Potiguariana
Digital
Experiências
de Educação Popular
De Pé no Chão
Também se Aprende a Ler
Memória Histórica
Potiguar
Mensagem
ao Povo Brasileiro
Djalma
Maranhão
Montevideo, julho de 1965
De
Pé no Chão | 40
Horas de Angicos | Movimento
de Natal |
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Mensagem
ao Povo Brasileiro
Prefeito de Natal em dois mandatos, Deputado
Federal e Estadual honrei a confiança
popular. Realizei uma gestão administrativa
voltada para o bem do povo. Toda cidade
do Natal é testemunha do meu trabalho
e do meu devotamento.
Fui
deposto porque luto contra aqueles que submetem
as interesses econômicos do Brasil
à voragem insaciável dos grupos
estrangeiros, responsáveis direitos
pela inflação e consequentemente
pelo estado de miséria em que vive
a maioria do nosso povo. Defendí
a reforma agrária e a limitação
da remessa de lucros dos trustes para o
exterior. É o destino histórico
de descender de Jerônimo de Albuquerque
Maranhão, fundador da minha cidade
e que na guerra para a expulsão dos
franceses foi o primeiro brasileiro nato
a exercer o comando de general. General
nacionalista.
Meu
crime maior foi alfabetizar vinte e cinco
mil crianças, na pioneira campanha
De Pé no Chão Também
se Aprende a Ler, reconhecida pela UNESCO
como válida para as regiões
subdesenvolvidas do mundo, em um país
de humilhante maioria de analfabetos e lutar
para dar ao povo, acesso às fontes
do saber, no plano de democratização
da cultura. De fazer Feira de Livros, de
construir uma Galeria re Arte e estimular
o Teatro do Povo. De restaurar e promover
a revalorização dos Autos
Folclóricos. De abrir Bibliotecas
Populares que estabeleceram recordes nacionais
de empréstimos de livros, numa cidade
que não tinha nenhuma biblioteca
pública.
Fiquei
ao lado da Constituição e
da Lei e mantive solidariedade ao Presidente
João Goulart quando irrompeu o movimento
sedicioso que subverteu as instituições
do país.
Fui
traído pelo Comandante da Guarnição
de Natal, Coronel Mendonça Lima,
que me assegurou lealdade ao Presidente
da República e que, se bandeando
para o golpe, após invadir a Prefeitura
com forças militares, convocou-me
ao Quartel General oferecendo-me a liberdade
em troca da minha renúncia. Recusei
em nome da minha honra e do respeito ao
povo que me conferira o mandato por mim
desempenhado.
Preso,
fui entregue ao IPM dirigido pelo Capitão
Ênio de Lacerda. Este, com técnicas
da Gestapo de Hitler, devassou a Prefeitura,
Sindicatos, Estrada de Ferro, Correios e
Telégrafos e Diretórios Estudantis,
prendendo dezenas de pessoa se chegando
a torturar presos e políticos. Enodoava,
assim, o Exército de Caxias do qual
enverguei a gloriosa farda, marchando em
São Paulo nas lutas de 1932, nos
anos de minha juventude.
Fui
preso em cela exígua com sentinela
de fuzil embalado à vista. Permaneci
vários meses, sendo transferido para
estabelecimentos militares em Natal, Fernando
de Noronha e Recife. Nos vários inquéritos
a que fui submetido, reafirmei a convicção
de meus ideáis a favor da soberania
econômica do Brasil, assumindo total
responsabilidade por todos os atos realizados
no governo do município.
Libertado
por decisão memorável no Supremo
Tribunal Federal dirigi-me ao Rio de Janeiro
e publiquei no Correio da Manhã manifesto
ao povo brasileiro, onde denunciei o golpe,
reafirmando minha fé na Democracia
e no destino do Brasil.
Demitido
do meu lugar efetivo de Diretor do Departamento
de Documentação e cultura,
por ato de Aluízio Alves, Governador
a quem ajudei a eleger, entregando-lhe a
votação de Natal, e sem garantias,
numa fase de arbítrio, exilei-me
no Uruguai.
Recuo no tempo e vejo Juvenal Lamartine
em 1930, deposto do cargo de Governador
do Rio Grande do Norte, abrigando-se na
Embaixada francesa e depois exilando-se
no solo sagrado da França. Em 1937
João Café Filho, o vitorioso
de 1930 tem o seu mandato extinto pelo Estado
Novo asilando-se na Argentina. Através
do processo de redemocratização
– porque as ditaduras não são
eternas – Juvenal Lamartine e Café
Filho retornaram à vida pública
e aos braços do povo norte-riograndeses,
voltando a exercer poderosa liderança
política.
Agradeço,
sensibilizado, à Igreja Católica
na pessoa de D. Eugênio Sales que
procurou visitar-me, não o conseguindo
em virtude de minha prisão ser incomunicável,
no primeiro mês. Viajando para Roma
para participar do Concílio Ecumênico,
enviou dois sacerdotes à minha residência
para confortar minha família. Posteriormente
recebi a visita de Monsenhor Alair Vilar,
Vigário Geral da Arquidiocese. Repito
aqui trechos da mensagem de Natal e Ano
Novo que enviei ao Monsenhor Alair Vilar:
“A Igreja de hoje, mais do que nunca,
é a Igreja dos Pobres, na sábia
afirmação de João XXIII,
com mais fome e sede de Justiça.
O desespero e o desabafo dos humildes, em
busca de Pão e Paz acham, sempre
que procuram, guarida sob a Cruz em que
se encontra o corpo lacerado do CRISTO.
Breve
seguirei para o exílio no Uruguai,
na tentativa de recuperar a saúde.
Peço que a Igreja olhe, também
para minha família que fica na Pátria
aguardando meu regresso”.
Agradeço
ao Rotary, ao Lions e demais instituições
liberais; às classes empresariais;
à magistratura e ao magistério;
à imprensa e aos desportistas pelos
créditos de confiança tantas
vezes cedidos a minha administração.
Guardo
o conforto das lições que
a Maçonaria transmitiu ao meu pai
– e que ele plasmou na minha formação
– uma instituição que
se torna mais humana, na medida em que mais
se solidariza com a dor universal. Nesta
hora os Pedreiros Livres não me faltaram
com a sua solidariedade.
Aos escoteiros, meus irmãos, mando
o meu “Sempre Alerta”. A semente
do escotismo renasce todos os dias no coração
da juventude.
Relembro
que a Prefeitura do Natal e a Universidade
do Rio Grande do Norte somaram esforços
em benefício do povo e se identificaram
pela simbologia da honestidade, da honesta
aplicação de suas verbas.
No campo intelectual a Universidade é
a marca mais forte que ficará gravada
no tempo e o Reitor Onofre Lopes é
o denominador comum e dínamo deste
empreendimento.
Levo
a minha palavra de confiança, particularmente,
aos brasileiros do Rio Grande do Norte,
aos da minha querida Cidade do Natal, da
qual fui Prefeito duas vezes e tive a honra
de representar seu povo no Parlamento.
Ao
Supremo Tribunal Federal, ao deputado Carvalho
Neto, meu advogado e ao Senador Dinarte
Mariz que hospedou meu filho em Brasília
e minha esposa no Rio de Janeiro, dando
apoio moral, o meu agradecimento.
Saúdo
a inteligência da minha terra, nas
reservas de inspiração e na
força criadora dos seus intelectuais
na Pessoa do Presidente da Academia de Letras,
Manoel Rodrigues de Melo, destacando a coragem
cívica do Desembargador João
Maria Furtado.
Dirijo-me
aos operários e recordo, permanentemente
agradecido, que minha candidatura a Prefeito
foi lançada em manifesto subscrito
por todos os Sindicatos de Natal.
Dirijo-me
aos estudantes e relembro que nas horas
cruciais contei com a solidariedade unânime
dos seus Diretórios.
Reverencio
os velhos, sol poente de uma geração
e dirijo-me às crianças, sol
nascente das madrugadas, neste manifesto,
que poderá ser também, um
testamento.
Caso
venha a morrer no exílio, peço
que meu corpo seja transportado para Natal.
O caixão coberto com a bandeira da
Campanha de Pé no Chão Também
se Aprende a Ler, e que, na hora em que
o corpo baixar à sepultura, as crianças
da minha cidade, que se alfabetizaram nos
Acampamentos Escolares cobertos de palhas
de coqueiros, cantem nosso Hino de Pé
no Chão.
Companheiros,
meus irmãos: Mesmo distante continuo
presente na Cidade. O vento trará
minhas palavras e cada alvorada recordará
a claridade da minha luta, permanente lembrada
pelo coração do povo.
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