Potiguariana
Digital
Experiências
de Educação Popular
Movimento
de Natal
- Igreja Católica RN
O
Trabalho Pastoral da Igreja Católica no
RN
A
Verdadeira História da Indústria
Têxtil Seridó contada pelos
seus próprios operários –
Livreto Mimeografado 1984
“No
asfalto uma rosa brotou e sobre uma fenda abriu-se
em tenda”
A Comissão Justiça e Paz acompanha
solidário movimento operários da
Seridó, CJP 1984
De
Pé no Chão | 40
Horas de Angicos | Movimento
de Natal | CEBs
no ES | Potiguariana
Padre
João Maria | Padre
Monte | D.
Eugênio Sales | D.
Nivaldo Monte | Mons.
Expedito Medeiros | História
Igreja RN | Ação
Católica | A
Ordem | Movimento
de Natal | Escola Serviço Social l Emissora
de Educação Rural | Sindicalismo
| MEB
| SAR
| Educação
Política | Justiça
e Paz
A
VERDADEIRA HISTÓRIA DA INDÚSTRIA
TÊXTIL SERIDÓ CONTADA PELOS SEUS
OPERÁRIOS
O
COMEÇO DA CRISE
POLÍCIA
FEDERAL, DOPS, PAE...
A
CANOA FURADA
A
VERDADEIRA HISTÓRIA DA INDÚSTRIA
TÊXTIL SERIDÓ CONTADA PELOS SEUS
OPERÁRIOS
Rosa
Tenda
“No asfalto uma rosa
Brotou
e sobre uma fenda
abriu-se em tenda”
Há quase 10 meses, nossos irmão
operários da Ind. Têxtil Seridó,
estão sem receber salários, passando
necessidades, sem ver o seu problema resolvido.
Por isso, desde o dia 27/09/84, cerca de 400 operários
acamparam em frente ao Ducal Palace Hotel, em
pleno centro da cidade de Natal, à rua
João Pessoa, tentando chamar a atenção
da população das entidades e dos
políticos, sobre sua dramática situação
e pressionar o governo e a empresa a resolverem
essa questão A COMISSÃO PONTIFÍCIA
DE JUSTIÇA E PAZ, esteve lá, junto
aos operários, entrevistando-os, para saber
e divulgar a realidade de todo o movimento. Os
operários falaram e o seu grito acusa muita
gente: desde os parlamentares, o sindicato da
categoria, as entidades sindicais que dizem defender
o trabalhador, até o Governador do Estado.
A entrevista foi no dia 07/10/84.
A
COMISSÃO JUSTIÇA E PAZ
ACOMPANHA SOLIDÁRIO MOVIMENTO
OPERÁRIOS DA SERIDÓ
COMISSÃO PONTIFÍCIA JUSTIÇA
E PAZ: Como é que começou essa história
toda, que resultou, nesse acampamento de vocês,
aqui em frente ao Hotel Ducal?
OPERÁRIO:
É uma história muito longa, que
começou com o grupo UEB, que Aluísio
Alves, juntamente com o General Afonso de Albuquerque
Lima e seu irmão José Luís,
trouxeram para Natal. Depois, esse grupo transformou-se
no grupo IRSA e era composto da Indústria
Têxtil Seridó, o Hotel Ducal, a Sparta
Confecções, a Incarton, o Café
Alpha, do Rio de Janeiro, a Sparta Rio, uma Corretora
e também um escritório em Nova York.
Não sabemos o porquê dessa transformação,
só sábados que, a partir de 1982,
misteriosamente, Aluísio Alves deixou de
ser acionista, vendendo os 25% de ações
que ele tinha, não se sabe pra quem. Mas,
desde maio de 1981 começaram a atrasar
os recolhimentos do FGTS (Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço) e do INPS, além
das prestações da casa própria,
que descontavam da gente, mas os salários
do pessoal começaram a atrasar mesmo a
partir de maio de 1983.
COMISSÃO:
Na época do maior pique, quantos operários
trabalhavam na Seridó?
OPERÁRIO:
Cerca de 1.300 funcionários, nos setores
de Fiação, Tecelagem, Acabamento
e Administração da fábrica.
Então, primeiro eles desativaram a Fiação
e aos poucos foram desativando os outros setores,
numa tentativa, cremos, de desmobilizar o pessoal.
E como o Diretor Administrativo, Garibaldi Alves,
é irmão de Aluísio, a fábrica
funcionava como uma espécie de Comitê
Eleitoral, porque os empregados da Seridó
eram, na maioria, o pessoal das fazendas dos Alves
no interior, em Angicos, Pedro Avelino, Lages,
Afonso Bezerra, etc. e predominava aquela relação
de paternalismo, o pessoal não fazia greve,
não protestavam, em consideração
a seu Garibaldi, acreditando nas promessas. Tanto
isso é verdade que os Alves acabaram ganhando
a eleição em São Gonçalo
do Amarante, município onde se situa a
Seridó e outras empresas deles.
^
Subir
O
COMEÇO DA CRISE
COMISSÃO:
E depois, o que houve?
OPERÁRIO:
Aí, quando a crise se tornou patente mesmo,
o pessoal estava praticamente desarticulado e
o Sr. Garibaldi nos enrolando, dizendo que a fábrica
voltaria a funcionar em uma semana, ou no máximo
em 15 dias. Depois foi criada uma comissão
só de Chefes, que, junto com o pessoal
do sindicato tentou mandar documento para o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social), maior credor da Seridó, cobrando
uma solução para o problema da Seridó.
Como não vinha solução, o
pessoal começou a participar. Nós
conseguimos furar as reuniões e cobrar
da diretoria de nosso sindicato uma posição
mais atuante, pois estávamos sendo enganados.
Por sinal, essa diretoria do sindicato foi eleita
pelos patrões, sempre fez o jogo deles,
nunca procurou mobilizar a categoria pra lutar.
Então, começamos a lutar pra descobrir
a verdade, e começamos a nos mobilizar.
COMISSÃO:
E qual foi a decisão que vocês tomaram?
OPERÁRIO:
- Bem, em 1º de maio deste ano, fizemos uma
passeata com mais ou menos 400 operários,
até a Federação e cobramos
do Governo do Estado uma posição,
pois já estávamos com 5 meses de
salários atrasados e não tínhamos
nem mais a cantina. (quando o pagamento começou
a atrasar, eles liberaram a cantina pra gente
fazer uma feira no valor de 25% do salário,
por quinzena). Então, o Governador se comprometeu
de público a resolver a questão.
A Rede Globo garantiu que ia fazer uma reportagem
sobre o nosso caso o ficamos, no dia 3 de maio,uns
200 operários esperando a Globo, com faixas,
cartazes, etc., mas nada, ela não apareceu.
A diretoria da Seridó pediu pra diretoria
do sindicato desarticular o nosso pessoal que
tava na portaria da fábrica, mas resolvemos
entrar na empresa e só sair com uma solução.
Ai conseguimos a liberação de 20
milhões pra pagar a cantina o a gente poder
fazer feira. E de lá pra cá, o governo
do estado, vendo a pressão que fazíamos,
resolveu liberar uma cesta de alimentos duas vezes
ao mês.
“NESSA
ALTURA JÁ NÃO TINHAMOS COMO PRESTAR
ASSISTÊNCIA
À FAMÍLIA E NOSSOS FILHOS, OPERADOS,
ESTAVAM MORRENDO”
COMISSÃO: E essa cesta, como é que
vinha?
OPERÁRIO:
Essa feira não era suficiente, pois faltava
muita coisa. Só vinha mesmo, para as crianças,
dois quilos de leite, feijão, farinha,
açúcar, café arroz e sabão.
Ficamos também sem ter onde morar, pois
quem tinha casa alugada estava sendo despejado.
Água e luz tavam congeladas, mas a gente
sabe que vão logo cortar, né? e
tinha problemas de doenças, a gente não
tinha como prestar assistência a família
e os filhos da gente, operados, tavam morrendo.
Aí, fizemos uma assembléia geral,
pois a gente via que a diretoria do sindicato
não tava com coragem de entrar na luta
pra resolver. Formamos uma comissão, quando
resolvemos passar 45 dias fazendo piquete em frente
à fábrica. Essa comissão
foi ao Rio e teve a promessa do BNDES de que ia
sair uma indenização pra todos os
funcionários, no dia 30 de setembro. Como
essa indenização não saiu,
o pessoal resolveu se unir mais e partir para
uma nova luta.
COMISSÃO:
Na 1ª fase do movimento, houve a mobilização.
Depois esse 1º piquete, defronte à
Seridó; qual a repercussão dele
na opinião pública? Porquê
esse movimento atual está sendo eficaz
do que o piquete em frente à fábrica?
OPERÁRIO:
O 1º piquete não foi muito positivo
porque a fábrica estava praticamente fechada,
o patrão pouco se lixando pra isso, pois
não tinha mais produção,
mais tecido pra vender, não tinha mais
lucro. Se tivéssemos nos articulado e mobilizado
quando ainda estávamos produzindo, acho
que a questão estaria resolvia. Mas, se
do lado econômico, não conseguimos
nada, foi bom porque, politicamente, a categoria
evoluiu, o pessoal se uniu mais, luta mais. Outro
ponto, foi que nós passamos 45 dias em
frente à fábrica e não houve
muita repercussão porque ela é muito
afastada de Natal e a própria imprensa
não colocou a coisa corretamente. E a gente
não tem um jornal que mostre claramente
a nossa luta. O próprio espaço na
rádio era limitado. Só conseguimos
dizer o que sentíamos na Rádio Rural,
no programa da Comissão de Justiça
e Paz, no programa “Maioria” e no
“Olho da cidade”. As matérias
pras outras rádios saíam filtradas,
elas não divulguem a nossa posição,
o que a gente tava pensando.
COMISSÃO:
Que dizer que, nesta 1ª fase, fora a Emissora
de Educação Rural, o resto da imprensa
(os outros jornais e rádios e a televisão),
não emitem nada?
OPERÁRIO:
- Olha, saía alguma coisa na Rádio
Trairi e no Diário de Natal, mas a Tribuna
do Norte e a Rádio Cabugi, por ser do Grupo
Alves, tendo um irmão de Aluísio
na direção da Seridó, nunca
divulgaram nada, nunca deram uma nota sequer,
durante os 45 dias de piquete. Quanto à
televisão, a atuação dela
foi até engraçada, veja só
o que eles aprontaram com a gente: A TV-U nem
apareceu por lá. A Globo, que tinha garantido
aparecer, chegou pegando carona na vinda de Maluf,
recentemente, pra fazer a reportagem com a gente.
Demos a entrevista e ficamos sabendo que tudo
saiu cortado, que nós denunciamos nossa
situação, o caso do BNDES, o caso
das autoridades e nada disso foi apresentado.
E a TV Manchete, queria porque queria, que nós
trabalhadores disséssemos que estávamos
apoiando Maluf. Mas nós dissemos o que
achamos, que o Maluf veio aqui pra fazer o que
é do interesse dele, ele veio comprar os
deputados para o Colégio Eleitoral.
“A
SERIDÓ DEVE SÓ À COHAB, DE
PRESTAÇÕES ATRASADAS,
CERCA DE CR$ 91 MILHÕES DE CRUZEIROS”
COMISSÃO:
E como é que foi essa 2ª fase, a vinda
de vocês aqui pra frente do Ducal?
OPERÁRIO:
- Bem primeiro teve o seguinte: quando a gente
tava em frente à fábrica, viajaram
companheiros nossos para o Rio e vieram com uma
resposta do BNDES, que teríamos direito
a 3 vales, sendo 1 de Cr$ 100 mil e outros de
Cr$ 50 mil e o que a fábrica seria reativada.
E também, como já dissemos, que
o pessoal que entrasse com o pedido de demissão,
no dia 30 de setembro receberia indenização,
FGTS atrasado, etc.
COMISSÃO:
E aquelas prestações da COHAB, que
não dão mais ou menos Cr$ 91 milhões,
como ficam?
OPERÁRIO:
É, eles descontavam da gente e não
recolhiam, as prestações da COHAB,
que estão mais ou menos nesse valor, o
INPS e a contribuição sindical,
além do FGTS, Olha, isso tudo aí,
ta atrasado desde maio de 1981. Mas a gente sentiu
que a coisa tava meio furada, não havia
documento do BNDES confirmando aquilo, então
a gente tentou fazer uma assembléia, mas
a diretoria do sindicato não quis assumir
a luta, infelizmente, dizendo que devíamos
esperar até 30 de setembro, a data que
o Banco tinha marcado, segundo informações.
Mas, então, resolvemos convocar e realizar
uma assembléia na 4ª feira da semana
passada (dia 26.09). A proposta da diretoria foi
de entrar com uma ação na justiça,
mas a justiça é muito morosa, né?
democracia de 4 a 5 anos pra resolver e até
lá muita gente já teria morrido
de fome, como aliás, alguns já morreram,
né? Aí, surgiu a proposta de bloquearmos
o Hotel Ducal. A diretoria do sindicato disse
“que não tinha as costas pra levar
pancada”, mas exigimos a sua presença,
pois o sindicato somos nós todos. Então,
ela veio, mas está pouco atuante. Decidimos,
assim, sair, às 8 horas da manhã,
de 5ª feira, dia 27.09, da fábrica
a pé para o Ducal. E aqui estamos.
COMISSÃO:
Já tivemos, por aqui, a greve dos professores
universitários, a dos professores da rede
secundária, a outras e a gente viu que
não conseguiram mobilizar tanto a opinião
pública, desde o início, observou
esse movimento dos operários da Seridó?
OPERÁRIO:
Notamos que este movimento tornou-se mais amplo,
mais divulgado e assim recebemos o apoio de toda
a população, da Igreja, da Comissão
Pontifícia de Justiça e Paz, do
CENTRU (Centro de Treinamento do Trabalhador Rural),
etc. Sentimos que o povo ta sempre unido com a
questão do trabalhador e temos conseguido
o apoio de toda a comunidade, nesse movimento
que marca, vamos dizer, a história do trabalhador
brasileiro no estado.
OPERÁRIO:
- E nós vemos também, que há
uma diferença entre nosso movimento e o
movimento dos canavieiros, dos professores. A
gente entende o seguinte: as greves deles já
estão mais a nível político,
estão mais avançados, porque aqueles
companheiros estão lutando contra a exploração,
por melhores salários, enquanto nós,
da Seridó, não questionamos agora
a exploração, embora também
sejamos explorados; estamos lutando pra voltarmos
a trabalhar.
OPERÁRIO:
Nosso movimento foi forçado pelo nossa
patrão, que, aliás é o mesmo
do Ducal. A população nos ajudou
bastante, estamos tendo um grande respeito do
povo de Natal e o movimento está sendo
bem divulgado. Conseguimos um carro de som e todo
mundo teve oportunidade de conhecer nosso problema.
Estamos há muito tempo sem dinheiro e há
casos de companheiros que já perderam filhos,
os filhos morreram de fome. E a gente ta tendo
o apoio até da Maçonaria. É
............. pra danado: da Igreja até
a maçonaria.
COMISSÃO:
E os donativos, têm aparecido pra vocês?
OPERÁRIO: A Igreja Sta. Terezinha ta recebendo
e trazendo donativos. O pessoal tá divulgando
nas missas e pede o apoio da comunidade. Temos
recebido batata, feijão, farinha leite,
comida pro pessoal. Estamos recebendo doações
dos trabalhadores rurais de Lagoa Salgada, de
Poço Branca, etc. Também os estudantes
estão se mobilizando nos colégios
e trazendo pra cá. E tem o pessoal que
passa, conversa e faz sua doação.
O pessoal da Pastoral operária também
nos apóia. Apareceu também uma barraca,
dando uma força grande à gente,
pois ficar o tempo todo no sol é duro.
^
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POLÍCIA
FEDERAL, DOPS, PAE...
COMISSÃO:
Nós sabemos que no primeiro dia de vocês
aqui, apareceu uma coisa chamada PELOTÃO
DE ATIVIDADES ESPECIAIS ( PAE ), que é
um pelotão sem identificação,
o pessoal praticamente dos grupos de extermínio,
como bem denunciou em documento recante da Comissão
de Justiça e Paz. Quer dizer, é
o pessoal da barra pesada, né? e tinha
também cães, bombas de gás
lacrimogêneo, etc. Como foi essa confusão
toda?
_____________________
OPERÁRIO:
O pessoal tava aí, muito tenso, menos os
operários, pois estamos conscientes e não
ultrapassaremos o que ficou decidido na assembléia.
Nessa proposta é a de um ato público
e do acampamento pacífico. Mas o PAE tava
aqui, bem montado, bem equipado, armado cem escopeta
e tudo pra defender o Ducal, mas sentiram que
estamos reivindicando um direito, pacificamente
e não houve problemas, com ele.
OPERÁRIO:
A gente vê é que quando o trabalhador
se organiza pra lutar pelos seus direitos. Em
contrapartida aparece o poder do patrão.
Por que fomos ameaçados? Como é
que ele consegue arranjar o dinheiro (muito mais
do que nos deve) e a influência pra comprar
autoridades, enfim, a própria polícia
pra nos reprimir, nos dar pancada? Tivemos momentos
difíceis aqui. Fomos gentilmente solicitados
a entrar no Ducal: quando nós chegamos
lá dentro, tinha uns 30 a 40 policiais,
querendo nos intimidar. Quando fomos pro lado
da praia, com o carro de som, pra denunciar o
que ta havendo, um carro da Polícia Federal,
do DOPS, nem seguiu o começou a parar o
carro deles ao lado do nosso, como se tivéssemos
medo de denunciar. Mas nós não temos
medo de nada, queremos é dizer a verdade.
Mas a gente vê que as autoridades, a justiça,
que deviriam estar do nosso lado, estão
ao lado do patrão, ajudando-o a engordar
seus bolsos e massacrando o trabalhador. E nossa
luta é justamente para unir o trabalhador,
pra que ele dê a volta por cima e acabe
com essa mania de ficar sempre omisso, a esperar.
O trabalhador tem mais é o que se unir
e ir à luta pra acabar com essa falta de
vergonha: as autoridades sempre protegem o patrão,
deixando o trabalhador sempre no meio da rua.
COMISSÃO:
E o que vocês acharam mais difícil
inicialmente, aqui?
OPERÁRIO:
Um dos maiores problemas que tivemos foi com o
Sr. Júlio César, diretor do Hotel.
Ele queria, sozinho, nos tirar de qualquer forma
daqui. Mas criamos coragem e não abrimos
... ele, mesmo quando ele telefonou pro Governador
(umas 40 vezes), pedindo reforços policiais
pra nos arrancar daqui. Depois, ele fez algumas
entrevistas, querendo nos intimidar, com os policiais
do DOPS, advogados, etc. Mas nós, em nossa
pequenez, fomos fortes na palavra, não
abrimos. Aí ele chegou à conclusão
que era melhor deixar de nos perseguir.
“OS
NOSSOS PARLAMENTARES SÃO UMA PIADA, SÃO
OS
JUSTOS VERÍSSIMOS E OS CASCATINHAS DA VIDA”
COMISSÃO:
E a atuação dos nossos parlamentares,
os chamados homens do povo, como anda? Seria bom
a gente dar uma visão geral nisso e depois
falar de partido por partido, né?
OPERÁRIO:
Esses chamados homens do povo, mesmo não
têm é nada. É muito fácil
irem à Assembléia (deles, claro),
dizer-se solidário com o trabalhador da
Seridó. O que a gente nota é que
nossa água, do nosso caldo do feijão
(embora vomite lá fora), pra ganhar nosso
voto. Mas, quando chega a hora do pique, que a
gente tá precisando dele, ele mostra o
que é, que está se lixando pro nosso
problema. Quer é defender o lado dele,
continuar o poder, defender o poder. Estiveram
poucos parlamentares aí, alguns do PMDB,
outros do PDS, dizendo que tavam solidários
com o trabalhador, mas que não vieram pra
praça pública colocar isso aí,
nem realizaram nada na prática. A gente
tem notado que quem está acompanhando a
gente, sempre dando força aqui é
o representante do Partido dos Trabalhadores,
o PT, inclusive na parte material, porque os parlamentares
dos outros partidos dizem que estão do
nosso lado, mas até agora não fizeram
nada por nós.
COMISSÃO:
Mas, não tem nenhum parlamentar que vocês
pudessem citar, que, de alguma forma manifestou-se
sobre o movimento de vocês?
OPERÁRIO:
Bem, o único parlamentar que puxou a questão
na Assembléia foi o Deputado Hermano Paiva,
do PMDB. Agora teve um outro político,
que foi tirado da barbearia do Ducal, porque nós
fomos até lá (risos). Ele tava lá
dentro fazendo a barba e o cabelo pra receber
o Maluf, ontem. Então a gente citou que
o ex-governador Lavoisier Maia tava ali no Ducal
e nós queríamos que ele viesse de
público colocar a solidariedade para com
os trabalhadores da Seridó. Aí ele
citou o seguinte: “que que vocês fizeram
que me descobriram?”
COMISSÃO:
Sim, e o que vocês tinham mais a dizer,
sobre isso?
OPERÁRIO:
Olha, várias vezes fomos à Assembléia.
Enviamos documentos, inclusive alguns assinados
por 34 entidades sindicais e associações
de classe, e o que nós vimos ou ouvimos?
O próprio deputado Kleber Bezerra disse
que eles não tinham força pra lutar
pelo trabalhador, que a Assembléia não
tinha força. Mas em contrapartida, esse
mesmo deputado, Kleber Bezerra, colocou o problema
da NOVA AMÉRICA, fábrica de tecidos
no Rio de Janeiro, mais grave que o nosso. O que
a gente estranha é que esse parlamentar
foi eleito pra defender o povo do Rio Grande do
Norte e não defende. Fica se preocupando
com problemas do Rio, abandonando o nosso.
^
Subir
A
CANOA FURADA
OPERÁRIO:
E também nós cobramos do próprio
Garibaldi Alves Filho, o porquê da omissão
dele, o porquê da não atuação
nesse assunto. Ele se desculpou e disse que ainda
não havia atuado, porque o pai dele é
diretor da Seridó ele ficou assim, vamos
dizer, com medo de denunciar na Assembléia,
com medo dos outros colegas da Assembléia
e da própria Câmara de Vereadores.
Isso foi no Gabinete dele. E tem também
um determinado vereador, que veio aqui em frente
ao Ducal e pediu que fôssemos em comissão,
que ele iria denunciar na Câmara. Então,
nós perguntamos: olha, nós vamos,
mas teremos direito a vós? Porque quem
entende de Seridó somos nós, vocês
não estão nem aí, solidários
com o nosso drama. E isso é assim mesmo,
mas o que sentimos foi que é o mesmo que
acontece com os outros parlamentares: só
dizem que estão solidários e dão
o apoio moral, né? O que vimos era que
o nobre vereador quis, mais uma vez, fazer demagogia,
aparecer, faturar em cima, pois o nosso caso está
perto do desfeche, do fim. É justamente
o que vimos: os nossos parlamentares são
piadas. Os Justos Veríssimos e os Cascatinhas
da vida, que temos por aí. (personagens
do programa de Televisão do Chico Anísio).
COMISSÃO:
Quer dizer que a opinião de vocês
sobre a atuação dos parlamentares
e essa?
OPERÁRIO:
Eles foram eleitos para defender o povo, mas isso
não acontece na realidade. Eu não
sei até que ponto eles entendem o que é
ser solidário. Pra nós, solidariedade
é estar, realmente do lado do operário,
na luta. É isso que é ser solidário.
OPERÁRIO:
Bem, a gente só vê palavras. E palavras
não enche barriga. De palavra em palavra
é que se passou tanto tempo nessa situação
e nos levou a isso. Nós necessitamos de
apoio do nossos parlamentares, mas, infelizmente,
só tem palavras dentro dos gabinetes e
promessas que nos trazem. E a verdade é
que durante todo esse tempo, não teve nenhum
parlamentar a dar sua palavra em público,
porque seriam palavras mentirosas. Eles viriam
falar aqui, mas como só falam mentiras,
eles não vêm aqui, porque lá
nos gabinetes são eles que sabem, então
eles falam lá. Vejam, apesar de nós
termos convidado tanto que já estamos cansados,
eles, até ......., 11 dias de batalha aqui,
não apareceram. Quem tem aparecido são
as entidades da classe trabalhadora, que nos tem
dado esforço bastante.
OPERÁRIO:
Sim, o que a gente vê também, que
se tem comentado por aí PE que o Governador
José Agripino tem dado apoio a nós.
Mas sabemos que isso é uma questão
política e a nível local. Ele parece
não querer tocar no problema, por conta
dos Alves na empresa. Ele não coloca o
apoio dele, do público, não quer
jogar o público contra os Alves. E esses,
tanto o deputado Federal Henrique Eduardo, como
Garibaldi Filho, não falaram nada, nenhum
pronunciamento a respeito. E, em contrapartida,
eles não podem dizer que o governador está
alimentando grevistas, porque eles são
aliados. Numa visão mais ampla, vemos que
a divergência deles é só a
nível local, mas, lá fora, na política
nacional, eles são aliados, porque estão
todos no mesmo barco, enquanto os trabalhadores
da Seridó, estão numa canoa furada
ao sabor dos ventos políticos, né?
OPERÁRIO:
A atuação do governador é
parecida com a visão do nosso sindicato.
É aquela visão da extensão
do INPS, que o sindicato seja isso. Mas nós
entendemos que o sindicato não é
isso ele tem que ir à frente, à
luta, combater. E é justamente aí
que eu faço a comparação
com o governador, nosso lance de proteção,
de ajuda. Nós fomos várias vezes
procurá-lo, cobrar dele uma posição
mais enérgica e notamos um esfriamento.
A gente nota que tudo isso é jogo de interesses,
jogo político. O trabalhador está
sendo usado e não ajudado.
“O
DUCAL CONTRATOU ATÉ SEGURANÇAS PARTICULARES
DO BERNARDÃO PRA NOS PROVOCAR, À
NOITE”.
COMISSÃO:
Os jornais de Natal divulgaram que os funcionários
do Hotel Ducal estavam querendo entrar com uma
ação, mandado de segurança,
alguma coisa, pra continuarem trabalhando. Ou
seja, pelo que a imprensa colocou, eles estariam
contra o movimento de vocês. Poucos dias
depois, a gente vê nos jornais que não
foi bem assim. Qual é a verdadeira história?
OPERÁRIO:
- Bem, no início eles foram solidários
com o nosso movimento. Eles nos deram várias
informações sobre a chegada de ônibus
de turistas pro hotel. E nós até
chegamos a desviar em dois ônibus que traziam
a Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Jorge Ben e a Banda
do Zé Prontinho, que viram dar um show
em natal. eles iam se hospedar no Ducal. Então
os funcionários nos ............ , dizendo:
“não saiam daí, fiquei aí,
que vocês vão conseguir”. Então,
nós achamos que essa posição
divulgada na imprensa, não é a dos
trabalhadores, mais uma vez tem o dedo do patrão
por trás disso, através do Daniel
Kittel e do Júlio César (Gerente
e Diretor do Ducal). Através da associação
dos funcionários do Ducal, eles tentaram
jogar a opinião pública contra nós,
pra justificar a repressão e pra que não
tivéssemos o apoio da comunidade. Contrataram,
até quatro seguranças do Bernardão,
que ficaram na 2ª feira provocando o pessoal,
à noite, quando tem menos gente pra ver
encrenca, pra desarticular nosso movimento.
COMISSÃO:
E o que vocês fizeram, então?
OPERÁRIO:
- Nós, como estamos conscientes do que
queremos, não respondemos às agressões
e aos insultos. E na 3ª feira, fomos falar
com o Daniel, que também é da Associação
dos Funcionários do Ducal, colocamos as
coisas em pratos limpos e tudo ficou resolvido,
eles entenderam tudo, desativaram a segurança
interna.
OPERÁRIO:
- Uma coisa que a gente vê nisso tudo é
que quem tem menos força é o sindicato,
e presidente do nosso sindicato tem pouca força.
Ele tentou fugir, mas encorajamos ele através
de nossa força e conseguimos trazê-lo
à frente. Mas, no 2º dia, não
sei se por medo do patrão ou o que era,
ele fugiu alegando estar com a perna doente, que
ia enfaixar. Nós fizemos pressão
sobre ele e ele voltou, está à nossa
frente. Depois, ele foi para o Rio, deixando a
carga sempre do nosso lado e apesar de tudo, nós
viemos assumindo e estamos esperando uma boa resposta,
quando ele voltar. Quem faz o sindicato são
os operários, nós é que somos
a força.
OPERÁRIO:
- Ele (o presidente do sindicato) não tem
iniciativa e é preciso que à frente
do sindicato tenha alguém com muito iniciativa.
OPERÁRIO:
Há uma certa divulgação da
imprensa sobre o nosso movimento, e é bom
deixar claro que essa luta, a vitória será
alcançada pela classe trabalhadora. Quer
dizer, quem conseguiu foi o trabalhador unido,
a força do trabalhador. Não é
o que a imprensa vem colocando, que o deputado
Henrique Eduardo tá falando com o presidente,
tá no BNDES, que o próprio Aluísio
está preocupado, está atuando, pois
nós sabemos que esses dois nunca se preocuparam
com o problema da Seridó, pelo contrário,
sempre preocuparam em abafar, porque eles têm
um parente lá, o Diretor Administrativo,
Garibaldi Alves. Eles não têm interesse,
se tivessem tinham força para atuar. Aluísio
Alves, por exemplo, tai com sua diretoriazinha
no BEMGE (Banco do Estado de Minas Gerais, é
assessor do Tancredo Neves e assim ele vai vivendo
usando a classe trabalhadora.
COMISSÃO:
E agora, como é que ficam as coisas?
OPERÁRIO:
Bem, que fique claro, também, que caso
atinjamos nossos objetivos, não foi a vitória
do A, B ou C, ou daqueles que colocam de público
a questão puxando a brasa pra sua sardinha,
pois há quase 10 meses que estamos sem
receber salários e ninguém, nenhum
parlamentar se tocou. Fomos nós, os trabalhadores,
unidos que viemos à rua gritar o nosso
grito está encontrando eco por toda a parte
da população, por parte das entidades
sindicais. Nós encaminhamos, há
uns dois meses, pra todos os parlamentares do
estado, tanto do PDS como do PMDB, e não
houve nenhum pronunciamento na Câmara. Somente
o deputado Antônio Camara fez um pronunciamento,
quando recebeu um documento da Comissão
de Justiça e Paz.
OPERÁRIO:
E todo esse dilema vai ser resolvido no Rio. Porque
o poder sai de lá e não daqui? Será
que o governo daqui não tem poder de ir
à frente? Será que a gente tem do
esperar que o poder venha de lá? Será
que o governo daqui não tem condição
de resolver?
OPERÁRIO:
Nós ouvimos os parlamentares declararam
que não tinham condições
de resolver esse problema. E eles estão
sabendo do problema, do assunto, como chegou a
isso, a essa exploração. No primeiro
passo que demos, lembrei-me de Dom Nivaldo Monte
e me dirigi até o chefe da Igreja, que
nos orientou bastante e assim a sociedade começou
a dar apoio. E nós estamos conseguindo
através de nossa união, porque os
nossos superiores não participam. São
pouquíssimas as pessoas importantes, homens
que estudaram, que vêm participar. Nós
não temos cultura, apenas fomos movidos
a trabalhar naquelas máquinas. E nenhum
parlamentar veio aqui, no nosso microfone, usar
nosso carro de som, até hoje, pra falar
que tava do nosso lado. Então agente vê
que não existe oposição no
Rio Grande do Norte, o que existe são os
políticos tando do PSD quanto do PMDB,
comprometido com o dinheiro, com os patrões.
Ele não vem falar aqui, porque fica pensando
no cargo seguinte, quer se eleger mais uma vez.
É um interesseiro.
“A
CONCLAT, A INTERSINDICAL E ALGUNS SINDICATOS
NÃO COMPARECERAM. DEVE SER POR CAUSA DO
RACHA”
COMISSÃO:
A gente poderia fazer uma reflexão sobre
a questão da organização
em qualquer tipo de movimento. Qual a idéia
de vocês sobre a questão da organização
popular?
OPERÁRIO:
No primeiro momento, a gente sentiu que o trabalhador
se une quando tem uma questão crucial,
que no nosso caso foi a fome. Agora, isso foi
importante, pois o trabalhador está despertando
para uma visão mais politizada, se unindo
e combatendo mais. Sabe que o sapato tá
apertado, sabe que tá ficando doente o
que é preciso lutar. A gente tem aqui os
sindicatos e apoio de várias entidades
sindicais e poucas se mostraram a favor realmente
da nossa luta. a Conclat (Coordenação
Nacional das Classes Trabalhadoras), a Intersindical
(entidade que congrega alguns sindicatos de Natal)
e outros sindicatos, não ficaram a nosso
favor. Porque hoje tem um racha no movimento sindical
e na hora em que a gente chama pra unificação
da luta, a dos têxteis da Seridó,
a dos canavieiros a dos bancários, esse
pessoal que defendia a unidade do movimento sindical,
não puxou essa questão, dizendo
que a questão devia ser tratada separadamente,
quando foi elaborada uma nota de apoio da luta
dos canavieiros. E concluímos, também,
que o pessoal que tá à frente do
sindicato não tem compromisso com a categoria.
Mas no nosso caso, sentimos que agora ele está
despertando e possivelmente no próximo
ano teremos à frente, uma diretoria combativa.
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