Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
 
 Direitos Humanos
 Desejos Humanos
 Educação EDH
 Cibercidadania
 Memória Histórica
 Arte e Cultura
 Central de Denúncias
 Banco de Dados
 MNDH Brasil
 ONGs Direitos Humanos
 ABC Militantes DH
 Rede Mercosul
 Rede Brasil DH
 Redes Estaduais
 Rede Estadual RN
 Mundo Comissões
 Brasil Nunca Mais
 Brasil Comissões
 Estados Comissões
 Comitês Verdade BR
 Comitê Verdade RN
 Rede Lusófona
 Rede Cabo Verde
 Rede Guiné-Bissau
 Rede Moçambique
REDE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

Educar para os Direitos Humanos

Alfredo Bosi

            O que é uma educação para Direitos Humanos?

            A dificuldade inicial é o caráter geral, abstrato dos dois termos aqui acoplados: Educação e Direitos Humanos. Como tirar da expressão “Direitos Humanos” esta aura abstrata e concretizá-la? Analisando o significado das palavras, vemos que abstrato é uma palavra de origem latina que quer dizer “retirado do contexto”; e concreto também da mesma origem – particípio passado do verbo concrescere – significa “aquele que cresceu junto”. Falar de Direitos Humanos com crianças e adolescentes é inócuo; mas é indispensável que eles vivenciem situações de defesa dos direitos e deveres nas suas relações, desde muito cedo.

            No processo de educação para os Direitos Humanos, distinguimos três fases:

-         sensibilização

-         percepção

-         reflexão

Antes de abordar os Direitos Humanos em nível discursivo é preciso passar por uma fase de sensibilização. A sensibilização se faz em todas as áreas do conhecimento (em artes plásticas, por exemplo, sensibiliza-se o aluno para as formas, as cores). É uma fase concreta que chega diretamente à vivência do aluno: corporal, subjetiva e intersubjetivamente.

No caso dos Direitos Humanos, esta vivência só pode ser captada nas relações humanas primárias, isto é, nas relações fundamentais que trazemos da nossa primeira infância: as relações homem x mulher, pai x filho ou outras instâncias familiares. Depois, isto se estende aos amigos da escola, à relação professor x aluno, que constituem o universo de uma criança.

O período em que a criança está fortemente centrada na afirmação do seu ego é o momento em que se inicia o processo educacional. É uma luta que se enceta conta o egocentrismo infantil: luta sinuosa, estratégica, que vai se transformar em uma pedagogia que deve de algum modo relativizar este egocentrismo.

No entanto, a tendência natural da criança de excluir o outro sintoniza com o princípio básico da sociedade burguesa na qual ela está psicológica e sociologicamente imersa, a competição, a concorrência – na qual impera o “vale tudo”- estão nos fundamentos da ideologia do capitalismo.

O capitalismo multiplica a tendência que é própria da criança, estimulando-a a consumir, a diversificar seus desejos, a satisfazer seus caprichos. Os adultos tornam-se escravos da criança voluntariosa que, através do consumo, sente aumentar seu ego.

Isto acontece na sociedade burguesa, e segundo Marx, “o pensamento dominante de uma classe acaba sendo o pensamento dominante da sociedade inteira”.

É preciso lutar para que a fase natural de centralização da criança seja seguida pela fase também natural de descentralização, quando há o reconhecimento do outro.

Como é possível sensibilizar a criança para o outro? Como ela pode ver no outro uma alternativa do seu próprio ego? Como pode ela criar desde cedo esta reciprocidade fundamental que a Ética chama tradicionalmente de dialética de direitos e deveres?

Na verdade, direitos e deveres são a mesma coisa. Quando estou cumprindo um dever, freqüentemente estou atendendo ao direito de outrem e vice-versa. Direitos e deveres são efetivamente os dois lados da mesma moeda, que é a moeda da responsabilidade social.

Esta Ética dos deveres e direitos deve ser sentida pela criança, no momento em sentir a necessidade do outro. Cabe ao professor aproximar os alunos em torno de atividades comuns, de objetivos comuns.

A maior dificuldade está no fato de nós mesmos, educadores, não termos sido educados para os Direitos Humanos. O primeiro passo, então, seria o da auto-educação, para irmos desvendando e ultrapassando o nosso egocentrismo, autoritarismo, rigidez, já que fomos socializados num sistema de repressão e de concorrência e dele somos vítimas. Na interação com o aluno, o professor atento também vai se educando.

Embora a sensibilização para os Direitos Humanos possa ser levada a efeito com qualquer faixa etária, há momentos da vida escolar em que ela é mais eficaz: na pré-escola e nos primeiros anos do primeiro grau. Até o empréstimo de um lápis ou de uma borracha, de um brinquedo, está o passo inicial para a socialização. A solidariedade se exprime por gestos, por palavras, por um “dar de si”. Os jogos e brincadeiras em que não entrem a competição e a concorrência devem ser estimulados; através deles pode-se conseguir a integração da classe, embora levando em consideração a existência de conflitos. Tem que ser aberto espaço para a integração também dos pais e mestres, da escola com a comunidade. Muitas vezes a família e a comunidade são os locais onde a violência impera. Apesar de não se ter a pretensão de atingir toda a sociedade, a Educação para os Direitos Humanos tem que começar por um elo e o elo privilegiado é o que une uma criança e a família. Se a escola não estabelece uma relação – por mínima que seja – com o núcleo onde a criança está inserida, o programa de educação para os direitos humanos torna-se inviável. Não se trata de a escola assumir o papel de psicanalista da família, mas de propiciar oportunidade para que os pais se encontrem, troquem suas experiências de vida, reconheçam a existência de problemas comuns que podem ser sanados. Estas relações humanas são um pré-requisito para a sensibilização para os Direitos Humanos.

O segundo nível é o da percepção dos Direitos Humanos. A percepção se seguiria à sensibilização e abrangeria as crianças pré-adolescentes e adolescentes, através das diferentes disciplinas. Como, no entanto, chegar à percepção dos direitos humanos através do trabalho interdisciplinar? A resposta deve ser buscada no contexto de cada escola. Os professores poderiam organizar, por exemplo, uma quinzena de debates sobre um tema comum (A constituição, a reforma agrária, o uso do espaço urbano, o problema da marginalização do menor, do negro), mas sempre levando os alunos a procurar conhecer as situações precisas em que os direitos humanos são violados. Nesta fase, o trabalho de campo é fundamental.

Seria interessante iniciar pelas violações aos direitos da criança. Os temas vão orientar as hierarquias e as disciplinas, quanto à coordenação dos trabalhos e à forma de serem apresentados.

O terceiro nível é o da reflexão, no qual o educador se dirige ao aluno do segundo ciclo, do magistério, da Universidade ou a adultos que, além da sensibilização e da percepção, se disponham a debater sobre leis relativas aos direitos humanos, que já foram codificados, assim como sobre problemas emergentes, que exigiriam novas conquistas legais.

voltar

Desde 1995 © www.dhnet.org.br Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: enviardados@gmail.com Facebook: DHnetDh
Busca DHnet Google
Notícias de Direitos Humanos
Loja DHnet
DHnet 18 anos - 1995-2013
Linha do Tempo
Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
Sistema Nacional de Direitos Humanos
Sistemas Estaduais de Direitos Humanos
Sistemas Municipais de Direitos Humanos
História dos Direitos Humanos no Brasil - Projeto DHnet
MNDH
Militantes Brasileiros de Direitos Humanos
Projeto Brasil Nunca Mais
Direito a Memória e a Verdade
Banco de Dados  Base de Dados Direitos Humanos
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
1935 Multimídia Memória Histórica Potiguar