O tema que me   
  foi proposto é muito amplo, pois da consideração mais abrangente e mais   
  geral do papel do idoso decorre praticamente tudo o mais. Para análise do   
  tema é preciso uma tomada de posição básica, para que depois então se   
  discutam aspectos de pormenor. E há uma série de circunstâncias e características   
  da sociedade brasileira que encaminham, de certo modo, essas tomadas de posição.
  
  Se perguntarmos   
  quem é o idoso no Brasil, hoje, a resposta é obviamente difícil, pois essa   
  noção encontra-se profundamente alteradaniza. Há um componente subjetivo dentro   
  dessa avaliação. Há quem se sinta idoso com 40 anos de idade e outros não   
  se sentem idosos aos 80 anos. É o tipo de sociedade em que vivemos que faz   
  com que as pessoas com mais idade se sintam jovens, mais capazes e com toda a   
  possibilidade de continuar lutando. Isso cria uma realidade nova e, inclusive,   
  provoca problemas novos, porque a pessoa permanece por mais tempo em plena   
  atividade e isto coloca inevitavelmente alguns conflitos de gerações. Vejo   
  isto na própria Universidade de São Paulo, onde os professores que se   
  aposentam não querem deixar a Universidade, querem continuar trabalhando.   
  Mas, ao mesmo tempo, os que vêm chegando, estão na expectativa de ocupar o   
  lugar e, então, empurram aqueles mais antigos, para que não ocupem mais espaço.   
  Acham injusto isso, porque estão lá há muito tempo, esperando sua vez, já   
  amadureceram, já se acham plenamente aptos para assumir os principais   
  encargos e acham que é até necessária essa mudança, para que introduzam um   
  pensamento novo, uma atitude nova.
  
  E, por outro   
  lado. não se pode deixar de reconhecer que, com muita freqüência, o   
  professor chega a momento de sua aposentadoria em plena capacidade   
  intelectual, plena capacidade física, tendo inclusive acumulado uma série de   
  conhecimentos importantes. E isto é um fator de conflito. Aqui já vemos a   
  necessidade de repensar uma situação que sempre foi pensada de maneira   
  diferente: é a situação do aposentado. O aposentado sempre foi imaginado   
  como aquele que está se despedindo da vida: aposentou-se do seu trabalho, de   
  sua função aposentou-se da vida. Isso foi o que sempre se colocou e hoje,   
  dadas as circunstancias, não é mais aceitável.
  
  Aposentar-se é   
  uma circunstancia, uma formalidade que tem asnizapectos práticos e pode   
  significar simplesmente mudança de atividade. De maneira alguma deve ser   
  considerada uma despedida da vida. Não me aposento da vida, estou mudando de   
  atitude, é o que deve pensar e sentir o aposentado. E nisso há certas   
  peculiaridades curiosas até. Ainda há pouco conversava com um amigo que   
  dizia: quando menino, mais jovem, pensava que em chegando a ser um dia avô,   
  deixaria crescer a barba e ficaria contando estórias para meus netinhos. Tudo   
  dentro daquela visão antiga do avô. Mas qual o neto que tem hoje paciência   
  para ficar ouvindo um avô maduro, contando estórias
  
  De fato, é   
  outra a realidade e a disposição dele também é outra, não aquela de ficar   
  contando estorinhas para os netos.
  
  As avós hoje são   
  extremamente jovens, elegantes e querem participar da vida, querem ter o   
  direito de participar da vida. Aquela avozinha de xale, encolhidinha e fazendo   
  bolinhos para os netos representou uma época. Teve seu significado e talvez   
  correspondesse a uma realidade forçada, mas não se verifica mais.
  
  O que notamos   
  hoje é que é preciso repensar as categorias em função da idade. Essa   
  categoria de idoso, de pessoa da terceira idade, se concebe de maneira nova. E   
  isso me coloca, desde logo, perante uma das questões básicas que é a grande   
  opção que em princípio se oferece e até hoje tem sido pouco discutida: o   
  que deve fazer a pessoa em relação à sua velhice. Qual deve ser sua atitude   
  frente à velhice, que pode estar mais distante ou mais próxima?   
  Naturalmente, aqui aparece a questão do que é a velhice, do quê é ser   
  idoso.
  
  Mas a colocação   
  que ainda na maioria danizas vezes se faz é se a pessoa deve optar por se   
  preparar para a velhice. Só que isso tem sido muitas vezes concebido como   
  preparar-se para um suicídio gradativo, pelo qual a pessoa vai se sentindo   
  morrer aos poucos, devendo aceitar que vai morrer mesmo - preparar-se, então,   
  para ir sendo posta de lado, não ter mais participação. Neste   
  "preparar-se para a velhice" há injustiças tremendas, há agressões   
  extraordinárias, porque o que está se propondo é que a pessoa tente ser o   
  menos visível possível, incomodar o menos possível e, quem sabe até, falar   
  o menos possível.
  
  Preparar-se   
  para a velhice, nessa concepção, é convencer-se de que "já deu tudo o   
  que tinha que dar", agora "você é só um consumidor, converse o   
  menos possível e atrapalhe menos". Esta é colocação da não participação,   
  do desligamento. Pode parecer generosa essa idéia da preparação psicológica   
  para o desligamento: alguém se imbuindo da idéia de ser um mero espectador   
  discreto.
  
  Para muitos   
  essa colocação é a que deve prevalecer e alguns até invocam, para   
  justificar isso, certa intenção de generosidade: "Não vamos submeter a   
  pessoa à situação de vexame, a situações de conflito, empurrar o idoso   
  para ter participação, se ele não tem capacidade de participação. Ele   
  pensa que é capaz, mas vai sofrer humilhações, porque às vezes nem   
  fisicamente pode competir". De fato, não se pode colocar a questão   
  dessa maneira. Como ponto de partida, rejeito essa proposta de preparação   
  para a velhice como idéia de desligamento, isto é, o preparar-se para não   
  ser participante, para ser passivo em relação à vida e em relação à   
  sociedade.
  
  No extremo   
  oposto temnizaos outra idéia, que é a proposta da participação, da atividade.   
  O fato de ter mais idade, de ter-se aposentado não deve implicar a demissão   
  da vida e o começo da morte. Bem longe disso, deve significar a mudança de   
  atividades, a preparação no sentido de aceitar que as atividades serão   
  diferentes e, de maneira alguma, aceitar a idéia de não ter atividade.
  
  E o que   
  significa isto de se ter atividades diferentes? Será que não significa   
  recair na proposta de demissão, de afastamento? Na realidade, não. Acho que   
  é preciso encarar com muita objetividade a questão, com bastante serenidade   
  e analisar as coisas como elas se põem na prática. Pensemos em alguém que   
  trabalha em uma empresa: algum escriturário que cresceu na empresa, chegou à   
  posição de chefia e se aproxima o tempo de sua aposentadoria. É comum que   
  este empregado relute em se aposentar; ele quer ficar o maior tempo possível   
  e começa a arranjar desculpas para evitar a aposentadoria. Fica aguardando   
  algum reajuste de vencimentos, mais uma promoção, o que funciona como   
  pretexto, porque a idéia de aposentar-se significa desistir de lutar,   
  desistir da vida e começar a morrer.
  
  De fato, há   
  situações que devem ser encaradas com objetividade: uma delas, é a questão   
  do método de trabalho das empresas. Alguém começa a fazer fichas à mão,   
  passado algum tempo começa a fazer tudo à máquina. Com a chegada da   
  modernização da empresa, do computador, coloca-se um tipo de conflito que é   
  real: a desadaptação do funcionário ante às novas tecnologias. De qualquer   
  maneira, o aposentado ou o idoso deve, em princípio, acatar a idéia de que   
  deve participar, de que tem não só a possibilidade, mas principalmente o   
  direito de participar, de continuar a ter participação ativa. E aqui se abre   
  unizam campo para indagações: como participar e em que medida pode ser essa   
  participação?
  
  É possível   
  estabelecermos algumas pistas de caráter geral, mas isso se deve completar   
  com as condições pessoais de cada um. Em verdade, não existem parâmetros   
  absolutos, não há esquemas em que todos se devam enquadrar, mas levem-se em   
  conta as próprias características, tendências e interesses de cada um. Um   
  exemplo é a participação da mulher no mundo do trabalho. A sociedade hoje   
  quase que exige a participação da mulher no trabalho fora do lar, por questões   
  sociais e econômicas, quando grande parte delas gosta de permanecer no lar,   
  cuidando da família. É preciso dar a elas a opção. Isso vale para a dimensão   
  da participação do aposentado ou do ido: a intenção deve ser a de   
  participar. É preciso, contudo, reconhecer a existência de limitações,   
  diferenças individuais, preferências e peculiaridades. Há muitos que   
  poderiam se engajar em movimentos voluntários, inclusive naqueles que advogam   
  melhores condições de vida para o próprio idoso, utilizando habilidades   
  adquiridas durante permanência em atividade profissional.
  
  No Brasil, nos   
  viciamos através do tempo - e deve ter tido origem nos tempos de colônia - a   
  esperar que o governo apresente soluções para todos os problemas, mormente   
  no aspecto parlar do idoso e do aposentado. É preciso que isso se modifique e   
  que todas as pessoas procurem papel ativo na sociedade, que as pessoas se   
  organizem e participem das soluções. Evidentemente, isso deve começar com a   
  educação para mudança de consciência, desde as primeiras idades.
  
  Descobrimos   
  recentemente que se pode abrir um campo considerável para as associações e   
  organizaçõesniza civis. Na nova Constituição, na parte inicial que trata dos   
  direitos do cidadão, está garantido o direito das associações de agirem no   
  judiciário ou fora dele em favor de seus membros. Esta é uma inovação   
  extremamente importante. Até hoje, o cidadão não toma atitudes quando vê   
  seus direitos serem violados, com medo de represálias ou por desconhecimento   
  dos caminhos a seguir, ou ainda por falta de meios. A partir de agora, as   
  associações poderão defender seus membros e, portanto, passa a ser   
  importante a criação dessas associações, mormente de voluntários, com   
  tempo disponível. Outro ponto que a Constituição inova é a previsão de âmbito   
  dos municípios, em que o planejamento municipal deverá ser feito a partir da   
  consulta às associações de moradores, para determinação de suas   
  necessidades e prioridades.
  
  A possibilidade   
  de participar não significa repetir a mesma atividade profissional anterior,   
  mas uma nova atividade, se possível, e uma atividade na qual a pessoa possa   
  se abrir mais para a comunidade, através de atividades solidárias, tentando   
  vencer a tendência natural ao individualismo e ao isolacionismo. Isso tudo   
  abre perspectivas novas para as pessoas mais idosas. E significa também uma   
  cobrança, na medida em que essas pessoas não podem mais ser omissas. Se   
  acumularam experiências, se têm uma visão da sociedade que não tinham no   
  passado e se têm mais tempo para se dedicar ao trabalho de interesse social,   
  não têm o direito de se omitirem e devem assumir responsabilidades que antes   
  não puderam assumir.
  
  Abre-se também   
  uma nova possibilidade de participação na atividade pública, o que antes não   
  era possível. Considero que esta posição é a mais adequada e mais   
  condizente com a manutenção da dignidade humana: o uso connizatinuado do seu   
  potencial, a atitude positiva de integração e reintegração à sociedade   
  através da participação política. É preciso que esta participação   
  mantenha a conotação de atividade voluntária, complementar ao lazer. E   
  voltamos a lembrar que deve sempre respeitar as limitações físicas e   
  diferenças individuais. Fazendo um paralelo com isso, lembramos de como hoje   
  se enfatiza a necessidade da participação e da mobilidade por parte dos   
  deficientes físicos e dos deficientes mentais. É considerado anti-humano o   
  isolamento de qualquer pessoa. Com mais razão isso se coloca em relação   
  à terceira idade. Desta forma, toda a sociedade se beneficiará dessa atitude   
  positiva, dessa atitude de auto-doação das pessoas da terceira idade.
  
  Lembremos aqui   
  o que disse o escritor Osman Lins: ''nenhuma mudança profunda pode ser   
  conseguida, se não começar pela consciência das pessoas". Podemos   
  mudar a Constituição, a organização social, mas não haverá mudança   
  profunda se esta não se operar no íntimo das pessoas. Contudo, mesmo em   
  termos formais, notamos sinais de alguma mudança. No novo texto   
  constitucional, quando se refere ao idoso, o artigo 230 dispõe: "a família,   
  a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando   
  sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e   
  garantindo-lhes o direito à vida". Nos parágrafos 1° e 2° se   
  estabelece que "os programas de amparo aos idosos serão executados   
  preferencialmente em seus lares e garantindo o transporte gratuito aos maiores   
  de 65 anos de idade''. Aqui notamos uma transição entre a idéia   
  assistencialista "é preciso amparar o idoso" e "os programas   
  preferencialmente executados nos lares" (é como se devesse guardar o   
  idoso em casa para que não atrapalhe), e a idéia de partinizacipação, de   
  integração social através de atividades de convivência. Não podemos negar   
  certo avanço, mas é necessário e possível exigir mais direitos, pois o que   
  está na Constituição não foi dado de presente. E preciso saber que grupos   
  e associações de idosos estiveram em Brasília fazendo "lobby" e o   
  fizeram com muita competência. Essa abertura na Constituição é uma   
  conquista que prova a capacidade de inovar desta faixa etária, o que vem   
  desmentir a série de preconceitos que taxam o idoso como incapaz de novas   
  conquistas e iniciativas. É importante frisar que esses preconceitos se   
  originam da ideologia do capitalismo, que considera o idoso como não apto a   
  aumentar a produtividade e o lucro do capital. Desta forma, trata-se mal o   
  aposentado que, às vezes, chega a ser agredido verbal e até fisicamente pelo   
  sistema, quando, por exemplo, não se oferecem a ele condições de   
  atendimento e de moradia condignas. O aposentado, para o capitalista, é uma   
  ferramenta velha, imprestável e substituível. Tal situação deve ser   
  modificada através de exigências, de luta, de participação. Não se   
  consegue implantar a democracia e a justiça social sem a participação das   
  pessoas e essa passou a ser um direito e um deve de todas as pessoas e de   
  todas as idades
  
  Do ponto de   
  vista pessoal, a participação significa a possibilidade de continuar   
  realizando se enquanto ser humano, com a consciência de que o passar do tempo   
  não elimina a pessoa e não a deixa menos humana. Podemos, portanto,   
  concluir, em primeiro lugar, que se deve rejeitar idéia a antiga e   
  tradicional de que o preparar-se para a velhice significa demitir-se da vida,   
  preparar-se para o suicídio gradativo. Preparar-se para velhice significa   
  pensar em novas atividades que poderão ser exercidas, pensar em uma nova vida   
  integrada na vida socialniza.
  
  Podemos   
  ressaltar algumas conseqüências positivas dessa participação: o   
  aposentado, o idoso ou não, não é mais um competidor, ele tem mais   
  capacidade de doação e também contribui efetivamente para a sociedade,   
  enquanto não ocupa o lugar de ninguém e está mais apto a autodoar-se. O   
  viver significa acumular experiências que podem ser em muitas circunstancias   
  um fator de moderação, um fator de prudência, sem a pretensão de impor aos   
  mais jovens suas idéias. Essa é uma vantagem do idoso.
  
  Acho oportuno   
  lembrar, neste momento, história escrita por Thomas Mann; "Carlota em   
  Weimar", uma obra inspirada em Goethe, na qual o escritor consagrado e   
  quase uma lenda viva na Alemanha, o monstro sagrado da poesia, da cultura alemã,   
  se encontra com Carlota. Seria como Gabriela, já em idade avançada,   
  encontrando-se com Jorge Amado. Um grupo de jovens literatos de Weimar procura   
  Carlota para pedir-lhe que, encontrando-se com Goethe, transmita a ele a   
  admiração do grupo, mas ao mesmo tempo desculpe os jovens por estarem   
  ligados literalmente a Hoffmann, agora ídolo da cultura germânica. E pedem   
  que ela diga a Goethe que cada geração quer ter os seus ídolos, sem que   
  isso signifique desrespeito pelas boas coisas produzidas no passado.
  
  Quero dizer com   
  este exemplo que, embora tenha escrito meus livros, propagado minhas idéias,   
  não posso exigir que a cultura se estanque em mim. Ao contrário, minha   
  participação com tudo o que é minha experiência pessoal não significa que   
  vou me impor aos demais. Antes, é uma contribuição no sentido de indicar   
  caminhos. Não se trata, portanto, de ver as coisas na base do tudo ou nada -   
  ou me aceitam integralmente ou me rejeitamniza- pois a vida não caminha dessa   
  forma.
  
  Ultimamente,   
  estou sentindo que no Brasil passamos por um momento em que a participação   
  através da experiência e muito importante, pois tenho notado, em minha   
  convivência com os jovens na Universidade e em outros núcleos onde compareço   
  para palestras, que a juventude vive uma fase de grande impaciência. Freqüentemente,   
  perguntam se existem soluções para os problemas que enfrentamos, como a   
  corrupção, a situação econômica instável. E querem saber quando haverá   
  condições de se criar um país novo. Noto nessa juventude uma atitude de   
  radicalismo, atitudes de desesperança sobre o futuro do país, porque ninguém   
  aponta os meios para uma mudança total e imediata. O que tenho dito a esses   
  jovens, é que criar um país novo significa, no Brasil, mudar quase 500 anos   
  de história e que de uma hora para outra isso não se consegue.
  
  Essas situações   
  de conflito, em minha opinião, são provocadas em grande parte pela imprensa,   
  rádio, jornais e TV que veiculam, com insistência, aspectos apenas negativos   
  do processo que vivemos, generalizando a corrupção dos políticos,   
  desacreditando as instituições e ridicularizando a atividade política.   
  Parcela de culpa por esta situação de desesperança e de descrédito cabe   
  aos governos militares que nos antecederam. Para eles, sempre era o governo   
  que decidia tudo, pois o povo não era capaz de pensar e de decidir. Insistiam   
  em que cabia a eles disciplinar, ditar normas, enquanto o povo deveria cumprir   
  seu papel com cega obediência, seguir a "ordem unida". Essa   
  ideologia gerou as atitudes negativas de não participação, por submissão.   
  Por sua vez, os pais não assumiam seu papel político e não permitiam que os   
  filhos o fizessem, porque estavam convencidos dnizae que a política é   
  necessariamente corrupta. Neste sentido, cabe também à população mais   
  idosa e mais experimentada a responsabilidade de reverter essa situação   
  através de ações positivas de participação. Considero necessário,   
  principalmente, que se ressuscite a vida familiar, as reuniões de família,   
  pois embora haja diferença de gerações, de problemas e pontos de vista, é   
  possível e necessário manter o sentido da família, que é processo   
  participativo fundamental. E é importante, através desse espírito de família,   
  difundir os valores da esperança, com estímulo à participação, à ação   
  solidária, à ação positiva.
  
  Consideremos,   
  por hipótese, que isso é fantasia. Eu gostaria de proclamar, então, que os   
  mais idosos têm, em primeiro lugar, o direito de participar da vida   
  social com suas capacidades, sua afetividade, com suas aspirações. Em   
  segundo lugar, essa participação é um dever que precisa ser cumprido,   
  apesar das resistências. Desta forma é que começaremos a eliminar a   
  discriminação da qual falávamos no início, contribuindo para transformar   
  em realidade aquilo que para os pessimistas é fantasia ou sonho irrealizável.
  
  Para encerrar,   
  lembro as palavras do grande papa João XXIII: "Só onde houver justiça   
  é que pode haver paz". Temos, portanto, que trabalhar para que exista   
  uma sociedade justa, sem discriminação por motivo de raça, cor, sexo e de   
  idade. As gerações mais idosas e mais experimentadas podem dar uma relevante   
  contribuição no sentido de criar, no Brasil, uma sociedade justa e solidária,   
  na qual todas as pessoas serão igualmente respeitadas e poderão viver em   
  paz. 
  
  
  
  (1) Professor   
  da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Texto publicado   
  originalmente na revista Terceira Idade, Publicação Técnica editada pelo   
  Serviço Social do Comércio (SESC), Administração Regional   
  do Estado de São Paulo, ano IV, nº 4, jul/91.