peixoto sofreu, várias vezes,
a simulação de seu fuzilamento.
Em uma delas, o oficial que apertava o gatilho
levantou o braço e ele foi atingido.
De volta a Natal, com uma camisa-de-força,
foi jogado na sala de torturas debaixo de
duas lâmpadas de 500 watts, onde era
espancado. Assim passou 15 dias, só
recebendo como alimentação
uma caneca de café e um pedaço
de pão, pela manhã. Alguma
vezes faziam comentários desabonadores
sobre a conduta de sua mulher. Em uma sala
vizinha vozes masculinas comentavam a noite
anterior que teriam passado com uma “tetéia
que se chamava”, e diziam o nome de
sua esposa. Chegaram ao requinte de lhe
apresentarem uma foto-montagem, onde aparecia
uma mulher nua. A cabeça da foto-montagem
tinha sido retirada de uma foto da família
apreendida quando da invasão de sua
residência. A última lembrança
de Simplício Teixeira Peixoto foi
a do major Roberto Hipólito espancando-o
com uma chibata. Crises de alheamento absoluto
eram alternadas com intensas iras. Nessas
ocasiões, Simplício gritava
o nome de sua mulher e, em desespero, mordia
os pés das camas. Numa dessas crises,
ele foi utilizado pelo major Hipólito
para bater nos companheiros presos. Essas
sessões foram interrompidas quando
o major Hipólito entregou-lhe um
papel e uma caneta para que escrevesse os
nomes dos comunistas que com ele se relacionavam.
“Espiava o papel, espiava a caneta.
De repente, pegou a caneta com as duas mãos
e veio para cima dos peitos, pra enfincar
mesmo, quebrando a caneta do major em duas.”28
Mais tarde, na casa de detenção
do Recife onde os presos aguardavam julgamento,
o médico e preso Vulpiano Cavalcanti
estabeleceu uma aproximação
com ele capaz de levá-lo a compreender
o ocorrido.
Não se pode dizer que a cidade de
Natal tenha seguido a sua rotina sem se
incomodar com o que estava ocorrendo na
Base Aérea. A prisão do comerciante
Poty Aurélio Ferreira, em seu escritório
comercial, de onde saiu sob protestos, exigindo
um mandado judicial, alegando que era um
civil, chamou a atenção dos
que passavam pela rua. E, mais ainda, o
escritório estava cercado por uma
patrulha da Aeronáutica, e o tenente
que a comandava, diante da exigência
do comerciante, exibiu-lhe uma ordem de
prisão da Base Aérea.
Quando
ele acabou da leitura, eu, cara a cara com
ele, disse: Eu não me submeto. Não
sou militar, não sou assemelhado
com funcionário civil de bases militares,
não conheço sequer a base
de Parnamirim, conheço o aeroporto,
conheço lá o aeroporto civil,
quando vou esperar alguém. Aí
ele espiou pra mim e disse: E você
ainda está falando, filho da puta?
A essas alturas, eu meti-lhe as mãos
nos peitos, ele por azar caiu num cultivador,
eu vendia umas máquinas agrícolas,
tinha uns cultivadores empilhados, grades
e coisas, um após outro, ele desaprumou,
caiu, saiu rolando e foi bater na porta
do escritório. Aí gritou:
“Metam o pau nesse filho da puta!”
Arrastado
por vários homens, Poty lembra que
o que o convenceu mesmo foi a arma do tenente.
Por ser um comerciante conceituado, cumprindo
todos os compromissos bancários e
trabalhistas, fazendo parte da Maçonaria,
a prisão de Poty causou um grande
desconforto. O deputado estadual Stoessel
de Brito, da tribuna da Assembleia Legislativa
Estadual, exigia:
A
Mesa da Assembleia, ouvido o Plenário,
oficie ao secretário-geral do Estado,
a fim de que este solicite da chefia da
Polícia local informações
que esclareçam:
1. Se as prisões dos civis hoje feitas
em estabelecimentos comerciais e no Departamento
de Estradas de Rodagem, por patrulhas da
Aeronáutica, tiveram a participação
de elementos da Polícia do Estado;
2. Na hipótese negativa, se a Polícia
do Estado delegou poderes ou permitiu sob
qualquer forma que a Aeronáutica
fosse incumbida de efetuar prisões
nesta capital;
3. Se a Aeronáutica alguma vez se
dirigiu à repartição
policial ou a qualquer autoridade do Estado
solicitando diligências ou prisões
que afetassem civis, sem quaisquer dependências
com a Aeronáutica e, na hipótese
afirmativa, se foram cumpridas e quais foram
elas;
4. Quais os civis presos na manhã
de hoje, 7 de outubro, pela patrulha da
Aeronáutica, e de quais crimes são
acusados e se foram presos em flagrante
delito, por ordem de qualquer autoridade
judicial; enfim, qual o responsável
por essas prisões;
5. O Estado preserva a sua independência
e soberania ante violências cometidas.29
Antes
de encerrada a reunião, chegava à
Mesa da Assembleia uma nota da Aeronáutica,
lida e publicada no outro dia pela imprensa,
com o seguinte conteúdo:
Com
o louvável intuito de tranquilizar
esta ordeira cidade e evitar seja a população
mal informada, esclarece o Comando da Base
Aérea de Natal que, em obediência
ao estabelecido no art. 156 do Código
da Justiça Militar, ordenou a prisão
de elementos civis implicados nas atividades
subversivas que se desenvolviam no setor
militar sob o seu comando.
Os referidos elementos, sujeitos à
legislação penal militar,
ex-vi do disposto no art. 6º e alíneas
do Código Penal Militar, praticaram
os delitos militares de aliciação
e incitamento previstos nos artigos 133
e 134, conquistando funcionários
civis e militares da Base para as fileiras
do ilegal Partido Comunista do Brasil, além
de orientarem a distribuição
de impressos de propaganda subversiva dentro
de ambiente de administração
militar.
Esclarece, finalmente, este Comando, que
as diligências que se processam obedecem
à orientação de um
membro do Ministério Público
Militar junto ao Egrégio Superior
Tribunal Militar, posto especialmente à
disposição do Estado-Maior
da Aeronáutica para acompanhar os
inquéritos instaurados nas diversas
Zonas Aéreas para a apuração
de atividades subversivas.30
Era
governador do Rio Grande do Norte Sílvio
Pisa Pedroza, eleito vice-governador de
Dix-Sept Rosado Maia, falecido em um desastre
aéreo poucos meses após a
posse. Seu chefe de Polícia, o oficial
do Exército Ulisses Cavalcanti, era
visto pelos presos nas dependências
da Base Aérea, portanto, estava a
par das ocorrências.
Certa manhã, quando se preparava
para sair da Escola de Música, onde
acabara de dar aula, Netércia Maranhão
ouviu alguns comentários sobre prisões
de comunistas em Parnamirim. Ficou preocupada,
tentou informar-se. Nenhuma notícia.
A ansiedade deu lugar à confirmação
no dia em que um sargento da Aeronáutica
chegou em sua casa e entregou uma toalha
de papel com uma mensagem de Natal e Ano-novo.
Pedia também “aquele caneco
de tomar leite no curral, lá na fazenda,
e o casaco de lã verde para o frio”.
A família mobilizou-se procurando
as autoridades. Netércia e o marido,
alto funcionário da Fazenda no Estado,
foram até a casa do comandante Koeller,
que explicou na presença, inclusive,
de sua própria mulher: “Fiquem
tranquilos, nada de mal está lhe
acontecendo.”
Netércia, assim se refere à
primeira visita a Luiz Maranhão:
Quando ele apareceu na sala, sem o bigode
que usava ultimamente, cabeça raspada,
eu não suportei, caí em prantos.
Ele, com sua fortaleza de espírito,
começou a conversar e a rir, convencendo-me
de que estava tudo bem e que eu parasse
de chorar. Perguntou por cada um dos sobrinhos
– Ronaldo, como vai nos estudos? E
Lili, com as aulas de piano? E como vai
Beto no violino? E Gêne, sempre tocando
de ouvido? Encerramos a visita e saímos
fortemente abalados.31
O
pesadelo iniciado em fevereiro de 1952 seguiu
o caminho natural do Inquérito Policial
Militar (IPM). Abriu-se o processo em uma
área militar, um quartel, etc. Logo
iniciou-se a primeira fase com as prisões,
interrogatórios, a tarefa de conseguir
de qualquer forma as provas para instruir
o processo em andamento e fundamentar as
acusações. No caso, as acusações
se referiam a infrações à
Lei de Segurança Nacional, de 1938.
A segunda fase é aquela em que os
autos do processo são enviados à
Justiça Militar para o julgamento.
A Justiça Militar tem duas instâncias:
as Auditorias Militares e o Superior Tribunal
Militar, ambos com Conselhos compostos por
oficiais das Forças Armadas e juízes
togados. Em última instância,
o réu pode apelar para o Supremo
Tribunal Federal.
De Alagoas ao Rio Grande do Norte, os Estados
estavam sob a jurisdição da
Auditoria da Sétima Região
Militar, com sede em Recife, Pernambuco.
No início de 1953, os presos foram
transferidos para a Casa de Detenção
do Recife, onde aguardariam o julgamento.
Ali, a situação dos presos
foi mais amena. Fizeram uma reivindicação
para que pudessem tomar banho de sol e foram
atendidos.
Em um desses banhos de sol, combinaram denunciar
as torturas sofridas à Associação
Brasileira de Defesa dos Direitos do Homem.
Luiz Maranhão redigiu o documento,
cópias foram remetidas para a Câmara
Municipal do Recife, outra para a Assembleia
Legislativa de Pernambuco. O preso Poty,
com letra miúda, passou a limpo.
Como tirar a carta lá de dentro?
Poty trocou todos os cigarros de uma carteira
pelas cartas, e Vulpiano entregou o “maço”
ao advogado e vereador Carlos José
Duarte, durante uma visita.
Três dias depois a carta foi lida
na Câmara de Vereadores e os jornais
do Recife a publicaram. Isso custou aos
presos o isolamento, a perda dos banhos
de sol e, além da grade de ferro,
a porta de madeira fechada a cadeado.
Cinco dias após a leitura da carta
na Câmara Municipal, uma comissão
de vereadores foi até a Casa de Detenção
visitar os presos. As portas de madeira
foram abertas. Dois dias depois foi a vez
da Assembleia de Deputados. O próprio
presidente fazia parte da comissão
de oito membros. O diretor da prisão
acompanhou a visita.
Luiz Maranhão e Vulpiano entregaram
outro documento ao presidente da Assembleia
Legislativa. O diretor da prisão,
alegando ser o “dono da casa”,
pediu o documento. O presidente respondeu:
“Está endereçado a mim,
presidente da Assembleia do Estado de Pernambuco.
Portanto, não lhe devo atenção
nenhuma.”32
Todos foram acusados de atividades subversivas,
“como integrantes de um movimento
de subversão da ordem e da disciplina
no interior da Base Aérea de Natal,
servindo à causa do Partido Comunista
que, conquanto à margem da lei, prega
a Revolução de Libertação
Nacional, para a implantação
do regime bolchevista no Brasil”.33
A Luiz Maranhão ainda pesava a acusação
de ter denunciado as torturas, o que “significava
uma prova de suas ligações
com o meio militar no interior da Base”.34
No dia 18 de julho de 1953, o promotor militar
Eraldo Gueiros Leite apresentou a peça
informativa – o Inquérito Policial
Militar – segundo ele, “um levantamento
quase perfeito das atividades comunistas
em Natal”, e ofereceu a denúncia
dos seguintes indiciados: Vulpiano Cavalcanti
de Araújo, Poty Aurélio Ferreira,
Hermínio Alves de Brito, Luiz Simeão
Ferreira, Simplício Teixeira Peixoto,
Nazareno Rodrigues dos Santos, Tasso de
Macedo Wanderley, José Gomes da Silva,
João Renovato dos Santos e Pedro
Joaquim Soriano, “dando-os como infratores
do art. 133 do Código Penal Militar”,
enquanto os demais, Luiz Ignácio
Maranhão Filho, Pedro Celestino Neves,
Gilberto de Oliveira, Abdias Olímpio
da Silva, Afonso Valentino de Oliveira,
João Gomes Duarte, Eider Toscano
de Moura, José Costa, Adauto Rodrigues
de Sales, Francisco Ferreira da Cunha, Severino
Miranda Pinto, Adauto Fernandes de Figueiredo,
José Cabral de Oliveira, José
de Oliveira Galvão, Manoel Cosme,
Severino José de Santana, Tito Macedo
Baraúna, Belchior Sales e Geraldo
Teixeira, foram considerados “todos
infratores dos arts. 133 e 134, do mesmo
Código Penal Militar”.35
O primeiro preso a ser interrogado foi Poty.
Relatou, uma por uma, todas as atrocidades
sofridas pelos presos em Natal, sem omitir
os detalhes. Não foi interrompido.
O Conselho, formado por um major, dois capitães,
dois tenentes e um auditor civil, entreolhava-se
com constrangimento. Os outros presos só
confirmavam o depoimento.
O advogado Carlos José Duarte começou
a defesa lembrando que aquele Conselho não
representava a Aeronáutica, mas a
Justiça. E mais: “que as confissões
obtidas no Inquérito Policial Militar
se marcavam pela mais perfeita desvalia,
eis que todas elas obtidas através
de violências”. Salientou que
as “provas dessas violências
haviam sido conseguidas, de modo cabal,
através de depoimentos de testemunhas
de acusação ouvidas no sumário
de culpa”.36
Recebida a denúncia, procedeu-se
ao sumário de culpa, quando depuseram
as testemunhas arroladas pela promotoria
e pela defesa.
O Conselho, por unanimidade de votos, absolveu
todos os indiciados, entendendo que não
estavam configurados os delitos dos arts.
133 e 134 do Código Penal Militar.
E “mandou que, transitada em julgado
a decisão, fossem os autos remetidos
à Justiça Comum, para a devida
apuração dos crimes políticos
neles noticiados”.37
A Justiça Comum arquivou o processo
por falta de provas.
Os presos foram postos em liberdade no dia
13 de agosto de 1953, na cidade do Recife.
Naquele dia pela manhã, Poty, Luiz
Maranhão e Vulpiano Cavalcanti, que
“moravam” na cela 2, ao caminharem
para o banho foram chamados pelo preso José
Costa, da cela 1, e ouviram dele:
É o seguinte, eu agora, já
ao amanhecer, entre dormindo e acordado,
não sei bem, vejo uma pessoa que
quando eu estava preso lá em Natal
no Distrito (1935), no dia em que fui solto,
essa pessoa me apareceu lá e disse
que eu ia ser solto, eu fui. E essa pessoa
veio dizer que nós nos preparássemos
porque estávamos no ponto de sermos
soltos.
Os
três criticaram a crença do
companheiro e foram para o banho. Ao voltarem
para a cela, às oito horas, o guarda
que dava serviço chamou os presos
nominalmente e mandou-os tomar um ônibus
que os levaria à Auditoria.38
Lembra-se Poty, autor dessas revelações,
de que ficaram muito impressionados com
o ocorrido. Estavam em liberdade. O promotor
Eraldo Gueiros apelou da decisão.
Em 26 de maio de 1958, o Superior Tribunal
Militar negou o recurso, cuja emenda dizia:
“Na falta de prova da incidência
dos réus em crime previsto na lei
penal militar, em que foram denunciados,
mantém-se a absolvição
com desprezo de recurso.”39
Cinco anos depois de libertados, alguns
nunca se recuperaram. Outros, entre eles
Luiz e Poty, pareciam entrar no silêncio
do mundo, no silêncio criador. Tal
qual Zaratustra, pensavam em suas missões,
pensavam em suas apostas.
Notas
de Rodapé:
1
- Extraído do filme Antes da Chuva
(Before the Rain), de Milcho Manchevski,
Macedônia, Inglaterra, 1994.
2
- TOURAINE, Alain, Palavra e Sangue, Política
e Sociedade na América Latina, São
Paulo, Editora da Unicamp, 1990, p. 31 –
108.
3
- Diário de Natal, 23/2/1946. Arquivo
do Diário de Natal, Natal, RN.
4
- Uma nota de Moacyr de Góes, De
Pé No Chão Também se
Aprende A Ler, São Paulo, Cortez,
1991, 2. ed., p. 162, afirma: “As
eleições ocorrem em janeiro
de 1947, mas José Varela vai tomar
posse em 1º de agosto, depois de uma
longa ‘batalha judiciária’.
Entendeu o TRE – o que mais tarde
foi negado pelo Superior Tribunal Eleitoral
– que ocorrera coação,
principalmente nas zonas eleitorais de Nova
Cruz, Baixa Verde, São Miguel, Santa
Cruz e outras. Anuladas essas votações,
a candidatura das Oposições
Coligadas UDN-PSP (Floriano Cavalcanti)
foi proclamada vitoriosa. O TSE, anulando
a decisão do TRE, consagrou a vitória
do PSD.”
5
- Diário de Natal, 19/1/1948. Arquivo
do Diário de Natal, Natal, RN.
6
- Diário de Natal, 22/1/1948. Arquivo
do Diário de Natal, Natal, RN.
7
- Superior Tribunal Militar, Brasília,
Arquivo, Inquérito da 7ª Auditoria
Militar do Recife, PE, contra Vulpiano Cavalcanti,
Luiz Maranhão e outros, Termos de
Perguntas ao Indiciado, Doc. de Apelação
28.134, v. 4, 1953.
8
- SOARES D’ARAUJO, Maria Celina, O
segundo Governo de Vargas, 1951-1954, São
Paulo, Editora Ética, 1992, p. 28
e 29: “Outro fator ainda deve ser
lembrado: o sucesso eleitoral de Vargas
deve-se também a alianças
tácitas entre correntes civis e militares
que se identificam com as chamadas posições
nacionalistas. Vargas aparece como defensor
dos interesses nacionais, num momento em
que a situação econômica
e financeira do Brasil caminha no sentido
de acentuar a dependência em relação
aos Estados Unidos. A Guerra Fria e o debate
sobre a participação brasileira
na guerra da Coréia aproximam Vargas
dos militares nacionalistas. Paralelamente
a campanha do petróleo, iniciada
em 1949, ganha repercussão crescente
em todo o País, e transforma-se em
elemento aglutinador dos setores comprometidos
com o ideário amplo e difuso do nacionalismo.”
9
- Ibid., p. 75.
10
- CARONE, Edgard, O PCB, 1953-1954, v. 2,
São Paulo, Difel, 1982, p. 72 –
74.
11
- Ibid., p. 108 – 112.
12
- Superior Tribunal Militar, Brasília,
Arquivo, Inquérito Policial Militar
da 7ª Auditoria Militar do Recife,
PE, contra Vulpiano Cavalcanti, Luiz Maranhão
Filho e outros, folha 676, v. 4, depoimento
de Luiz Maranhão Filho, em 20 de
dezembro de 1952.
13
- Superior Tribunal Militar, Brasília,
op. cit., folhas, 733.
14
- Ibid., p. 139 (sobre as pressões
norte-americanas, a política nacionalista
do governo Vargas e a repercussão
no meio militar).
15
- SOARES D’ARAUJO, op. cit., p. 159.
16
- NIETZSCHE, Friedrich W., Assim Falou Zaratustra,
6. ed., Rio de Janeiro, Bertrand Brasil
S. A., 1989, p. 162.
17
- Carta do dr. Vulpiano Cavalcante e outros
ao presidente da Associação
Brasileira de Defesa dos Direitos do Homem,
general Arthur Carnaúba, 1953.
18
- Cópia da Carta do dr. Vulpiano
Cavalcanti e Seus Dezesseis Companheiros
Presos Civis na Casa de Detenção
do Recife ao presidente da Associação
Brasileira dos Direitos do Homem, 1953.
19
- NIETZSCHE, Friedrich W., op. cit., p.
182.
20
- Entrevista de Poty Aurélio Ferreira
concedida à autora, a 12 de fevereiro
de 1995, em Natal, RN.
21
- Cópia da carta enviada ao general
Arthur Carnaúba, presidente da Associação
de Defesa dos Direitos do Homem, 1953.
22
- CAVALCANTI, Vulpiano. Memória Viva
(entrevista concedida a Carlos Lyra), Natal,
Editora Universitária, UFRN, 1986.
23
- Ibid.
24
- Carta enviada ao gal. Carnaúba,
presidente da Associação Brasileira
de Defesa dos Direitos do Homem, 1953, pag.
51.
25
- Genaro Alves da Fonseca, em 1970, foi
escolhido e empossado no cargo de reitor
da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte.
26
- Entrevista de Poty Aurélio Ferreira
concedida à autora, em Natal, 1995.
27
- As informações a respeito
do estado de saúde dos presos, das
torturas a eles infligidas, das acusações
imputadas foram retiradas da Carta-Relatório,
enviada e posteriormente publicada pela
Associação de Defesa dos Direitos
do Homem, de cópias de peças
do processo instaurado pela Sétima
Região Militar, em 1952, no Arquivo
do Superior Tribunal Militar em Brasília
e de entrevista de Poty Aurélio Ferreira.
28
- Entrevista de Poty Aurélio Ferreira
concedido à autora, Natal, em 12
de fevereiro de 1995.
29
- Diário de Natal, 8 de outubro de
1952. Arquivo do Diário de Natal,
RN (o final da nota está ilegível).
30
- Ibid., 7 de outubro de 1952.
31
- Entrevista de Netércia Maranhão
à revista Flagrantes, Ano 1, n 3,
out 1987, Natal, RN, p. 11.
32
- Entrevista de Poty Aurélio Ferreira
concedida à autora, em 12 de fevereiro
de 1995, Natal, RN.
33
- Peça de acusação,
resultado do Inquérito Policial Militar
iniciado na Base Aérea de Natal,
enviada pelo representante do Ministério
Público Militar ao Juiz Auditor da
Sétima Região Militar, no
Recife, pedindo a ação penal
dos indiciados, Vulpiano Cavalcanti de Araújo
e outros, em 20 de julho de 1953. Arquivo
do Superior Tribunal Militar, volume 1,
Apelação 28.134.
34
- Peça de Apelação,
28.134, volume 9º do Inquérito
Policial Militar, Sétima Auditoria
Militar, Recife, realizado na Base Aérea
de Natal, em 1952. Arquivo do Superior Tribunal
Militar, Brasília.
35
- Apelação 28.134, Volume
1º do Inquérito Policial Militar,
Sétima Auditoria Militar, Recife,
1953, Arquivo do Superior Tribunal Militar,
Brasília.
36
- Peça de Apelação
28.134, Volume 9º do Inquérito
Policial Militar, Sétima Auditoria
Militar, Recife, 1953, Arquivo do Superior
Tribunal Militar, Brasília, p. 1.909.
37
- Apelação 28.134, Volume
1º, do Inquérito Policial Militar,
Sétima Auditoria Militar, Recife,
1953, Arquivo do Superior Tribunal Militar,
Brasília, p. 1.979.
38
- Entrevista de Poty Aurélio Ferreira
à autoras, em 12 de fevereiro de
1995, Natal, RN.
39
- Apelação 28.134, Volume
1º do Inquérito Policial Militar,
Sétima Auditoria Militar, Recife,
1953, Arquivo do Superior Tribunal Militar,
Brasília, p. 1.979.
Data de Lançamento: Segundo Semestre
de 2013
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