Globalização
Econômica, Políticas Neoliberais e os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
Celso
Lafer
I
Senhor Presidente, Doutor Marcio Sotelo Felippe, meus companheiros
de mesa, minhas senhoras e meus senhores. O primeiro ponto que eu
gostaria de abordar são os termos de referência a partir dos
quais estamos hoje discutindo os itens deste primeiro painel. Por
isso, a primeira pergunta que cabe fazer é “o que é globalização”?:
Se nós olharmos isto numa perspectiva histórica, pode-se dizer
que se trata de uma tendência de longo prazo iniciada no século
XVI com a expansão do universo econômico europeu. Por outro
lado, se quisermos olhar isto de uma maneira mais circunscrita,
podemos dizer que o que caracteriza a globalização nesta virada
do milênio são os dados da inovação tecnológica, que aceleram
o tempo e encurtam o espaço. Isto teve um impacto na economia,
nas finanças, na segurança internacional, nos valores e na
informação. Daí uma diminuição do significado das fronteiras
– fronteiras essas que deixaram de ser fronteiras de separação
tal como elas se configuraram a partir da criação do Estado
nacional. Esta diminuição do significado das fronteiras, no
entanto, não quer dizer a diminuição do significado do Estado e
do seu papel. Isto porque claramente o destino e as expectativas
das pessoas estão ligadas ao desempenho das comunidades políticas
a que pertencem.
Neste sentido, a primeira observação que eu gostaria de fazer é
que se a grande crise, que foi a crise de 29, foi uma crise de
mercados, a crise dos anos 90 é uma crise do Estado. Conseqüentemente,
se os direitos econômicos, sociais e culturais são créditos do
indivíduo em relação à coletividade, e se na construção dos
direitos econômicos, sociais e culturais foi o Estado que assumiu
normalmente a responsabilidade de saldar, em nome da coletividade,
estes créditos do indivíduo, a crise do Estado é, por definição,
um problema para a efetividade dos direitos econômicos, sociais e
culturais.
A segunda observação que eu gostaria de fazer, ainda nesta
reflexão sobre os termos de referência, é que os fatores técnicos
claramente não fazem a história, mas modificam as condições a
partir das quais os Homens a fazem. Por exemplo: a existência das
armas nucleares não gera a guerra, mas gera uma situação a
partir da qual a guerra e a paz passa a ser conjeturada. Nesta
linha de raciocínio sobre o papel da ação humana na História,
diria que a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética
trouxeram novas características para o funcionamento do sistema
internacional. Há várias leituras sobre qual é o significado
desta grande
mudança.
Há uma leitura que todos provavelmente estão lembrados, que é a
leitura que faz Hobsbawm no seu livro A era dos extremos. Ele diz
que o século XX é um século curto. Este século curto se
configura pelo desafio da Revolução Russa, inicia-se a partir da
I Guerra Mundial e se encerra com a queda do Muro de Berlim e a
desagregação da União Soviética. Há uma leitura
simetricamente oposta à de Hobsbawm, que é a leitura de Furet.
Furet diz que o fio condutor do curto século XX é a luta do
liberalismo ocidental contra os regimes totalitários. Há uma
terceira leitura, a de Carl Schmitt e de Nolte, que caracterizam o
século XX como uma guerra civil mundial iniciada a partir de
1917, e que de um lado colocou o universalismo utópico democrático
de Wilson e de outro a revolução mundial de Lênin. Estas
leituras são as leituras a partir das quais Habermas trabalha as
constelações que se configuram nesta abertura do milênio.
Eu pessoalmente diria que, independentemente destas três
leituras, o que me parece caracterizar o século XX é o de ser o
século das relações internacionais. As relações
internacionais transformaram o mundo do século XX de maneira
muito mais expressiva do que ocorreu em séculos anteriores. As
relações internacionais passaram a ser uma instituição
dominante no mundo e têm um papel em matéria de Direitos
Humanos, e é este papel que eu vou tentar sucintamente explorar.
Antes, enfim, de fechar esta discussão sobre os termos de referência,
acho útil fazer uma terceira observação: o fim da Guerra Fria,
a queda do Muro de Berlim, a desagregação da União Soviética,
geraram uma exacerbação do que nós poderíamos chamar de
realismo político, ou seja, a idéia de que o que importa para a
ação política é a ação estratégica. É lidar com fatos do
poder. Justamente tudo aquilo que o nosso querido Governador
Montoro dizia que era uma visão pobre da realidade. E dizia que
era uma visão pobre da realidade porque havia uma frase de
Teillard de Chardin que ele costumava e tinha gosto de citar, e
que norteava a sua ação – “tudo aquilo que se eleva permite
a convergência”. E a convergência, portanto, neste plano
superior, é o que eu vou tentar sucintamente explorar hoje neste
painel.
II
Neste sentido, penso que o grande evento matriz em matéria de
Direitos Humanos é a Declaração Universal de 48. A Declaração
Universal de 48 teve claramente um objetivo, que foi o de traçar
uma política do Direito. Esta política do Direito, no plano
internacional, se traduziu no reconhecimento de que existem
valores que pesam nas decisões do poder, na prática dos Estados,
e no processo de criação de normas de Direito Internacional Público.
A Declaração Universal, como um documento embasador de uma política
do Direito, vem tanto enfrentando no plano interno e no plano
internacional resistências quanto contabilizando resultados. Isto
resulta da interação entre fato, valor e norma que caracteriza o
processo jurídico, como explicita o Professor Miguel Reale. Nesta
análise sobre os Direitos Humanos, e inclusive sobre os direitos
econômicos, sociais e culturais, pode-se dizer que eles
reconhecem valores.
Os valores, como pontua Miguel Reale, são um bem cultural. Como
todo bem cultural, tem um suporte, uma base na realidade, mas tem
igualmente um significado que aponta para uma direção de dever
ser. Nós ouvimos hoje nas frases que foram mencionadas a reflexão
que o Governador Montoro fez sobre a ciência, que pode nos dizer
o que é mas não nos esclarece sobre aquilo que deve ser. E neste
sentido fica claro que o Direito é uma expressão do mundo da
cultura, onde o valor tem um suporte na realidade mas tem um
significado, uma direção que aponta para um caminho.
Os valores também têm várias dimensões e a primeira delas é a
da gradação hierárquica, é a da sua importância, pois os
valores têm peso distinto. Nosso Coordenador, Doutor Marcio
Sotelo Felippe, justamente ao falar na sua introdução à
abertura deste Seminário, insistiu neste tema da hierarquia dos
valores e sublinhou a importância dos direitos econômicos,
sociais e culturais, dando a eles muito certeiramente uma dimensão
de hierarquia. Daí a noção de valores fundamentais.
Nesta discussão sobre os Direitos Humanos no plano interno e no
plano internacional pode-se dizer que a história é um processo
aberto, e neste processo aberto há situações que ora favorecem
a prevalência dos Direitos Humanos ora oferecem resistência à
sua afirmação. Nesta relação entre realizabilidade e
inexauribilidade são os dados que importa mencionar. Todo valor,
na medida em que é um valor, tem um suporte na realidade por isso
esse valor é realizável. Mas nenhum valor se esgota na realidade
porque é sempre possível ter mais Direitos Humanos, mais
entendimento, mais justiça, daí essa idéia de uma vis diretiva
que é esta dimensão de inexauribilidade. E isto tudo coexiste
numa dialética de implicação e mútua polaridade. E não há dúvida
de que neste sentido o século XX representa a percepção de que
os Direitos Humanos são um adquirido da civilização, um
adquirido que ora pode se adensar, ora pode se fragilizar.
Como sabem, a idéia dos Direitos Humanos representa, como diz
Bobbio, uma mudança da figura deôntica originária, ou seja, do
dever do súdito para o direito cidadão. E esta passagem do dever
para o direito significa o reconhecimento da perspectiva ex parte
populi – da
perspectiva dos governados. Ela é fruto de um conjunto de legados
que se adensam; o legado da Grécia – a liberdade de pensar como
pluralidade de pensar; o legado de Roma – o papel do Direito
como um instrumento importante e autônomo da convivência
coletiva; o legado do Cristianismo – que é o reconhecimento da
igualdade da natureza humana independentemente dos invólucros da
cidadania, – por isso a democracia cristã a que o Governador
Montoro se filiava tem nesta dimensão da igualdade de todo ser
humano, tal como expressa pelo Cristianismo e por São Paulo, uma
fonte inspiradora; a idéia do liberalismo, que significa que o
governo é para o indivíduo e não o indivíduo é para o
governo, e o legado do socialismo, ou seja, esta exigência da
igualdade perante a vida, e a cultura concebida, como eu lhes
dizia, como o direito de crédito de cada ser humano de participar
do bem-estar social, daquilo que a espécie humana num processo
coletivo vai acumulando no tempo. Toda idéia dos Direitos Humanos
é uma idéia de domesticar o poder, todos os tipos de poder – o
poder cultural, o poder econômico, o poder político,
subordinando-o aos interesses da cidadania.
III
No plano internacional, a evolução da temática dos Direitos
Humanos é distinta daquela que ocorreu no plano interno. No plano
interno, como sabem, há uma primeira geração de direitos, que são
os direitos civis e políticos, há uma segunda geração que são
os direitos econômicos, sociais e culturais e há direitos de
titularidade coletiva.
No plano internacional, a positivação dos Direitos Humanos se
faz de forma distinta, e se faz de forma distinta porque no plano
internacional nós também temos pelo menos três leituras da
realidade internacional. Uma leitura de que o mundo internacional
é o mundo de Maquiavel e de Hobbes, ou seja, a do realismo do
poder onde o que organiza a percepção da realidade é o risco da
guerra e a possibilidade da paz, onde o tema dos Direitos Humanos
aparece como algo apenas útil ou prático num deter-minado
momento. Há uma segunda leitura, a de Grocio: na vida
internacional existe conflito mas existe cooperação, e que é
possivel, através da Diplomacia e do Direito, trabalhar os
Direitos Humanos como um item da sociabilidade da agenda
internacional. E há, finalmente, uma visão kantiana que parte do
pressuposto que existe uma razão abrangente da Humanidade, e que
com base nesta razão abrangente da Humanidade é possível ir além
dos interesses dos Estados, pensando e realizando esta visão mais
ampla. Daí os temas globais, que no caso dos Direitos Humanos
encontra depois da Declaração Universal de 1948 a sua grande
expressão na Conferência de Viena de 1993 sobre os Direitos
Humanos. Eu diria que toda a realidade internacional tem
componentes hobbesianos – maquiavélicos, componentes grocianos
e componentes kantianos. E o bom juízo é o juízo que sabe
discernir em cada uma destas configurações o que prevalece.
A Declaração Universal, como eu lhes dizia, representou uma política
do Direito. Ela foi o resultado de uma visão de que a experiência
totalitária tinha sido uma ruptura inédita em relação à
tradicional preocupação com o bom governo. E que era necessário
incluir o tema dos Direitos Humanos no plano internacional, pois a
presença em larga escala dos refugiados, dos apátridas, dos
deslocados no mundo viabilizaram a idéia força, que é uma idéia
de Hannah Arendt, de que o “direito a ter direitos” só
poderia começar a efetivar-se se prevalecer o direito de todo ser
humano à hospitalidade universal. Eu insisto que neste final de século,
e no início do milênio, esta noção de hospitalidade universal
significa que as pessoas precisam estar à vontade e em casa no
mundo. E na medida em que os dados que nós conhecemos sobre a
exclusão social, sobre a marginalidade, são o que são, as
pessoas não estão tendo direito à hospitalidade universal, e
que é preciso levar adiante esta política do Direito traçada
pela Declaração Universal.
A Carta das Nações Unidas e o sistema da ONU foram
operacio-nalizando esta política do Direito, através de uma
positivação crescente dos Direitos Humanos no plano
internacional. Nisto se inclui o Pacto de 1966 sobre os direitos
econômicos, sociais e culturais. Enquanto
prevaleceu no mundo um sistema de polaridades definidas – leste,
oeste, norte, sul – o que caracterizou a política dos Direitos
Humanos no plano internacional foi a seletividade. Os Estados
Unidos insistiram nos direitos de primeira geração, que são os
direitos civis e políticos, fruto da herança liberal; a União
Soviética interpretou os Direitos Humanos à luz da importância
dos direitos econômicos, sociais e culturais, e na confrontação
Norte/Sul os países do terceiro mundo articularam direitos de
titularidade coletiva, como o direito ao desenvolvimento, o
direito à paz, o direito ao patrimônio comum da Humanidade –
no caso dos fundos oceâ-nicos. Neste jogo, a impregnação
kantiana da temática dos Direitos Humanos teve suficiente força
para operar uma coexistência pacífica no plano internacional
destas várias gerações de direitos permeadas pelo tema da
seletividade.
A queda do muro de Berlim, como um evento matriz, fez com que no
mundo de hoje confrontamo-nos com o jogo contraditório de dois
tipos de força: as forças profundas da unificação e da
globalização, que são forças centrípetas, e as forças centrífugas
da fragmentação, ou seja, de um lado a tendência a globalizar o
espaço mundial, globalizar não apenas no plano econômico, mas
no plano de segurança, no plano da informação, no plano dos
valores, e de outro, ao mesmo tempo uma tendência desintegradora
destas forças e deste ímpeto de globalização.
Neste sentido, a Conferência de Viena de 1993 representou uma
extraordinária expressão do melhor de uma ilustrada lógica de
globalização. Ela deu sequência à Declaração Universal de
48, pelo consenso dos Estados, pela atuação da sociedade civil
através da presença de organizações não-governamentais e ela
superou, no plano conceitual, a idéia da seletividade, pois
insistiu na universalidade, indivisibilidade e interdependência
de todos os Direitos Humanos, transcendendo assim por meio desta
razão mais abrangente a razão mais circunscrita de uma visão
seletiva. Endossou a democracia, como forma de governo mais favorável
para a tutela dos Direitos Humanos, e reconheceu o seu papel em
matéria de paz. Este consenso que se alcançou em Viena,
afirmador da interdependência dos Direitos Humanos no plano
internacional, significou do ponto de vista da discussão já
mencionada a percepção de que os Direitos Humanos são um
adquirido axiológico e, portanto, algo com o qual devemos poder
afirmar a hierarquia no plano dos valores. Mas, eu diria para ir
concluindo, que o que se alcançou em Viena foi um minimalismo ético,
aquilo que um interessante filósofo do Direito que é Michael
Waltzer chama de uma moralidade rala – thin morality, que requer
uma obra dedicada de adensamento.
Quais são as dificuldades para este adensamento? Do ponto de
vista do tema que nós estamos hoje tratando, eu diria que há uma
clareza que os direitos econômicos, sociais e culturais integram
esta noção de um patrimônio e de um adquirido civilizatório,
porém a sua dificuldade se coloca no plano da realizabilidade, e
se coloca no plano da realizabilidade porque, como eu disse na
abertura da minha exposição, se a crise de 29 foi uma crise de
mercados, a crise dos anos 90 é uma crise do Estado. E esta crise
do Estado, deste ponto de vista, se coloca no plano de quem é que
vai saldar estes créditos que os indivíduos têm em relação à
coletividade. Um crédito para o qual é preciso ter recursos e
para os quais um Estado fragilizado, inclusive na sua capacidade
de promover bem-estar social, se coloca com clareza.
IV
Para concluir, eu faria uma última observação, lembrando um
pouco a discussão que ocorreu agora em Florença sobre o
reformismo progressista, governança progressista ou terceira via.
As observações que faria são sinteticamente as seguintes: como
eu lhes dizia, o fim da Guerra Fria contribuiu para o realismo político
e para pouco espaço na agenda para uma visão voltada para princípios
diretivos, para valores. É muito interessante que as
personalidades que estão procurando construir uma nova identidade
internacional para a esquerda tenham sentido a necessidade de ir
além da ação estratégica e do saber técnico, para uma reflexão
sobre valores e princípios diretivos. Cada um dos que estavam lá
presentes
trouxeram o resultado da experiência histórica de seus
respectivos países; se, por exemplo, Jospin trazia a experiência
da tradição socialista francesa ou Schroeder da tradição alemã,
Blair trazia a do Partido Trabalhista, e Clinton a experiência do
New Deal e daquilo que foi a ação de Roosevelt para responder à
crise dos mercados de 1929. E eu creio que se o grande tema da
esquerda é, como diz Bobbio, o tema da igualdade, o grande
desafio que se coloca para uma identidade internacional de
esquerda no plano mundial é o que fazer com a desigualdade em
escala planetária. E foi isto que o Brasil, pelas palavras do
Presidente Fernando Henrique Cardoso, colocou, com muita
propriedade, neste tipo de discussão, que é também uma expressão
dos dilemas da realizabilidade dos direitos econômicos, sociais e
culturais no mundo neste final do século XX.
Muito obrigado.
Paulo Sérgio Pinheiro
Alguém com muita propriedade lembrou e nós também deveríamos
registrar a luta de um importante militante de Direitos Humanos,
que acabou de falecer, que é o Padre Chico, da Pastoral Carcerária,
que durante longuíssimos tempos teve a coragem de lutar pelos
direitos civis dos condenados nas Penitenciárias de São Paulo. A
minha tarefa vai ser enormemente facilitada porque o Ministro
Celso Lafer, com a clareza que lhe é peculiar, definiu os termos
de referência das questões que nos foram colocadas. Então,
confortavelmente, eu só vou ressaltar dentro da questão da
globalização dos direitos econômicos, sociais e culturais
alguns aspectos, a saber justamente o que ele acaba de combinar
– e nós nem havíamos combinado – o problema da pobreza e da
desigualdade em nível planetário, as características principais
da globalização que poderiam ter contribuído para este
resultado, a esperança aberta por um novo paradigma de análise
e, muito brevemente, eu vou retomar as transformações que no
final deste século nos permitem alguma esperança no sistema
internacional de proteção dos Direitos Humanos. Eu vou tentar,
como ele fez, me manter dentro dos 15 ou 20 minutos. Nós estamos
vivendo num mundo cada vez mais complexo, em comparação não
apenas com os simplismos da Guerra Fria – somamos isto, mas em
relação, como Celso Lafer disse, à globalização do final do século
XIX. As distinções entre privado e público parecem ter ido
pelos ares entre setores privados e públicos, e mesmo entre
guerras civis internacionais, como se vê na região oriental da
África, por exemplo, no conflito entre o Paquistão e a Índia ou
na guerra do Kosovo; estas distinções são extremamente problemáticas
e precárias. Esta complexidade implica, obrigatoriamente, que a
globalização traz no seu bojo avanços e retrocessos, e que ela
não pode necessariamente nem ser diabolizada nem ser simplesmente
exaltada. Eu tento fazer alguns apontamentos que podem servir para
o debate. O primeiro é a falta de regras claras agravando uma
sensação geral de vulnerabilidade. O então embaixador Celso
Lafer presidiu por um ano o Conselho da Organização Mundial do
Comércio – OMC, e nós sabemos os progressos imensos em termos
de regulamentação do comércio que foram realizados, hoje
coroada com a eminente entrada da China. Não podemos dizer o
mesmo quanto à estabilidade dos sistema financeiro. Eu vou me
permitir ler aqui um trecho, peço que prestem bem atenção, e
vou revelar no fim quem é o autor deste trecho; só se alguém
leu este texto pode adivinhar, mas creio que ninguém vai saber.
“O que está na agenda hoje é a necessidade de alcançar a
igualdade de condições, com base em regras verdadeiramente
equilibradas, que permitam a todos os países aproveitar e
desenvolver as suas vantagens comparativas. Uma boa ordem
internacional deve incluir mecanismos para assegurar que a
mobilidade do capital sirva, primor-dialmente, ao objetivo que lhe
dá sentido e justificação moral: favorecer o crescimento econômico
mundial propiciando aplicações eficientes aos excedentes de
poupança disponíveis em nível global. Os problemas enfrentados
desde a crise asiática mostraram o impacto que a instabilidade do
sistema financeiro internacional pode ter sobre as sociedades.
Desacelerou-se o desenvolvimento econômico em nível mundial a um
custo social alto, e há um efeito sobre a confiança dos diversos
atores no fun-cionamento dos mecanismos internacionais. O sistema
internacional deve oferecer mecanismos para solucionar problemas
do relacionamento comercial e financeiro entre os Estados. O
sistema internacional deve também, o que é muito importante, a
adequada relação entre a lógica do mercado internacional e as
necessidades sociais internas de cada País”. Este texto poderia
ser atribuído a qualquer força do espectro político brasileiro,
acho que é um grande consenso em relação a esta posição, e
trata-se justamente da conferência do Presidente Fernando
Henrique Cardoso na reunião sobre governabilidade progressista
que Celso Lafer se referia em Florença. Isto é uma manifestação
de enorme consenso no Sul e de grande delicadeza e moderação no
debate internacional. O que me espantou foi a reação pela
televisão – eu não estava lá – do Presidente Clinton, que
com uma cara que eu não via tão amarrada desde a tentativa de
sua deposição pelo Congresso americano no processo de
impeachment, em que se permitiu citar como lição para o Brasil o
exemplo de Uganda e do Chile como países que fizeram a lição de
casa. O Norte pensa que o problema está dentro de cada casa e
eles não têm nada a ver com esse problema da desigualdade no
sistema internacional. E outro, o primeiro Ministro Blair, que
calcula cada gesto que ele faz – tem um focus group para decidir
– gesticulava tanto e estava absolutamente surpreso com esta
proposta extremamente moderada do Presidente Fernando Henrique
Cardoso. Essa anedota irresponsável que eu conto é em termos de
mostrar a resistência do Norte a qualquer tentativa de
disciplinar a instabilidade do sistema financeiro internacional. O
primeiro Ministro Leonel Jospan, certamente, e o primeiro Ministro
de Portugal certamente se situam, apesar de estarem no Norte, num
espectro diferenciado do Presidente Clinton e do primeiro Ministro
Blair. O emprego e o trabalho parecem ameaçados, largos
contigentes das classes trabalhadoras e agora das classes médias
são dramaticamente reduzidos, houve um desgaste do direito do bem
– estar social e dos direitos dos sindicatos, há uma ameaçadora
desestabilização dos empregados e dos desempregados. Novos
pobres foram gerados pela competição tecnológica, foram
agravados desequilíbrios sociais, que estão na raiz do aumento
da violência e da vitimização tanto no Norte como no Sul, e que
certamente não podem ser resolvidos pelo mercado. Há no mundo
econômico um contingente de pobres invisíveis, que não têm
acesso a nenhuma política compensatória, parcelas vastíssimas
de pobres e miseráveis que não têm acesso a nenhum direito. Há
espantosas desigualdades que se reproduzem por gerações e gerações
dando pleno sentido à noção de violência estrutural criada por
John Galton, uma violência que seria engendrada estruturalmente
pelas instituições do Estado e pelo setor privado. Cada vez fica
mais claro, como lembrava o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento – PINUD recentemente, que a pobreza é uma violação
dos Direitos Humanos, que pobreza e desigualdade minam os Direitos
Humanos, aumentam a precariedade do acesso de todas as sociedades
ao direitos que são alvo deste Seminário. Eu simplesmente talvez
chova no molhado, mas acho que é importante lembrar a situação
peculiar do Brasil nesta situação. Eu também coloco
simplesmente alguns casos que, quem sabe, poderão ser retomados
nas discussões desses dias. O Brasil não é uma país pobre, nós
estamos entre as 10 maiores economias industriais do mundo, somos
a oitava ou a nona dependendo do ano, de 1998 ou 1997. Mas nós
temos um dos maiores graus de desigualdade do mundo. Somos o único
país do mundo em que a razão entre a renda dos 20% mais ricos e
dos 20% mais pobres é mais de 30 vezes, precisamente 32,1. Em
outros termos, os 10% mais ricos são detentores de 50% da renda,
enquanto que os 50% mais pobres se apro-priam de menos de 10% da
renda. O Brasil é um país de renda média, cuja a renda per
capita aliás dobrou entre 1970 e o final da década dos 90, mas
tem largos contigentes vivendo na pobreza, em conseqüência da
desigualdade. Trata-se do terceiro país entre os países – uma
expressão cara a Celso Lafer, de Inácio de Sá – entre os países
“baleia”, que têm mais pobres do mundo em termos absolutos,
superado apenas pela Índia e pela China. Outra característica da
desigualdade no Brasil é que se trata de um fenômeno que
continua de forma persistente há mais de 20 anos. Com base no
PINAD – a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio – o índice
GINI, que é uma das medidas, gira em torno de 0,6, sendo apenas
ultrapassado com índice pior pela Serra Leone. O problema não é
conjuntural, mas decididamente estrutural. Essa persistência
prosseguiu praticamente inabalada durante todo aquele período
histórico de 20 anos, tanto na passagem do período autoritário
para a democracia, da alta inflação para a moeda estável, do
crescimento para a recessão, sem que os níveis de desigualdade
fossem alterados. Mas precisamente somente em dois momentos desses
20 anos houve uma alteração: durante o Plano Cruzado, bastante
curta, e durante o Plano Real, mais acentuada. Entretanto, após
essas duas incidências, a desigualdade retomou os níveis
habituais do período. Apesar do crescimento extraordinário da
economia brasileira ter beneficiado todos os estratos da população,
elevando a renda média de todos os décimos da população, a
desigualdade permaneceu praticamente inalterada. A desigualdade de
renda entre os diversos estratos da população é sobretudo
determinada por disparidades regionais que eu não vou detalhar. A
estabilidade econômica é essencial para reduzir a pobreza e não
dá para ficarmos nos engalfinhando a este respeito, mas com o
crescimento, como ficou demonstrado nos anos 70, quando houve altíssimas
taxas de crescimento, a desigualdade não foi afetada porque o
crescimento não é suficiente para reduzir a pobreza em prazo
curto. É mais fácil reduzir a pobreza diminuindo a desigualdade.
Se reduzirmos mesmo ligeiramente a desigualdade, poderemos obter
ótimos resultados, mesmo num crescimento zero, como é a situação
atual da economia brasileira; é possível diminuir a pobreza, e
quem diz não é um órgão da oposição, mas o IPEA. No Brasil,
além de tudo isso, é necessário igualmente investigar a
pluralidade de causas da pobreza, como por exemplo os fatores de
ordem demográfica e populacional que explicam de alguma forma as
disparidades de renda. Mas os fatores que melhor explicam a
desigualdade se situam na combinação entre a qualidade do
trabalhador e a economia. O Brasil está na situação pior entre
todos os países industrializados em termos das condições do
trabalhador, especialmente em educação. Continua alarmante a
população de adultos analfabetos funcionais, isto é, pessoas
com menos de quatro anos de estudo. A escolaridade da população
de 10 anos ou mais era em 1998 de apenas 5,4 séries completas,
considerada insuficiente para fazer frente às crescentes exigências
do sistema produtivo. O Brasil está quase chegando a assegurar a
escola fundamental para todas as crianças, entretanto a educação
superior continua inacessível para 90% da população, reservada
apenas para os 10% da população onde se situam os grupos mais
favorecidos. O gasto público com as universidades é uma área
onde os mais pobres não são absolutamente contemplados. Enfim, há
uma assustadora discriminação racial na educação; enquanto a
probalidade de uma criança preta – é o termo que o Censo usa
– de entrar na segunda fase do ensino fundamental é 15 pontos
percentual menor que uma criança branca, a probalidade do
estudante preto que entrou no segundo grau de chegar ao ensino
superior é 25 pontos percentuais menor que um estudante branco,
segundo dados do relatório PINUD/IPEA do governo brasileiro.
Depois dessa digressão pátria, eu queria retomar um terceiro
conceito – também caro a Celso Lafer – que ajuda a explica a
situação da globalização, que é a temática da identidade. A
globalização faz erodir a autoridade do Estado, altera o
conceito de soberania e de nacionalidade e aumenta a importância
da identidade. Era muito fácil as nações se identificarem no
campo socialista e no campo capitalista – eu já lembrei as
guerras onde isso aparece de forma mais evidente. Quanto mais
global, quanto mais globalizado o mundo, mais vital se torna a
busca da identidade. Eu adoro esse paradoxo. O quarto conceito,
também paradoxal, seria diante de tudo isso, de todos esses
conceitos que eu venho levantando, o aprofundamento da
responsabilidade. A noção de soberania se torna irrelevante. Por
exemplo, Celso Lafer já lembrou para as grandes violações dos
Direitos Humanos e do Direito Humanitário. Não é extraordinário
que nós chegamos ao final do século com os Tribunais
Internacionais da ex-Iugoslávia e do Ruanda, o Tribunal Penal
Internacional que afinal está criado, ainda que não ratificado
pelos países e, por último, mas não menor, a maravilhosa detenção,
mesmo que seja numa gaiola dourada, numa casa de 40 quartos e oito
empregados, perto de Londres, do General Pinochet. Com essa
responsabilidade aumentou a necessidade da acountability, palavra
que não existe em português, da responsabilização dos
governantes, da luta contra a corrupção, por exemplo. Aumentou a
criminalidade internacional organizada, mas as redes de informação
instantânea, a visibilidade da televisão via satélite ou a
cabo, a sofisticação das comunicações melhorou a investigação
da lavagem de dinheiro, do contrabando de armas e do narcotráfico.
“A globalização não torna o estado impotente” foram
palavras do Primeiro Ministro Leonel Jospan em Florença.
Paradoxalmente, o deslizamento para o Estado mínimo, que parece
implicar a globalização, demonstrou ser essencial o velho papel
do estado como defensor partis, pensado por Marcílio de Pádua no
seu livro Defensor Minor. Hoje diríamos, apesar dos governos
serem grandes perpetradores dos Direitos Humanos, o Estado no
final deste longo processo aberto pela Declaração dos Direitos
Humanos tem um papel primordial como defensor e promotor dos
Direitos Humanos. Um papel crítico também se as sociedades
quiserem enfrentar o problema da pobreza e da desigualdade social.
E o último ponto que eu vou me permitir dar alguns apontamentos
é que, diante deste quadro um pouco desolador, a comunidade
internacional, as Nações Unidas, conseguiram escrever no centro
das preocupações da comunidade internacional o tema do
desenvolvimento humano. Nós chegamos ao mundo globalizado, mas
sob a dominância do conceito e do valor do desenvolvimento
humano. Desenvolvimento e democratização se confundem, na condição
de dar um sentido largo à palavra democratização, além da
simples instauração do estado de direito, das instituições e
da governabilidade democrática. A democratização é o
aprofundamento jamais acabado da democracia no cotidiano. É
aquela linda frase de Plutarco em que “a viagem da política não
tem jamais o seu porto final”. Ela requer o exercício da
cidadania em vista da efetivação universal de todos os Direitos
Humanos, como o nosso Procurador Geral lembrou na sua intervenção:
direitos individuais políticos e civis, direitos econômicos,
sociais e culturais, enfim, direitos coletivos ao meio ambiente,
à cidade, à infância e ao desenvolvimento. Essa evolução
fundada na luta pelos Direitos Humanos, com progressos e
retrocessos, se constitui na verdade em duas faces de um mesmo
processo. O primeiro é a passagem das liberdades negativas para a
expansão das liberdades positivas, ou seja, das liberdades
negativas, as liberdades de não ser alvo de determinadas violações,
às liberdades positivas, as liberdades para exercer direitos na
sua plenitude. Para empregar aqui uma expressão criada pelo Prêmio
Nobel de Economia de 1998, também é um sinal enorme de alegria
que a economia humana seja garladoada no final do século,
atri-buindo à democracia fundada sobre as liberdades negativas um
valor fundamental, como aliás Celso Lafer lembrou e foi
reconhecido universalmente pelo programa da declaração da Conferência
Mundial de Direitos Humanos de Viena em 1993. Em segundo lugar, a
complexidade crescente das novas dimensões do conceito de
desenvolvimento econômico que passou a ser considerado como econômico,
social e cultural, sustentável, num meio ambiente adequado, para
sublinhar a necessidade de centrar o desenvolvimento “sobre
todos os Homens e para todos os Homens”, como dizia o economista
François Perrot. Com efeito, a noção de desenvolvimento
considerada ao mesmo tempo como norma e como processo histórico
em relação à realização desta norma se enriqueceu no curso
desse meio século marcado por avanços conceituais, e entretanto,
um balanço bem mais mitigado por tudo que conseguiu ser
realizado. De qualquer maneira, nós chegamos ao final do século
sabendo que a idéia simplista do crescimento econômico, como eu
apontava na primeira parte desta fala, não é capaz sozinha de
assegurar o desenvolvimento. Ela tem que ser abandonada – essa
noção de crescimento – por um conceito mais complexo, expresso
por adições sucessivas a essas dimensões, para significar, sem
nenhuma dúvida, que o desenvolvimento tem por objetivo o
desabrochar pleno dos homens e das mulheres menos do que a
multiplicação dos bens. O desenvolvimento pode também ser
analisado como um processo de aprendizado social e como uma liberação,
no duplo sentido da liberação da dificuldade material e da
supressão de todos os entraves impedindo a realização do
bem-estar, já que hoje nós lembramos todos os pensadores católicos
caros a Franco Montoro; o Padre José Fleber, que teve tanta influência
no planejamento urbano aqui em São Paulo, definia desenvolvimento
“como a civilização do ser na divisão equânime do ter”. Não
basta escrever os Direitos do Homem num documento, o que aliás
foi uma etapa importante na realização das aspirações de lutas
pela formalização dos Direitos. Depois dessa inscrição começou
uma luta para que esses Direitos se tornassem efetivamente
apropriados para os mais diversos grupos sociais. No final do século,
o social e o ecológico aparecem como preocupações maiores
diante dos desastres provocados pela hegemonia incontrolada do
econômico e a primazia da lógica do mercado sobre a lógica das
necessidades. Nós estamos construindo uma história do
desenvolvimento e efetivação dos Direitos Humanos que permitirá
melhor compreender em que condições o crescimento econômico se
acompanha de um autêntico desenvolvimento, como acabamos de
definir, e quando, ao contrário, ele conduz a um desenvolvimento
ligado ao desrespeito dos Direitos Humanos. Antes de terminar, eu
gostaria de dizer que todo esse processo tão cheio de esperanças
se deve necessariamente a uma participação cada vez maior
daquilo que Alfred Estepan chamava “celebridades das transições”,
os movimentos, as organizações da sociedade civil. Com efeito, a
promoção dos Direitos Humanos se tornou um domínio por excelência
das organizações não-governamentais, das associações de cidadãos,
da ação do terceiro setor, das cooperativas e das agências de
socorro mútuo, de ação solidária. Enfim, nós chegamos no
final deste século, depois das organizações de sociedade civil
terem conseguido atuar durante as últimas décadas entre a necessária
mobilização da vergonha dos Estados perpetradores dos Direitos
Humanos e o poder de causar embaraços aos Estados perpetradores,
para uma localização, e este é o último paradoxo que eu vou
apontar nessa noite, da realização de um sistema de Estados, que
é o sistema internacional e regional de proteção aos Direitos
Humanos, tanto na esfera das Nações Unidas como na esfera da
Organização dos Estados Americanos, que a Professora Flávia
Piovesan tão bem analisou no seu livro. Esse espaço dos Estados
abre um espaço extraordinário para a intervenção dos povos,
para a intervenção das organizações da sociedade civil. Eu
acho que essa foi a mágica desse longo percurso entre a Declaração
Universal dos Direitos Humanos e a Conferência de Viena. Se hoje
há um espaço dos Estados para a proteção dos Direitos Humanos,
como é o caso da Comissão dos Direitos Humanos das Nações
Unidas, formadas por Estados, nunca as organizações da sociedade
civil foram atores tão importantes e tão decisivos na realização
desses Direitos. Tendo dito isso eu só queria registrar – essas
oportunidades a gente só tem uma vez e depois não sabe se vai
ter outra – nesta caminhada, a participação de um Estado
Brasileiro, de um Estado perpetrador de Direitos Humanos, para um
Estado que tem a política de Direitos Humanos como princípio
fundamental no horizonte criado por Franco Montoro, que teve o seu
momento de reflexão básico quando Celso Lafer era Ministro das
Relações Exteriores. Não foi o Governo Civil que colocou o
Brasil na realização da política afirmativa dos Direitos
Humanos, foi a partir da presença de Celso Lafer no Ministério
das Relações Exteriores. Outros atores conhecidos também
participaram dessa luta no Congresso, por exemplo pela ratificação
plena dos instrumentos básicos de proteção dos Direitos Humanos
desde a Convenção Americana até a última jóia da Coroa que
foi o reconhecimento da competência da Corte Interamericana dos
Direitos Humanos. O Senador Eduardo Suplicy, o Senador Fernando
Henrique Cardoso, o Senador Severo Gomes e o Deputado Hélio
Bicudo foram aliados, militantes do Ministro Celso Lafer nesse
completar da inserção plena do Brasil na legalidade dos Direitos
Humanos. Eu nestes últimos quatro anos também pude testemunhar a
atuação de Celso Lafer como Embaixador na Comissão de Direitos
Humanos, e podemos nós todos e a comunidade internacional
testemunhar a imensa translação que o Brasil, que o Estado
Brasileiro, passaram ter no debate internacional dos Direitos
Humanos. Muito obrigado.
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