A Chacina de Mãe Luiza
No dia cinco de março de 1995, no bairro
popular de Mãe Luiza, em Natal (Rio Grande do Norte, região nordeste
do Brasil), foram assassinados friamente, por uma pessoa que se
identificou como policial, Roberto Nascimento Ferreira e Lucimar Alves
da Silva Souza, esta grávida de três meses e foram feridos gravemente,
Maria Lúcia da Costa, Marlon Silva Costa, Ana Carla Melo da Costa e
Magaly Helena Pinheiro do Nascimento, sendo que alguns destes
sobreviventes encontram-se ainda com balas alojadas no corpo. Uma das
sobreviventes da chacina reconheceu o policial civil Jorge Luiz
Fernandes, conhecido popularmente pela alcunha de "Jorge
Abafador", como o responsável pelos disparos criminosos.
A "Chacina de Mãe Luiza", como
ficou conhecido o triste episódio, no entanto, foi apenas a ponta de um
"iceberg", pois trouxe à tona diversas denúncias de outros
crimes semelhantes, sempre relacionados à extorsão policial nas
regiões mais pobres e afastadas da cidade - envolvendo, além de Jorge
Abafador, outros policiais civis sob o comando do próprio
Secretário-Adjunto de Segurança Pública, Delegado Maurílio Pinto de
Medeiros. Ao todo, são mais de 50 (cinquenta mortes) imputadas a este
grupo de extermínio - além de inúmeras denúncias de torturas,
espancamentos e arbitrariedades.
Diante da total omissão e falta de
providências do aparelho de segurança do Estado, as Entidades de
Direitos Humanos, através do Movimento Nacional de Direitos Humanos
(MNDH) solicitaram a interferência do Ministério Público na
apuração de todos os casos. E, em resposta, o Procurador-Geral de
Justiça, na portaria 077 de 12.05.95, instituiu uma Comissão de
Promotores, encarregada de apurar e investigar todas as notícias crimes
alencadas na representação das entidades de Direitos Humanos. Devido a
ameaças de morte e outras formas de intimidação, as investigações
foram suspensas; sendo reiniciadas logo após a confirmação do
afastamento de Maurílío Pinto de Medeiros do exercício das funções
de chefia da Polícia Civil.
O Policial civil Jorge Luiz Fernandes, o
"Jorge Abafador", se encontra preso desde o dia 12 de junho de
1995, por ser o principal acusado nos crimes da Chacina de Mãe Luíza.
Acontece que este policial goza de vários privilégios na prisão.
Costuma sair a hora que quer, anda fortemente armado, vive tomando
bebidas alcoolicas dentro e fora da Delegacia, e tem causado pânico e
temor na comunidade do bairro de Cidade Satélite onde está localizado
o estabelecimento policial.
No dia 10 de abril de 1998, "Jorge
Abafador" foi autuado em flagrante, por desacato à autoridade -
agrediu um Delegado que fazia vistoria na Delegacia onde o policial
está preso - e durante o seu interrogatório reagiu violentamente à
presença de uma equipe de TV local (TV Cabugi), ameaçando um repórter
e sua equipe, como também a várias pessoas - ativistas de direitos
humanos, testemunhas, promotores - que estão envolvidos no
acompanhamento dos seus processos de homicídios. Na Delegacia onde ele
está preso foi encontrada uma fita de vídeo com imagens de várias
testemunhas que estão depondo contra o grupo de extermínio e uma
pistola tipo "380" com várias cápsulas de munição.
O Ministério Público já solicitou as
cópias das fitas - tanto da que foi apreendida pelo Delegado, como a da
reportagem de TV onde o policial "Jorge Abafador" faz as
ameaças - e já está encaminhando as devidas providências. A
Secretaria de Segurança Pública abriu inquérito especial para apurar
as denúncias de privilégios, saídas ilegais e porte de arma de um
prisioneiro de justiça.
Diante dos fatos acontecidos, a
Assistência de acusação, juntamente com o parecer do Ministério
Público, pediu o fim das regalias e saídas ilegais do preso de
justiça "Jorge Abafador", sendo este pedido prontamente
atendido pelo Juiz da 1a. Vara Criminal.
A sociedade potiguar aguarda com
expectativa este julgamento, que está marcado para o dia 21 de maio do
corrente, para se faça justiça e acabe de uma vez por todas com o
manto triste da impunidade. |