Tupinambá
Na
nossa civilização, existem
as mais variadas formas de organização
social, política, e econômica.
Cada etnia tem sua própria regra
de convivência, de como se relacionar
com o meio existente. Possui entre todas
as Nações alguns pontos em
comum: o convívio harmonioso com
a Mãe Natureza, o desapego aos bens
materiais, a vontade de continuar perpetuando,
a coletividade, a igualdade, a solidariedade,
o respeito e o amor ao próximo.
(...)
O convívio com a Mãe Natureza
demonstra a relação do homem
com o todo, servindo de guia para o desenvolvimento
das atividades exercidas de cada grupo.
Nossa economia é baseada na agricultura
familiar, tudo o que plantamos e colhemos
é para nossa subsistência.
Possuímos nosso próprio calendário
baseado nas fases lunar. Nossos hábitos
alimentares estão baseado no cultivo
das leguminosas, raízes (tubérculos),
folhas e frutos, caça e pesca - sem
transformá-los em mercadorias. Com
a chegada do "homem branco" nossos
hábitos começaram a ser modificados,
pois a implantação de outros
cultivos e a escassez provocada pela devastação
vem causando a destruição
do meio ambiente.
(...)
Nossa forma de organização
social varia de acordo com cada Nação.
Não necessariamente todos possuem
um chefe (Cacique), a disposição
das nossas habitações tradicionais,
em forma de círculo - onde estão
dispostas as ocas, malocas -, além
de promover a proximidade entre os clãs,
também é uma forma de proteger
todos os membros da comunidade. Hoje, devido
as violências sofridas, principalmente
entre as Nações que estão
em contato há 507 anos, com outras
civilizações, as quais tomaram
todo o nosso território para torná-lo
um objeto de Poder Econômico Financeiro,
nossas habitações tradicionais
não são mais encontradas em
todas as Aldeias.
Ao visitar uma aldeia, é possível
se deparar com uma realidade no mínimo
desoladora, além da desestruturação
de nossas famílias, somos obrigados
a viver distantes um dos outros, em habitações
inadequadas, às vezes, com cobertura
de plástico ofertado por alguém.
(...)
Atualmente, somos subjugados através
das leis que regem interesses mercantilistas
de um sistema pervertido da essência
humana.
Desde pequenos, somos orientados a participar
de todas as atividades implantadas de acordo
com as necessidades de cada grupo. Todas
as fases evolutivas do SER são respeitadas.
Aprendemos a importância colaborativa
de participarmos de cada processo criado
para dar continuidade a nossa existência
e das futuras gerações. Os
ensinamentos são hereditários,
ou seja, passados de pais para filhos.
Acreditamos
na dualidade, na presença do masculino
e feminino, na existência do bem e
do mal. Somos espiritualistas.
Todos possuem responsabilidades quanto à
condução de nossas estratégias
de sobrevivência coletiva. Não
há interesses individuais. Existe
sim, uma preocupação com o
bem-estar de todos.
Nossas crenças espirituais são
baseadas na comunicação entre
os espíritos dos nossos antepassados,
entre o Criador e a Mãe Natureza
(sol, lua, estrelas, trovões, relâmpagos,
chuva, terra, fogo, água, florestas
etc.). Cantamos e dançamos reverenciando
todos os elementos naturais que nos cercam
- forma utilizada para agradecer tudo que
possuímos.
Entendemos que nosso direito de continuar
participando deste grande projeto natural
está relacionado com a forma de interagirmos
com o meio. Se cuidamos e preservamos, agradecemos
tudo que nos é ofertado e continuamos
com o direito de ter nossa própria
vida.
(...)
Além da nossa sabedoria milenar,
hoje, por meio da nossa presença
em Universidades, Faculdades e Escolas de
nível fundamental e médio,
buscando informações necessárias
para continuarmos lutando pelos nossos direitos,
mostramos também que somos capazes
de adequar os conhecimentos de outras culturas.
O contato com a cultura do "homem branco"
tem causado prejuízos irreparáveis.
Atualmente, em várias comunidades
existem problemas causados pelo alcoolismo,
drogas, "catequização",
capitalismo, corrupção, destruição
da fauna e flora, isolamento, mistificação,
diminuição ou perda total
do território, fome e miséria.
Foi implantado um mito: o de que somos preguiçosos,
ladrões de terras e selvagens. Tudo
isso com o objetivo de nos afastar cada
vez mais da humanidade como um todo, com
a única intenção de
nos integrar a sociedade "civilizada",
a sociedade "pseudo-européia",
tirando de uma vez por todas o pouco do
nosso território que ainda nos resta.
E para aqueles que perderam tudo, tirando
a possibilidade de recuperar o que foi roubado.
Sabemos da existência de pessoas que,
apesar da cultura ser diferente da nossa,
tem a compreensão de que temos o
direito de continuar vivendo em nosso território
de origem e que temos muito para contribuir
com a humanidade.
Atualmente, nos bastidores do governo existem
pilhas de processos demarcatórios
engavetados, bem como o nosso Estatuto.
Ao contrário de resolver nossas pendências,
até como forma de reparação
(palavra cujo uso está em moda e
que infelizmente ainda não fomos
inseridos nesse uso) os legisladores dão
preferência à formulação
e criação de mecanismos, emendas
e decretos que favorecem a permanência
dos fazendeiros latifundiários em
nosso solo sagrado para a implantação
do agronegócio. Este se trata de
mais uma forma criada para se ganhar mais
através da destruição
do solo, do desmatamento, transformando-o
em deserto verde, que antes servia de abrigo
para a biodiversidade.
Fonte:
http://www.indiosonline.org.br
Por Yakui Tupinambá |