O
caso Elián
Frei Betto
O caso Elián Gonzalez ocupou mais
espaço na mídia dos EUA que a morte da princesa Diana. Como um
novo Moisés, Elián fez a travessia do mar, "fugiu da opressão
rumo à liberdade", sobrevivendo milagrosamente ao naufrágio
que tragou a vida de sua mãe. Moisés foi recolhido num cesto,
Elián num pneu que lhe servia de bóia.
O tio-avô, Lázaro González,
acolheu o menino em sua casa e transformou-o na galinha dos ovos
de ouro. Só a Coca-Cola pagou-lhe US$ 35 mil para obter a foto do
garoto segurando o refrigerante. Reter o pequeno refugiado nos EUA
tornou-se uma questão de honra para os anticastristas, humilhados
por sucessivas derrotas na tentativa de derrubar Fidel Castro.
O serviço de imigração dos EUA
reconheceu o direito de pátrio poder do pai de Elián. Bill
Clinton referendou, apoiado pela maioria da população. Resgatado
o menino, seu retorno a Cuba agora depende de decisão do Judiciário.
O Judiciário americano está num
beco sem saída. Por isso, a questão é tratada em banho-maria.
Se os juízes permitem que Miguel González retorne agora com o
filho, correm o risco de serem derrotados nas urnas. Se não
acatam a decisão do Executivo, criam um precedente com graves
repercussões na opinião pública norte-americana, pois há 10
mil "eliáns", crianças nascidas nos EUA, fora do país,
levadas pelo pai ou pela mãe, sem o consentimento do outro cônjuge.
Nesta última hipótese, a decisão do Judiciário passa a servir
de argumento para que essas crianças não retornem à terra em
que nasceram.
Frei Betto é escritor e teólogo
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