Marcelo
Rezende Guimarães
A
paz é, provavelmente, uma das noções mais empregadas atualmente
e mais incorporadas ao cotidiano, seja direta ou indiretamente.
As pessoas a discutem, ou pelo menos falam sobre ela, nas
conversas familiares, nas rodas de bares, nas escolas, nas
igrejas, nos parlamentos.
Há
muitas razões para este consenso e unanimidade em torno
da paz. Entre elas, poderíamos listar:
-
o fracasso de uma modernidade que desejava a tolerância e o
emergir de um sem número de guerras étnicas e religiosas
colocaram a temática da paz como um dos principais pontos
da agenda do fim do século;
-
a expansão universal da civilização técnico e científica favoreceu
a percepção das necessidades mundiais, possibilitou a integração
e a interdependência entre os membros do planeta através
de diversas experiências e estruturas associativas como
redes, teias, interconexões, dando às ações humanas tamanha
repercussão universal e ampliando o conceito de cidadania;
-
o contexto da degradação do meio-ambiente, da economia e da
cultura fazem a humanidade experimentar o problema do debilitamento
do ser e levantar uma agenda ética comum, exigindo uma ação
conjunta e clamando por uma responsabilidade solidária universal;
-
as experiências limites que a humanidade fez no decorrer do século
XX, como a bomba atômica e o holocausto, aliadas ao risco
destruidor das ações bélicas e aos efeitos da técnica industrial,
ameaçaram a própria extinção da humanidade, impondo a busca
de uma solução global para além dos particularismos éticos;
-
o avanço da consciência da humanidade sobre si mesma, expressa
em símbolos tais como a Declaração Universal de Direitos
Humanos e os diversos pactos universais que se seguiram,
provocaram uma nova sensibilidade frente aos problemas humanos,
como, por exemplo, o aumento da percepção da violência e
de suas conseqüências.
Desta
forma, a paz tem emergido, não apenas como clamor universal,
mas como um dos campos onde opera um certo consenso, no
qual a civilização ocidental exprime sua idéia de bem. Os
estudos sobre a paz começam a se libertar do domínio dos
estudos militares ou sobre a guerra, para ganhar autonomia
e abrangência própria. A própria problemática da paz está
sendo circunscrita de forma abrangente, desde aspectos psicológicos,
passando pela organização sócio-econômica e política, até
atingir o plano cultural. Proliferam os estudos sobre cultura
de violência/cultura de paz, estimulados,
especialmente, pela UNESCO. As análises compreendem desde
a recusa categórica de que a guerra esteja inscrita no programa
genético humano até a proposição de novas perspectivas,
passando pelo desvelamento dos
mecanismos de formação de uma cultura de violência e pelo
conhecimento do papel de certas agências, na expressão e
produção da cultura de violência, tais como os meios de
comunicação, a escola, a família, as instituições religiosas,
o lazer. Este interesse mundial fez a ONU declarar o ano
2000 como “Ano Internacional por uma Cultura de Paz”, promovendo
uma mobilização mundial em torno da temática.
No
entanto, esta unanimidade sobre a paz se desfaz no próprio
momento em que se começa a pontuá-la mais detalhadamente.
Nasce, então, não só uma pluralidade de sentidos em torno
da paz, mas um conflito de interpretações
propriamente dito.
Daí
a importância e a necessidade de fundamentar qualquer trabalho
em torno deste eixo com uma pergunta e uma investigação
sobre o sentido deste conceito hoje tão importante.
Este
texto quer trazer uma contribuição para o aprofundamento
do sentido da paz entre nós. Num primeiro momento, levantaremos
e recuperaremos os principais símbolos e sentidos que a
humanidade foi atribuindo à paz. Num segundo momento, debateremos
nossas compreensões de paz para, em seguida, levantarmos
alguns elementos para uma nova compreensão do conceito.
1. Recuperando a simbólica ocidental da paz
Começaremos
nossa investigação sobre o sentido da paz, recuperando a
simbólica que a humanidade, no decorrer de sua história,
foi construindo. Por simbólica da paz entendemos o conjunto
de expressões – discursos, mitos, criações artísticas, ritos
cotidianos, etc. – através dos quais a humanidade expressou
sua valoração da paz. Para efeito didático e numa tentativa
de sistematização, colhemos as expressões simbólicas de
acordo com o seu nascedouro cultural, em cinco grandes tradições
– grega, romana, judaico-cristã, moderna e dos contemporâneos movimentos
pacifistas –, consciente dos limites de tal divisão, tanto
no que se refere ao desconhecimento de outras tradições,
quanto ao que diz respeito à multiplicidade de sentidos
que se estabelece dentro de cada tradição e dos entrelaçamentos
e emaranhados entre tradições culturais diferentes.
1.1. A tradição grega
Segundo
os versos de Hesíodo, Eirene,
a Paz, é uma das três Horas,
filhas de Têmis e de Zeus (HESÍODO,
1995, p. 157, v. 901-903). As Horas
- Equidade, Justiça e Paz – são figuras das estações,
divindades da natureza, zeladoras do ciclo da vegetação.
Eirene
é conhecida como a Deusa dos Frutos, representada tendo
nas mãos ou Plutão, deus da riqueza, menino, ou a cornucópia
ou um ramo de oliveira ou, ainda, um caduceu, uma espécie de archote virado para baixo com espigas
de trigo: em todos os casos, trata-se de um símbolo que
evoca prosperidade, abundância e fartura.
É
importante observar esta associação da paz com a justiça
e a eqüidade, expressa como uma relação familiar. Ligada
ao equilíbrio da natureza e da pólis, a simbólica grega da paz
se associa tanto à noção de harmonia e beleza, como a de
ausência de perturbação. Há uma ordem na natureza que garante
a abundância e a fecundidade da vida, cabendo aos humanos
não atentar ou quebrar este sentido harmônico dado pelos
deuses A filosofia estóica e epicurista,
com seus ideais de vida sem paixões e de serenidade da alma
serão expressões destes ideais.
Depois
do tratado de paz de 371 a. C que pôs fim aos conflitos
entre Atenas e Esparta, uma estátua de bronze de Eirene,
deusa da paz, esculpida por Cefisodoto,
o velho, foi erguida na praça do mercado de Atenas. Colocando
a estátua da deusa da paz no mercado, no local de maior
circulação, os gregos expressam a função de protetora e
guardiã da pólis grega, amiga
do Estado, sólido fundamento da cidade, que atribuem à
Eirene. As Horas, além de serem deusas da natureza,
são também divindades da ordem, que asseguram o equilíbrio
da vida em sociedade. Moradora do Olimpo,
Eirene é perseguida por Polemos, a personificação
da guerra. A paz grega é experimentada como relatividade
e negatividade da guerra, interrupção, providenciada pelos
deuses, do estado bélico normal.
A
fragmentação do mundo grego clássico e o advento do helenismo
provocaram mudanças nesta compreensão de paz. Quando Atenas
se rendeu a Demétrios, dito Poliorcetes, isto
é, conquistador de cidades (336-282 a.
C.), rei da Macedônia, filho de Antígono, vencedor
da batalha das Termópilas, os
atenienses apresentaram a ele esta prece: “Os outros deuses
são distantes, ou talvez eles não escutem, ou talvez mesmo
não existam, ou, quem sabe, não dão atenção a nós; a ti,
ao contrário, te vemos presente, não em madeira, nem em
pedra, mas verdadeiramente. Nós te imploramos, ó caríssimo,
dá-nos logo a paz, tu és o Senhor” (Apud COMBLIN, 1960,
p. 51). Uma outra simbólica da paz estava emergindo.
1.2. A tradição romana
Em
13 a. C., na volta de Otávio Augusto da campanha militar da Espanha
e da Gália, o senado romano mandou construir, em comemoração
às suas vitórias, um altar à Deusa da Paz, a Ara
Pacis Augustae, o altar da paz
de Augusto.
Na
íntima comemoração das vitórias imperiais, ereto exatamente
no Campo de Marte, Deus da Guerra, local dos desfiles militares
e das celebrações das vitórias, o altar a Augusto revela
as conexões entre o exército romano e a simbólica da paz.
Foi Sêneca quem utilizou, pela primeira vez, a expressão
Pax Romana, ao afirmar que sem a presença
do Imperador, como chefe do exército, a Pax Romana ruiria
(SÊNECA, 1990, p. 51, Tratado
sobre a clemência, III, 2,
2). A tradição romana de paz liga-se, assim, indissoluvelmente
ao poder de Roma: paz é a paz estabelecida pelo centro do
poder, desejada politicamente pelo imperador e estabelecida
e garantida militarmente pelo exército romano. Toda vez
que a força de Roma se impunha e o império gozava de sua
paz, o imperador mandava fechar o templo de Jano Quirino, deus de todas as portas e guardião das moradas
e cidades: a ação imperial e estatal dispensava a proteção
divina. Não é à toa que Pax Romana fosse também sinônimo de Paci Augustae, isto
é, a paz do imperador.
Esta
concepção militarista é especialmente visibilizada
nas moedas cunhadas neste período, onde a Deusa da Paz é
representada colocando o pé direito na cabeça de um vencido
ou junta com legionários e Marte, o Deus da Guerra. A paz
deixa de ser associada à justiça e à eqüidade, como na Grécia,
para se vincular à guerra e à vitória. A paz romana é uma
paz armada, como já aconselhava Vegécio,
no século IV: “quem deseja a paz, prepare-se, portanto,
para a guerra; quem aspira à vitória, aplique-se a formar
seus soldados” (VEGÉCIO, 1869, p. 688). O ensinamento de
Vegécio perpetuou-se no célebre ditado latino Si vis pacem para
bellum, repetidas vezes
estampado nos quartéis e escolas do ocidente.
A
paz assume uma dimensão de segurança estabelecida sobre
um sistema centralizado, na qual a idéia de autoridade ocupava
um lugar de primado em relação à liberdade. Os versos de
Virgílio - “Tu, ó romano, lembra-te de governar os povos
com o teu império. Estas artes são para ti: impor as condições
de paz, poupar os submissos e destruir os soberbos” (VIRGÍLIO,
1955, p. 183, Eneida, VI, versos 851-853) – expressam esta dimensão imperialista
da paz. A paz, aqui, é concebida como dom, concessão, presente
do vencedor ao vencido, por um lado e, por outro, submissão
e subserviência do vencido ao vencedor. Começa a conjugação
do verbo pacificar e apaziguar, como imposição da ordem
vigente, sendo introduzida uma ambigüidade no próprio conceito.
Do lado do vencido, a paz é experimentada como dominação,
saque, escravidão. Tácito registra o sentimento de Calgaco,
chefe britânico, derrotado no ano 85:
“Saquear, degolar, depredar, a estas coisas dão o falso
nome de Império. Criam um deserto e o chamam de paz” (Cf.
TÁCITO, 1973, p. 77, Vita Agricolae,
XXX).
Ao
mesmo tempo, difunde-se um sentimento de tranqüilidade e
bem-estar entre as fronteiras do Império. Nas regiões cobertas
pela dominação romana, a guerra não devasta mais os campos
nem as cidades. Desenvolvem-se a agricultura, as artes,
os ofícios e constróem-se novas
cidades. As palavras de Ovídio expressam este bem estar:
“Demos graças aos deuses e à tua casa (do imperador). Já
há muito tempo, as guerras, presas em correntes, jazem sobre
os vossos pés. Os bois podem ser postos em canga e as sementes
plantadas nas terras aradas. A paz nutre Ceres e Ceres nutre
a paz” (OVÍDIO, 1940, p. 42-43, Fasti, I, versos
701-704). Esta evocação a Ceres, divindade romana da agricultura,
sinaliza um entrelaçamento entre a simbólica romana e grega
de paz.
A
condição objetiva de estabilidade política e social, em
contraposição às lutas internas do regime republicano, possibilitou
o desenvolvimento, ao menos para os cidadãos romanos, do
ideal de manter a alma livre dos turvamentos e paixões,
permitindo-lhe concentrar-se sobre si mesmo e aspirar à
alegria da vida contemplativa. Aqui são colocadas
alguns conceitos que influenciarão, sobremaneira, a visão
ocidental: humanidade, serenidade e dignidade, compreendidas como aversão à guerra externa,
aos conflitos civis, a adesão a certos modelos de governo
justo e de equilíbrio entre as classes sociais. A compreensão
de paz experimenta uma interiorização decisiva enquanto
tranqüilidade e concórdia da alma.
A
tradição romana retomou alguns elementos da simbólica grega
e os releu em novos contextos. Deu à idéia de harmonia e
equilíbrio o acento da ação do estado. Não mais a compreensão
de paz para a civilização, como condição de desenvolvimento
e florescimento desta, mas a paz da civilização, conseqüência
da organização e ação imperial. A simbólica da paz torna-se
expressão da autoconsciência do cidadão romano. Ao mesmo,
imprimiu uma conotação de serenidade, tranqüilidade e concórdia
à noção de paz, às quais, junto com a noção de segurança,
marcarão indelevelmente a simbólica ocidental.
1.3. A tradição judaico-cristã
O
judaísmo, nascido a partir de um grupo de tribos que fazem
a experiência de serem libertadas de uma situação de opressão
e celebram um pacto – aliança – com a divindade pela qual
crêem terem sido libertados, elaborou, através da literatura,
uma compreensão própria de paz. São textos poéticos, oráculos
proféticos, fragmentos legislativos, orações, com uma variedade
de expressões e contextos - 239 vezes que o termo shalom aparece no
Antigo Testamento -, apontando para uma pluriformidade
e complexidade de significados, tais como: prosperidade,
bem-estar, felicidade, saúde, segurança, salvação, relações
sociais equilibradas, harmonia com Deus, vida em plenitude,
metáforas para a realização e completude humanas. Segundo
o Dicionário Bíblico de Mackenzie, “o verbo cognato do substantivo
significa coisas tais como terminar, completar, pagar (por
exemplo, completar uma transação, pagando um débito); assim,
pode-se dizer que a palavra significa em geral completação,
perfeição, talvez mais precisamente, uma condição à qual
não falta nada” (MACKENZIE, 1995, p. 704).
A dimensão da aliança, com seus significados de compromissos
e promessas, marca profundamente a simbólica bíblica da
paz, como se pode notar em textos tais como Lv
26, 3-13, Sl 29,11; Is 26, 12; Nm 25,12; Nm 6,26. Esta mesma conotação de aliança dá origem aos mais
conhecidos símbolos da paz: a pomba e o ramo de oliveira. O relato se encontra
em Gn 8,
dentro do ciclo de Noé e da narrativa
sobre o dilúvio. Após os 40 dias de dilúvio, Noé
soltou uma pomba para ver se as águas haviam baixado na
superfície do solo. A pomba, não encontrando onde pousar,
voltou a ele na arca. Sete dias depois, soltou novamente
a pomba. À tarde, ela voltou a ele, tendo no bico um ramo
novo de oliveira” (Gn
8,6-11). Após este relato, firma-se uma aliança entre a
humanidade e Deus (Gn 9).
A
prática da aliança, porque baseada na promessa, cria a expectativa
da chegada de um tempo pleno, os tempos messiânicos. A chegada do Messias, descrito ele mesmo
como o Príncipe da Paz (Is 9, 6), é gerada em imagens anti-militaristas: espadas transformadas
em arados e lanças transformadas em podadeiras
e o fim do ensinamento para a guerra (Is 2,4-5), botas que
batem com estrépito e mantos revolvidos em sangue sendo
queimados (Is 9,4), carros de combate sendo eliminados,
os arcos de guerra sendo despedaçados e a paz sendo proclamada
às nações (Zc 9,10). O fim das
guerras faz parte da maioria das representações escatológicas,
onde é o próprio Deus quem quebra as armas de guerra (Os
2,20; Zc 9,10; Sl 46,10).
Esta
paz messiânica é expressa também através de uma simbólica
da confraternização universal, pautada por imagens como
o lobo habitando junto com o cordeiro, o leopardo deitando-se
perto do cabrito, o bezerro e o leãozinho sendo alimentados
juntos e conduzidos por um menino, a criança de peito brincando
no ninho da áspide e colocando
a mão na boca da víbora (Cf. Is 11,6; Ez
34,25; Os 2,20).
Um
outro veio no qual se expressa a
simbólica da paz judaica liga-se às tradições referentes
à cidade de Jerusalém, etimologicamente cidade do Deus da
Paz, ou visão de paz. Além de salmos como 122 e 147, com
suas invocações como “a paz reine dentro de tuas muralhas”
ou “paz sobre Israel”, é preciso lembrar os textos do assim
chamado Terceiro Isaías que, no contexto da volta do exílio
da Babilônia, em 520 a. C., proclama
a criação de uma Nova Jerusalém. As imagens para expressar
esta cidade da paz relacionam-se muito com os textos precedentes:
não haverá nem choro, nem gemidos, será velho quem morrer
aos cem anos, os agricultores plantarão suas vinhas e comerão
seus frutos, os operários construirão casas e morarão nelas
(Is 60-62; 65, 18-25). A paz é
compreendida como obra da justiça, segundo a belíssima expressão
plástica do Salmo 85: “justiça e paz se abraçarão” (Sl
85, 11).
A
paz, assim simbolizada, entra em conflito com outras tradições
de paz presentes nos próprios textos bíblicos. É preciso
assinalar, em primeiro lugar, a denúncia que os profetas
fazem de certas compreensões de paz. Por fim, é preciso
lembrar a coexistência e a interpenetração da simbólica
da paz acima referida com outra simbólica, a da guerra santa
e do Deus guerreiro.
Percebe-se,
na compreensão judaica de paz, alguns elementos já presentes
na tradição grega, como a simbólica da abundância e a vinculação
com a justiça, e, em muitos círculos, uma recusa e oposição
da simbólica militarista romana. Esta oposição à pax romana será aprofundada, de maneira especial,
com o cristianismo.
O
cristianismo, a princípio, faz-se herdeiro da simbólica
profética. O próprio evento Jesus de Nazaré é lido a partir
da categoria da paz, como alguém que derruba fronteiras e limites e recusa a guerra e a violência.
Alguns textos mostram esta autoconsciência da comunidade
cristã primitiva: “Ele apareceu aos que se acham nas trevas
e na sombra da morte, a fim de guiar os nossos passos no
caminho da paz“ (Lc 1,79); “É
ele, com efeito, a nossa paz; do que era dividido fez uma
unidade; em sua carne destruiu o muro de separação, o ódio”
(Ef 2,14).
Segundo Bingemer, “esta
importância dada a tal conceito e palavra, no fundo, está
conectada com o evento central do Novo Testamento, que é a morte e
a ressurreição de Jesus Cristo, evento ligado de
modo característico à idéia de paz” (BINGEMER, 1999, p.
842).
Na
boca de Jesus, a expressão atinge complexidade. Shalom é, com efeito, a primeira palavra do Ressuscitado, quase
como um programa. Jesus usa, diversas vezes, a expressão
“vai em paz”. No Sermão da Montanha, proclama felizes os que
promovem a paz (Mt 5,9). No entanto, ao definir sua missão,
afirma expressamente que “não veio estabelecer a paz sobre
a terra, mas a divisão”, certamente numa crítica à
pax romana. Neste mesmo sentido, João registra a palavra de Jesus aos
discípulos na última ceia: “eu deixo a paz, eu dou a paz,
mas não como o mundo a dá” (Jo
14,27). Esta polêmica pode ser encontrada na expressão paulina:
“a paz de Deus que supera toda compreensão” (Flp 4,7).
Palavras
como as ditas por Jesus durante sua prisão, repreendendo
a atitude de Pedro - “Embainha a tua espada, pois todos
os que tomam a espada morrerão pela espada” (Mt 26,52) –,
repercutiram enormemente no imaginário cristão primitivo.
Tertuliano, um cristão do século II, ao comentar este texto,
afirmava: “Como pode alguém fazer a guerra, como pode alguém
prestar o serviço militar, mesmo em tempo de paz, se o senhor
lhe tirou a espada? De fato, vieram soldados a João para
receber regras para sua conduta; de fato, um centurião chegou
à fé; mas com o desarmamento de Pedro, o Senhor tirou a
espada de todo soldado” (Apud ZAMBAGLIONE, 1967, p. 352,
De idolatria, 19). Muitas comunidades, como a de Roma, no século III,
vão recusar o batismo aos soldados (HIPÓLITO DE ROMA, 1981,
p. 47-48, Tradição apostólica, 36). As primeiras comunidades auto-entendem-se como realizadoras
da profecia de Isaías das espadas transformadas em arados
e do fim de toda guerra. Orígenes, no século III, assim
se expressa: “Pois nós não pegamos mais em espada contra
nenhum outro povo e nem nos dedicamos a fazer a guerra:
em Jesus Cristo nos tornamos filhos e filhas da paz” (ORÍGENES,
1969, p. 99, Contra Celso, V, 33). Justino de Roma,
no século II, ao se dirigir ao imperador para justificar
o proceder cristão, insiste: “Nós estávamos antes cheios
de guerra, de mortes mútuas e de toda maldade, mas renunciamos
em toda a terra aos instrumentos guerreiros e transformamos
as espadas em arados e as lanças em instrumentos para cultivar
a terra, e cultivamos a piedade, a justiça, a caridade, a fé e a esperança” (JUSTINO DE ROMA,
1995, p. 277, Diálogo
com Trifão, 110). Esta prática é legitimada teologicamente,
quando o autor da Carta a Diogneto
afirma: “Em Deus não há violência” (A DIOGNÈTE, 1965, p.
69, VII, 4).
Esta
insistência em marcar a recusa de toda violência é acompanhada
com a preocupação em encetar, naquelas comunidades à margem
do Império, um relacionamento marcado pela unanimidade e
equidade. Para os cristãos primitivos, a paz é um dom messiânico
e não apenas uma simples disposição da alma. Como dom messiânico,
deve ganhar expressão no cotidiano. Assim, a paz assume
conotações próprias da concórdia, compreensão que marcará
indelevelmente a simbólica ocidental da paz.
Quando
o cristianismo assume a cultura helenista, a compreensão
cristã, até hoje hegemônica, recebeu influências do neoplatonismo
e do estoicismo, passando se aproximar do conceito greco-romano.
Os homens e mulheres que, após o fim das perseguições, reagem
a um certo laxismo do cristianismo e migram para o deserto, incorporam
em seus ensinamentos elaborações e conceitos como os de
paz da alma, oriundos dos estoicismo. Santo Ambrósio, bispo de Milão, no século IV,
abandona a recusa categórica da violência, ao afirmar que
se pode servir da violência, própria dos animais, se a discussão,
característica da humanidade, não for mais possível (Apud
COSTE, 1997, p. 140). Santo Agostinho se aproxima do ideal
greco-romano de equilíbrio da natureza e da sociedade, subsumindo
neste a compreensão bíblica de justiça, na sua clássica
definição de paz como “tranqüilidade da ordem”.
Uma
profunda transformação na simbólica cristã estava sendo
operada. Esta vai perdendo, não apenas sua dimensão de contraponto
em relação à Pax Romana, mas seu próprio eixo estruturante em torno da justiça. Ao invés de pensar a paz
e sua vinculação com a justiça, os teólogos iniciam suas
elaborações sobre a guerra justa. É verdade que tais preocupações
geraram instituições significativas como a Pax Dei (Paz de Deus) e a Tregua Dei (Trégua de Deus), quando os combatentes erguiam suas bandeiras
brancas, símbolo da trégua que se estabelecia nos dias santos.
Mas o caminho para outras instituições, como as cruzadas
e a inquisição, totalmente estruturadas na violência e no
poder bélico, estava aberto. A autoconsciência cristã de recusa total às
armas e à violência estava distante demais.
Mas
a simbólica da paz continuava presente no ritual cristão,
no Osculum pacis (o Beijo da Paz), na Oração pela
paz, no reiterado clamor Da
nobis pacem (Dá-nos a paz), em hinos como “Gloriosa Jerusalém, alegre
visão de paz”, nas preces exequiais
Requiescat in pacem (Descansa
em paz). Mas já era uma simbólica demasiadamente íntima
e privada, paz dos claustros e paz dos cemitérios, sem força
de protagonizar e liderar um projeto global para a humanidade.
1.4. A tradição da modernidade
O
esfacelamento da cristandade medieval, o surgimento dos
estados nacionais, a emergência do capitalismo, a ascensão
da burguesia, o aparecimento da racionalidade moderna, foram
fatores que contribuíram para redimensionar a simbólica
da paz, até então caracterizada pela atribuição de uma dimensão
divina à paz, concebida seja como divindade, seja como dom
da divindade dado à humanidade. Quando, no entanto, caem
os fundamentos religiosos e místicos, surge a necessidade
de uma justificativa não religiosa da aspiração da humanidade
à paz.
Foi
na filosofia, especificamente num gênero literário da filosofia
moderna do direito, em torno do eixo da assim chamada paz
perpétua, que a simbólica moderna da paz ganhou expressão.
Assim, Sully, ministro de Henrique
IV de França, em suas Memórias (1638-1662) propõe o reajuste
territorial da Europa e o fim das aduanas. Willian Penn,
um quacker, em seu Ensaio
para chegar à paz presente e futura da Europa (1693)
torna-se um precursor da comunidade européia, propondo a
instalação de um parlamento. O Abbé
de Saint-Pierre, de Paris, escreveu, em 1712, Projeto de Paz Perpétua, texto comentado
posteriormente por Rousseau e certamente conhecido por Kant.
Benthan, em Um plano
para a paz universal e perpétua, de 1789, propõe o desarme
e o abandono das colônias e insiste no papel decisivo da
publicidade, em oposição à diplomacia secreta. Em 1792,
Jean Baptiste Cloots
publicou La République Universel, enquanto Kant escreveu, em 1795, À paz perpétua.
Analisando
o texto kantiano, três aspectos chamam a atenção. Em primeiro
lugar, a expressão largamente usada de paz perpétua. Kant
assinala que o adjetivo perpétua
é um pleonasmo suspeito, distinguindo entre armistício (adiamento
das hostilidades) e paz (fim de todas as hostilidades).
Assim como os homens livres se associam para instaurar a
paz, os Estados deveriam se confederar para instituir a
paz perpétua. Formariam, assim, uma federação de paz distinta
do pacto de paz, uma vez que este simplesmente procura pôr
fim a uma guerra, enquanto aquela intenta acabar com todas
as guerras para sempre.
Em
segundo lugar, a ênfase na aliança e no pacto. O próprio
texto de “À paz perpétua”, que contém o subtítulo de “um
projeto filosófico”, foi redigido em forma de um Tratado,
com direito a artigos preliminares, artigos
definitivos, cláusulas secretas e até mesmo um apêndice.
Aqui já se encontra, através do estilo, uma conotação dada
pelo pensamento moderno: a paz nasce de um pacto, portanto,
fruto de uma decisão racional. Kant toma como ponto de partida
o fato de que a paz não é natural, devendo ser, por isso,
instaurada. Como a omissão de hostilidades não é ainda a
garantia de paz, é preciso detalhar positivamente em que
consiste o estado da paz internacional.
Em
terceiro lugar, o estatuto de projeto filosófico que é dado
à paz perpétua. Definindo a paz como projeto, Kant redefine
a própria idéia de paz. As diversas distinções feitas ao
longo do texto - entre armistício e paz, entre omissão de
hostilidades e garantia de paz entre tratado de paz e liga
de paz - mostram que Kant recusa o conceito de paz como
intrincada rede de astúcias, derivada do jogo do poder e
como idéia vazia, descrevendo-o como “uma tarefa que, solucionada
pouco a pouco, “aproxima-se continuamente
de seu fim (porque os tempos em que iguais progressos acontecem
tornar-se-ão oxalá cada vez mais curtos)” (KANT, 1989, p. 80). Pelo próprio
fato de defini-la como um projeto filosófico, Kant torna
a paz um tema filosófico relevante. Desta forma, Kant retira
o tema da paz do domínio religioso, do imaginário utópico
e do sentimento comum, dota-o de racionalidade e incorpora-o
na filosofia crítica.
Como
projeto filosófico, a paz assume uma perspectiva
transcendental, radicando sua essência no sujeito racional
e livre. Ao enunciar o segundo artigo definitivo,
Kant afirma que “a razão, de cima de seu trono do poder
legislativo moralmente supremo, condena absolutamente a
guerra como procedimento de direito e torna, ao contrário,
o estado de paz um dever imediato” (KANT, 1989, p. 40-41).
No apêndice que trata da discordância entre a moral e a
política, dá à paz perpétua não apenas o estatuto de um
bem físico, “mas também como um estado proveniente do reconhecimento
do dever” (KANT, 1989, p. 68).
É
a partir deste fundamento filosófico que começa a ser utilizada
a figura da construção, para definir a obra da paz. Até
então, paz e guerra eram considerados
realidades inalteráveis na filosofia, direito e moral. O
máximo que se podia fazer era erguer as bandeiras brancas,
quando os víveres, as munições ou a resistência se esgotavam,
e a derrota apresentava-se como iminente. A bandeira da
paz era, neste contexto, ao mesmo tempo, afirmação da paz
e da guerra, da paz na guerra, mas não da paz contra a guerra.
O Iluminismo começou a duvidar da inevitabilidade da guerra
e pesquisar as bases de uma ordem de paz baseada na razão.
A paz passou a fazer parte do projeto da modernidade de
vencer a barbárie.
1.5. A tradição dos movimentos
pacifistas do século XX
Os
primeiros abalos da racionalidade ocidental e a crise do
fim do sistema colonialista fizeram emergir uma outra tradição
simbólica que produziu um campo novo de significação em
torno da paz: os movimentos de não-violência do século XX.
Aludir
a esta tradição é, em primeiro lugar, fazer menção ao nome
de Mohandas Karamchad
Gandhi (1869-1948), conhecido como o Mahatma, a Grande Alma. Segundo Gene Sharp, um dos maiores
estudiosos da não-violência, “Gandhi foi quem deu a mais
significativa contribuição pessoal à história da técnica
não-violenta, com suas experiências políticas no uso da
não-cooperação, desobediência e desafio objetivando controlar
governantes, alterar políticas governamentais e minar sistemas
políticos”. (SHARP, 1973, v. 1, p. 82). Em três principais momentos
- na África do Sul em defesa da minoria indiana, na Índia
pelo fim da discriminação dos párias
e na luta contra o imperialismo britânico -, Gandhi cunhou
uma série de atitudes e símbolos que ficaram definitivamente
associadas à paz, como, por exemplo: a queima das carteiras
britânicas, símbolo da submissão dos indianos aos ingleses,
na África do Sul; as manifestações em Vykom,
conjugadas com orações, em 1924-1925, ao longo de vários
meses, diante de um tempo brâmane, pelo fim das discriminações
aos párias, proibidos de sequer
passarem pela frente do edifício; a longa marcha até o mar,
em 1931, para fazer sal, desrespeitando as leis inglesas
que proibiam aos indianos esta atividade; a queima dos tecidos
ingleses num ato pelo fim do monopólio; as horas na roca,
tecendo suas próprias roupas, para não se submeter a lei que proibia aos indianos de fabricarem tecidos; as longas
vigílias; os freqüentes jejuns; as muitas prisões; etc.
Esta
tradição, porém, não se esgota em Gandhi. Ela seria empobrecida
se não lembrássemos Martin Luther King e os negros de Montgomery,
com suas greves para não usar os ônibus que proibiam aos
negros sentarem, com seus sittings nos bares
e outras instituições com acesso limitado aos brancos; os
jovens tchecos, em 1968, com suas mãos desarmadas diante
dos tanques russos; as inúmeras manifestações contra as
armas nucleares; a queima dos certificados militares de
tantos objetores de consciência,
seja durante a guerra do Vietnã, seja em face de
outras tantas guerras absurdas que perpassaram o século,
seja apenas em face da obrigatoriedade do serviço militar;
o movimento hyppie da década de 60 e sua insistência no peace and love e no make love not war;
algumas músicas como Era
um garoto que como eu ou Imagine,
de John Lenon; as Locas de la Plaza de Mayo, na Argentina,
reclamando seus filhos desaparecidos pelo repressão militar;
o trabalho de inúmeros ativistas e organizações de direitos
humanos; muitos grupos de sem-terra, no Brasil, na pressão
de conquistar a terra para quem nela trabalha; etc. A paz
passa a incorporar uma nova simbólica: brinquedos de guerra
queimados; rifles quebrados; luzes acesas para lembrar vítimas;
sapatos espalhados em memória dos mortos no holocausto;
sinos tocados em luto ou em alegria; etc.
Segundo
Gene Sharp, o contemporâneo movimento da não-violência tem
suas raízes no século XIX, nos grupos nacionalistas que
descobriram ser a ação não-violenta útil na resistência
a um inimigo estrangeiro ou a leis alienígenas; nos membros
de sindicatos e de outros radicais da sociedade que buscavam
um meio de luta, sobretudo greves gerais e boicotes, contra
aquilo que consideravam um sistema social injusto; no pensamento
de personalidades como León Tolstoi, na Rússia, e Henry David Thoreau, nos Estados Unidos; e, finalmente, nos
adversários do despotismo, como na Rússia (Cf. SHARP, 1973,
vol. 1, p. 76-78).
O
conceito de não-violência tem, por um lado, uma
conotação negativa, de recusar terminantemente qualquer
recurso à violência e ao ódio. E isto não apenas
num nível político ou estratégico, mas relacional, como
no conceito gandhiano de ahimsa, atitude de não provocar sofrimento a nenhuma criatura.
Por outro lado, tem uma conotação positiva de realizar algo
pela paz. Gandhi chamava a não-violência de satyâgraha, palavra por ele cunhada, que significa firmeza
da verdade (sat, verdade, âgraha,
firmeza). No Brasil, o Movimento de Justiça e Não-Violência,
fundado em 1978, utilizou a expressão firmeza permanente,
para mostrar que a não-violência tem sua dimensão ativa.
Desta forma, a simbólica da paz é expressa em termos de
luta, ofensiva e combate. Gene Sharp, em seu livro Os
métodos da ação violenta relaciona 198 estratégias,
envolvendo métodos de protesto e persuasão não-violentos,
métodos de não-cooperação social, métodos de não-cooperação
econômica, métodos de não-cooperação política, métodos de
intervenção não-violenta.
Além
da não-violência, a simbólica da paz dos movimentos pacifistas
tem um referencial forte no conceito de desobediência civil
e na distinção entre legítimo e legal. Assim, por exemplo,
Gandhi: “Sustentamos ser um crime contra o homem e contra
Deus submeter-nos por mais tempo a um domínio que tem causado
a nosso país este desastre quatro vezes maior. Contudo,
reconhecemos que a maneira mais eficaz de conquistar nossa
liberdade não é mediante a violência. Portanto, nos prepararemos,
na medida em que pudermos, mediante a recusa de toda ligação
voluntária com o governo britânico, e nos preparemos para
a desobediência civil, incluindo o não pagamento de impostos.
Estamos convencidos de que se pudermos apenas retirar nossa
ajuda voluntária e parar de pagar impostos, sem fazer violência,
mesmo sob provocação, o fim desse domínio desumano estará
assegurado” (Apud SHARP, 1973, v. 1.,
p. 84). A simbólica da paz ganha, assim, uma dimensão de
rebeldia e contestação, garantia de sua própria eficácia.
Trata-se
de uma simbólica militante, articulada não em torno de objetos,
espaços ou momentos, mas de uma práxis. O símbolo dos rifles
quebrados, com sua ênfase no próprio ato de quebrar, mais
do que o resultado, indica que
a simbólica da paz está saindo do âmbito do natural para
o âmbito do produzido culturalmente. A humanidade sabe que
ela tem que romper com aquilo mesmo que produziu. Da mesma
forma, o círculo com as três linhas, assumido pelos hippies,
é originalmente o símbolo do desarmamento nuclear, criado
por Bertrand Russell, em 1958,
da fusão dos sinais usados pela linguagem dos semáforos
para as letras N(uclear) e D(esarmamento): aponta
para rumos a serem abandonados e rumos a serem trilhados.
2. Debatendo nossas compreensões de paz
Depois
de termos levantados os principais traços com que a simbólica
da paz se apresentou no ocidente, é importante confrontar
estas nossas compreensões de paz, debatendo-as e discutindo-as,
revelando os mitos e abrindo para uma nova posição do ser.
É Gadotti que, em A
educação contra a educação, apresenta a demitologização
como tarefa hermenêutica de “retirar o revestimento místico
no qual a educação está envolvida, por um trabalho de
“destruição”, quer dizer, de decifração do sentido
primeiro. Esta destruição abre o horizonte para uma palavra
mais autêntica, tarefa que é realizável, pois o discurso
que nós examinamos não é simplesmente uma “escrita”, mas
todo um conjunto de símbolos que reclamam uma interpretação
demitologizante” (GADOTTI, 1982,
p. 46).
Nesta
tarefa de dialogar conosco mesmos, de abertura a uma verdade
que se revela no tempo, de renúnica
ao dogmatismo, de exercício da crítica como processo de
conhecimento dos limites, percebe-se
alguns mitos que precisam ser reconhecidos para que a verdade
da paz se revele a nós.
2.1. O perigo da simplificação e do reducionismo
Ao
levantarmos a riqueza da simbólica ocidental, é impossível
não constatar sua vastidão e pluralidade. Diante dela, qualquer
esforço de educação para a paz deve evitar as tentações,
continuamente presentes, da simplificação e do reducionismo.
Acenar a idéia da paz é evocar um mar, como dizia o sambista.
No ocidente, ela cobre uma vasta gama, do natural ao cultural,
do imanente ao transcendente, do individual ao comunitário,
numa onipresença no universo humano, assumindo uma série
de impostações e de vinculações a referenciais como abundância,
harmonia, justiça, pacto, não-violência e outros.
É
necessário reconhecer, não apenas a pluralidade, mas, também,
a conflitividade. Isso, tanto
no interior de uma mesma tradição, mas entre tradições diferentes.
Exemplo de conflitos no interior de uma mesma tradição,
podem ser observados no judeu-cristianismo, onde
os símbolos de paz podem tanto conviver com a guerra ou
opor-se absolutamente a ela. Entre tradições diferentes,
pode-se observar o diferencial existente entre a
simbólica romana, afirmativa do status quo vigente,
com a simbólica criada pelos atuais movimentos pacifistas,
contestatórios por excelência e refratários a toda imposição.
Percebe-se, igualmente, algumas
clivagens e campos de tensão, entre simbólicas que privilegiam
o comunitário e o coletivo e entre tradições que colocam
a ênfase no individual; entre simbólicas profundamente vinculadas
à ação e outras que estabelecem um campo de inércia ao seu
redor.
Outro
elemento a destacar é sua complexidade, isto é, os emaranhados
e entrecruzamentos de sentidos que vão se estabelecendo
no seu acontecer histórico. A vinculação da paz a uma divindade
da fartura, expressa na tradição
grega, é assumida pela tradição romana, não tanto como submissão
aos desígnios divinos, mas como conseqüência da ação imperial;
na tradição judaico-cristã, especialmente no relato do dilúvio,
a abundância, simbolizada pelo ramo de fartura que a pomba
traz no bico, evoca o cumprimento da aliança; nos atuais
movimentos pacifistas é expressa na proposição “desarmar
os povos para alimentar o mundo”. A ênfase estóica na submissão
às autoridades, na ordem e na serenidade é assumida pelo
cristianismo depois de Constantino. O sentido de paz como
pacto entre Deus e a humanidade, veiculado pela tradição
judaico-cristã é retomado, sem o seu elemento religioso,
pela modernidade, como aliança entre a humanidade e as nações.
A escatologia judaica do Deus que queima as armas e destrói
os carros de guerra é realizada pelos movimentos pacifistas
contemporâneos na sua quebra de armas e queima de convocações
militares.
Ao
olhar como o ocidente construiu a noção de paz é impossível
não constatar a perda de seu conteúdo político e intersubjetivo
e sua progressiva privatização, de modo a tornar a noção
de paz, no senso comum, como algo privado, particular, próprio
de indivíduos. Reduzir a noção de paz aos sentimentos de
segurança ou de tranqüilidade foi, sem dúvida, um empobrecimento.
A
paz, atualmente, tem-se constituído num campo muito propício
para discursos fáceis, emocionalismos e falta de consistência teórica. Neste contexto,
é importante considerar a relevância de uma fundamentação
teórica consistente, segundo a advertência do filósofo francês
Paul Ricoeur: “Não se faz idéia
de tudo quanto se vai encontrar ao prospectar o império
da violência; eis porque uma anatomia da guerra que se gabasse
de ter descoberto três ou quatro grossos cordéis, que bastaria
cortar para que os marionetes militares
caíssem inertes no tabuado do palco, condenaria o pacifismo
à superficialidade e à puerilidade” (RICOEUR, 1968, p. 227).
2.2. O perigo do etnocentrismo
Ao
levantarmos a simbólica da paz, percebe-se o vigor de certos
símbolos, os quais voltam continuamente. Como, por exemplo,
a simbólica romana da paz armada que se espelha hoje nas
alternativas à violência via pena de morte, reforço do aparelho
repressivo, intervenção em países, etc. Ou, ainda, o ideal
do estoicismo tardio da serenidade e tranqüilidade da alma,
reiteradamente afirmado nos discursos cotidianos. A paz
como segurança e tranqüilidade configura, determinantemente,
a atual simbólica da paz. Por outro lado, há de se notar
algumas perdas, como as associações da paz com justiça,
determinantes na simbólica grega e judaica. Muitas vezes,
a paz é expressa por imagens inofensivas e inconsistentes,
sem o vigor e densidade de outras representações. Algumas
simbólicas, como a da modernidade e a dos movimentos pacifistas,
ainda não conseguiram se impor e repercutir profundamente.
Outros
símbolos, como é o caso da pomba branca com o ramo de oliveira
no bico, impõem-se quase totalitariamente.
O pesquisador atento deve-se perguntar por que, desta pluralidade
que tangencia a idéia da paz, quase somente a pomba ficou
no imaginário popular? A própria simbólica da pomba é rica
e complexa, apontando para várias conotações no seu uso
como símbolo da paz. Segundo Chevalier, a pomba, como os
demais animais alados, evoca a idéia de espiritualidade
e representa aquilo que o homem tem em si mesmo de imorredouro,
seu princípio vital (CHEVALIER, 1998, p. 728). Assim, a
pomba como símbolo da paz aponta para a vida, para a preservação
e a sobrevivência da humanidade, em meio aos obstáculos
que se estabelecem, assim como depois da catástrofe do dilúvio,
a pomba com o ramo de oliveira – árvore sagrada, sinal de
prosperidade – é o símbolo da felicidade recuperada e da
vida que é retomada na face da terra. Como ave de Afrodite
– e a mitologia grega não é menos influente no ocidente
que o imaginário judaico-cristão -, a pomba evoca a realização
amorosa que o(a) amante oferece
ao(à) amado(a). Em certos vasos funerários gregos e em muitos
túmulos cristãos primitivos, a pomba era representada bebendo
em uma taça que simboliza a fonte da memória. Finalmente,
o termo pomba figura entre as metáforas mais universais
que celebram a mulher. A ênfase na pomba indicaria a dimensão
feminina e anímica da humanidade, superação do animus do vigor e força constitutivos da razão bélica? Ao mesmo
tempo, a força do símbolo da pomba expressa a incidência
da mensagem cristã e de como o cristianismo se articulou
historicamente, com seus valores de pureza, simplicidade,
inocência e mansidão evangélica.
Há
de se notar, assim, o nexo existente entre a simbólica da
paz e os modelos civilizatórios. A paz é a expressão da autoconsciência da
civilização. A simbólica da paz é a simbólica do ocidente,
marcada pela força de um modelo civilizatório.
A Wipalla, bandeira da paz dos
povos indígenas latino-americanos, com seu significado de
igualdade e diversidade, é desconhecida no imaginário corrente
de paz. No oriente, o rosa é símbolo da alegria
e o branco é o luto. Na civilização cristã, o branco é o
símbolo da paz e o preto é o luto. Mero jogo de cores ou
influência de padrões culturais?
2.3. O perigo da fetichização
e da banalização
É
o antropólogo Carlos Brandão quem fala de uma fetichização
da paz: “em primeiro lugar por tomá-la como uma coisa, uma
entidade, algo constituído e dado a ser apenas vivido, compartilhado;
uma espécie de milagre à espera de seus homens; em segundo
lugar, por ela me parecer haver sido proposta, até nossos
dias, desde um ponto de vista único. Um olhar sobre o destino
dos povos que, parecendo ser humanamente universal, nunca
deixou de ser socialmente ocidental” (BRANDÂO, 1995, p.
55).
O conceito de fetiche, extraído da filosofia
marxista, evoca o produto do trabalho que, transformado
em mercadoria, encobre e esconde o valor do próprio trabalho.
Assim, há um uso do conceito de paz, que poderíamos chamar
de hegemônico, que se impõe exatamente por seu vazio de
propostas e de definições. É o risco da banalização do conceito
que, na pretensão de dizer tudo, deixa de apontar para algo.
Nesta
crítica à fetichização
é importante considerar posicionamentos como o de Paulo
Freire, ao receber o prêmio da Unesco, em 1986, de educação
para a paz: “A paz se cria, se constrói, na e pela superação
das realidades sociais perversas. A paz se cria, se constrói,
na construção incessante da justiça social. Por isso, não
creio em nenhum esforço chamado de educação para a paz que,
em lugar de desvelar o mundo das injustiças, o torna opaco
e tenta miopisar suas vítimas”
(Apud GADOTTI, Moacir et alii,
1996, p. 52).
3. Rumo a uma nova compreensão de paz
Depois
de termos levantado a simbólica
da paz e de termos feito uma breve análise, é importante
detectar alguns elementos que poderiam balizar uma nova
compreensão de paz, capaz de mobilizar sujeitos e grupos.
3.1. Definir conceitos correlacionados: agressividade,
conflito e luta
Na
busca de uma nova compreensão de paz, é importante definir
conceitos correlacionados, tais como agressividade, conflito
e luta.
A
partir de Freud, os estudiosos estão distanciando agressividade
de violência, conceituando agressividade como a força vital
de cada pessoa, necessária para superar os obstáculos e
limitações próprios do cotidiano.
Conforme a educadora espanhola Beatriz Aguillera,
“a sua ausência provoca passividade. Em princípio ela é
neutra, mas através de condicionamentos sócio-culturais
(educação, trabalho, história ou sistema social) provocam
comportamentos violentos ou não-violentos” (AGUILLERA, s/d, p. 16). Desta maneira, diferenciando-se entre agressividade
e agressão, pode-se caminhar para uma compreensão de paz
mais positiva, compreendida como uma ação, mais do que como
ausência de algo.
Um
outro aspecto importante é a compreensão do papel dos conflitos
nos processos de paz. Tradicionalmente, o conflito costuma
ser encarado como o oposto da paz. No entanto, o conflito
está sendo visto, atualmente, como “o fundamento da existência
da sociedade, e do ser em sociedade, não só pela divergência
de interesses e pela diferença de situação, mas pela posição
ocupada na sociedade, pela disposição dos recursos e pelo
partido que se toma em questões de disputa. (...) A não
aceitação do conflito e dos mecanismos para enfrentá-los,
provoca violência, pois o conflito assume uma feição direta
sem mediação. A violência é a substituição da aceitação
do conflito pela negação do outro” (FALEIROS, 1998, poligraf.,
p. 8). Assim, o conflito não é, em absoluto, obstáculo à paz. Conflitos não são sinônimos de intolerância
ou desentendimento. Conflitos são normais e não são necessariamente positivos ou negativos, maus ou ruins. É a
resposta que se dá aos conflitos que os torna negativos
ou positivos, construtivos ou destrutivos. A questão é como
resolvemos os conflitos, se por meios violentos ou não-violentos.
“Para construir uma cultura de paz é preciso mudar atitudes,
crenças e comportamentos, até se tornar natural resolver
os conflitos de modo não violento (por meio de acordos)
e não de modo hostil” (MALDONADO, 1997, p. 96). Neste contexto,
a paz se apresenta como “um conceito dinâmico que nos leva
a provocar, enfrentar e resolver conflitos de uma forma
não-violenta e cujo fim é conseguir a harmonia de pessoas
consigo mesmas, com a natureza
e com os outros” (AGUILLERA, s/d,
p. 16).
Um
terceiro conceito relacionado é o de luta. A partir desta
compreensão de conflitos, emerge a importância da luta como
forma de “criar condições de diálogo estabelecendo uma nova
relação de forças que obriga o outro a
reconhecer-me (nos) como interlocutor, senão válido,
pelo menos necessário. Luta é a prova de força, energia
necessária para toda a mudança. É aquilo que faz com que
o direito seja respeitado” (AGUILLERA, s/d, p. 16-17). Luta não é guerra e nem é necessariamente
violenta: Gandhi e os movimentos pacifistas do último século
demonstraram a possibilidade e a eficácia de uma luta não-violenta.
3.2. Exercitar-se numa nova compreensão de paz
Tendo esclarecido estes conceitos, é importante exercitarmo-nos
em novas compreensões de paz, marcadas por algumas tônicas
e acentos, tais como:
a)
Pensar a paz mais como positividade
do que negatividade. Trata-se, em primeiro lugar, de superar o conceito ocidental
de paz como ausência
de algo, notadamente como ausência de guerra ou de perturbação,
para um conceito mais positivo, associado a experiências
humanas, tais como justiça e igualdade.
b)
Pensar a paz mais como uma
construção do que um estado. A paz não é um estado dado, mas algo a ser instaurado e construído
por nós, da qual não somos seus clientes ou seus beneficiários,
mas os sujeitos e co-criadores. Como construção, a paz é,
“uma criação do exercício generoso do diálogo entre as pessoas
que não pode ser outorgado. Um dever de direitos que nos
cabe, por quem somos individual e coletivamente responsáveis,
seres da sociedade, dos povos e nações da Terra” (BRANDÃO,
1995, p. 48). Aqui entra a noção do consenso que necessita
ser instaurado e operado.
c)
Pensar a paz multiculturalmente. É o antropólogo Carlos Brandão quem propõe usar o termo
cultura de paz no plural - culturas
de paz – para fortalecer a convicção “de que tampouco existe
uma única paz, uma única idéia universal de paz, uma, portanto,
possibilidade de proposta única de uma cultura de paz” (BRANDÃO,
1995, p. 54), superando o etnocentrismo e a uniculturalização.
d)
Pensar a paz como realidade
intersubjetiva. Como construção, a paz deixa de ser um atributo individual, vislumbrada
em afirmações como estou
em paz ou tenho paz em mim, para assumir uma compreensão
mais coletiva e comunitária, como evento do ser-no-mundo.
Trata-se, aqui, de uma revisão do conceito de pacífico –
indicativo de virtude e traço de caráter - como norteador
da educação para a paz. A paz não é uma construção individual
ou isolada, nem necessita de heróis! Indo por trás da virtude,
a paz se constrói a partir do horizonte do pacifismo, isto
é, do engajamento em um movimento organizado,
articulado e estruturado em prol da paz. Falar em
movimento é evocar pessoas em movimento, contatos pessoais
e grupais. Trata-se mais, fundamentalmente, de estabelecer
relações do que formar atitudes, desenvolver o sentimento
de pertença mais do que o de posse (como na afirmação “Tenho
paz em mim”).
e)
Pensar a paz como uma agenda
para a paz. Trata-se de superar a abstração geralmente associada
ao conceito: paz pode significar tudo e, por isso, não significa
nada. É importante também nos desprendermos das ligações
entre paz e passividade, entre pacífico e passivo. Daí a
importância de agregarmos à noção, uma agenda bem definida.
Atualmente, o movimento pacifista agrega à luta pela paz
algumas bandeiras bem definidas, tais como: luta contra
armamentismo; objeção de consciência ao serviço militar;
educação para a paz; solidariedade para com os povos em
conflito; direitos humanos e cidadania.
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