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 EM DEFESA DOS
              DIREITOS HUMANOS Quanto à visão da História que
              os homens têm hoje. o que ela deve ser mais curta hoje em dia?Acho que há duas concepções humanas. Uma é a de eu lhe dizer:
              Você passa, mas Você fica na memória de seu filho, se seus
              amigos. Depois passou tudo.
 Assim não vale a pena passar pela vida, porque o que eIa oferece
              de gozo é tão pouco, em comparação com o que ela oferece em
              tarefas, em dificuldades, em lutas, etc... Mas é uma maneira
              siderar.
 Outra é de considerar ser Você
              responsável por todo o Você ser responsável por tudo o que
              acontece. Esta é a nossa maneira. Quer dizer, a eternidade
              começa hoje. Você é responsável por tudo o que acontece para o
              futuro. E assim eu acredito numa eternidade que vai chegando. A
              justiça se faz, no transcurso da História. Um dia vem alguém
              que faz justiça e isto vai pegar você no caminho, se você errou
              essencialmente. Não essas coisinhas da vida que acontecem, mas se
              errou numa atitude. Não no ato. Numa quer dizer, se você é fera
              para o outro, um dia Você será tratado como fera, não tenha
              dúvida. Ou na História, ou na memória sei. Mas, não há
              dúvida, um dia será tratado como fera. A maioria dos homens se
              contenta com essa memória curta: cuidar bem dos netinhos, dos
              filhos, para depois Ter uma velhice mais ou menos e desaparecer.
              Isto é viver de sobremesa. Mas quem quer mesmo viver da
              História, deve acreditar na justiça da História. Quer dizer, a
              questão não acaba assim, em quinze anos. Isto para nós vai até
              a eternidade. Dura sempre. Não acaba. A justiça não acaba. Ela
              começa e tem a sua tensão. Não sei se vocês leram algo daquela
              judia formidável, que nunca mudou de religião, porque o povo
              dela era perseguido, Simone Weil, francesa. Viveu no meu tempo de
              lá, o final da vida. Ela dizia assim:"A gente tem que viver numa tensão." Alguns sentem uma
              tensão cutânea, sentem as beliscadas; o almoço foi bom... A
              conta foi cara... Outros vivem de tensões mais profundas. Só uns
              poucos são dignos de uma tensão ideal. Acreditam no valor
              absoluto de uma existência.
 A tensão cutânea é o comum.
 Uma tensão que ela chama de
              diuturna, que dura, já é mais rara.E a terceira, a de viver porque é preciso assumir o risco da
              justiça e da verdade, esta é de uns poucos. Mas estes poucos é
              que modificam o mundo. Modificam conforme a resistência que
              encontram, a capacidade que têm de comunicar-se, ou quando chega
              uma hora certa da História... É muito difícil imaginar como
              estes homens poderão justificar-se.
 Esse, para mim, é o drama.
 Como o senhor encara o papel da
              imprensa em situações diversas de violação de direitos
              humanos?A Igreja tem que colaborar para que se esclareçam as coisas. Não
              pode, por isso, ser considerada subversiva. Isso a Igreja tem
              mesmo que fazer. Para que se esclareçam as coisas. E eu acho que
              isto o jornalista também tem que fazer. Que se esclareçam as
              coisas. E também me parece que se houvesse mais jornalistas em
              campo para descobrir os fatos, se tivesse mais gente para
              descobrir eles não aconteceriam como vêm acontecendo em nossos
              dias. O jornalista deixou de ser um detetive profissional como era
              muitas vezes. Perdeu talvez o elan para correr atrás dos fatos.
              Um ou outro ainda o faz. Mas deveria, por exemplo, pelo menos ir
              atrás dos desaparecidos. Recebi, certa vez, na Cúria, um homem,
              que vinha atrás de 159 jovens desaparecidos no Chile, no espaço
              de menos de um ano. Ninguém mais sabia onde estavam. Um jornal no
              Brasil publicou que eles teriam sido mortos numa luta ao norte da
              Argentina. A Comissão "Justiça e Paz" foi lá e
              verificou que isto não tinha acontecido na Argentina. Veio então
              alguém para cá verificar por que o jornal daqui publicara esta
              versão. Veio se informar honestamente. Foi a Curitiba para
              esclarecer, porque a noticia saiu de lá. O governo chileno queria
              dar um álibe. Eles foram mortos lá, segundo o jornal tal e tal.
              O chileno que me procurou achava até que o jornal nem existia,
              porque havia a informação de que o jornal não existia. Mas a
              notícia foi reproduzida. Um copiando do outro. E ele veio para
              cá esclarecer.
 Assim, fatos como este deveriam sempre ter jornalistas atrás.
              Onde é que ficaram os 159 jovens do Chile? Onde ficaram? No Chile
              mesmo?
 Desde quando a Igreja tem entre
              suas preocupações fundamentais os direitos humanos? Quais as
              bases evangélicas dessa preocupação?Em continuação ao Antigo Testamento, pode-se dizer que Cristo
              deixou à sua Igreja o exemplo e a palavra. Ensinou mesmo que tudo
              o que se fizesse em favor do ser humano, por mais humilde que
              fosse, seria feito diretamente a Ele. Estava selada para sempre a
              dignidade inalienável do homem todo e de todos os homens.
 O senhor continua recebendo queixas
              de violações dos direitos humanos? Qual o procedimento que
              adota, ao recebê-las? Qual a veracidade que lhes dá? Nos
              últimos tempos, o número de queixas tem diminuído?Recebemos - embora, felizmente, não mais com tanta frequência
              como outrora - queixa de familiares de presos e dos próprios
              torturados, depois de recuperarem a liberdade. Não podemos deixar
              de acreditar em vários depoimentos, não só por causa da
              honestidade das pessoas que nos procuram, mas também porque
              nossos olhos viram as marcas das atrocidades. Depois, muitos dos
              famosos "desaparecidos", mortos em prisão, não estavam
              sozinhos quando passaram deste mundo para o outro.
 Contudo, temos certeza que os
              sequestros, as prisões arbitrárias e o cerceamento das
              liberdades fundamentais significam desrespeito às ordens das
              autoridades constituídas, configuram atos de indisciplina, além
              de ferirem profundamente as tradições humanitárias do povo
              brasileiro. É certo que a autoridade suprema não os aprova, como
              o povo, que é cristão, não os aprova. Continuaremos reforçando
              estas vozes e cumprindo nossa missão de falar às consciências. Que atividades o senhor tem
              desenvolvido em defesa dos direitos humanos dos presos políticos?Não me especializo em defesa de presos políticos. O que importa
              é a dignidade humana, como igualmente a defesa dos direitos e dos
              deveres de todos os brasileiros. Penso que meus livros, em número
              de nove, publicados de 1970 para cá, poderia fornecer a prova
              disso. Preocupa-me sobretudo a sorte de nossa gente das periferias
              da cidade e do mundo do trabalho.
 Além do pedido que o Sr. dirigiu
              tempos atrás ao senador Franco Montoro, o Sr. pediu a outras
              autoridades que intercedam a favor dos presos políticos?Costumo dirigir-me às autoridades, quando solicitado pelas
              famílias. Quase sempre existe um motivo particular para tais
              recursos, principalmente quando se trata de pessoas doentes ou
              idosas. Mas também quando os familiares não recebem noticias a
              que têm direito pela Constituição e leis brasileiras.
 Qual o caso mais flagrante de
              desrespeito dos direitos humanos que acha ter ocorrido
              recentemente em São Paulo?O que mais chocou a opinião pública foi, sem dúvida, a invasão
              da PUC, com desrespeito total a alunos, professores, direção e,
              diria, até à Igreja.
 O caso que a mim pessoalmente mais doeu foi o do jovem Flávio,
              assistido durante dois anos pela O. A. F. (Organização do
              Auxilio Fraterno). Desejoso de começar um trabalho, para socorrer
              a própria mãe, novamente grávida, foi baleado e morto pelo PM
              Francisco de Oliveira, em fins de 1977, depois de limpar um carro,
              enquanto aguardava a pequena gratificação. Isso traumatizou não
              só a seus colegas, que vinham sendo preparados para o trabalho
              honesto, mas a tanta gente boa, que precisa de incentivo nesta
              hora e não suporta impactos tão negativos.
 O documento da Comissão
              Representativa da CNBB "Em favor da família" deixa
              claro, no ponto 4, que a Igreja não pretende permitir "em
              especial, que a meta prioritária da Pastoral da Família venha
              desviar-nos da permanente preocupação quanto ao respeito devido
              aos direitos humanos". Como a Igreja trabalha para responder
              a essa preocupação permanente?A dignidade do ser humano é a raiz de seus direitos. "A
              mensagem da dignidade do homem e dos seus direitos fundamentais é
              acessível a todos, mas é no Evangelho que encontramos a sua
              expressão mais plena e os mais poderosos motivos para
              comprometer-nos na sua preservação e promoção" (') Em
              poucas palavras, anunciar o Evangelho, missão fundamental da
              Igreja, é levar o ser humano a tomar consciência da sua
              dignidade inalienável.
 Na defesa da "escola livre, do
              sindicato autônomo, da auto-organização das formas
              profissionais rurais, dos direitos da inteligência ao exercício
              da crítica social ou da expressão de minorias validamente
              configuradas no contexto da vida social", a Igreja pretende
              contar com a colaboração de todos os cristãos? Quais as formas
              disponíveis para que essa colaboração se efetive? E a CNBB
              admite a possibilidade de repartir as preocupações com outras
              entidades ou personalidades não diretamente vinculadas a ela?A Igreja está a serviço de todas as pessoas e de todas as
              entidades que se empenham na promoção do ser humano e do bem
              comum. Principalmente depois de João XXIII, a Igreja conclama
              todas as pessoas de boa vontade, sem distinção de credo
              religioso político, a um esforço conjunto, para a libertação
              total da pessoa humana. No momento atual brasileiro, nós estamos
              desejando promovendo uma sempre maior e crescente participação
              do povo na vida nacional.
 A Comissão Justiça e Paz parece
              ser um dos instrumentos para essa tarefa? O Cardeal acredita que
              ela tem funcionado a contento? própria ('omissão não poderia
              ser ampliada, permitindo que leigos personalidades do mundo civil
              se somassem num esforço conjuntoA Comissão Justiça e Paz, em São Paulo, vem desenvolvendo um
              trabalho sério em beneficio de presos, de refugiados políticos
              de suas famílias. Incumbiu-se ainda, com assessoria de peritos,
              levantamento das principais situações injustas desta
              Arquidiocese a fim de planejar as suas atividades de modo mais
              adequado. O resultado foi o já famoso livro "São Paulo 1975
              - Crescimento Pobreza". A Comissão Justiça e Paz é
              constituída de leigos que representam os diversos agrupamentos
              sociais, por exemplo, estudantes, operários, juristas e outros.
              Desejamos, com nossos planos trabalho, que a Comissão Justiça e
              Paz se amplie, para atender melhor os seus diversos setores de
              atividades.
 Quais as medidas que deveriam ser
              adotadas para assegurar de modo mais completo os direitos humanos?A primeira, sem dúvida, é a volta ao Estado de Direito. Creio
              que neste ponto a nação inteira, desde o Presidente da
              República até o homem mais simples, está de acordo.
 Outras medidas urgentes?Levar o povo a conhecer os direitos fundamentais, tanto os
              Constituição quanto os da legislação trabalhista.
 Em segundo lugar, parece-me urgente que o povo saiba a que
              recorrer. Tivemos disso prova, quando os estudantes de Direito
              acompanhados por alguns professores, começaram a passar os
              sábados em diversas zonas da periferia. Lá recorriam a eles os
              homens simples, pedindo os esclarecimentos mais rudimentares,
              exatamente sobre sua situação quanto aos terreninhos, quanto ao
              trabalho e até quanto à vida familiar.
 Em outras partes do Brasil já foram elaborados folhetos muito
              simples, na linguagem do povo, esclarecendo não só a
              legislação mas indicando concretamente lugares e pessoas
              encarregadas nas diversas áreas
 No início do atual governo, a
              direção da CNBB estabeleceu um contato com o Presidente da
              República e alguns chegaram a anunciar uma era de maior
              tranquilidade no relacionamento Estado-Igreja. Mas, logo depois,
              ela começou a ser atingida pelos sequestros, prisões
              arbitrárias e cerceamento das liberdades fundamentais. Isso mudou
              o relacionamento?Houve entendimentos - e não estão ainda encerrados - entre o
              Presidente da República e alguns de seus Ministros, com os
              responsáveis pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
              Estamos inclinados a pensar que os sequestros, prisões
              arbitrárias e o cerceamento das liberdades fundamentais"
              significam desrespeito às ordens das autoridades constituídas,
              configuram atos de indisciplina, enquadram-se na ilegalidade,
              traduzem desprezo pela dignidade do ser humano e ferem
              profundamente as tradições humanitárias do povo brasileiro.
              Como afirmamos há pouco, é certo que a autoridade suprema não
              os aprova, como o povo, que é cristão, não os aprova.
 Quais os maiores entraves para a
              reconciliação nacional que a Igreja defende, em sua opinião? A
              té onde podem ir seus esforços nessa trilha e na superação
              desses entraves?As conturbações sociais geralmente deixam, após si, resíduos
              de vingança e de medo. Entre os que sofreram injustiças, muitos
              aguardam a hora de acertar as contas. Os que se excederam na
              aplicação e no desrespeito às leis e à pessoa humana temem o
              julgamento da História. São esses os entraves principais. A
              vingança e o medo desencadeiam brutalidades imprevisíveis. O
              cristianismo ensina, com experiência secular, que a História
              progride, quando a humanidade descobre a estrada do perdão
              mútuo, ponto de partida para o encontro com a justiça e a paz.
 Quais os grupos de nossa
              população que, na opinião do senhor, mais riscos sofrem de ver
              seus direitos desrespeitados?Enquanto perdurarem as leis de exceção, como declararam os
              Bispos no Documento Exigências Cristãs de uma Ordem
              Política", toda a população pode sentir-se insegura. Todos
              corremos o risco de vermos desrespeitados os nossos direitos.
 Mas é bom que olhemos para as pessoas que têm menos defesa.
              Creio que sejam sobretudo aquelas que chegam do interior, à busca
              de alguma esperança na cidade, e não conhecem seus direitos, nem
              podem lançar mão dos recursos à disposição. Imagino nesta
              situação os que compram terreninhos nos loteamentos
              clandestinos, os que são empregados sem as garantias necessárias
              e tantos outros.
 O Sr. acredita que a cruzada do
              Presidente Carter alterou a situação dos Direitos Humanos em
              nosso país?Influências tais não se medem em curto espaço de tempo. Carter
              apenas exprimiu o que a Nação americana quase em peso já vinha
              reclamando. Através do documento enviado pela Anistia
              Internacional á ONU e pelo consenso também manifestado em nosso
              País, tenho a impressão de que Carter não disse grande
              novidade. Trata-se, agora, de passar das idéias para a ação.
              Sabermos nós próprios os caminhos que a justiça e a
              solidariedade nos indicam.
 O Santo Padre se pronunciou, no Ano
              Santo de 1975, em favor de uma anistia ampla e geral, que
              permitisse a reconciliação dos que se opõem, por problemas
              políticos e sociais. Como está sendo encaminhada essa proposta,
              no Brasil?A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, seguindo os passos
              de Paulo VI, encaminhou um pedido de anistia, plena e ampla, para
              presos, perseguidos, banidos e exilados, por motivos políticos.
              Estamos aguardando os resultados desta iniciativa feliz e
              oportuna.
 Quais as características
              principais da anistia preconizada pelaCNBB?
 Anistia ampla e generosa para os presos, perseguidos, exilados e
              banidos por motivos políticos ou ideológicos. Julgamento
              público de todos os acusados de terem praticado crimes, por
              exemplo, contra a vida ou a propriedade, garantindo-lhes a
              proteção legal de defesa.
 A Igreja Católica celebrou missa
              com a judaica e a protestante na ocasião da morte do jornalista
              Vladimir Herzog. Qual é a sua posição perante a tortura?Não foi missa, mas celebração de oração, na qual
              representantes dessas religiões manifestaram a sua solidariedade
              humana num apelo de justiça que não conhece fronteiras á
              manifestação do Deus de Jesus Cristo.
 Minha posição quanto a tortura é a da Igreja e que foi
              relembrada por dois documentos dos Bispos de São Paulo: o
              "Documento de Brodosqui", de 1972, e o documento de
              Itaici: "Não oprimas teu irmão", de 1975: A tortura é
              um atentado contra a vida humana e há necessidade de se
              restabelecer o habeas-corpus.
 A injustiça, seja de que tipo for,
              chega a revoltá-lo? Qual o seu sentimento em face das
              injustiças?Toda injustiça chega a tocar-me como pessoa. Antes me aflige do
              que revolta. A primeira reação é a de procurar uma solução
              mesmo que isso custe à minha pessoa, e assim, direta ou
              indiretamente à Igreja. Desde que o Cristo morreu injustiçado,
              toda a injustiça toca o coração do cristão.
 Como o Sr. encarou o atrito entre a
              diplomacia brasileira e a norte-americana que resultou na recusa
              de ajuda militar por parte do Brasil? Foi um fato isolado no tempo
              ou um episódio de História?Os Bispos do Brasil se recusaram a manifestar-se sobre o atrito,
              porque não lhes compete julgar a História e sim fornecer a seus
              fiéis diretrizes para a vida particular e pública. Não vai pois
              também aqui nenhum julgamento do fato.
 Logo de início, gostaria de lembrar o princípio exposto por
              Paulo VI na "Populorum Progressio", quando se refere
              exatamente a este tema, ou seja, à assistência internacional:
              "Os beneficiados podem exigir (dos países que os beneficiam)
              que não se intrometam na sua própria política nem perturbem a
              sua estrutura social. Como Estados soberanos, compete-lhes
              conduzir seus próprios negócios, determinar a sua política e
              orientar-se livremente para a sociedade que preferirem" (').
 A reação praticamente unânime do Brasil se justificou não só
              pelo principio universalmente aceito e exposto pelo Papa, mas
              também por uma sensibilidade nacional que é igualmente direito
              humano a ser respeitado.
 Não nos cabe analisar os méritos diplomáticos de lado a lado,
              no momento em que estavam em jogo o acordo nuclear, os preços do
              café, e quem sabe, tantos outros fatores que poderiam agravar as
              repercussões de um fato deste porte.
 No entanto, não poderíamos navegar cegamente por entre as
              alterações profundas do fluxo das idéias. Muita coisa mudou nos
              últimos anos, e muito mais está para mudar.
 Até há pouco, o relacionamento entre as nações era ditado
              pelos que podem mais e pelos que possuem mais. E todos acabaram
              por reconhecer que esse sistema é injusto, prejudicando até aos
              que impunham suas leis aos mais fracos.
 Episódios importantes no final da década de 60 e no início
              desta resultaram na quebra de muitos estatutos internacionais.
              Para nos movermos apenas no campo econômico agora focalizado,
              bastaria lembrar a relação dólar-padrão-ouro, o sistema
              monetário internacional, o sistema de trocas, GATT, etc... Além
              das mudanças na área econômica internacional, ampliam-se os
              conceitos de nação e formam-se redes de intensa solidariedade
              para além de todas as fronteiras nacionais e ideológicas.
              Enquanto os organismos internacionais titubeiam e até fracassam,
              substituem-se a eles movimentos espontâneos e, não raro,
              consistentes.
 É hora de revisão e até de revisões surpreendentes em áreas
              que, ainda há pouco, eram consideradas impermeáveis.
 Na hora desta revisão, surgem grandes esperanças, também para
              nós, que como muitos outros países nesta faixa, nos sentíamos
              lesados. É mesmo hora de nos organizarmos, para entrar com maior
              força na mesa da revisão. A Nação precisa ter força e a
              força da Nação é expressa pela capacidade do Estado. A força
              do Estado, no entanto, decorre da representatividade e da
              criatividade no campo do direito e da política.
 Não creio pois que o atrito entre a diplomacia brasileira e
              norte-americana seja fato isolado. Mas também não acredito que
              seja episódio histórico de consequências unicamente funestas. O
              mundo está para reconstruir-se como um todo, e o Brasil tem
              direi. to e capacidade de fazer valer sua voz neste todo.
 Há pouco, perguntamos se a cruzada
              do Presidente Carter alterou a situação dos Direitos Humanos no
              Brasil. Como o Sr. a encara de maneira mais geral e
              particularmente nos Estados Unidos?Não só o Governo, mas sobretudo o Povo dos Estados Unidos está
              assumindo nova atitude. A Nação volta-se para a defesa dos
              Direitos Humanos. Durante a comemoração do II Centenário, nós
              o verificamos em todas as regiões da grande Nação. O Senado
              americano acabou sendo, como é normal, o eco deste anseio
              popular. O Presidente Carter, por sua vez, com o messianismo que
              ainda deve redefinir-se melhor, empunhou esta bandeira. Pelo que
              tudo indica, é para valer. Sinal dos tempos? Acredito que o
              movimento não pare mais, pois atingiu a parte melhor da Nação e
              encontra correspondência em todas as demais Nações livres. A
              pedra rolou d~ montanha. Tanto nesta Nação como em tantas outras
              de influência marcante, acertar o passo com a História significa
              assumir os Direi. tos Humanos para valer.
 Passou o tempo em que a massa indiferente ainda aceitava t
              acusação de comunista a quem defendia tais posições. Hoje, é
              comunista ou fascista quem não as observa, O povo americano não
              quer mais primavera de Praga, nem guerra do Vietnã, e certamente
              também não quer mais novo Watergate, discriminação racial, nem
              derrubadas de governos pela CIA.
 Que desdobramentos poderá ter a
              nova colocação dos Direitos Humanos no mundo atual?Em primeiro lugar, a atitude americana se obriga a desdobramentos
              internos. O próprio País terá que rever inteiramente o conceito
              de violação de Direitos Humanos, que não se concentra apenas na
              prática da tortura, por mais incompreensível e injustificada que
              esta seja. A ação predatória a povos que lutam contra a pobreza
              e suas consequências deverá fazer parte essencial desta nova
              sensibilidade. Talvez cheguem também a Ter respeito pelo preço
              do nosso café, principal produto do trabalho de um povo. Mas é
              igualmente certo que o mundo inteiro começará a discutir em
              reuniões de alta cúpula, como ainda em ocasiões de
              contratação de serviços internacionais e de auxílios, as
              implicações dos Direitos Humanos em seu sentido mais universal.
 Retomamos aqui a palavra de Paulo VI, quando lembra que a
              sensibilidade pelos Direitos Humanos é hoje tão universal, que
              ninguém mais pode ignorá-la.
 Como vê a atitude brasileira, no
              episódio do atrito diplomático de 1977?Numa primeira hora, reforçou sem dúvida nossa unidade nacional.
              O próprio Presidente Geisel deve ter sentido essa disposição
              claramente positiva, sentindo-se com muito mais força para
              participar do jogo entre as Nações. Se aproveitarmos bem a
              lição, pode ter chegado a grande hora nacional, hora de
              repensarmos o episódio, e, fechadas as portas, partirmos para o
              aprimoramento da sociedade civil organizada, tarefa essa que
              compete a toda a Nação.
 Hoje, Carter empunha uma bandeira e acorda energias que Nixon
              jamais teria podido acordar. Apesar de todos os seus possíveis
              erros diplomáticos, o povo americano provavelmente continuará ao
              lado dele.
 Mas, a História americana não é a nossa. Lembra-nos porém que
              também temos valores fundamentais e grandes reservas históricas
              capazes de nos tornarem felizes como Nação e até poderosos como
              Estado. O reexame que se impõe a todos não há de ser pois
              precipitado, mas deverá levar-nos ao aprimoramento de nossas
              instituições e á imagem verdadeira do que é o povo brasileiro.
 O Sr. já disse mais de uma vez que
              a Igreja não tem uma ação política no sentido partidário, na
              atualidade. No entanto parece claro que a Igreja no Brasil exerce
              uma ação política. O Sr. poderia nos apresentar, de seu ponto
              de vista, os limites e os objetivos dessa ação política da
              Igreja?Exercer ação política é influir e participar do processo de
              desenvolvimento e integração de um pais. Cada grupo dará a sua
              contribuição; dentro da visão cristã da vida, a Igreja fornece
              critérios. Inspirado neste principio é que o episcopado
              respondeu à questão no documento "Exigências Cristãs de
              uma Ordem Política".
 Afirma-se que o Sr. dedica especial
              atenção aos movimentos operários, procurando aproximar a Igreja
              dos trabalhadores, também com a intenção de ocupar um espaço
              que interessa especialmente aos comunistas. Naturalmente, na
              pergunta não se tem a intenção de ocupar um espaço que
              interesse especialmente aos comunistas. Naturalmente, na pergunta
              não se tem a intenção de deixar implícito que a Igreja atua de
              modo oportunístico, porque ela tem uma missão pastoral mais
              ampla. Mas é correto que a Igreja nesse setor procura
              antecipar-se ou disputa com os comunistas?Se a Igreja se interessasse pelos trabalhadores somente porque os
              comunistas também o fazem, estaria tomando uma atitude
              oportunista e pouco autêntica. Ela se preocupa com a sorte de
              todos principalmente dos menos afortunados, pregando uma maior
              justiça na distribuição da renda. As encíclicas sociais nada
              mais são que aquela preocupação transformada em doutrina que,
              por sua vez evolui na medida em que crescem os desafios e se torna
              mais complexa a realidade.
 O Sr. é acusado, algumas vezes,
              até mesmo por autoridades governamentais. de fazer
              "reivindicações irrealistas", como um nível digno de
              bem-estar para os trabalhadores. No entanto, em entrevista um
              jornalista estrangeiro, o Sr. disse certa vez que admite um
              período de sacrifício para a classe trabalhadora, durante o
              processo de desenvolvimento do Brasil. O Sr. pode explicar mais
              detalhadamente sua idéias sobre esse assunto?Defender o embasamento teórico não é fazer
              "reivindicações irrealistas", O homem, por ser
              racional e livre, deve encontrar na visão teórica dos problemas
              a luz para a sua ação. Todo o ser racional deve agir definindo
              os objetivos. Você não começa a construção de um edifício
              sem planta, cálculos, orçamentos, etc.. Ora, tudo isso é
              teórico, porque o edifício ainda não se fez. Na ordem do
              "fazer se" logicamente há etapas a serem superadas, mas
              a doutrina que ilumina a ação deve ficar clara e definida.
 Durante a homenagem que lhe foi
              prestada em São Paulo, por ocasião de sua volta dos Estados
              Unidos, onde foi condecorado a< lado do Presidente Carter, o
              Sr. afirmou que as manifestações ordeiras dos estudantes nas
              ruas do país são uma prova de que está na hora das liberdades
              democráticas, da ampla e irrestrita anistia e do fim da, torturas
              acontecerem no Brasil. Como apenas essa prova não foi considerada
              suficiente pelos sustentáculos do regime, o Sr. identifica outros
              indícios que reforcem a prova?Realmente, as manifestações ordeiras dos estudantes mostraram
              que está na hora de acontecer no Brasil a liberdade democrática
              e a plenitude do estado de direito. A exigência mais forte,
              porém para a consecução daqueles objetivos, parte da própria
              consciência de todos.
 O Sr. considera o regime de
              exceção eficiente contra os dois males que o justificaram em
              1964, a subversão e a corrupção?Um regime de exceção não é o melhor meio de combate à
              corrupção e à subversão. Acredito que a normalidade da vida
              política oferece melhores condições de combate a estes males.
 Realmente existe, na sua opinião, um horror dos militares
              brasileiros à mobilização, não só da classe trabalhadora, mas
              de qualquer parcela organizada da sociedade civil? Em caso
              positivo, que motivos o .Sr. entende que provocariam esse horror e
              como poderiam ser eliminados?
 Não sei se existe horror de alguns brasileiros à mobilização,
              não só da classe operária, mas de qualquer parcela organizada
              da sociedade civil.
 O Sr. tem motivos para acreditar
              que os militares brasileiros sejam fundamentalmente democráticos?Acredito que as Forças Armadas procuram seguir a tradição da
              democracia. Na conjuntura atual, reconheço a complexidade dos
              problemas.
 Como o Sr. descreveria as
              relações entre a Igreja e o Estado (e especialmente entre a
              Igreja e o aparelho de Estado que detém o monopólio da coerção
              organizada) ao longo do regime de 1964?A partir do Concilio Vaticano II, a Igreja passou por uma
              renovação muito grande, principalmente em sua ação pastoral.
              Isto tem gerado desconfianças e dado ocasião a muitos equívocos
              entre a Igreja e o Estado. Acho que ninguém desejaria perpetuar
              este estado de coisas.
 Comentou-se que o Sr. teria enviado
              um relatório ao Papa Paulo VI sobre os direitos humanos no
              Brasil. É verdade? O Sr. poderia divulga-lo, ou, pelo menos,
              resumir seu conteúdo?Não enviei relatório nenhum sobre esse assunto à Santa Sé.
              Aliás, assuntos nacionais devem ser tratados por nosso órgão
              oficial junto à Santa Sé, isto é, pela CNBB.
 Que impressão o Sr. teve do
              Presidente dos Estados Unidos, com quem foi homenageado na
              Universidade de Notre Dame? Acredita o Sr. que Jimmy Carter
              pretende aplicar ao pé da letra os princípios da Constituição
              norte-americana, inclusive o preâmbulo, onde está a declaração
              de que todo povo tem o direito de derrubar o seu tirano?Minha impressão foi a melhor possível. Pareceu-me um homem
              decidido a levar avante a bandeira dos Direitos Humanos. Creio que
              não poderá voltar atrás da doutrina que assumiu, mesmo porque
              já está produzindo efeitos em todo o mundo. Para governar os
              Estados Unidos ele certamente cumprirá a Constituição de seu
              pais.
 Com as manifestações políticas
              de empresários, passeatas estudantis, o manifesto dos
              jornalistas, o manifesto dos físicos, ainda a dos médicos, e
              tudo mais que houve, recentemente, a impressão que se difunde é
              a de que dois sustentáculos civis do movimento de 1964 - parte da
              classe média e o empresariado - desejam a normalização
              democrática do Brasil. É essa também a impressão do Sr.?
              Existem outros indícios que o Sr. possa acrescentar aos
              mencionados, e que reforçam essa impressão?Acho que todos desejam a normalização democrática do Brasil.
              Pelo contato direto com o povo, sinto bem viva esta aspiração.
 O Sr. declarou, em cerimônia
              pública, que uma anistia geral ampla deve incluir também as
              pessoas que, dentro do regime, fizeram mal aos adversários. Como
              o temor do revanchismo é aparentemente um dos maiores obstáculos
              à restauração democrática, o Sr. pode fundamentar mais sua
              posição?Gostaríamos de ver vencida esta etapa de nossa história
              política com grandeza, porque, afinal de contas, o que queremos
              é a plenitude de um regime democrático e do estado de direito, O
              revanchismo iria supor o exercício de um poder arbitrário. O que
              se pretende é o gozo em plenitude dos direitos e deveres
              definidos em nossa Carta Magna. Ora, devemos ser levados por
              aquilo que defendemos, do contrário, não haveria autenticidade.
 Vem-se falando muito da família. O
              Sr. mesmo escreveu um li sobre o assunto. O Sr. não acha que um
              dos mais fortes fatores da instabilidade da família e do próprio
              indivíduo, hoje, é o medo? Não somos uma geração de
              amedrontados? Medo de fome, de desemprego, medo de que Deus não
              exista, medo de gerar filhos, medo de que a educação que se dá
              hoje não serve para o dia de amanhã, medo de terrorismo
              verdadeiro e forjado, medo de prisão arbitrária, medo de perder
              posições, medo diante da discussão de verdades sempre tidas por
              indiscutíveis, etc. Se isso for um fato, que poderíamos ou
              deveriam fazer para amainar o medo? Não haveria aqui um imenso
              campo ecumênico e político?De fato, os inquéritos têm provado que mais da metade da
              população nas grandes cidades vive em constantes sobressaltos,
              ou seja, num clima de medo. Algumas providências me parecem
              indispensáveis, a curto prazo: Seleção, treinamento e
              acompanhamento de policiais encarregados de proteger a população
              contra o medo; dar condições às profissões e ministérios
              intermediários, como o assistentes sociais, religiosos,
              sacerdotes, juizes, advogados, que não pertencem nem ao mundo da
              produção, nem ao do consumo para que estejam bem próximos ao
              Povo e possuam os recursos necessários nas horas de emergência;
              proporcionar à imensa multidão dos homens que se locomovem e
              cruzam o espaço e os meios de locomoverem ou encontrarem em
              segurança.
 No entanto, o essencial seria nova confiança do homem e uma
              solidariedade educativa. Em última análise, voltamos ao
              postulado fundamental do Evangelho: fé na Providência, e no
              homem a quem Deus ama.
 A igreja participou de alguma
              programação em favor da Criança, em um nível mais amplo, por
              exemplo, em colaboração com a ONU?Na Igreja há várias organizações que se ocupam da infância.
              Cada instituição, a seu modo, segundo suas possibilidades,
              participa das iniciativas da ONU. Mas é sobretudo o empenho pela
              e pela vida digna, que nos leva ao coração do problema.
 Como a igreja encara o problema dos
              400 mil menores abandonados da Grande São Paulo?O encaminhamento e a solução dos problemas sociais estão a
              cargo dos poderes públicos. Por isso, quando se trata de assisti
              ao menor, as autoridades eclesiásticas oferecem sugestões ao
              governo e se apresentam também para a devida colaboração. Além
              da Igreja, através de suas organizações, procura amparar o
              menor abandonado. Em São Paulo, destaca-se entre outras, o
              "Educandário Dom Duarte". Indiretamente, a Igreja
              participa do problema procurando fortalecer a família, lugar
              natural de proteção à criança. Aproveito a oportunidade para
              falar sobre a adoção. Se lar, entre nós, recebesse e amparasse
              um menor, não se resolve pelo menos alguns casos? A campanha da
              "adoção" merecer apoio.
 São Paulo conta com uma população de aproximadamente 20
              milhões de habitantes. De 0 a 18 anos somos cerca de 10 milhões.
              Para os menores carentes e abandonados há uma rede de recursos
              situados em todo o Estado. São as obras sociais particulares,
              próprias da FEBEM, internando 6 mil menores e 504 obras populares
              que mantêm convênio com a FEBEM-SP, acolhendo 33 mil menores, em
              270 municípios paulistas.
 Situação daqueles que foram
              internados:a) 22% são abandonados
 h) 13% têm a família desorganizada
 e) 11% têm a família incapaz economicamente
 d) 6% têm os pais doentes
 e) 16% têm comportamento anti-social.
 É quase consenso que a saída para
              resolver o problema do menor abandonado é a profissionalização.
              Como o Sr. encara o problema?Fala-se em "problema do menor" e às vezes o adulto fica
              esquecido. Acho que a preparação dos adultos, nas áreas de
              pedagogia e sobretudo na profissão e participação social seria
              o passo mais importante. A profissionalização do menor não deve
              impedi-lo de ser também criança, atendendo-se a todas as
              exigências decorrentes dessa idade, como lazer, estudo e
              educação.
 O que o Sr. nos diria do seu
              contato com os jovens?Já trabalhei, e sempre com muita alegria, entre os jovens. O
              futuro está com eles. Dediquei-me à pedagogia justamente para
              ajudar a juventude. Mantenho contatos quase semanais com jovens e
              faço-o com esperanças renovadas. Nem os jovens do passado, me
              amigos, me decepcionaram, nem os de hoje vão me decepcionar.
 Segundo o Presidente da FUNABEM,
              Fawler de Meio, em depoimento na CPI do Menor em Brasília,
              existem na região metropolitana de São Paulo, 3,5 milhões de
              homens, mulheres e crianças marginalizadas ou em processo de
              marginalização; que causas a Igreja aponta como responsáveis
              por esse desajuste social?Há muitas causas influenciando o problema. E uma delas certamente
              são os desníveis econômicos nas diversas regiões de nos terra.
              A população pobre de uma região emigra, em busca de trabalho e
              sustento. E nas grandes concentrações urbanas faltam às vezes
              as condições de uma vida digna. Outra causa, concomitante, é a
              distribuição desproporcional de renda, mantida principalmente
              através de salários baixos.
 Existe no Brasil, e especialmente,
              em São Paulo, o problema prostituição de menores, como nos
              Estados Unidos?Existe e tem aumentado muito, não só na Capital, mas e todo o
              Estado de São Paulo. É comum a prostituição de meninas 12
              anos. Sendo comércio altamente lucrativo, é muito difícil sair
              prostituição sem o apoio da comunidade ou do Estado. O
              zoneamento é condenado, contrário à orientação da Igreja. É
              degradante para a mulher, que se torna objeto estigmatizado. O
              problema prostituição será tanto maior quanto maior é a
              cidade.
 Se existe esse problema em São
              Paulo, como localizar suas causas?A prostituição tem várias causas sociais: miséria,
              analfabetismo, falta de qualificação profissional, família mal
              constituída e m amparada.
 Quais os reflexos desse problema na
              ordem social e cultural cidade?A degradação dos costumes e dos valores morais; as injustiças;
              os crimes contra a pessoa humana?
 Como o Sr. vê o problema de
              prostituição de menores, do ponto de vista da Igreja?Poucas instituições se ocupam com menores de 12 a 14 anos
              sobretudo meninas. Elas se tornam empregadas domésticas: os meio
              e hábitos muito acima dos do seu meio original, advêm as
              especulações de conforto e luxo, incapacidade de trabalho
              melhor, falta de instrução, solidão, prostituição e dinheiro
              fácil.
 Qual a solução que a Igreja
              propõe para se resolver o problema?Despertar das comunidades para o problema do menor. Este problema
              é muitas vezes mal interpretado. As pessoas tratam mal os menores
              na rua, considerando-os como vadios, preguiçosos que não querem
              trabalhar, ladrões. Muitas vezes, eles não encontram trabalho,
              não sabem como fazê-lo, têm que levar dinheiro para casa de
              qualquer jeito, para o sustento da família. É preciso que a
              sociedade compreenda que. antes de mais nada, os menores
              infratores são vitimas da má organização da sociedade.
              Precisamos ir às casas, prevenir o problema, com melhor
              educação, amparo às mães gestantes, à família pobre, etc.
 Há grande preocupação com o menor infrator, porque ele
              incomoda, rouba, agride e até pode matar. Há um pânico então,
              generalizado. Quando a "onda" de trombadinhas diminui,
              as pessoas passam a preocupar-se menos com o problema do menor.
 A Pastoral dos Direitos Humanos e
              marginalizados, uma das prioridades da Igreja de São Paulo, está
              muito preocupada com problema do menor. As Paróquias, sobretudo
              da periferia, vê conscientizando e alertando para o assunto.
              Deveríamos apelar sempre a todos os movimentos católicos, para
              que se detenha mais sobre a questão, meditem sobre suas causas e
              consequência e levem seus membros a fazer alguma coisa para
              melhorar a situação dentro de seu âmbito social e pessoal.A partir das metas prioritárias da pastoral, cada Diocese, Setor
              ou Paróquia poderia ter uma equipe para:
 a) informar e conscientizar, isto
              é, despertar em cada um obrigação de participação, de assumir
              o problema.b) incentivar e organizar todo tipo de trabalho não só curativo,
              mas sobretudo preventivo.
 c) fortalecer a família e os valores religiosos, por conseguinte,
              morais.
 Dom Paulo, que pensa da migração
              em nossa Terra?A migração é um fenômeno que atinge todos os pólos mais
              desenvolvidos do País. De início eram os grandes centros de São
              Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre que atraíam os homens
              do interior. Hoje, as periferias pobres das cidades também de
              porte médio nos provam a migração se torna tumultuada por toda
              parte.
 Você pergunta que pensar dela? Em primeiro lugar, nós ditamos na
              própria força do migrante. A migração desperta novas energias
              e talvez até visão diferente da História. Pode significar
              progresso. Já ternos verificado que as regiões que recebem
              migrantes desenvolvem mais depressa do que aquelas que crescem
              apenas índices vegetativos.
 Urna segunda verificação também parece decisiva: Não podemos
              proceder com paternalismo ou receitas prontas. O próprio migrante
              deve tomar sua história na mão. Mas também reconhecer que
              muitas vezes se torna ele joguete das circunstâncias ou vítima
              das explorações. Talvez até se fascine pelas facilidades do
              novo ambiente. Neste caso, a presença da Igreja ou de pessoas
              realmente interessadas na sorte dele se torna indispensável. O
              que poderia eIe fazer sozinho, se o ambiente é mais forte do que
              ele, ou se a situação talvez seja quase de exploração?
 Adianta tornar pública a
              situação de nossos migrantes??Os Órgãos de comunicação têm realmente muita
              responsabilidade: revistas, jornais, e mesmo a TV começam a
              interessar-se São Paulo pela "OPERAÇÃO-PERIFERIA" -
              Pastoral da Igreja em favor dos migrantes - e daí resultaram
              inúmeras iniciativa parte das autoridades, como também de
              voluntários, especialmente da Igreja.
 Houve, certamente, progressos, mas é sempre difícil agir sem
              populismo, quer dizer, conseguirmos os serviços essenciais em
              detrimento dos mais vistosos, como por exemplo, água, esgoto,
              transporte, saúde e mesmo educação.
 Também existe a questão das pressões econômicas e outras.
              Tempos atrás, mostrávamos a um Prefeito, em vésperas de tomar
              posse, que ele teria que escolher entre 700 a 1.000 migrantes
              diários, sem nenhum meio de propaganda, e, quem sabe, entre 700 a
              1.000 donos de carros, que vivem buzinando, e à noite,
              encontram-se noticiário nacional. Perguntei-lhe então: Por quem
              o senhor irá decidir-se: pelos migrantes pobres, ou pela classe
              média alta, que põe até de horários nacionais na TV?
 Talvez tenhamos que chegar a soluções bem mais radicais.
              exemplo, a de que os transportes coletivos venham a tomar o lugar
              dos particulares. Hoje, l2% de usuários ocupam a maior parte de
              nossas disponibilidades viárias, enquanto que os restantes 88 ou
              90% são vítimas de transportes demorados, inadaptados, e quem
              sabe, até enervantes e sufocantes. Mas isso é outro capítulo.
 A Comissão Justiça e Paz, até o
              momento, quase sempre se ocupou de casos de emergência. Muitas
              vezes, de prisões políticas ou outras. Recebe as pessoas,
              orienta-as, propõe advogado, ou presta assistência jurídica.
              Por determinado tempo eram 10, 20 ou 30 pessoas que procuravam
              diariamente a Comissão. Com a mudança de Comando do II
              Exército, esta situação foi modificada. Houve alívio. A
              Comissão Justiça e Paz então passa a analisar os grandes
              problemas da cidade. Fruto desse trabalho, como citei há pouco,
              é "São Paulo-1975: Crescimento e Pobreza", das
              Edições Loyola, livro que serviu de estímulo para estudantes
              universitários e largas faixas de nossos intelectuais. Pena, que
              o governo também não se tenha utilizado, como poderia, dele.Agora, a "Justiça e Paz" entrou numa segunda fase.
              Procura alguns encaminhamentos. Talvez a próxima publicação já
              traga soluções a partir das bases. Soluções reais para os
              grandes problemas da periferia, portanto, da onda de migrantes
              para nossa cidade.
 Motivadas pela Encíclica
              "Exsul Familia", de Pio XII, quase todas as
              Conferências Episcopais da América Latina criaram e ainda
              mantêm organizações de assistência a migrantes, a nível
              nacional. Por que, no Brasil, a ('NBB não possui uma
              organização semelhante, a nível de CNBB? Tal tipo de
              organização seria talvez obsoleta para a realidade pastoral de
              nosso País?Nossos modelos maiores, quase sempre, são europeus. Não sei se
              bem adaptados à nossa realidade. Certamente deviam ser
              aproveitados no que nos toca.
 Parece impor-se, neste momento, para São Paulo e para o Brasil, a
              criação de grupos de pesquisa e estudos semelhantes aos do CERIS
              (sociológicos). Também nossas Universidades deveriam ser
              estimuladas a lançarem estudos novos sobre as causas da
              migração e seus efeitos. Gostaria de ver analisado sobretudo o
              "mito" da cidade, que exerce tamanho fascínio sobre os
              homens do campo. Talvez fosse útil avaliar ainda os recursos de
              saúde e educação de nosso interior. As possibilidades de os
              homens voltarem a amar a Terra, sem sacrificarem a si mesmos e a
              seus filhos. Veja a luta de nossos Bispos, Padres e Religiosos do
              Mato Grosso, Goiás e alhures. A partir desses dados, poderíamos
              organizar equipes regionais e diocesanas para soluções mais
              adequadas e, quem sabe, até bem urgentes.
 No setor de assistência social aos
              migrantes internos, especialmente no tocante a atividade com
              albergues noturnos e centros de acolhimento de migrantes,
              constata-se uma atuação de vulto maior de organizações
              espíritas do que de católicas. Que explicação se pode dar a
              esse fato?Talvez a seguinte: exatamente no período de migração mais
              intensa, com o fenômeno da urbanização tumultuada e da
              industrialização, a Igreja Católica optou por morar com o povo
              e sofre com ele. Não quis mais criar tantas organizações em
              favor do povo porque acabam quase sempre se transformando em obras
              assistenciais, ou seja, obras que cuidam de dar comida, passagem e
              coisa equivalentes. Tais iniciativas muitas vezes eternizam os
              problemas porque não atacam suas raízes, ou seja, as causas.
 No entanto, de uns sete anos para cá,, justamente com a
              "OPERAÇÃO-PERIFERIA", nós procuramos construir
              Centros Comunitários que possibilitem, por exemplo, prover a
              documentação indispensável aos que chegam à cidade, cuidar de
              uma semi-profissionalização e criar ambiente para a entre-ajuda
              tão necessária nestas horas.
 Corno evolui o fenômeno da
              migração? Que fazer?É certo que os corredores de migração constituem o grande drama
              dos dias de hoje. Milhares de pessoas por semana e centena de
              milhares, milhões por anos a fio, sofrem todas as provações de
              uma viagem não preparada, sem dinheiro e também muitas vezes sem
              finalidade segura. Diríamos que estamos à frente de um novo
              Êxodo, mas, desta vez, sem um Moisés, e com efeitos opostos ao
              que levaram o Povo de Deus a sair do Egito para sua Terra.
              Enquanto, naquele tempo, se faziam comunidades, agora se
              desagregam comunidades. Naquele tempo se criavam pólos de
              unidade. Durante anos e anos. Talvez por 40 anos. Hoje, em oito
              dias se arrancam as raízes, se dispersam as pessoas e muitas
              vezes se cria caos.
 Que fazer? Haveria todo um capitulo sobre as informações serem
              fornecidas a esses migrantes? Ou outro grande capítulo a se
              escrito sobre as orientações, tanto nacionais quanto diretamente
              dirigidas aos grupos'?
 Preferiria unir a resposta anterior ao que aqui se poderia dizei
              sem bons estudos, é difícil surgirem organizações úteis, que
              cobrar o vasto território donde provêm as pessoas, como também
              as cidades para onde elas se dirigem.
 Certo é que não podemos permanecer indiferentes a estas Iongas
              procissões de miséria que atravessam o País, para terminarem
              num acúmulo de dificuldades e carências, nas periferias das
              grande cidades.
 Que poderiam fazer as
              organizações eclesiais, por exemplo, a paróquias?Apesar de quase todas as paróquias organizarem seu quadro de
              promoção social, o fenômeno da migração parece ultrapassar as
              capacidades de uma só paróquia. Foi por isso que organizamos a
              "OPERAÇÃO-PERIFERIA". Ela tenta formar, como já
              explicamos, Centros Comunitários nos lugares onde chegam os
              imigrantes, mas com a ajuda de uma ou mais comunidades do centro
              da cidade. Teríamos, assim, três fases de cooperação
              imprescindíveis:
 - primeiro, o próprio povo toma as iniciativas de que é capaz;
 - depois, outras comunidades com recursos humanos e materiais mais
              amplos emprestam sua colaboração sem tirar evidentemente a
              responsabilidade principal à primeira comunidade;
 - finalmente, a grande comunidade, ou seja, a Região Episcopal e
              a Igreja toda, cobrem os espaços vazios que ainda restam, O
              importante é envolver a comunidade num problema criado por ela
              nos tempos novos.
 No entanto, existem algumas comunidades paroquiais capazes de
              enfrentar em grandes linhas e com bons recursos o próprio
              problema migratório. Gostaria de chamar a atenção, por exemplo,
              para o que faz o Jardim Peri, na extrema periferia da Região
              Norte de São Paulo: por diversos convênios chega a remunerar 25
              pessoas qualificadas e, entre elas, duas assistentes sociais,
              além de grande número de voluntários, O bem que aí se faz não
              se mede por números, embora estes sejam impressionantes.
 Também nos esforçamos para reativar as paróquias junto às
              estações das rodovias e ferrovias da capital. Unidas em Setor,
              podem lançar mão de recursos adequados para a hora da chegada e
              para o primeiro encaminhamento das pessoas ou famílias.
 Compete ainda á Igreja criar clima favorável à integração
              justa do migrante na sociedade, e, neste ponto, a insistência das
              paróquias parece que dá continuidade maior do que os simples
              pronunciamentos de pessoa da cúpula. Importa mesmo, lembrar
              constantemente que somos todos responsáveis por um problema que
              é de todos.
 No MOTU PROPRIO "Pastoral dos
              Migrantes", de 15.8.1969, o Papa Paulo VI demonstra que o
              problema migratório é acima de tudo uma questão política que
              deve ser equacionada em termos de desenvolvimento das áreas
              rurais. Afirma o Papa naquele documento. 'Em primeiro lugar cada
              um deve empenhar-se a partir dos poderes públicos, para que os
              meios rurais disponham, como convém, dos serviços essenciais:
              estradas, transportes, comunicações, água potável,
              habilitações, cuidados médicos, instrução elementar,
              formação profissional, serviço religioso, recreação e também
              tudo o que é necessário à casa rural para sua modernização e
              arranjo. Se tais serviços, que constituem em nossos dias os
              elementos essenciais de um nível de vida digno, faltarem nos
              meios rurais, o desenvolvimento econômico e o processo social
              tornam-se quase impossíveis ou muito lentos, daí resultando o
              êxodo quase irreversível e dificilmente controlável das
              populações do campo"- Dom Paulo, como o Sr. aplicaria essa
              orientação do Papa à realidade brasileira, a qual ocupa
              volumoso êxodo principalmente das zonas rurais de Minas, Bahia e
              do Nordeste em geral?O Brasil, neste momento, deve estar atingindo 60 ou 70% de
              população urbanizada. Seria desejável que os demais se
              convencessem, através de melhorias substanciais em suas áreas,
              que não convêm passarem do campo para a cidade. Seria uma grande
              conquista.
 Para o Estado de São Paulo, as condições já são piores.
              Segundo cálculos aproximativos de alguns sociólogos de renome,
              atingimos 83% de urbanização em todo o Estado. Os próprios
              "bóias-frias" pertencem a esse número e sofrem todas
              as consequências de uma situação precária.
 Não sem se ainda chegamos a convencer os proprietários e o
              governo de que a mecanização em grande estilo não é solução
              muito brasileira. li evidente que com isso não nos opomos aos
              benefícios que pode trazer a maquinaria adaptada aos terrenos e
              às propriedades menores.
 Também sei que os artesanatos não chegam a convencer, por ora,
              mas mereceriam grande estimulo, porque trazem tanto a marca do
              passado como a do futuro. Haveria ainda uma sugestão para que se
              incrementassem as pequenas e médias indústrias agropecuárias
              nos próprios locais de produção.
 Para quem olha para o ar e as águas poluídas, para quem afinal
              é capaz de comover-se com a natureza morta, seria justo pensar,
              com muito mais interesse, nas soluções pequenas, pois elas
              poderiam preservar os bens fundamentais da vida biológica,
              psíquica e espiritual dos homens. É uma campanha que deveríamos
              comunicar tanto as nossas universidades quanto a todos os tipos de
              sociedades interessadas no meio-ambiente.
 Soubemos que o Sr. está apoiando a
              criação de um Centro Pastoral de Migrantes, com sede na Igreja
              de Nossa Senhora da Paz, no centro de São Pau/o, o qual será
              administrado pela Congregação dos Padres de São Carlos, que tem
              por finalidade a assistência aos próprios migrantes. Dom Paulo,
              o que o Sr. espera desse centro pastoral? Que outros setores
              exigem, em São Paulo, maior presença desses missionários dos
              Migrantes? Estaria quase disposto a devolver a
              eles a pergunta. Em vez de eu dizer o que deles espero, poderiam,
              quem sabe, eles informar a cidade e também os leitores sobre o
              que podem e devem fazer nesse momento crítico da história das
              migrações.Para começo de conversa, deixem-me adiantar o seguinte. Em
              primeiro lugar, espero que sensibilizem todas as comunidades,
              prestando informações e fazendo propostas em favor dos
              migrantes.
 Para tanto seriam necessários sem dúvida alguns estudos e
              também pesquisas de campo.
 Em segundo lugar, esperaria algumas iniciativas adaptadas a
              Centro, como sejam, assistência jurídica e uma pastoral em campo
              e área determinada.
 Depois, chegaria a propor algumas ações, conjugadas com
              comunidades já sensíveis, em favor dos migrantes, na hora em que
              chegam e saem da Capital, coisas que poderiam parecer de
              emergência de início, mas que ao depois levassem a uma ação em
              profundidade. Praticamente, desejaria a presença do Evangelho ou
              do amor de Cristo junto aos que andam por caminhos desconhecidos,
              mas que têm direito á justiça e à solidariedade.
 Afinal, o povo de São Paulo é ou
              não sensível ao problema dos Migrantes?O que nos faz amar São Paulo não é o cimento e o ferro que a
              projetam para os céus. Eles significam, antes, um orgulho e uma
              luta desumana que tantos lhe recriminam, O que nos leva de fato a
              amar São Paulo é o homem que nela habita e as possibilidades
              imensas de servir a este homem. N4ais ainda, e muito mais: o que
              nos leva a amar São Paulo é o que está dentro do coração dos
              paulistanos, sempre desejosos de fazerem mais e melhor. E esses
              paulistanos serão capazes, como poucos outros, de acolherem o
              Cristo Migrante. Por ora, ele ainda dorme debaixo dos viadutos,
              nas estações rodoviárias e até junto ás portas de nossas
              Igrejas.
 Quiséramos dar todo o nosso apoio ás iniciativas já existentes
              e ás novas que vão surgindo. t claro, que elas devem ser úteis,
              sérias, e até mesmo pragmáticas, para serem bem acolhidas. Mas
              é igualmente certo que elas podem trazer a marca da solidariedade
              e do amor altruísta, porque o coração do paulistano e do
              brasileiro em geral continua muito generoso e fundamentalmente
              cristão.
 Terminaria dizendo: Nesta questão de pastoral dos Migrantes,
              chegou a hora de propormos mais, de propormos coisa melhor.
 Até agora, parece, as grandes e pequenas lutas e sonhos
              internacionais girando em torno da economia e do poder. No
              entanto, vislumbramos uma nova era em que as lutas se travarão em
              torno da dignidade humana. Isso é uma imaginação otimista ou
              uma fundamentada esperança?
 Jamais o homem quis viver sem honra e sem dignidade. Na era da
              urbanização, esse seu direito não poderia mais ser garantido
              através de influências e amigos. Mesmo os juízes e os corpos
              intermediários da sociedade sentiram a sua insuficiência. Foi
              então que partiu o clamor de dentro do organismo todo,
              reivindicando para todos o que a todos pertence: a dignidade
 Hoje, este clamor não só aumenta, mas também é captado p urna
              sensibilidade sempre maior. Encontra, é verdade, barrem quase
              insuperáveis em todas as formas de totalitarismo. Otimismo e
              esperança? Creio que há mais lugar para esperança do que para
              otimismo.
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