A
CONCEPÇÃO DE UTOPIA
Ao
falarmos em Utopia, a primeira coisa que nos vem em
mente é algo irrealizável, inatingível. De fato, se
formos buscar o significado da palavra Utopia em
nossos dicionários, iremos encontrar: "Projeto
irrealizável; quimera."
Entretanto,
não é neste sentido que utilizamos a palavra Utopia,
aqui, neste trabalho.
Nicola
Abbagnano ensina que Thomas Moore deu o nome Utopia,
a uma espécie de romance filosófico (De optimo
reipublicae statu deque nova insula Utopia, 1516),
onde relatava as condições de vida em uma ilha
desconhecida, que denominou Utopia. Nela teriam
sido abolidas a propriedade privada e a intolerância
religiosa. Foi por isso que tal termo passou a designar,
não apenas qualquer tentativa análoga, como também
qualquer ideal político, social ou religioso, cuja
realização seja difícil ou impossível.
Porém,
como o próprio Abbagnano salienta, Manheim considerou a
Utopia, como algo destinado a realizar-se, ao
contrário da ideologia que não é passível de
realização. Nesse sentido, a Utopia seria o
fundamento da renovação social.
E
continua: "Em geral, pode-se dizer que a U. (sic)
representa a correção ou a integração ideal de uma
situação política, social ou religiosa existente.
Como muitas vezes aconteceu, essa correção pode ficar
no estágio de simples aspiração ou sonho genérico,
resolvendo-se numa espécie de evasão da realidade
vivida. Mas também pode tornar-se força de
transformação da realidade, assumindo corpo e
consistência suficientes para transformar-se em
autêntica vontade inovadora e encontrar os meios da
inovação. Em geral, essa palavra é considerada mais
com referência à primeira possibilidade que à
segunda."
Em
sua obra Direito e Utopia, João Baptista
Herkenhoff afirma que a palavra Utopia deriva do
grego, e significa "que não existe em nenhum
lugar". Para Herkenhoff, a utopia é o
contrário do mito, ou seja, utopia "é a
representação daquilo que não existe ainda, mas que
poderá existir se o homem lutar para sua
concretização." E continua dizendo que a Utopia
é a consciência antecipadora do amanhã. "O
mito ilude o homem e retarda a História. A utopia
alimenta o projeto de luta e faz a História".
Herkenhoff vê o pensamento utópico como o grande motor
das Revoluções.
5.1.
O Pensamento Utópico
O
pensamento utópico teve um importante papel no Direito,
uma vez que é através do mesmo que encontramos os
instrumentos necessários para construir o nosso
direito; É o pensamento utópico que ilumina o caminho
em prol do que é justo, já que não fica restrito às
imposições legais, que nem sempre estão de acordo com
o que se entende por justiça.
O
pensamento utópico funciona como uma espécie de
libertação das amarras que prendem o Direito aos
aspectos legais. Através da utopia, busca-se não o que
diz a letra da lei, mas sobretudo, o que é justo. E lei
e justiça não são palavras sinônimas, muito menos
Direito e Lei. Essa distinção é proveniente,
justamente, do pensamento utópico, que desvinculou o
Direito da lei, proclamando que antes de tudo o Direito
é justiça! Através do Direito, conforme o pensamento
utópico, busca-se uma sociedade mais justa, fraterna,
igualitária, onde os direitos das chamadas minorias
(como as mulheres, os negros e os homossexuais, por
exemplo) serão respeitados, um direito escrito pelo
povo e em respeito, essencialmente, à dignidade da
pessoa humana!
5.2.
A função da Utopia
De
acordo com os ensinamentos proferidos pelo mestre João
Baptista Herkenhoff, a primeira função da utopia é
favorecer uma visão crítica da realidade. No entanto,
como salienta o mesmo, sua função não para por aí. A
utopia é antes de mais nada, uma forma de ação, uma
vez que provoca o movimento das pessoas, em busca do
desenvolvimento de uma sociedade mais justa. Trata-se,
de acordo com Bloch (citado por Herkenhoff) do "Princípio
da Esperança" que anima o mundo.
Podemos
dizer, dessa forma, que a função da utopia é a de
provocar um movimento social, em busca de um novo
Direito, um "Direito Justo", livre de
amarras pré estabelecidas; um direito que busca a
igualdade entre os povos, a fraternidade e, acima de
tudo a paz social; um direito que renasce a cada dia, de
acordo com as novas aspirações humanas, porque o homem
é um ser dinâmico, de forma que, se o direito é
criado exclusivamente em prol do ser humano, não poder
ser estático, pois isso acarretaria uma contradição.
A
utopia serve, portanto, como um instrumento de
transformação social. Trata-se de uma realidade que
visa, como ensina João Baptista Herkenhoff, "desmascarar
a falsidade da ideologia estabelecida". E,
sabiamente, continua o mestre: "O presente
pertence aos pragmáticos. O futuro é dos utopistas"!
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