Mapeamento
da Violência no Reciefe
A
Prefeitura do Recife criou o Comitê de Promoção de
Direitos Humanos e Prevenção à Violência no Município
do Recife, através do Decreto n0 18.815/01
de 17 de abril de 2001.
O
Comitê de Promoção de Direitos Humanos tem como função
articular, mobilizar, sugerir e apoiar os diversos
projetos de promoção social desenvolvidos pelas
Secretarias Municipais, integrando as ações para a política
de promoção e garantia dos direitos humanos e prevenção
à violência. Tem ainda o papel de articulação
externa com entidades que compõem a Região
Metropolitana do Recife, com o objetivo de desenvolver
políticas públicas conjuntas para promoção de
direitos humanos e prevenção à violência.
O
Comitê é formado por representantes das Secretarias de
Assuntos Jurídicos, Políticas Sociais, Planejamento,
Serviços Públicos, Saúde, Educação e tem como
coordenador o Vice-Prefeito.
O
Comitê definiu uma pauta de compromissos iniciais,
quais sejam:
1. Incentivar a criação
do Programa Municipal de Direitos Humanos, articulando a
população através de seminários nas seis Regiões
Político Administrativas do Município.
2. Apoiar as atividades do
Conselho Municipal de Direitos Humanos.
3. Criar a Ouvidoria
Municipal de Cidadania e Direitos Humanos.
4. Apoiar o desenvolvimento
dos projetos de Promoção Social propostos pelas
diversas secretarias municipais, integrando-os para
desenvolver a política de promoção e garantia dos
Direitos Humanos e prevenção à violência.
5. Pacto de prevenção à
violência — Propor uma articulação junto ao Governo
do Estado e as Prefeituras dos Municípios que compõem
a Região Metropolitana, desenvolver uma política
conjunta de prevenção à violência e promoção dos
Direitos Humanos.
6.
Mapeamento da Violência — Efetuar um levantamento de
dados sobre a violência na cidade do Recife, para
propiciar uma política eficaz de combate à violência.
7. Desenvolver na população,
através da educação, uma cultura de Direitos Humanos.
Dando
inicio às suas atividades, o Comitê priorizou duas
grandes áreas de trabalho a) Mapeamento da Violência
no Recife (a cargo das Secretarias de Educação, Saúde,
Planejamento e gabinete do Vice-Prefeito), e b)
levantamento das ações em curso em 2001 nas
Secretarias Municipais que podem ser relacionadas com a
violência (a cargo da Secretaria de Assuntos Jurídicos,
Políticas Sociais, Coordenadoria da Mulher e gabinete
do Vice-Prefeito).
Mapeamento
da Violência no Recife – Dados preliminares
Estudos
recentes revelam o crescimento dos óbitos no Recife,
por causas externas, e nesse caso a maior incidência são
por homicídios. Chama atenção também a significativa
ocorrência dos mesmos na faixa de adolescentes e jovens
adultos, entre 15 e 29 anos.
Assim
sendo as áreas escolhidas para serem priorizadas,
inicialmente, no mapeamento da violência foram: mortes
por homicídios, violência à criança e adolescente e
violência à mulher, tendo como fontes de dados:
Datasus/SIM do Ministério da Saúde, Secretaria de
Defesa Social, Polícia Militar e Conselhos Tutelares.
O
mapeamento da violência pretende dimensionar o
problema, localizando os bairros mais violentos bem como
classificar os tipos de violência que mais se destacam.
O mapeamento deverá levar em conta: sexo, cor, vitima,
infrator, idade.
Além
desses dados, o Comitê de Promoção de Direitos
Humanos e Prevenção à Violência pretende relacionar
dados sócio-econômicos e de infra-estrutura visando
traçar a vulnerabilidade de cada bairro da Cidade do
Recife. Nesse sentido, pretende-se analisar ainda os
seguintes dados:
-
Existência de Equipamentos básicos da população,
tais como escolas, postos de saúde, equipamentos de
lazer (quadras de esportes, praças), iluminação pública.
-
Existência de lugares ermos.
-
Existência de associações comunitárias
ativas.
-
Grau de alcoolismo na comunidade.
-
Número de crianças e adolescentes fora da escola.
-
Número de nascidos vivos de mães adolescentes.
Os
estudos sobre o tema observam-se várias questões que são
importantes serem destacadas como subsídio ao grupo
responsável pelo mapeamento da violência no Recife.
Entre elas se destacam:
-
Traçar um panorama sobre a evolução e a situação
atual da mortalidade derivada de situações que
envolvem diversas modalidades de violência. Como base
nos resultados altamente preocupantes, é levantada a
urgente necessidade de políticas e estratégias em
condições de prevenir e enfrentar a crescente violência
que se constitui o maior flagelo da juventude.
-
As preocupações em tomo da violência estão
identificadas nas mudanças de conduta (medo, prevenção)
da população urbana, no discurso dos meios de comunicação,
na análise política, nas plataformas eleitorais, nos
trabalhos acadêmicos e nos diversos projetos
institucionais. Essas análises expressam um extremo
desconforto com a atual organização da vida cotidiana
nas grandes cidades brasileiras.
-
Em geral, tanto as análises sociais quanto as imagens
divulgadas pelos meios de comunicação têm
privilegiado a adolescência e a juventude como momento
de produção de violência, como agressora, destacando
seu envolvimento com a delinquência e a criminalidade,
com os tráficos de drogas e armas – o jovem como vítima
prioritária da violência: Tanto como agressor como
agredido.
-
A Unesco vem estudando o assunto desde 1995 e utilizando
as informações sobre óbitos e suas causas, no período
1979/1996, disponibilizadas pela Base de Dados Nacional
do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do
DATASUS, Ministério da ‘Saúde, para a faixa etária
de 15 a 24 anos e para o conjunto da população. Para o
estudo foram selecionadas três grandes categorias
indicadoras de situações de violência: a) óbitos por
acidentes de transporte, como indicativo da violência
cotidiana nas ruas e nos âmbitos de convivência; b) óbitos
por homicídios e outras violências que acabam em
morte; c) suicídios, como indicador de violência
dirigida contra si próprio.
-
Identifica-se que ainda existem dificuldades para
definir o que se nomeia como violência, mas alguns
elementos já são consensuais: noção de coerção ou
força; dano que se produz em indivíduo ou grupo social
pertencente a determinada classe ou categoria social, gênero
ou etnia. No trabalho adota-se o conceito de Michaud -
1989: “há violência quando, em uma situação de
interação, um ou vários atores agem de maneira direta
ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou
a mais pessoas em graus variáveis, seja em sua
integridade física, seja em sua integridade moral, em
suas posses, ou em suas participações simbólicas e
culturais”.
Os recentes trabalhos sobre o tema apontam para
reconceitualização do entendimento da violência, de
modo a incluir e a nomear como violência acontecimentos
como a violência intrafamiliar, contra a mulher ou as
crianças, a violência simbólica contra grupos,
categorias sociais ou etnias. Utiliza-se os óbitos
violentos como indicador geral da violência por dois
motivos:
a) A
violência, definida no estudo, cobre um espectro
significativamente mais amplo de comportamento do que as
mortes por violência. Nem sempre a violência cotidiana
conduz necessariamente à morte. Mas a morte revela, per
se, a violência levada a seu grau extremo. Também a
intensidade dos diversos tipos de violência guarda uma
estreita relação com o número de mortes que origina.
b) Não existem também
muitas outras alternativas. O registro de queixas á
policia sobre diversas formas de violência, tem uma
incidência extremamente limitada. Nos casos de violência
física, só 6,4% dos jovens denunciaram à policia; nos
casos de assalto/furto, só 4%; e nos casos de violência
no trânsito, só 15%. Já no campo dos óbitos,
conta-se com um Sistema de Informações sobre
Mortalidade, que centraliza informações sobre os óbitos
em todo o país, e que cobre um universo bem
significativo das mortes acontecidas, e de suas causas.
·
A partir de 1975, o Ministério da Saúde passou a
implementar o Subsistema de Informação sobre
Mortalidade (SIM). Pela legislação vigente, nenhum
sepultamento pode ser feito sem a certidão de registro
de óbito correspondente. Esse registro deve ser feito
á vista de atestado médico ou, na falta de um médico
na localidade, de duas pessoas qualificadas que tenham
presenciado ou verificado a morte.
·
A legislação também exige que seja registrada a causa
da morte. Para a codificação dos óbitos foi utilizada
a causa básica, entendida como o tipo de fato, violência
ou acidente que originou a lesão que levou à morte.
Das causas de óbitos, o estudo selecionou as seguintes:
a) Acidentes de Transporte,
sendo que os acidentes de trânsito de veículo
representam 95% dos óbitos desta categoria;
b) Homicídios e Outras
Violências, que corresponde: (homicídios e lesões
provocadas por outras pessoas), e, outras violências
(mortes derivadas de lesões, por armas de fogo, por
explosivos ou por meios ignorados sem especificação se
foi acidental ou intencional;
c) Suicídios (suicídios e
lesões auto-infligidas).
·
Observa-se, no entanto, que as informações do sistema
de registro de óbitos ainda estão sujeitas a uma série
de limitações e críticas, expostas pelo próprio SIM.
A primeira grande limitação é o sub-registro devido,
à ocorrência de inúmeros sepultamentos sem o
competente registro, determinando uma redução do número
de óbitos registrados. Também a incompleta cobertura
do sistema, especialmente nas regiões norte e nordeste
·
O estudo ressalta que se a taxa global de mortalidade da
população brasileira caiu de 633 em 100.000 habitantes
em 1980 para 580 em 1996, e a taxa especifica dos jovens
cresceu significativamente, passando de 128 para 140 no
mesmo período, fato altamente preocupante. Mas a
mortalidade entre os jovens não só aumentou como também
está mudando sua configuração, a partir do que se
pode denominar como os novos padrões de mortalidade.
·
Os estudos recentes mostram que as epidemias e doenças
infecciosas que eram as principais causas de morte entre
os jovens, há cinco ou seis décadas foram sendo
substituídas, progressivamente, pelas denominadas
“causas externas” de mortalidade, principalmente os
acidentes de trânsito e os homicídios. Os dados do SIM
permitem verificar esta forte tendência. Em 1980, as
“causas externas” já eram responsáveis por mais da
metade (52,9%) do total de mortes dos jovens do país.
Em 1996, mais de 2/3 dos jovens (67,4%) morrem por essas
causas externas, e fundamentalmente por homicídios e
outras violências semelhantes.
ESTÁGIO
ATUAL DO TRABALHO DE MAPEAMENTO DA VIOLÊNCIA
1.
Coleta de dados do DATASUS/SIM. O Ministério da Saúde
dispõe de dados que apontam o domicílio dos óbitos
provocados por morte violenta. Dispõe-se de dados
referentes ao ano base 1999, por bairros e foram
geoprocessados.
2.
Coleta de Dados de Equipamentos Sociais (escola, creche,
posto de saúde, associações comunitárias, etc.)
existente em cada bairro para cruzar com os dados sobre
violência acima descritos (em andamento).
3.
Coleta de dados das ocorrências policiais, havidas no
ano de 2000, fornecidos pela Polícia Militar estão
sendo tratados e comporão outro mapa, também por
bairro, onde indique o número de ocorrências policiais
registradas no que diz respeito a homicídio, agressão,
estupro e sequestro. Os dados da PM não vão ser
cruzados com os números fornecidos pelo DATASUS em
virtude de impossibilidade técnica, mas comporão outro
mapa que poderá ser analisado do ponto de vista do
local onde aconteceu o crime ou onde o corpo foi
encontrado. (em andamento)
4.
Coleta de dados de outras informações que poderão ser
cruzadas com os dados de violência: esgotamento sanitário,
pavimentação, iluminação, número de postes, etc.);
quantidade de domicílios por bairro, em que as mulheres
são chefes de famílias, e demais indicadores que se
relacionem com qualidade e condições de vida.
5.
Coleta de dados da Diretoria de Policia da Criança e do
Adolescente (DPCA), relativos aos crimes praticados
contra crianças e adolescentes, ano de 2001. Estes são
os dados mais completos pois tem ocorrência por bairro
e por tipo de crime. A intenção é montar um mapa
específico para os números relativos a criança e ao
adolescente ( em andamento).
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