Cidadania e
Segurança: Superando o Desafio
Marcos Antonio
Paiva Colares
Cristina Zackseski
Roberto Armando Ramos de Aguiar
Apresentação
1.
Introdução
2. O
Papel da Cidadania na Consecução da Segurança Sustentável
3. considerações
sobre a VIOLÊNCIA, o MEDO E INSEGURANÇA
4.
Segurança e Democracia
5. À
Guisa de Conclusão
Bibliografia
APRESENTAÇÃO
A Comissão Nacional de
Direitos Humanos, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil, embuída no espírito de participar do
aprofundamento da discussão das questões afetas a cidadania
e a segurança, traz ao conhecimento dos advogados brasileiros
o texto a seguir, fruto de suas consultas, pesquisas e debates
sobre o momento econômico-político-social hodiernamente
vivenciado pela sociedade brasileira.
O presente trabalho é composto
dos seguintes documentos:
-
- Texto intitulado:
"Cidadania e Segurança"
-
- Anexo contendo indicações
de obras publicadas sobre o tema.
Nosso objetivo principal é
contribuir com a reflexão acerca da questão da segurança e
estimular a implementação de ações cidadãs, para que em
todos os recantos do Brasil consolidem-se manifestações por
uma segurança durável.
Sentiremo-nos profundamente
recompensados pelo esforço, se funcionarmos como instrumento
de catalização de idéias e práticas que reforcem a
preocupação da OAB com a qualidade de vida do povo
brasileiro, em sintonia com uma visão social sustentável da
vida no planeta.
Reginaldo
Oscar de Castro
Presidente
Nacional da OAB
|
Carlos
Augusto Tork de Oliveira
Presidente
da CNDH
|
CIDADANIA E
SEGURANÇA:
ALGUNS PASSOS
PARA UMA SEGURANÇA DURÁVEL
E CIDADÃ*
1. INTRODUÇÃO
Com o objetivo de conhecer as
dificuldades dos Estados envolvendo as questões de Direitos
Humanos, a Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho
Federal da Ordem dos Advogados do Brasil — (CNDH), solicitou
aos seus Membros Efetivos e Consultores, bem como às Comissões
de Direitos Humanos, dos Conselhos Estaduais da OAB, indicações
de destaque temático acerca dos problemas a serem abordados
prioritariamente na sua atuação durante o período
1999-2000.
A maioria das contribuições
recebidas enfocaram os seguintes temas: Criança e
Adolescente, Desemprego, Educação para os Direitos Humanos,
Reforma Agrária, Reforma Penitenciária e Segurança Pública.
Tendo em vista as inter-relações de conteúdo entre as
sugestões temáticas recebidas, a CNDH compreendeu que as
indicações tinham como ponto comum o binômio
"cidadania-segurança". Isto posto a CNDH adotou o
tema "CIDADANIA E SEGURANÇA" como prioridade, através
de ações que deverão ser executadas no decorrer desta gestão,
tais como: campanha nacional pela cidadania e segurança;
acompanhamento de Projetos de Lei sobre o tema cidadania e
segurança em tramitação no Congresso Nacional; mobilização
dos parlamentares no sentido de ver aprovadas as propostas
concernentes as linhas de ação da CNDH; proposição de
Projeto de Lei sobre cidadania e segurança por iniciativa
popular e/ou por intermédio de parlamentares; elaboração e
divulgação de texto básico-educativo sobre o assunto em
questão, e mais, discussão e execução da prioridade com às
CDHs dos Conselhos Seccionais. É neste mister que se insere o
presente trabalho.
Este texto pretende,
primeiramente, discorrer sobre os significados da palavra
cidadania, que assume contornos, dentre outros, de ordem filosófica,
jurídica, sociológica e política. A seguir, o trabalho
demonstra que, dentro da complexidade dos diferentes atores
que compõem o mosaico social brasileiro, a porta de entrada
para a violência, a insegurança, o medo e a falta de exercício
cotidiano da cidadania, perpassa todas as classes sociais.
Assumindo feições próprias,
a insegurança está representada em quadros como: o
desemprego ou insegurança no emprego, a corrupção
generalizada, as grandes injustiças sociais, a impunidade, as
fraudes previdenciárias e do sistema financeiro, a falta de
acesso ao sistema de saúde e educacional, a inexistência de
tempo para lazer, a agressão ao meio ambiente, a desagregação
familiar, as políticas governamentais ineficientes de apoio
à criança e adolescente, ao idoso e demais minorias, as
poucas oportunidades de subir na vida pelo trabalho honesto, a
iníqua distribuição de renda, a falta de crença popular
nas instituições públicas, a taxa de agiotagem praticadas
por indivíduos e instituições, a prostituição infantil, o
trabalho escravo envolvendo menores e adultos, a violência na
intimidade diária do lar pelo clic da televisão que
superdimensiona o ato do crime, o ato do bandido, a ação da
polícia, da morte "necessária"... Contudo, numa
leitura semiótica, pode-se constatar que o corpo abatido
simboliza a violência ainda não codificada como violência
nas estatísticas oficiais: a fome, a miséria, a desigualdade
na distribuição dos benefícios sociais, a tensão
permanente entre o governo e sociedade, a decomposição dos
valores éticos, morais, culturais e jurídicos que, cada vez
mais, tornam-se regras de conduta geral plenamente aceitáveis
como "normais".
O texto tem a intenção de
provocar reflexões sobre questões como: Poder-se-á pensar
em segurança durável, face a tão atro cenário? Aqui há
espaço para a esperança? Por que não pregar, dentro das
corporações policiais a idéia de arbítrio zero, em lugar
de "macaquear" a "tolerância zero"?
Cidadania, segurança e medo são simplesmente definições
abstratas dissociadas do dia-a-dia da massa? As respostas a
estas e outras questões pode apontar para o rumo que a nossa
sociedade se dispõe a tomar diante das violências sociais: o
caminho da cidadania ou a ampliação do fosso da insegurança.
O presente trabalho analisa
também a questão da segurança pública, apontando os fenômenos
que impedem a elaboração de um projeto de segurança sustentável
a nível nacional indicando perspectivas para a superação
progressiva do clima de insegurança que grassa pelo País.
Ao entregar este documento à
sociedade brasileira e às Comissões de Direitos Humanoss da
OAB, os autores esperam contribuir para a reflexão acerca dos
motores da violência e da discriminação social em nosso País,
bem como manifestar que a perspectiva de superação dessas
mazelas – ofensivas da ética e da dignidade da pessoa
humana – passa pelo exercício da cidadania e na medida do
possível atuar para que estas venham a ser implementadas.
Fique entendido que a superação
do medo, da insegurança, enfim, da violência, reside no
constante, individual e coletivo exercício da cidadania.
Os autores *
2. O PAPEL
DA CIDADANIA NA CONSECUÇÃO DA SEGURANÇA SUSTENTÁVEL
Sentidos do termo cidadania
Existem várias maneiras de
adentrarmos a este tema, optaremos pelo caminho da decodificação
do termo - etimológica e politicamente.
A palavra cidadão, sujeito da
cidadania, pode ser analisada sob o aspecto latino, a partir
de civitate (cidade) ou como fruto do palco soberano da
polis (cidade) grega; assembléia esta denominada de (politai).
Vale ressaltar que tanto em Roma como na Grécia a cidadania
era uma atividade política exercitada por poucos.
Com o advento da Revolução
Francesa o termo cidadão ganhou uma conotação mais
abrangente, algo que - falaciosamente - incluía toda a população.
Digo falaciosamente porque a história se encarregou de
demonstrar que aquele evento político não teve o condão de
pôr fim as diferenças entre as classes sociais; tendo sim
inaugurado o predomínio da burguesia sobre os demais
segmentos da população.
Contemporaneamente a palavra
cidadania foi vinculada ao conteúdo explicativo da
nacionalidade, daí Paulo Bonavides dizer que:
"Nação vem a ser, em
suma, um plano de vida, uma linha de conduta coletiva, uma
identidade de crença, costumes, tradições, aspirações,
ideais, reivindicações, ao redor dos quais determinada
coletividade humana faz a sua história, vive o presente por já
ter vivido o passado e viverá o futuro pelas mesmas aspirações
que a impelem a preservar-se como tal."
Partindo dessa conceituação
nem sempre teremos facilidade em identificar na sociedade
brasileira o sentido da nacionalidade, muito menos da
cidadania. Ocorre que as populações ocidentais, e
ultimamente, também as orientais, vem sendo profundamente
influenciadas por valores planetarizados via capitalismo, que
passaram a interagir com a cultura, metamorfoseando ideais e
alterando aspirações.
Continuando o nosso estudo,
observaremos que o termo cidadania ora assume o sentido de
nacionalidade, ora assume o de organização social. Se por um
lado o sentimento de brasilidade nos confere algumas características
culturalmente comuns, por outro tem sido através da organização
político-social que temos vivenciado experiências de construção
coletiva mais frequentemente identificadas com o que
usualmente chamamos de cidadania.
Nesse debate ingressa também
uma outra expressão: sociedade civil. Por vezes identificada
como o somatório das forças que vivificam a democracia em um
Estado, este enunciado tem uma outra tradição histórica, e
para esclarecer valemo-nos das palavras de Norberto Bobbio, ao
explicitar que:
"A idéia de que a
sociedade civil é o anteato (ou a contrafação) do Estado
entrou de tal maneira na prática cotidiana que é preciso
fazer um grande esforço para se convencer de que, durante séculos
a mesma expressão foi usada para designar aquele conjunto de
instituições e de normas que hoje constituem exatamente o
que se chama de Estado, e que ninguém poderia mais chamar de
sociedade civil sem correr o risco de um completo mal
entendido."
Pode causar confusão,
principalmente para as lideranças dos movimentos sociais, mas
sociedade civil se confunde com a conformação do que
atualmente chamamos de Estado (que é distinto de governo),
logo a cidadania está ligada ao Estado, sendo uma forma de
manifestação política que, em tese, não se opõe a esta
instituição.
Cremos ser patente que a
sociedade civil é definidora do modelo de Estado vivenciado
por cada sociedade. Octavio Ianni adverte-nos que "a
sociedade civil é o espaço das classes sociais,
compreendidas em sua relação de reciprocidade e antagonismo,
relações essas que movimentam o cenário da história."
Assim, a cidadania em seu sentido político amplo (e não
simplesmente circunscrito ao conceito de nacionalidade), é
socialmente exercitável onde as condições para que a
expressão do pensamento e a defesa da dignidade humana sejam
metas inarredáveis. Dessa forma, o conceito de cidadania
assume contornos, dentre outros, de ordem filosófica, jurídica,
sociológica e política.
Normativamente as Constituições
brasileiras vêm evocando a cidadania como máxima já há
algum tempo, porém principalmente como intrumento retórico.
A exemplo disso podemos lembrar que a Constituição de 1967
dizia que todo o poder emanava do povo, mas os governos
militares o exercereram sem o beneplácito da aprovação
popular e, inclusive, contra os projetos da sociedade que
deveria representar.
Ulisses Guimarães tornou célebre
a expressão "Constituição Cidadã", numa referência
denotativa ao modo como significativas parcelas da sociedade
brasileira participaram da elaboração daquele texto legal.
Ocorre que, como já foi possível concluir, a cidadania é um
exercício político-social cotidiano, algo que adquire
sentido historicamente e frequentemente sofre reelaborações
ou mudança nas formas de manifestação. Se no final dos anos
70 a cidadania manifestava-se entre nós através da mobilização
pelo fim do regime de exceção, os anos 80 foram marcados
pela volta ao estado de direito democrático. Na atual década,
porém, a cidadania andou em baixa. Com raras exceções, os
movimentos sociais não tiveram forças para aglutinar a
população em torno de objetivos altruísticos e de conotação
eticamente coletiva. Por outro lado, parcas tem sido as
expressões de socialização da cidadania como instituição
social.
Fazendo uso do pensamento de
Pierre Bourdieu podemos imaginar que o capital simbólico
(reconhecimento social) de pessoas como Betinho (Herbert de
Sousa), Dom Hélder Câmara ou Paulo Freire, os faz assumirem
destaque quando referimo-nos à cidadania. Ocorre que a grande
virtude da cidadania está no fato de que enquanto substantivo
(morfologicamente), tem o condão de conferir aos seus
protagonistas a condição de sujeitos da história; sem que
se faça necessário buscarmos hérois, mártires ou
estabelecermos hierarquias entre os atores socias que lutam
pela sua efetivação.
Como veremos, a cidadania pode
funcionar como um elo entre desiguais, movidos por ideais político-sociais
comuns. Por outro lado, hoje temos a chance de reverter o
quadro histórico da supremacia dos possuidores sobre os
despossuídos; pois o exercício da cidadania está acima das
diferenças de classe - está no cerne da discussão sobre a
ética da socialidade; importante caminho para a construção
de teias de solidariedade.
Cidadania e participação
social
Falar em participação social
nos traz à mente a idéia de democracia, sem a qual é vã
qualquer iniciativa de socialização do poder.
A história da humanidade nos
oportunizou conhecer uma série de experiências batizadas de
democráticas - desde a Antiguidade Clássica até os nossos
dias. Na Grécia Antiga conhecemos a democracia das elites
sociais, que nada tinha a ver com o princípio de governo do
povo. Na contemporaneidade sabemos da existência de regimes
políticos que, travestidos de representativos, oprimem grupos
étnicos e os despossuídos materialmente. É oportuno lembrar
que o modelo democrático brasileiro até poucas décadas
negava às mulheres o direito à participação política e
que, mesmo hoje, somos obrigados a conviver com uma legislação
eleitoral que reserva um espaço quantitativo de gênero como
meio de possibilitar a presença de um maior número de
mulheres concorrendo aos cargos eletivos - isso é apenas um
instantâneo de uma sociedade que aprendeu a conviver com a
democracia mais ao nível da retórica do que da práxis.
No famoso discurso de Péricles
em homenagem a primeira guerra do Peloponeso, citado por Tucídides
e Plutarco, a defesa da democracia ateniense define o próprio
regime para o futuro:
"Entre nós, o Estado é
administrado no interesse da massa e não de uma minoria, daí
o nome que o nosso regime adotou: democracia. No que concerne
aos diferentes indivíduos, a igualdade é assegurada a todos
pelas leis; mas, no tocante à participação na vida pública,
cada um obtém crédito em função do mérito, e a classe a
que pertença importa menos do que o seu valor pessoal; enfim,
estando em condições de prestar serviço à cidade, ninguém
é cerceado pela pobreza ou pela obscuridade de sua condição
social’ (Plutarco, Vida de Péricles, II, 37)."
Transmutando para os nossos
dias, caberia dizer que no Estado moderno (sucedâneo da
cidade antiga) ninguém seria excluído do exercício da
democracia por sua condição de sem terra, sem teto,
desempregado ou analfabeto. Que as organizações políticas
teriam o aurículo do Estado a sua disposição para escutar
suas demandas e discutir conjuntamente soluções para elas.
A partir do final do regime
militar a sociedade brasileira foi tomada por uma grande onda
associativista. Eram associações de bairro, grupos de produção,
conselhos comunitários, sindicatos, conselhos de segurança e
outras formas de organização social, que embriagadas de
democracia começavam, ou em alguns casos retomavam, o caminho
da cidadania.
Paralelamente engendravam-se
instituições com uma compleição intelectual mais arrojada,
que serviriam de base orgânica à estrutura cidadã de
participação que se esboçava; eram os Centros de Assessoria
Popular, as Comissões de Justiça e Paz, os Centros de Defesa
dos Direitos Humanos e outras ONGs assemelhadas.
Todo esse esforço de construção
da cidadania conferiu legitimidade aos agentes, ao processo e
- em muitos casos - aos resultados. Legitimidade não apenas
no sentido formal (weberiano), mas, acima de tudo, como
expressão sócio-jurídica do poder no cotidiano. Lutas por
saneamento básico, policiamento, frente de trabalho, escola,
posto de saúde etc. ganharam uma conotação de vivificação
da liberdade de expressão.
Sob a tutela da organização,
principalmente depois da Constituição de 1988, o conceito de
Direitos Humanos foi sendo paulatinamente incorporado ao
cotidiano e ampliado em seu sentido emblemático; embora para
alguns, quando o assunto é segurança pública, Direitos
Humanos seja, equivocadamente, identificado como meio para
defender "marginais".
Vale salientar que,
particularmente no que tange a segurança pública, a visão
estática de serviço público deve ser abolida, sendo
escupida em seu lugar uma perspectiva política de segurança
a serviço da sociedade. Como bem assevera o art. 144 da
Constituição Federal em seu caput, a segurança pública
passou a ser "responsabilidade de todos".
Entretato, nem toda a sociedade
brasileira encontra-se organizada, tampouco todos adquiriram a
consciência do papel da cidadania na superação dos
problemas econômico-político-sociais que envolvem a violência
lato sensu.
O que fazer então com o medo
da violência? Para muitos brasileiros "o medo
tornou-se o pão-nosso de cada dia. Medo que nos paralisa e
isola. Medo que nos faz esquecer os nossos direitos e os dos
outros. Medo que nos faz dizer que bandido tem mais é que
morrer. Medo que nos transforma em linchadores e que nos faz
sentir nostalgia do Estado autoritário." É contra
esse medo que violenta a cidadania e a democracia que devemos
nos insurgir.
A insurreição a qual nos
referimos tem caráter pacífico e participativo e, como dizíamos
há pouco, tem o condão de construir verdadeiros patamares de
defesa dos Direitos Humanos. Essa defesa deve assumir a feição
de "proteção dos direitos humanos" e
ocorrer "na proporção direta do grau de
desenvolvimento sócio-econômico-cultural dos povos.
Reversivamente, como o desenvolvimento supõe progressiva
igualdade social, ele só pode realizar-se no amplo respeito
aos direitos humanos." Por tudo isso, cabe à
cidadania - consubstanciada nas diversas formas de participação
social - propugnar por uma segurança sustentável; fruto de
meios que estimulem a participação de todos.
Como rimar segurança com
esperança?
O povo brasileiro é resultado
de um requintado emaranhado de tradições culturais que vem
interagindo e socializando suas instituições sociais. Dentro
deste caldo cultural as atitudes marcadas pela violência têm
alta representatividade e se manifestam, indiscriminadamente,
nas diferentes classes sociais.
Os motivos para a prática dos
atos violentos são dos mais variados. Embora nos deparemos
com casos onde parece existir uma completa falta de sentido no
ato, tamanha a sua truculência e tal a incapacidade da vítima
de oferecer qualquer forma de resistência à ofensa recebida.
Por outro lado, no Brasil são freqüentes os casos em que a
violência parte daqueles que têm a função institucional de
respeitar a legalidade e garantir a ordem pública.
Ciro Marcondes Filho conseguiu
produzir um dos melhores instantâneos da falta de segurança
que grassa em nosso País - infelizmente atualizado, apesar de
escrito há mais de uma década - ao dizer:
"É claro que para
estudar o problema da violência das massas no Brasil é
preciso buscar as causas sociais mais gritantes deste país:
miséria em toda parte, baixa remuneração do trabalho,
insegurança no emprego, preços altos, inflação,
corrupção em toda parte, grandes injustiças sociais,
empreguismo, favelas, poucas oportunidades de subir na vida
pelo trabalho honesto, grandes golpes na praça e na economia
popular, impunidade de policiais criminosos e de políticos
corruptos, cinismo dos contraventores, violência criminosa em
todas as esquinas e cidades do país, falta de apoio à
família, aos velhos, às crianças, às mulheres abandonadas,
falta de transporte, ônibus caros e ruins, fome,
desnutrição, alimentação pobre, escassa, cara e de má
qualidade, pouca escolarização, pouca participação
política, direito de greve limitado etc.."
Excetuando-se o direito de
greve, que apesar de ainda merecer alguma discussão, sofreu
grande avanço com a Constituição vigente, o texto supra
consegue expressar algumas das principais causas da falta de
segurança com a qual convivemos. Seus motivos se fundamentam
na manutenção da falta de condições de existência de
significativo estrato social, gerados pela má distribuição
da renda nacional; na falta de crença popular nas instituições
públicas; no parco nível de pressão social das bases; na
geração de culturas de culto à violência - expressa pelas gangs,
pelos esquadrões da morte, pelas brigas de torcida, pelos
linchamentos etc..
Diante de um contexto tão
complexo pode parecer irreal falar na possibilidade de esperança
na existência de uma segurança durável; principalmente por
intermédio do exercício da cidadania. Ledo engano. No atual
horizonte histórico, a organização popular pode significar
a possibilidade de construção de alternativa ao clima de
violência que atenta constantemente contra a segurança.
Exemplos para comprovar esta tese não faltam, desde os mais
conhecidos e sofisticados até os mais recatados e simples .
No Nordeste brasileiro há um
provérbio popular que nos ensina que quando a comida está
quente, o certo é comer pelas beiradas. Alguns indagarão:
Por que discutir segurança quando falta emprego, terra
para plantar, lugar para morar e o que comer? Porque na
verdade todos esses assuntos desembocam na falta de segurança
e não serão resolvidos sem ações cidadãs.
Numa sociedade complexa, os fenômenos
sociais são resultado da combinação ou interação de
diferentes fatores. Sempre que interferimos na modificação
de um componente do mosaico social - independente de o
fazermos pelo ângulo "x" ou "y" -
corremos o risco de desestabilizar a estrutura, como um todo.
Não há mágica em processos
de socialização; as novas instituições tendem a substituir
as anteriores e, para sua manutenção, as sociedade precisam
que as "teses" dominantes sejam compartilhadas pela
maioria dos seus membros e transmitidas aos seus futuros
componentes.
Somos parte - em nível planetário
- de uma estrutura social notadamente patriarcalista
(provedora); machista (competitiva); patrimonialista (fundada
na idéia de defesa da propriedade privada). Neste solo
reproduziu-se o capitalismo (economicamente), o liberalismo
(sob a optica econômico-político) e a alienação (sob o
prisma econômico-político-social). O equilíbrio desses
fatores é responsável pela cultura que reproduz o sistema
que impera no Brasil. Para alterarmos a síndrome da insegurança
que nos aflige temos que romper elos desse sistema.
Para o início da alteração
do atual sistema de insegurança social não se faz necessária
a criação de novos organismos ou estruturas sociais, mas o
deslanchar de um processo cultural que vise mudar mentalidades
arraigadas; comprometidas com os ideais de poder, controle e
alienação. Nas famílias, os ícones que representem a
dominação dos mais fortes sobre os mais fracos, devem ser
substituidos por valores que privilegiem a colaboração, o
respeito às diferenças e a tolerância. Dentro dos
movimentos sociais, por exemplo, é possível se começar a
disseminar a não-violência, sem, contudo abrir mão de
posturas ideológicas. No interior das corporações policiais
pode ser difundido o "arbítrio zero", em lugar da
intolerância (falaciosamente batizada de "tolerância
zero").
Exercer a cidadania em relação
à segurança pode estimular mudanças na qualidade de vida
das pessoas; um passo importante para exigir acesso à saúde,
educação, trabalho digno, lazer edificante etc.
O exercício da cidadania
consiste em desalienação, logo, o líder comunitário não
vai aceitar o papel de delator para gozar de
"favores" do aparato policial local. A comunidade não
ficará silenciosa diante da criação de "comandos
para-policiais" de "segurança"; que vendem
"proteção" sob efeito de coação. É preciso ter
em mente que quando a comunidade fica acuada entre os
delinquentes e a pressão policial - ela é a vítima da falta
de segurança, não se tratando de um simples caso de
"colaboracionismo".
Nossa sociedade costuma
verbalizar a falsa idéia de que a pobreza está intimamente
ligada à violência. A potencialidade transgressiva é uma
caraterística humana, não se constituindo em privilégio de
um grupo ou classe social. O que historicamente chamou-se de
"classes periogosas", referindo-se ao proletariado,
tem o seu potencial explosivo relacionado, entre outros
fatores, ao binômio exploração-falta de qualidade de vida;
o que não retira das classes dominantes condições para
delinquir. Com isso pretendemos concluir que a criminalidade não
é sinônimo de pobreza, e que a segurança pública e os
temas a ela interrelacionados - como a política econômica, o
meio ambiente, o uso social da terra, o desenvolvimento da infância,
a solidariedade à velhice etc. - são de responsabilidade
social.
A violência é transmitida por
processos de socialização; as pessoas tornam-se violentas
devido a componentes psico-sociais ligados ao seu mundo
vivido. Em outras palavras, a violência como forma de
transgressão social é um comportamento apreendido; logo
vinculado aos modelos institucionais de cada sociedade. Uma
sociedade plutocrática ratifica a tese de que os
economicamente fortes tudo podem - encobrindo suas trangressões
sociais com o manto da impunidade e passando a falsa idéia de
que "os chamados criminosos e marginais
são prioritariamente pobres, nada mais."
Somente através de ações que
contemplem a perspectiva de dignidade da vida humana e
consubstanciem-se via participação social podemos esperar a
construção de relações de convivência pacíficas e
orientadas pela óptica do respeito ao outro. No caso
brasileiro, afastamos o fantasma da Lei de Segurança Nacional
sem termos superado o arbítrio do seu espírito; daí a nossa
convivência com espectros indesejáveis como a violência
policial, a violência doméstica, os crimes de colarinho
branco, as atitudes belingerantes na economia, a brutalidade
na questão agrária - onde se passa ao largo da função
social da terra - e a impunidade dos poderosos.
A segurança sustentável passa
da utopia à realidade apenas quando pode interessar à
sociedade de forma global e duradoura, não constituindo-se
num privilégio de poucos, mas num projeto de muitos. Esse
modelo de segurança não se fragmenta em palavras e expressões
preconceituosas, que somente guardam sentido didático - como
segurança pública - pois a verdadeira segurança é integral,
quanto a forma (aglutinando questões econômico-político-sociais);
particular, quanto a compreensão (posto que
também é um fenômeno psicológico); e isonômica,
quanto ao acesso.
A esperança em relação a
questão da segurança não reside em abandonarmos nossas
lutas atuais para abraçarmos uma outra causa, mas na premissa
de que nossas demandas têm como fronteira simbólica a questão
da segurança. Logo, o modo como conduzirmos nossas vidas tem
estreita ligação com a possibilidade ou não de
vislumbrarmos patamares de segurança duráveis. Para isso
faz-se necessário investirmos maciçamente na reavaliação
de nossos valores, usando como parâmetro a relação deles
com o princípio de respeito à dignidade da pessoa humana,
independente de gênero, cor, classe social, idade, preferência
sexual; a esse exercício podemos chamar de CIDADANIA.
Desse esforço podemos esperar o surgimento de níveis mais
elevados de SEGURANÇA. Temos consciência de que isso
não é tarefa simples, mas um projeto para uma nova
sociedade, que pode dispor de diversas iniciativas para
deslanchar.
3. considerações
sobre a VIOLÊNCIA, o MEDO E INSEGURANÇA
Enfrentar o desafio de
implementar condições de segurança em nossa sociedade
pressupõem a análise de múltiplos fenômenos relacionados
à violência, uma vez que a gradativa superação do medo da
insegurança que sentimos passa pela ocorrência dos mesmos e
pela consciência de seu significado e converte-se em um dos
aspectos fundamentais para atingirmos um estágio de
"segurança cidadã".
Considerando amplamente a violência
queremos deixar claro que não se trata apenas de verificar a
ocorrência, os condicionantes e os efeitos do fenômeno
criminal como seu representante exclusivo. Tanto a
criminalidade como a violência do próprio sistema repressivo
de justiça criminal, são apenas partes de um problema de
violência estrutural que uma determinada sociedade pode
experimentar.
A percepção dos cidadãos não
está direcionada para a violência estrutural, entendida aqui
como o resultado perverso das escolhas econômicas que
refletem negativamente sobre as condições de desenvolvimento
e na qualidade de vida das pessoas. Isso ocorre porque a
criminalidade tradicional desfruta de uma posição
privilegiada porquanto caracteriza-se pela visibilidade e pelo
impacto que produz na opinião pública e consequentemente, na
propagação do alarme social em torno das condições de
segurança de um determinado território.
Segundo Alessandro Baratta e
Eugênio Raul Zaffaroni, a mídia é responsável em grande
parte pela difusão da imagem do crime, vinculada ao estereótipo
de criminoso presente no senso comum, que reafirma o
pertencimento de classe dos sujeitos assim identificados,
alimentando uma percepção distorcida e alarmista da
criminalidade. Essa noção é verificada, inclusive, em face
ao território que ocupam os desfavorecidos, onde a
privacidade de que desfrutam é menor e, portanto, maior a
visibilidade dos eventos socialmente reprováveis ali
ocorridos.
Como o sistema penal, a atuação
da mídia possui características de seletividade e fragmentação,
associando freqüentemente a imagem da criminalidade à
pobreza e voltando a atenção aos bairros populares somente
em momentos de catástrofes naturais, tragédias coletivas ou
para colocar luzes sobre delinqüentes que, eventualmente,
dirigem suas ações "criminosas" a indivíduos
pertencentes ao pequeno grupo dos garantidos ou protegidos
(como nos casos de sequestros de artistas, empresários ou
familiares destes).
Em contrapartida, é muito difícil
observar uma atuação potencialmente construtiva da mídia
quando se trata de bairros pobres, alertando, por exemplo,
sobre as condições precárias em que vivem seus habitantes e
incentivando, mesmo que pela simples divulgação, as
iniciativas comunitárias destinadas a suprir o que deixa a
descoberto o poder público.
Cabe aqui advertir que apesar
do impacto provocado pelos eventos criminais largamente
associados às populações pobres não são estes os mais
lesivos à sociedade como um todo. As consequências de danos
ecológicos e fraudes previdenciárias podem levar à morte
milhares de pessoas pela falta de acesso a outro bem público,
distinto daquele que ora cuidamos mas igualmente necessário
– a saúde. No entanto, normalmente não há uma identificação
e um impacto direto destes crimes na opinião pública. O
sangue não jorra na televisão quando esses fatos são
noticiados, pois o que aparece são sujeitos que não atendem
ao estereótipo de criminosos consolidado no senso comum e
orientador das instâncias formais de controle.
Construído dessa forma, o
apanhado de informações que conduzem a opinião pública
instiga o alarme social em torno do risco de uma face da
criminalidade, no que ele vai se configurar num dos
componentes principais do quadro das demandas por segurança.
Com isso, desfigura-se a imagem real que o problema deve ter e
ficamos limitados às respostas oficiais, sem que possamos
desempenhar um papel ativo diante do que já foi
institucionalizado e acriticamente aceito.
No momento em que existe o
distanciamento entre as pessoas, perde-se de vista a
possibilidade de compreender melhor o medo. Assim, a reação
a este problema se perde na estrutura formal das respostas,
pois há uma alteração na percepção do próprio objeto;
isto é, cria-se uma dificuldade adicional em verificar a
origem e a dimensão da insegurança e de reagir
adequadamente.
O medo e o sentimento de
insegurança, especialmente experimentado nas grandes cidades,
é reforçado pelo referido distanciamento entre os cidadãos,
ou pelo que se pode chamar de "rompimento das relações
verticais de comunicação", pelo abandono dos espaços
sociais e pela desconfiança dos cidadãos, uns em relação
aos outros e destes com as instituições oficiais, instituições
que não tem se mostrado capazes de responder aos anseios da
população de desfrutar uma maior qualidade de vida,
idealizada através do conceito de segurança.
Além disso, o risco efetivo da
criminalidade tradicional pode ter um papel determinante, mas
não exclusivo na configuração da insegurança. Como diz
Massimo Pavarini:
(...) o medo nasce de outras
coisas ou diversamente nasce se é construído; pode terminar
por simplificar-se por medo da diversidade, do inimigo
interno, de relações sociais que se tornam mais hostis, de
uma percepção de estranheza das relações sociais, de uma
redução da comunicação social, de uma não frutificação
do fluxo comunicativo entre os sujeitos, sociedade civil,
instituições...Tudo isso é verdade, mas não parece ser
diretamente imputável ao fenômeno criminal ou à
periculosidade objetiva da criminalidade.
Normalmente os locais inseguros
o são por razões bastante evidentes: coexistência de múltiplos
sujeitos, costumes, tradições e formas de vida associativas,
qualificadas, portanto, como heterogêneas e, por essa profusão
de diversidade, difíceis de gerir. Estas condições
dificultam consideravelmente as ações solidárias e
amortecem a reação diante das arbitrariedades das "forças
da ordem" justamente pela falta de identificação entre
os sujeitos.
Os mal-estares sociais são
atribuídos à presença do desvio criminal, onde o medo vai
se associar à criminalidade por via simbólica. Segundo
Pavarini, atrás da palavra insegurança estão localizados
todos os incômodos, as dificuldades, as mudanças sociais,
políticas e todas as transformações profundas que uma
sociedade assume. Para ele a criminalidade é um tópico clássico
do Estado Social, no qual diversos fenômenos heterogêneos
tidos como perigosos são agrupados como risco social em torno
desse conceito.
Contudo, há que se fazer uma
distinção entre o medo abstrato e o medo em concreto da
criminalidade; sob as óticas objetivas e subjetiva. Pode ser
útil para essa distinção a repartição feita por Luiz
Eduardo Soares entre a dimensão objetiva e a dimensão
subjetiva da violência. Como dimensão objetiva aparece
"aquela em que os crimes, os delitos ocorrem"
e como dimensão subjetiva "aquela em que as
fantasias, o imaginário coletivo, as sensibilidades, a
afetividade humana, as paixões são mobilizadas, são
estimuladas concorrendo para que o fenômeno da violência, na
sua unidade, apareça dessa forma multifacetada e integrada".
A ocorrência da violência
objetiva desencadeia traumas psico-sociais, gerando mais violência,
medo, ódio e vingança. A violação aos direitos
fundamentais não atinge somente o indivíduo — sujeito
desse fenômeno — mas a memória coletiva da sociedade.
Dessa maneira, o trauma reforça e superdimensiona o medo
abstrato, comprometendo o presente e o futuro da sociedade.
As respostas que precisamos
partem, portanto, da identificação dos medos e do seu
reflexo nas atitudes das pessoas e destas nas condições de
segurança. Essa atitude jamais será possível se
continuarmos alimentando uma admiração nem sempre disfarçada
pela violência. Quanto mais intensa for esta atitude e mais
distanciada da realidade for a percepção dos sujeitos, maior
também será a insegurança. A lógica da insegurança é a
mesma lógica da alienação e do isolamento das pessoas
amedrontadas.
A percepção subjetiva da
insegurança não se funda no aumento do risco social efetivo,
e a preocupação quanto à reação das pessoas está
exatamente no aumento da sensação de insegurança que
superestima o risco objetivo. Não é necessária a coincidência
entre segurança objetiva e subjetiva, ou seja, que aqueles
normalmente mais expostos ao risco criminal e, portanto, mais
inseguros objetivamente, não necessariamente são aqueles que
se sentem mais inseguros e vice-versa.
Em razão dessa diferença, o
que se deve buscar é a compreensão e a discussão livre de
componentes emotivos sobre as condições de segurança,
incidindo, por fim, tanto sobre as variáveis do risco quanto
sobre o imaginário coletivo, ainda que seja decisiva a
consideração de que: "(...) onde há mais segurança
subjetiva há também mais segurança objetiva, enquanto o
inverso não é verdadeiro".
Sentir-se inseguro, portanto,
é muito diferente do que estar em perigo, diferença esta que
somente poderá ser superada com o efetivo envolvimento das
pessoas na criação das condições de segurança que
julgarem necessárias para desfrutar uma vida com qualidade.
Isso requer estímulos às relações interpessoais,
favorecendo-se também uma maior consciência do lugar em que
habitam e de suas condições de segurança. É também assim
que evitamos algumas faces da violência, sendo importante
começar por evitar aquela que depende da nossa postura
particular, garantindo a permanência e difusão das melhores
condições que forem se formando pelo exercício constante da
cidadania.
4. SEGURANÇA E
DEMOCRACIA
Diagnóstico do Sistema de
Segurança Pública Nacional
A Democracia ainda não chegou
ao campo da Segurança Pública. As razões desta afirmação
podem ser demonstradas por alguns fenômenos observáveis:
O Brasil não desenvolveu
nenhum conceito de segurança pública para o Estado Democrático
de Direito. Em verdade continuamos a formar os quadros das
corporações segundo manuais fundamentados na doutrina de
segurança nacional e na já revogada lei de segurança
nacional. Conforme esses manuais, a segurança pública ainda
é um braço auxiliar das Forças Armadas, tendo de receber
uma formação análoga, mesmo quando tratamos da esfera civil
desse serviço. Neste sentido, o inimigo da segurança é o
cidadão, considerando como um ente potencial de cometimento
de crimes, contravenções e de perturbação da ordem pública.
No Brasil, o sistema de segurança
pública subordinado ao Poder Executivo é fragmentário. Cada
corporação tem vida própria e não tem qualquer ligação
funcional com as outras, o que as distancia, além de, muitas
vezes, as tornar inimigas e concorrentes. O resultado disso é
a ineficiência dos serviços, o atendimento precário dos
cidadãos e a duplicação de serviços e equipamentos, o que
significa mais gastos para o erário público.
As corporações da segurança
pública não se conhecem, o que significa uma impossibilidade
de trabalharem em conjunto. A sociedade também não tem noção
de seu funcionamento, o que leva a problemas de pedidos em
lugar inadequado. Em verdade, o sistema de segurança pública
abarca, em senso estrito, um conjunto de instituições e
serviços que devem ser de conhecimento dos seus destinatários.
Geralmente, a segurança pública compreende a Polícia
Militar, a Polícia Civil, o Departamento de Trânsito, o
Corpo de Bombeiros Militar, subordinado à Polícia Militar,
ou autônomo, como no caso do Distrito Federal. Se o Estado não
tiver Secretaria de Justiça e Cidadania, o Sistema Penitenciário
também fica sob a responsabilidade da Secretaria de Segurança
Pública, desobedecendo o princípio básico de respeito aos
direitos do preso, que é traduzido pela máxima "quem
prende não guarda". Em alguns estados, a Defesa Civil,
apesar de pertencer a um sistema nacional, também é gerida
pela Secretaria de Segurança Pública por via de uma articulação
entre esta e o Corpo de Bombeiros. A função de cada uma
dessas instituições é desconhecida pela população, que
também deve ser informada de seus papéis e de suas funções
como serviços para a cidadania. Mas o mais sério, que é
ignorado por todos, é que a segurança pública é um sistema
que transcende em muito as corporações de cada estado da
federação.
Aqui não estamos tratando das
corporações federais que trabalham nessa área, que embora
de muita importância, sofrem do problema da escassez de
recursos humanos. O sistema de segurança pública reúne, além
das entidades citadas, o Ministério Público, o Poder Judiciário
e a própria cidadania, conforme prescrição constitucional.
Sem a articulação dessas facetas da vida societária, não
será possível o desenvolvimento de um trabalho de segurança
e proteção social na contemporaneidade.
Infelizmente, essas instituições
vivem isoladas umas das outras, sendo que o Judiciário
resiste a enxergar a sociedade para além da intermediação
dos textos legais, dos arestos jurisprudenciais e das
doutrinas. Isso retira dele o mundo do dado, o mundo das relações
palpáveis e reais, o espaço das contradições e exclusões
da sociedade, o que leva muitas vezes os juízes a decidir de
forma injusta e inadequada. O mesmo pode ser dito quanto ao
Ministério Público, que ainda não tem a competência de
presidir o inquérito, hoje nas mãos da Polícia Civil, mas
que, muitas vezes, no lugar de exercer seu essencial papel
fiscalizador, denunciador e aperfeiçoador das ações da
Segurança Pública, passa a disputar poderes com a Polícia
nas esferas administrativas e judiciais; o que se reveste de
absoluta esterilidade. Diante dessa tensão e desconhecimento
interinstitucionais, a cidadania, que hoje sofre um refluxo de
suas organizações e movimentos, pouco pode participar,
influir e modificar esse estado de coisas.
Não há cidadania nos quadros
da segurança pública. Os servidores da segurança, além de
não compreenderem a cidadania, também sofrem, no interior de
suas corporações, graves cerceamentos de seus direitos
fundamentais, o que os torna não-cidadãos. A disciplina rígida
e meramente formal, os poderes constituídos para além do
merecimento real, a hierarquia sem clareza de objetivos leva
as pessoas a se tornarem obedientes por obrigação, não cônscios
de seus problemas e ineficazes para compreender a sociedade a
que deveriam servir.
A Segurança Pública não está
apta para resolver os problemas da criminalidade contemporânea,
pois a formação dos quadros da segurança pública está
voltada para um tempo onde os fenômenos criminais contemporâneos
não existiam. A mentalidade vigente é dos anos quarenta. O
resultado disso é que não há uma preparação para o
deslinde da criminalidade de hoje que tem caráter comercial,
transnacional, tecnológico e social. Em verdade, nossos serviços
de segurança não estão preparados para enfrentar a
criminalidade das drogas, a criminalidade de colarinho branco,
a criminalidade via eletrônica e os crimes da exclusão
social. Ela é preparada para atender as ocorrências
interindividuais, comuns e que não envolvam maior sofisticação.
O trabalho de segurança pública
é isolado das outras instituições do Estado e dos
movimentos da cidadania. Logo, o problema da violência é
multifacetado e só pode ser equacionado a partir de um
trabalho conceitual e prático de natureza interdisciplinar. O
isolamento do aparelho policial e da segurança como um todo
das outras entidades estatais e paraestatais, bem como o seu
"desconhecimento" dos movimentos sociais e entidades
da sociedade civil, faz com que este nunca possa compreender a
natureza da criminalidade e da violência e as combata sempre
da mesma forma - pela força, "extração de informações",
investigações viciadas e alocação de dispositivos
repressivos - nos casos de perigo de violação da ordem pública.
Assim, nem a criminalidade, nem a violência são
compreendidas e racionalmente enfrentadas, nem a sociedade se
amalgama para enfrentar os desafios contemporâneos nessa área.
A sociedade, por mecanismos
formais e informais de manifestação de idéias e opiniões,
tem uma demanda ambígua frente a Segurança Pública: pede
menos violência policial em termos gerais e exige a prática
de violência quando o problema é pessoal. É recorrente o
fenômeno de denúncias de violências cometidas pelas polícias,
e isso é um fenômeno de grande importância para a sociedade
e para a democracia. Mas, por outro lado, as pessoas
prejudicadas pela criminalidade procuram induzir os policiais
a cometer atos ilegais, vinganças e violências contra os
delinqüentes. Assim, a demanda social é ambígua: de um lado
ela rejeita a violência policial e de outro, a estimula.
Por todos os fatores já
elencados, podemos concluir que não há uma política de
segurança pública no Brasil. Como decorrência de não
existir um conceito teórico-operacional de segurança pública
e de haver uma fragmentação dos serviços de segurança, não
existe uma política consistente de segurança pública, seja
em termos de formação de quadros, seja em termos
administrativos e de investimentos, seja em termos de retribuição
dos serviços prestados pelos servidores da segurança. É
impossível atuarmos de modo eficaz, sem que,
democraticamente, não se estabeleçam os nortes políticos
das atividades desse setor da vida social.
Por não ser uma área onde o
investimento tenha retorno rápido para a opinião pública,
esse setor sempre é deixado para trás. Vistos criticamente,
há de sentenciar que os investimentos em segurança pública
no Brasil são irracionais; posto que voltados mais para as
imagens do que para o atendimento das reais necessidades da
cidadania. Por outro lado, uma pesada estrutura burocrática
desvia seus quadros das atividades fim para as atividades
meio, comprometendo seu papel. Há de se observar ainda, a
preponderância de uma visão simplista de que a compra de
armas e veículos é a forma de enfrentar a criminalidade,
traduzindo um olhar tacanho e atrasado diante da complexidade
da sociedade atual.
O pagamento injusto e a diferença
gritante de recebimento entre o topo e a base das corporações
é o motivo mais importante para o desencadeamento da
indisciplina. Os quadros da segurança pública no Brasil,
salvo pouquíssimas exceções, são muito mal pagos, o que
abre possibilidade para a corrupção. A título de exemplo,
vale salientar que o valor mínimo de duas multas, conforme o
novo Código de Trânsito, corresponde aos vencimentos de
soldados da Polícia Militar em vários estados, havendo casos
de servidores da segurança que recebem menos de um salário mínimo.
Entretanto, o que causa maior deslegitimação entre comandos,
diretorias e suas bases é o fato dos que se situam no topo da
pirâmide ganharem cem vezes ou mais que os iniciantes da
base. Este problema levou aos acontecimentos recentes de
levantes em polícias militares de vários Estados do Brasil.
A violência policial é um dos
fenômenos que demonstram o arcaísmo e a cultura de guerra
que é passada pelas corporações. A violência policial é
antiga. Suas raízes remontam à Colônia e ao Império, onde
a ação de segurança era sempre truculenta, seja para coibir
condutas, seja para investigá-las. Em tempos recentes, a
truculência tomou alguns ares de ciência, quando as noções
de "interrogatórios severos" foram introduzidas,
por importação, nas práticas de obtenção de informação,
quer para com os presos políticos, que para com os presos
comuns. Além disso, um corporativismo excludente é ensinado
nas academias e escolas de formação, que situa os policiais
como superiores, como guardiões da ordem e da brasilidade,
contra os "paisanos", que são indisciplinados,
impatrióticos e desrespeitadores da ordem pública. Isso só
aumenta a onipotência dos quadros da segurança e situa o
cidadão como seu inimigo, instilando uma cultura de guerra e
de combate, que tem como adversário o cidadão com o qual a
segurança tem de conviver quotidianamente.
O não estabelecimento de políticas
de segurança, a não construção coletiva de um conceito
democrático de segurança pública abrirá o País para a
segurança privada, o que significa a morte dos direitos civis
de cada um de nós. O descaso com a segurança pública tem
possibilitado o crescimento voraz de empresas privadas de
segurança, que desenvolvem práticas perigosas de repressão
e violência, além de serem altamente armadas e pouco
preparadas para essa missão, levando-a, muitas vezes, a se
confundir com grupos criminosos. Nessa onda perversa de
privatização, a manutenção da ordem e as ações de coibição
da criminalidade correm o risco de se transformarem em
atividades cada vez mais amplamente desenvolvidas por essas
empresas privadas, desvirtuando o caráter desse trabalho, que
é essencialmente público.
Esculpindo um sistema de
segurança democrático
Existem alguns caminhos para a
superação progressiva dos problemas acima apresentado que
podem merecer destaque, posto que é plenamente possível
combinar Democracia e Segurança.
O estabelecimento do objetivo
segundo o qual o cidadão é o destinatário dos serviços de
segurança pública. A construção de uma segurança pública
cidadã não pode ser tratada somente no campo dos princípios
e do desejável. É preciso desenvolver práticas sociais de
efetiva aproximação entre o órgãos de segurança e a
cidadania, além de submeter os atos da segurança pública ao
crivo e fiscalização da população. Existem práticas que já
foram desenvolvidas como os Conselhos Comunitários de Segurança
Pública e os Conselhos Civis nas Polícias Militares, ambos
no Distrito Federal, no governo Cristóvão Buarque. Também
merecem destaque as experiências de Polícias Comunitárias
em São Paulo e em outros estados.
A crítica e aperfeiçoamento
dessas experiências e sua disseminação em todo País, com
cobertura legislativa, criará novos canais de convivência,
fiscalização, controle, cooperação e interação entre a
segurança e a cidadania. A população deve participar de
campanhas junto com os órgãos de segurança e outros
componentes do Estado - por via de parcerias entre movimentos
sociais, entidades da sociedade e cidadãos - no sentido de
enfrentar temas e problemas urgentes para a sociedade.
Exemplificando essa tese, tivemos no Distrito Federal os
Programas Paz no Trânsito e Paz nas Escolas. Uma relação
democrática propicia um conhecimento maior da população
sobre os serviços da Segurança, ao mesmo tempo em que cria
novas relações entre os servidores desse setor e a sociedade
a que ele serve. É de se lembrar que tais tarefas são democráticas,
devendo ser evitadas quaisquer condutas de aparelhamento político-partidário,
ou a criação de trampolins para falsos líderes comunitários.
Há de se ter como objetivo a
unificação das corporações de segurança pública. Mas
isso é um processo e não algo que venha magicamente a partir
da edição de norma legal. O problema é complexo, seja em
termos legais e estruturais, seja em termos culturais, devendo
ser desenvolvido intenso trabalho educativo para a unificação
de conceitos teóricos e operacionais em todas as corporações.
É impossível o atendimento do público por entidades que
vivem voltadas para seu interior, sem articulação com as
outras do sistema e com a própria sociedade abrangente.
O destinatário da prestação
de serviços de segurança deve ser o cidadão a serviço da
cidadania. Para tanto, o treinamento e reciclagem de todos os
quadros da segurança pública é uma das medidas fundamentais
para direcionar os seus serviços para a proteção do cidadão,
desenvolvendo tarefas educativas, preventivas, de controle e
de serviços. Faz-se mister implementar a cidadania nas
corporações, a fim de que as injustiças não sejam
cometidas em seu interior a partir de um sistema militarizado
e verticalista.
Os problemas de violência, de
nova criminalidade, de delitos de exclusão social, de crimes
tecnológicos e transnacionais devem ser enfrentados por técnicas
novas, lastreadas na ciência. Nossa segurança pública
trabalha, em grande parte pela intuição, bom senso e experiência
de seus quadros. Por isso ela até pode ser eficaz para o
combate de pequenos crimes do quotidiano, mas, ratificamos, é
absolutamente despreparada para os delitos contemporâneos,
como os de colarinho branco, os cartéis de drogas, os crimes
eletrônicos e o desenvolvimento de grupos criminosos que se
confundem com governos e com empresas legais, para dar alguns
exemplos. Só com o desenvolvimento de qualificação de
quadros em atividades científicas haverá possibilidade de
deslinde desses crimes, já que os novos criminosos, das
grandes organizações internacionais do crime, estão sendo
formados, literalmente, em pós-graduações de universidades
de renome internacional. Isso exige o desenvolvimento de
programas de treinamento em novas técnicas de enfrentamento
da "profissionalização" e requinte da
criminalidade, para preencher uma lacuna entre a Primeira e a
Terceira Revolução Industrial no setor de Segurança Pública.
Voltamos a afirmar que o
isolamento da Segurança Pública só pode ser superado pela
parceria com a sociedade representada por seus movimentos
sociais, por suas entidades de classe e por suas
universidades. A cidadania é aprendida no seu exercício e
esse exercício só tem sentido se for constituído na relação
entre todos os protagonistas das atividades de segurança pública;
daí a impossibilidade de se desenvolver projetos e propostas
inovadores entre quatro paredes nas corporações. As
academias e escolas de formação dessas corporações
apresentam um ensino marcado pelo treinamento da força física
aliado a um dogmatismo positivista e fechado, que enclausura
as cabeças dos estudantes. Assim, a solução está na
parceria com as universidades qualificadas para diagnosticar
as corporações e proporcionar uma formação atualizada,
seja em termos de conteúdo, seja em termos das novas
metodologias emergentes.
A sociedade deve participar na
construção de uma política de segurança pública para o
Brasil e ser agente de priorização de investimentos e
fiscalizadora da aplicação das verbas. O que percebemos no
Brasil de hoje é que tanto as prioridades, quanto o controle
de aplicação das verbas são desenvolvidos de forma
abstrata. A cidadania só toma ciência dos escândalos e dos
absurdos, quando comissões parlamentares de inquérito, ou ações
do Ministério Público chegam aos meios de comunicação.
Chegou o momento da sociedade,
por suas entidades legítimas e respeitáveis, participar das
priorizações da área de Segurança Pública e ter papel de
fiscalização, principalmente quando o Estado, em todo o
mundo, está em crise estrutural, de finalidade e moral.
Problemas como o pagamento dos servidores da segurança pública;
o estabelecimento de um piso nacional para as categorias;
saneamento do desnível vencimental entre o topo e a base das
corporações dizem respeito à cidadania, que não pode ficar
à mercê de interesses corporativos ou de negociações menos
nobres que aparecem nas instituições formais do Estado.
As condutas dos servidores que
transgridem a legalidade, que expressam violências,
arbitrariedades ou práticas de peculato, concussão ou
prevaricação devem ser punidas por órgãos administrativos
das corporações e das secretarias de segurança pública,
sem prejuízo das medidas legais do Ministério Público e do
Judiciário. É inadmissível a possibilidade de leniência e
de corporativismo nessas punições, que são o remédio
amargo mais eficaz para a autopreservação das corporações
e do sistema de segurança como um todo. Mas não é somente a
possibilidade de punição que estimula a melhoria das corporações,
mas a premiação às atitudes heróicas, de generosidade e de
proteção à cidadania; instrumentos que significam muito
para os servidores da segurança pública, que são
incentivados até por um simples elogio formal. Assim, ao lado
das auditorias, corregedorias, comissões processantes e
disciplinares, devem existir comissões de premiação.
Essas são algumas sugestões
para o encaminhamento dos problemas da Segurança Pública. É
preciso lembrar de seus limites, uma vez que o problema da
violência está associado a fatores econômicos, culturais e
de impacto dos novos meios de comunicação, que não podem
ser resolvidos pelo sistema de segurança isoladamente. O
princípio que está no fundo de toda esta análise e das
propostas apresentadas é o de que a segurança tem como
finalidade garantir a paz na sociedade e não pode ter sua
estrutura, cultura e objetivos assentados nas atividades de
guerra.
5. À GUISA DE CONCLUSÃO
Perpectiva há muito levantada
por segmentos que vão da Academia aos Movimentos Sociais, a
relação CIDADANIA-SEGURANÇA se impõe como modelo de convivência
democrática no Estado de Direito.
Mas do que um lema, o binômio
CIDADANIA-SEGURANÇA vem colocando-se como um exigente patamar
político que necessita ser cuidado no cotidiano por todos os
segmentos que compõe a malha social.
É de se observar que a superação
da insegurança subjetiva se dá através de atitudes
afirmativas, fundadas nas trocas objetivas praticadas: a)
entre os segmentos de Segurança Pública e a população; b)
internamente aos órgãos de Segurança; c) entre as diversas
forças mobilizadora da sociedade.
Por último, é fundamental
abolir a mentalidade fracionadora que restringe as questões
de segurança ao nível da criminalidade. Somente a partir de
uma visão global das questões que dizem respeito à
qualidade de vida de uma sociedade é possível interpretar a
questão da segurança como multifacetária; posto que
interligada a outros fenômenos sociais.
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ANEXO
OBRAS
PUBLICADAS SOBRE
CIDADANIA E
SEGURANÇA
Autor
|
Título
|
Local/Editora
|
Adalberto
Lins Sales |
Reforma
das polícias: só em interação com a sociedade |
Recife:
GAJOP, 1998 |
Álvaro
Lazzarini |
Da
segurança pública na constituição de 1988 |
Brasília:In:
Revista de Informação Legislativa, a.26,n.104
dez/89 |
Ângela
Maria C. Araújo (org.) |
Trabalho,
cultura e cidadania: um balanço da história social
brasileira |
SP:
Scritta, 1997 |
Antônio
Carlos Amaral Leão Gérson Ferreira do Rego |
A
segurança pública e a responsabilidade civil do
Estado |
Revista
dos Tribunais - ano 76 - ago/87 - vo. |
Arion
S. Romita, Washington L. Trindade, Celso B. Leite |
Trabalho
e cidadania |
Salvador:
UFBA: EGBA, 1990 |
Armando
Camger Rodrigues |
Criminalidade
e violência – Relatório dos Grupos de Trabalho
de juristas e cientistas sociais |
Brasília:
Ministério da Justiça, 1980 |
Arthur
C. Millspaugh |
Local
democracy and crime control |
Washington-DC/EUA:
The Brookings Institution |
Benedito
Domingos Mariano, Pe. Francisco Readron, Carlos Weis |
Por
uma nova política de segurança e cidadania |
SP:
Nuestra America Editora e Video, 1994 |
Bernardo
Cabral |
O
município e a cidadania: seleção de textos |
Brasília:
Senado Federal, 1996 |
Bismael
B. Moraes (coordenador) |
A
polícia a luz do direito |
SP:
Revista dos Tribunais, c1991 |
Bolivar
Lamounier, Francisco Weffort, Maria V. Benevides (orgs.) |
Direito,
cidadania e participação |
SP:
Queiroz, 1981 |
Carlos
Alberto Kolecza |
Ordem
Pública x Segurança Pública |
Internet:
artigo de 04/08/97 |
Carlos
Magno Nazareh Cerqueira |
Questões
preliminares p/a discussão de uma proposta
constitucional s/segurança pública |
RJ:
Instituto Carioca de Criminologia - jun/97 |
Carlos
Magno Nazareh Cerqueira |
O
que é o sistema de justiça criminal |
RJ:
Instituto Carioca de Criminologia |
Carlos
Magno Nazareth Cerqueira |
A
polícia comunitária: uma nova visão de política
de segurança pública |
RJ:
Instituto Carioca de Criminologia |
Clarice
Nunes (org.) |
Escola
e cidadania: aprendizado e reflexão |
Salvador:
UFBA: EGBA, 1989 |
Cristina
Maria Zackseski |
Políticas
integradas de segurança urbana: modelos de
respostas alternativas à criminalidade de rua |
Florianópolis:
Univ. Federal de Santa Catarina, 1997 |
Diógenes
Gasparini |
Responsabilidade
do poder público municipal na seg. púb. Em face da
revisão da Constituição Federal |
Brasília:
Revista de Informação Legislativa, a.30,n.117
mar/93 |
Diogo
de Figueiredo Moreira Neto |
A
Segurança Pública na Constituição |
Revista
de Infomação Legislativa: Brasília, 1991 |
Eloisa
de Mattos Hofling |
A
concepção de cidadania veiculada em livros didáticos
de estudos sociais 1o grau |
Campinas
SP: 1981 |
Ester
Buffa |
Educação
e Cidadania: quem educa o cidadão? |
SP:
Cortez: Autores Associados, 1987 |
Francisco
Graziano Neto |
Qual
reforma agrária? Terra, pobreza e cidadania |
SP:
Geração Editorial, c1996 |
Gilberto
Dimenstein |
O
cidadão de papel: a infância, a adolescência e os
DH no Brasil
|
SP:
Ática, 1995 |
Gilberto
Dimenstein |
Democracia
em pedaços: DH no Brasil |
SP:
Cia. das Letras, c1996 |
Gilberto
Velho e Marcos Alvito (organizadores) |
Cidadania
e violência |
RJ:
Editora UFRJ: 1996 |
Glúcio
Ary Dillon Soares |
Percepção
da populaçào do Distrito Federal sobre a PM |
Brasília:
UnB, 1998 |
Herbert
José de Souza |
Revoluções
da minha geração |
SP:
Moderna, 1996 |
Herbert
José de Souza |
Ética
e cidadania |
SP:
Moderna, 1994 |
J.
M. Barbalet |
A
cidadania |
Lisboa:
Estampa, 1989 |
João
Gabriel Lima Cruz Teixeira (Coordenador) |
A
Construção da cidadania |
Brasília:
Ed. UnB, c1986 |
Jorge
da Silva |
Controle
da criminalidade e segurança |
RJ:
Forense, 1990 - 2ed. Ver. |
Jorge
da Silva |
Controle
da Criminalidade e segurança pública na nova ordem
constitucional |
RJ:
Revista Forense, 1990 |
José
Luiz de Amorim Ratton |
Violência
e crime no Brasil contemporâneo - luta p/vida
contra a violência |
Brasília:
MNDH, 1995 |
Júlio
Lerner (coord.) |
Cidadania,
verso e reverso |
SP:
Imesp, 1998 |
Luiz
gonzaga de Oliveira |
A
criação de polícias municipais reduziria o número
de crimes nas grandes cidades? |
SP,
29/06/96 (Folha de SP) |
Maria
Eugênia Raposo da Silva Telles |
Proposta
para uma nova política de segurança pública |
SP:
Iglu Editora Ltda, ano 16, n.20, 1995 |
Maria
Lúcia Karam |
As
sociedades contempor.e a ampliação do poder do
Estado de punir: o apelo à interv.do sist. Penal |
Brasília:
OAB/CF, 1997 |
Mary
Jane Paris Spink (org.) |
A
cidadania em construção: uma reflexão
transdisciplinar |
SP:
Cortez, 1994 |
Michel
Weiviorka |
O
novo paradigma da violência |
SP:
USP, 1997 |
Nancy
Cardia |
Direitos
Humanos: ausência de cidadania e exclusão moral |
SP:
Comissão Justiça e Paz, 1995 |
Paulo
Sérgio Pinheiro |
Violência,
crimes e sistemas policiais em países de novas
democracias |
SP:
USP, 1997 |
Ricardo
Toledo Neder |
Os
28 bilhões da violência e a cidadania |
SP,
02/06/95 - Cad. Opinião (Folha SP) |
Salvatore
Veca |
Cittadinanza:
riflessioni filosofiche sullídea di
emancipazione |
Milano:
Feltrinelli, c1990 |
Thomas
Bridges |
The
culture of citizenship: inventing postmodern civic
culture |
Albany:
SUNY, c1994 |
Virgílio
Luis Donnici |
Polícia,
guardiã da sociedade ou parceira do crime? |
Rio
Janeiro: Forense. 1990 |
Wagner
Rocha D'Angelis |
Organização
popular e prática da justiça |
Curitiba:
Centro Heleno Fragoso p/DH, c1992 |
Wanderley
Guilherme dos Santos |
Cidadania
e justiça: a política social na ordem brasileira |
RJ:
Campus, 1994 |
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