Coordenadoria de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de Belo
Horizonte
Helena Grecco
A criação da
Coordenadoria de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de
Belo Horizonte é produto do acúmulo histórico de décadas de
luta em defesa dos direitos humanos e da confirmação dos
compromissos da administração da frente BH Popular com a construção
da plena cidadania.
A CDHC/PBH foi
institucionalizada em julho de 1993, passando a ter dotação orçamentária
em dezembro de 1993.
Seu objetivo e a
implementação de políticas específicas na área de Direitos
Humanos. Trata-se de um organismo pioneiro a nível nacional. Belo
Horizonte foi a primeira capital brasileira a constituir sua
Coordenadoria que agora existe também em Maceió.
A Coordenadoria
de Direitos Humanos e Cidadania oferece a população de Belo
Horizonte atendimento diário, de orientação e encaminhamento de
denuncias de violações às normas fundamentais de defesa da
pessoa humana, contando com um corpo interdisciplinar de
profissionais de Direito, Psicologia, Sociologia e Jornalismo. Além
disto, a CDHC/PBH vem atuando em permanente parceria com entidades
da sociedade civil na elaboração de políticas públicas de
educação e disseminação da cultura de cidadania e direitos
humanos.
1.
Direitos Achados na Rua
A Coordenadoria
de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de Belo Horizonte
considera que grande parte das violações se repetem em razão do
desconhecimento da população em relação à existência de seus
Direitos Fundamentais e Coletivos.
Os excluídos não
conseguem encontrar a justiça e a garantia na defesa de seus
direitos.
O Projeto Direito
Achado na Rua propõe mostrar aos indivíduos que todos têm
direito de Ter direitos. Procuramos formar os “juristas orgânicos”,
que são aquelas pessoas que, através de suas entidades,
participam do projeto e são capazes de discutir com a comunidade
seus direitos e defendê-los, garantindo o exercício pleno da
comunidade.
Este Projeto tem
3 fases que se mesclam às atividades de “pesquisa-ação” em
conjunto com a faculdade de Direito da UFMG.
1ª Fase –
Reunião com todas as entidades do movimento social, apresentando
as idéias do Projeto “Direito Achado na Rua”.
2ª Fase – Análise
dos estatutos constituídos das sociedades civis para viabilizar a
representatividade jurídica de seus membros.
3ª Fase –
Elaboração do convênio entre a Prefeitura Municipal de Belo
Horizonte/Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas
Gerais e as associações comunitárias e entidades afins.
O Projeto
encontra-se implementado na Regional Nordeste da cidade, com
população de cerca de 250.000 habitantes, distribuídos em 78
bairros e 10 vilas e favelas.
2.
Oficinas de Cidadania
O Projeto
Oficinas de Cidadania tem como propósito maior reforçar as
possibilidades de acesso da população à cidadania militante. O
primeiro passo é feito a partir do incentivo às formas
organizativas de participação popular já observadas em cada
comunidade (seja através de associação comunitária,
profissionais, religiosas ou de ensino educacionais). A partir da
integração e da identificação de indivíduos a um grupo
associativo, que compartilhe as mesmas crenças e idéias, mas
também as mesmas dificuldades, frustrações e sonhos, é possível
ampliar a esfera de participação popular através do
reconhecimento das formas e espaços de prestação de serviços públicos
e da reivindicação de seus direitos individuais, coletivos e
difusos.
O Projeto
desenvolve-se através de reuniões periódicas com a comunidade,
onde os temas de maior interesse, elencados pelos próprios
participantes, passam a ser coletivamente discutidos, através de
informações sobre os recursos legais de garantia e as formas de
combate às violações dos respectivos direitos fundamentais.
Neste instante, utilizam-se dinâmicas de grupo, exibições de vídeos
informativos, discussão de textos, palestras e debates, no
sentido de melhor orientar sobre as formas de exercibilidade dos
direitos evocados.
Pretende-se, ao
encerramento das discussões de todos os temas elencados,
estimular a formação de núcleos comunitários informativos e
independentes, capacitados para reivindicar a promoção e o
cumprimento dos direitos de cidadania e autodefesa em caso de suas
violações, bem como de promover a extensão das informações
acumuladas à outras pessoas menos esclarecidas.
Além disso, o
Projeto das Oficinas de Cidadania promove a aproximação das várias
entidades e comunidades onde o trabalho tenha sido desenvolvido,
com o propósito de ampliar a articulação destes grupos numa
perspectiva consistente de participação popular.
3. Banco de Dados
O objetivo deste
projeto é a organização e a catalogação do acervo de informações
existentes relativos à defesa dos Direitos Humanos e a história
da luta pela cidadania em Belo Horizonte. Ele visa revelar o real
grau de violação dos Direitos Humanos na cidade,
instrumentalizando a luta pela construção da cidadania e a
socialização das informações.
No ano de 1995, a
Coordenadoria de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de
Belo Horizonte (CDHC/PBH), em parceria com a Promotoria de Defesa
dos Direitos do Cidadão (PDDC) começou a desenvolver um trabalho
de organização de um banco de dados sobre os crimes cometidos
por policiais civis e militares.
Tivemos acesso às
denúncias oferecidas pelo Ministério Público, especialmente
aquelas oferecidas pela PDDC, totalizando 67 ao longo do ano até
a data de 14/11/95. Destas 67 denúncias oferecidas, 169 policiais
foram denunciados por crimes cometidos contra 110 vítimas. Vale
lembrar que o número de denúncias é inferior ao número de
representações recebidas das vítimas pela PDDC.
Os dados obtidos
neste trabalho nos permitem inferir acerca do alto grau de
ilicitude contida na ação policial em Belo Horizonte,
decorrente, sobretudo, do abuso de autoridade em conflito com a
recípua função de defesa da cidadania.
A CDHC e a PDDC
realizaram, no ano de 1995, um importante trabalho, denunciando e
divulgando as arbitrariedades das polícias civis e militares com
o objetivo de erradicar a impunidade e a prática abusiva da
atitude policial.
4. Grupo de
Trabalho Mineiro Contra o Trabalho Infantil
A Coordenadoria
de Direitos Humanos e Cidadania/PBH integra, desde 1995 o Grupo
Mineiro de Trabalho contra o Trabalho Infantil. Esse grupo filiado
ao Grupo Nacional de Trabalho Contra o Trabalho Infantil, com sede
em São Paulo, surgiu a partir do Tribunal Nacional Independente
Contra o Trabalho Infantil realizado em outubro de 1995. O GT/Mineiro
tem como objetivos fundamentais a ratificação da convenção 138
da OIT, que proíbe o trabalho para menores de 15 anos, a revogação
do art. 60 do Estatuto da Criança e Adolescente que prevê o
trabalho de adolescente entre 12 e 14 anos como aprendizes, a
erradicação do trabalho infantil e a proteção do trabalho dos
adolescentes.
Integram o Grupo
Mineiro de Trabalho Contra o Trabalho Infantil representantes da
ANDES, do SINTECT, do SINDSEP, do Sindicato dos Metroviários, do
Instituto Marista de Solidariedade, da Executiva Estadual do PT,
do Movimento Tortura Nunca Mais, da FAE-UFMG, parlamentares e
representantes da sociedade civil. Atualmente, esse Grupo, em fase
de ampliação, conta com a participação de representantes dos
Conselhos estadual e municipal da Criança e Adolescente,
Movimento Estudantil-UEE, e da coordenação da Câmara
Interinstitucional de Proteção ao Trabalho do Adolescente
vinculada à DRT. O GT/Mineiro tem o caráter de reunir não
somente organizações institucionais que lutam contra o trabalho
infantil e a exploração do trabalho de adolescentes, mas também
organizações civis e os jovens trabalhadores, ampliando assim o
debate a todos aqueles que direta ou indiretamente sentem-se
indignados e lesados com toda forma de degradação e alienação
nos processos de trabalho.
5. Fórum
Permanente de Cidadania no Trânsito
A Coordenadoria
de Direitos Humanos e Cidadania é também integrante fundadora do
Fórum Permanente de Cidadania no Trânsito, entidade pública não
governamental, criada em Belo Horizonte, com o propósito de
sensibilizar a sociedade civil para os altos índices de acidentes
com vítimas em ruas e estradas, contribuindo, deste modo, para a
conscientização de uma cultura de cidadania e respeito à vida
presente também nas relações de trânsito, incluindo assim,
mais este ponto na agenda prioritária dos direitos humanos.
Além da CDHC/PBH,
compõem o Fórum Permanente de Cidadania no Trânsito, o
movimento de familiares e vítimas do trânsito, a Câmara
Municipal, a OAB, o DER, o BHTrans, o movimento SOS Cristiano
Machado, a casa Dandara e o Batalhão de Trânsito.
Criado em 1995, o
Fórum Permanente de Cidadania no Trânsito, vem promovendo em
Belo Horizonte várias atividades como o “Seminário Cidadania
no Trânsito”, onde se denunciou a impunidade nos crimes de trânsito
a partir da condizente postura do poder judiciário na não aplicação
de normas punitivas a delitos desta natureza, em maio de 95; a
campanha pela aprovação do novo código nacional de trânsito e
a celebração de culto ecumênico em intenção das vítimas de
trânsito, em maio de 96, e a denúncia pública e permanente de
casos de violência no trânsito da cidade.
6. Conselho
Municipal da Mulher
No dia 10 de
dezembro de 1993, dia Internacional dos Direitos Humanos, tomou
posse na Prefeitura de Belo Horizonte a Comissão Paritária de
Mulheres, composta por seis representantes da Administração
Municipal (CDHC/PBH, secretarias de Educação, Cultura, Saúde,
Governo e Desenvolvimento Social) e seis representantes do
movimento de mulheres (MUSA, Coletivo de Mulheres Negras, NEPEM,
GRAAL, Movimento Popular da Mulher e Pastoral da Mulher
Marginalizada).
Seu objetivo era
a discussão de políticas públicas para a mulher priorizando a
construção de uma Casa Abrigo para mulheres em situação de
violência, por se tratar de reivindicação histórica dos
movimentos de femininos e feministas a partir da assustadora
escalada da violência de gênero na cidade.
Em 1996, a Comissão
Paritária de Mulheres evoluiu para o Conselho Municipal da
Mulher, regulamentado em decreto pelo Executivo Municipal em
Janeiro e instalado em Março.
As várias linhas
de atuação da CDHC confirmam o compromisso de uma administração
democrática e popular com a evolução da consciência crítica
da população, na exigência do cumprimento de seus direitos e
sua consequente garantia pelos poderes públicos responsáveis por
sua proteção.
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