Objeção
de consciência
Antônio
Mesquita Galvão
Para
os antigos filósofos gregos, a consciência,
syneidesis, era a "mestra da verdade".
Para tanto, a consciência deve ser educada
por um juízo moral, esclarecido. Para a
formação de uma consciência
cristã é preciso estabelecer uma
reta razão, que nada mais é do que
fazer o que se tem certeza que é certo.
Trata-se de um juízo prático acerca
da bondade ou da malícia de um determinado
ato.
A fascinação pelas meias-verdades
é o grande desafio para a Teologia Moral.
Cabe, por isto, um alerta: cuidado com as consciências
elásticas, das pessoas que agem conforme
as circunstâncias particulares: "faça
o que eu digo, mas não faça o que
eu faço". É o caso de uma mãe,
sem objeção de consciência,
que disse: "eu sou contra o aborto, mas...
neste caso...". É o chamado "duplo
estatuto da verdade moral", em que a consciência,
por motivos particulares vai contra o preceito
válido da norma geral. É a chamada
"moral de ocasião".
Para testar a decisão de atos e consciências,
e considerando a estreita relação
que existe entre consciência e liberdade,
é prudente observar que, sempre que ocorrer
a alguém o assalto de dúvida, se
um fato é pecado ou não, podemos
ter certeza de que é, pois os atos lícitos
não deixam dúvidas. A objeção
de consciência ocorre quando a pessoa se
recusa a cumprir um preceito em razão desse
imperativo.
A consciência reta se perfila à verdade
objetiva, acolhida pelo coração
humano. É sempre da verdade que deriva
a dignidade da consciência. A isso se chama
reta razão. A Teologia Moral paulina revela
que a lei do amor mútuo está inscrita
no coração do homem. Justamente
essa inscrição é que revela
que o dever moral se funda na liberdade: "Jesus
Cristo nos libertou para que fôssemos livres"
(Gl 5, 1). Em Rm 12,2 o apóstolo fala em
formar a consciência para o bem e para a
verdade, buscando fazer a vontade de Deus, isto
é, o que é bom, o que é agradável
a ele, o que é perfeito (v. 2c). Deus é
o autor da moral. A consciência deve ser
iluminada pelo Espírito Santo (cf. Rm 9,
1), ser pura (cf. 2Tm 1,3) e manifestar a verdade
(cf. 2Cor 4, 2). Como ensinam os moralistas, o
ser humano não deve amoldar-se à
mentalidade do mundo (cf. Rm 12, 2), mas converter
seu a Deus.
Somos julgados pela consciência reta e não
por aquela, fragmentada por distorções
ou acomodações. Certos desvios de
moral criam regras elásticas para as consciências
que, ao invés de atuar naquela reciprocidade
com as outras, como diz B. Haering, assume foros
egoístas, personalistas, capazes de validar
injustiças, sob a alegação
de normas íntimas, ao afirmar que "cada
um responde por sua cabeça". Os artifícios
intelectuais, muitas vezes, deturpam as consciências.
Por objeção de consciência
entende-se como aquela possibilidade de recusa,
por parte de uma pessoa, de cumprir um determinado
preceito legal apelando ao imperativo de sua consciência.
Por exemplo, um pacifista prestar o serviço
militar.
Recentemente minha consciência impediu que
eu me decidisse a favor de algo, extrinsecamente
bom, mas intrinsecamente detestável. Em
Creta (Grécia), em julho de 2007 visitei
o túmulo do escritor Nikos Kazantzakis
(† 1957). Depois, numa loja de suvenires,
vi uma camiseta alusiva ao escritor. Era uma "T-shirt"
bonita, preta, com um texto em letras douradas.
Como gosto muito dessas camisetas para o verão,
me dispus a comprá-la. Traduzido, o texto
grego dizia "Não creio em nada; não
espero nada: sou livre!". Era um contraponto
ao Credo: "Creio em Deus Pai..." (não
creio em nada), "...e espero o mundo que
há de vir" (não espero nada).
Minha consciência fez objeção
a algo, extrinsecamente bonito, cujo conteúdo
contrariava a minha fé.
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