A
Polícia Comunitária no Japão:
Uma
Visão Brasileira
Miguel
Libório Cavalcante Neto
Major
PM – Polícia Militar do Estado de São Paulo
Numa
sociedade democrática, a responsabilidade pela manutenção da Paz e a
observância da Lei da Comunidade, não é somente da Polícia. É
necessário uma polícia bem treinada, mas o seu papel é o de
complementar e ajudar os esforços da comunidade, não de substituí-los.
Patrick
V. Murphy
Policial
Comunitário no Japão
O
Policial
Japonês
O
Policial
Comunitário
Policiais
de um KOBAN no patrulhamento, visitas rotineiras a residências,
atividades comunitárias
e reuniões com a comunidade
A Expansão
da Idéia, Sua Aplicabilidade e viabilidade em São Paulo
Possuindo
características de um Estado moderno, com um alto
grau de participação social, muito diferente do
modelo brasileiro, o Japão possui um sistema de
policiamento fardado baseado na estrutura da Polícia
Nacional Japonesa. Desenvolve um dos processos
mais antigos de policiamento comunitário no mundo
(criado em 1879), montado numa ampla rede de postos
policiais, num total de 15.000 em todo o país,
denominados KOBANS
E CHUZAISHOS.
A
estrutura básica voltada à prevenção do crime tem seu alicerce de
sustentação focado no policiamento
comunitário fardado da Polícia Nacional do Japão, através do
qual a vida pacífica e calma da comunidade é mantida pelo sistema “Koban”,
montada numa ampla rede de postos policiais, num total superior a 15.000
em todo o país. Só na cidade de Tóquio tem aproximadamente 1000
“Kobans” e 240 “Chuzaishos”.
O
Chuzaisho localiza-se normalmente nos bairros residenciais e conta
atualmente com mais de 8.500 postos nesta modalidade; É uma casa que
serve de posto policial 24 horas, onde o policial reside com seus
familiares, e na sua ausência a esposa atende aqueles que procuram o
posto. O Koban, por sua vez, localiza-se normalmente nos locais onde
haja grande fluxo de pessoas, como zonas comerciais, turísticas, de
serviço, próximo às estações de metrô, etc., sendo que, nesse tipo
de posto trabalham equipes compostas por 03 ou mais policiais, conforme
o fluxo de pessoas na área
delimitada como circunscrição do posto, funcionando 24 horas por dia,
existindo atualmente mais de 6.500 Kobans em todo o país.
POLICIAL
COMUNITÁRIO NO JAPÃO
Para
se ter uma avaliação da importância dada ao sistema de policiamento
comunitário fardado no Japão, a partir de 1998 o efetivo policial
passou a contar com 263.600 pessoas , sendo:
-
Agencia Nacional de Polícia com 7.600 pessoas (1.400 policiais;
900 Guardas Imperial e 5.300 funcionários civis).
-
47 Províncias ( como se fossem Estados ) com 256.000 pessoas
(226.000 policiais e 30.000 funcionários civis).
Dos
226.000 policiais, cerca de 40% estão destinados ao policiamento
comunitário fardado, sendo que, destes, 65% estão prestando serviços
nos Kobans e Chuzaishos, 20% no policiamento motorizado e 15% no serviço
administrativo do Sistema, incluindo o staff de comando, sistema de
atendimento e despacho de viaturas para ocorrências e comunicação
como um todo.
O
POLICIAL JAPONÊS
O
Policial japonês através de suas atitudes demonstra claramente sua
formação cultural, ou seja, extremamente
educado, polido e disciplinado, cumprindo integralmente suas obrigações
com determinação e zelo. Possuindo, no mínimo, formação de 2º grau
e até mesmo universitária, sentindo-se perfeitamente à vontade quando
da utilização dos mais avançados recursos tecnológicos, na área de
comunicações e informática, o que aliado a sua formação técnica
policial lhe possibilita alcançar resultados positivos em seu serviço,
agindo na maior parte das vezes isoladamente.
O
Juramento do Policial
Como
membro da Polícia, eu aqui prometo:
-
Servir a nação e a sociedade com orgulho e um firme sentido de
missão.
-
Prestar o devido respeito aos direitos humanos e realizar minhas
obrigações com justiça e gentileza.
-
Manter estreita disciplina e trabalhar com o máximo de cooperação.
-
Desenvolver meu caráter e a capacidade para minha auto-realização.
-
Manter uma vida honesta e estável.
O
POLICIAL COMUNITÁRIO
O
Policiamento Comunitário é o centro das atividades policiais de
segurança no Japão. Como já foi exposto 40% do efetivo da polícia é
destinado ao Policiamento Comunitário. Os outros 60% estão exercendo
suas funções em atividades administrativas, investigações criminais,
segurança interna, escolas, bombeiros, trânsito, informações e
comunicações bem como para a Guarda Imperial.
A
importância dada ao Policiamento Comunitário pela Polícia Japonesa a
qual é seguida à risca, se deve a algumas premissas tidas como
imprescindíveis:
a)
a impossibilidade de investigar todos os
crimes pressupõe um investimento de recursos na
prevenção de crimes e acidentes, para aumentar
a confiança da população nas leis e na polícia.
b)
impedir o acontecimento de crimes e acidentes é muito mais
importante do que prender criminosos e socorrer vítimas acidentadas.
c)
a polícia deve ser levada aonde está o problema, para manter
uma resposta imediata e efetiva aos incidentes criminosos individuais e
às emergências, com o objetivo de explorar novas iniciativas
preventivas, visando a resolução do problema antes de que eles ocorram
ou se tornem graves. Para tanto descentralizar é a solução, sendo que
os maiores e melhores recursos da polícia devem estar alocados na linha
de frente dos acontecimentos.
d)
as atividades junto às diversas comunidades e o estreitamento de
relações polícia e
comunidade, além de incutir no policial a certeza de ser um
“mini-chefe” de polícia descentralizado em patrulh?????g?amento constante,
gozando de autonomia e liberdade
de trabalhar como solucionador dos problemas da comunidade, também é a
garantia de segurança e paz para a comunidade e para o seu próprio
trabalho.
POLICIAIS
DE UM KOBAN NO PATRULHAMENTO, VISITAS ROTINEIRAS A
RESIDENCIAS,
ATIVIDADES COMUNITÁRIAS E REUNIÕES COM A COMUNIDADE
Seguindo
estas idéias básicas, a Polícia Japonesa descentralizou
territorialmente sua bases de segurança em mais de 15.000 bases comunitárias
de segurança, denominados Koban ou Chuzaisho, funcionando nas 24 horas
do dia.
Os
Kobans e os Chuzaishos são construídos pelas prefeituras
das cidades onde estão localizados, responsabilizando-se
também pela manutenção do prédio, pagamento da
água, luz, gás, etc. O critério para sua instalação
e localização é puramente técnico e é estabelecido
pela Polícia de tal forma que garanta o atendimento
cuidadoso e atencioso às pessoas que procurem
a polícia. Estes postos policiais ( Kobans e Chuzaishos
) estão subordina dos
aos “Police Stations”.
Chuzaisho:
Instalação e Funcionamento
O
policial é instalado numa casa, juntamente com sua família. Esta casa,
fornecida pela Prefeitura, é considerada um posto policial, existindo
mais de 8.500 em todo o Japão; cada Chuzaisho está vinculado
diretamente a um “Police Station”( Cia ) do distrito policial onde
atua.
O
policial trabalha no horário de expediente, executando suas rondas
fardado. Na ausência do policial, sua esposa auxiliará em suas
atividades, atendendo ao rádio, telefone, telex e as pessoas, sem que,
para isso, seja considerada funcionária do Estado, mas essa sua
atividade possibilita ao marido policial o recebimento de uma vantagem
salarial. Quanto aos gastos com energia, água, gás e a manutenção do
prédio ficam a cargo da prefeitura da cidade onde o posto esta
localizado.
Koban
: Instalação e Funcionamento
Os
Kobans, em número superior a 6.500 em todo o Japão, estão instalados
em áreas de maior necessidade policial (critério técnico). Os Kobans
são construídos em dimensões racionais, em dois ou mais pavimentos,
com uma sala para o atendimento ao público, com todos os recursos de
comunicações e informática, além de compartimentos destinados ao
alojamento ( com camas e armários), cozinha, dispensa e depósito de
materiais de escritório, segurança, primeiros socorros, etc.
No
Koban, trabalham equipes
compostas por 03 ou mais policiais, conforme seu grau de importância,
cobrindo as 24 horas do dia em sistema de rodízio por turnos de 08, 12
ou até mesmo 24 horas, o que é mais comum.
No
interior de um Koban há sempre uma equipe de um ou dois policiais para
atendimento ao público e atender ao rádio e ao telefax; os demais
desenvolvem atividades de patrulhamento a pé, de bicicleta ou mesmo
motocicletas, e é responsável por uma pequena área e pelas visitas
comunitárias, através das quais sabem o número de residências, comércios,
estrangeiros residentes, enfim um controle detalhado daquela pequena área,
uma vez que o controle das ocorrências é de responsabilidade dos
integrantes daquele Koban.
Para
todas as atividades desenvolvidas em um Koban, há horários específicos
para o seu cumprimento, como por exemplo horários para o patrulhamento,
entrevistas com a comunidade, preenchimento de relatórios policiais,
refeições e descanso no próprio Koban.
Há
também reuniões com a comunidade, chamados conselhos comunitários
(similar aos Conselhos Comunitários de Segurança - CONSEGs), os quais
se reúnem de 2 a 3 vezes por ano, isto porque, enquanto um ou mais
problemas apresentados pela comunidade não forem solucionados, não se
discute novos problemas, para evitar que um problema se acumule sobre
outro e não se resolva nenhum.
Existem
cerca de 2000, policiais aposentados ou ex-políciais (exonerados a
pedido) contratados para trabalhar como atendente nos Kobans. Eles
trabalham 30 horas semanais recebendo o salário através de verba
repassada pelo Governo Federal às Policiais Provinciais.
Quanto
ao tempo de permanência de um policial comunitário
em um mesmo Koban, este pode variar de 2 a 5 anos,
mas é extremamente importante o tempo mínimo de
permanência, para que haja efetivamente o engajamento
do policial num determinado setor específico da
comunidade, criando uma relação de pertinência,
em caráter de longo prazo, uma vez que pelos conhecimentos
que possui do bairro e das pessoas que nele vivem
ou trabalham pode ser o catalisador para o desenvolvimento
de soluções criativas que não se concentre especificamente
em prender delinqüentes,
pois só assim, o policial pode reduzir
o crime e ir ao encontro das necessidades apropriadas
da comunidade, sendo conhecido e respeitado pelas
suas atitudes.
Cada
Koban é comandado por um “Assistant Police Inspector” ou por um
“Police Sergeant”, conforme sua importância, e cada equipe é
comandada pelo mais antigo de polícia da guarnição, ou mais o
graduado no respectivo turno.
Os
Kobans se ligam diretamente aos “Police Station” deles recebendo as
determinações e acionamentos necessários ou para eles encaminhando as
ocorrências não resolvidas nos locais, bem como condução das partes.
As
atividades num Koban é intensa e existe uma rotina estabelecida, que
varia de dia para dia e de acordo com a situação.
-
atendimento às pessoas;
-
recebimento e transmissão de mensagens;
-
preenchimento de relatórios de serviço;
-
faxina e manutenção do material;
-
patrulhamento a pé, de bicicleta ou motocicleta nas áreas abrangidas
pelo Koban;
-
visitas às residências, casas comerciais e escritórios de serviço;
-
visitas a pessoas idosas, escolas, etc.
A
EXPANSÃO DA IDÉIA, SUA APLICABILIDADE E VIABILIDADE EM SÃO PAULO
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O
modelo de polícia japonês já possui mais de um século de existência
e os policiais estão sempre interessados em aperfeiçoar cada vez mais
o seu sistema. Por esses motivos é que a Polícia Nacional do Japão
realiza cursos e seminários para colaborar com as polícias de países
amigos na montagem de sistemas semelhantes.
Dos
países participantes destas atividades o Brasil, em especifico o Estado
de São Paulo, é o que tem apresentado resultados mais positivos quanto
ao desenvolvimento do Policiamento Comunitário.
Em
1997, foi implantado oficialmente e conta atualmente com 182 Cias
experimentais e 232 Bases Comunitárias de Segurança instaladas,
envolvendo diretamente cerca de 6.850 policiais militares, em
contrapartida um projeto similar foi abandonado no Rio de Janeiro em
1995.
Pelo
que se pode concluir o Sistema de Policiamento Comunitário em São
Paulo é uma realidade, aliada a transformação da polícia em uma
“polícia de proteção dos direitos de cidadania e da dignidade
humana”, visando não só a qualidade e a eficácia do serviço
prestado, como também à perenidade da Organização.
?????g? Aliado
a esses motivos, também podemos afirmar que:
1)
Investir na prevenção é realmente mais racional e mais barato
do que remediar problemas ou simplesmente ignorá-los. A investigação
de um crime, o socorro a uma vítima acidentada ou mesmo o conserto de
materiais e equipamentos são muito mais onerosos.
2)
A descentralização dos recursos e da autoridade, com conseqüente
aumento da parcela de responsabilidade dos vários escalões, são
medidas racionais que valorizam o policial comunitário e que
proporcionam, sem dúvida, melhor segurança ao público que percebe o
policial integrado a sua comunidade.
3)
A fixação do policial em um setor específico da comunidade é
fator primordial para que haja um comprometimento sólido entre as
pessoas e a Polícia, fazendo com que o policial?????g? trabalhe para organizar
os recursos disponíveis da comunidade à medida que as pessoas da
comunidade cada vez mais estarão se aproximando e confiando na polícia.
A
partir destas informações podemos aferir que muito já foi feito a nível
de policiamento comunitária como Filosofia e Estratégia
Organizacional, reconhecido plenamente pela Polícia Japonesa, mas ainda
temos muito para ser aperfeiçoado, desenvolvido e conquistado. Notória
é a visão realista concernente ao Policiamento Comunitário, que hoje
encontra-se incluído entre os 15 programas prioritários do Governo do
Estado, com objetivos gerais, específicos, metas e resultados,
acompanhados passo a passo pelo Cel PM RUI CESAR MELO, Cmt. Geral da Polícia
Militar do Estado de São Paulo, assessorado pelo recém criado
Departamento de Polícia Comunitária e Direitos Humanos.