Escândalos
Rabo
de Palha Rabo-de-Palha – Rio Grande do Norte
O
SENADOR JOSÉ AGRIPINO MAIA (DEM-RN) É
APRESENTADO PELA MÍDIA GRANDE COMO UM ÍCONE
DA MORAL, SEMPRE ENTREVISTADO PARA DENUNCIAR AS
MAZELAS DO GOVERNO LULA E PONTIFICAR SOBRE ÉTICA
POLÍTICA. SEU PASSADO, PORÉM, NÃO
O ABONA.
Escândalo
Rabo de Palha – Rio Grande do Norte –
Arquivo 1
Escândalo
Rabo de Palha – Rio Grande do Norte –
Arquivo 2
O
"Dossiê Agripino" na Caros Amigos
Leia e ouça a seguir, na íntegra,
a matéria de capa da revista "Caros
Amigos" deste mês, que conta as peripécias
do senador José Agripino Maia (DEM), o
"neocoronel" potiguar:
OS RABOS-DE-PALHA DE UM FILHOTE DA DITADURA
O
SENADOR JOSÉ AGRIPINO MAIA (DEM-RN) É
APRESENTADO PELA MÍDIA GRANDE COMO UM ÍCONE
DA MORAL, SEMPRE ENTREVISTADO PARA DENUNCIAR AS
MAZELAS DO GOVERNO LULA E PONTIFICAR SOBRE ÉTICA
POLÍTICA. SEU PASSADO, PORÉM, NÃO
O ABONA.
Do
meio para o fim dos anos 1970, para fazer parte
do grupinho oligárquico que havia duas
décadas comandava a política do
Rio Grande do Norte, uma condição
era suficiente e necessária: aderir à
estratégia de renovação do
regime autoritário, preparando-se para
a transição. Isto é, a bênção
dos militares era mais que bem-vinda. O industrial
Osmundo Faria, dono da salina Amarra Negra e de
vasto latifúndio no agreste, estava para
ser anunciado sucessor do governador Cortez Pereira
(1971-1975). Não tinha experiência
em cargo eletivo – era suplente do senador
Dinarte Mariz. Mas contava com o apadrinhamento
de ninguém menos que o ministro do Exército,
general Dale Coutinho, ex-chefe da repressão
no Nordeste. Era, no dizer do político
gaúcho Leonel Brizola, o “filhote
da ditadura” da vez.
O
episódio que pesou contra Osmundo Faria,
em maio de 1974, deu-se no Hotel Nacional, na
Ribeira, centro de Natal, ponto de encontro de
lideranças políticas. O ex-deputado
Anderson Dutra, ao irromper no bar e cumprimentar
o deputado Ivan Rosado, aliado de Dinarte, cometeu
uma inconfidência que mudaria os rumos da
história política do Estado:
-
Aluízio é muito forte. Mesmo cassado,
tá ali cochichando com o futuro governador.
Na
noite desse mesmo dia, Dinarte já sabia.
Foi o suficiente para o senador voltar-se contra
o próprio suplente Osmundo Faria e opor-se
à nomeação dele. Aluízio
Alves, chefe de extenso clã, tinha ascendido
ao governo em 1960, após intensa luta eleitoral
contra o então governador Dinarte Mariz
e seu candidato, o deputado federal Djalma Marinho,
ruim de voto, mas importante quadro intelectual
da direitista União Democrática
Nacional, a UDN.
Apoiado
pelo PCB e outras forças de esquerda, Aluízio
representava interesses de modernização
num Estado dominado pela agropecuária.
Tinha, contudo, sólidas raízes udenistas
- foi eleito deputado federal seguidas vezes,
a partir de 1945, pela UDN, pilotando programas
de rádio e organizando ações
de assistência aos flagelados das secas.
Um populista cujo mandato de deputado federal
acabaria cassado em fevereiro de 1969 sob a acusação
de corrupção.
Mais
próximo dos generais da ditadura, Dinarte,
assim que soube da conversa no bar do hotel, escreveu
para o "general de plantão" Ernesto
Geisel, reclamando que nem sequer havia sido ouvido
sobre a escolha de Osmundo. Geisel chama Petrônio
Portela, seu principal articulador:
-
Petrônio, você já nomeou o
governador do Rio Grande do Norte?
-
Ainda não - responde Petrônio de
cima do muro.
-
Então, dê uma satisfação
ao senador Dinarte Mariz. Não anuncie agora,
não.
-
Tudo bem.
No
dia seguinte, morre Dale Coutinho, padrinho de
Osmundo e general linha-dura, que havia proclamado:
-
O Brasil melhorou muito quando começamos
a matar!
É
quando entra em cena o general Golbery do Couto
e Silva, eminência parda do governo Geisel:
convoca o amigo Tarcísio Maia para assumir
o governo potiguar e começar a renovar
a elite política estadual, como aconteceria
país afora.
Um
filhote gera outros: nasce a oligarquia Maia
Apesar
de ruim de urna, Tarcísio tem fama de bom
administrador - sob a batuta dos generais foi
presidente do extinto Ipase, Instituto de Previdência
e Assistência dos Servidores do Estado.
Mostrou-se desde cedo um filhote da ditadura implacável,
ávido pelo poder. A partir de 1975, montou
uma estrutura de trabalho social preconizada pelo
II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) e se
fez senhor da política estadual, indicando
o primo e compadre, o médico Lavoisier
Maia, seu secretário de Saúde, para
sucedê-lo na chefia de governo em 1979.
Segundo
José Antonio Spinelli, sociólogo
e professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação
em Ciência Sociais da UFRN, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, esse processo
de sucessão deu início à
montagem de uma máquina política
poderosa, que ocuparia o poder por longos anos.
-
Essa composição de poder vai ser
extremamente receptiva aos interesses do setor
econômico moderno que se consolida nos anos
60 e 70. Mas, assim como seus adversários
históricos, os aluizistas, trazia a marca
do velho na origem, a utilização
do nepotismo como forma de se reproduzir.
Por
sua vez, Lavoisier indica para a prefeitura da
capital o filho de seu primo Tarcísio,
José Agripino Maia, 33 anos, jovem engenheiro
da EIT, uma empreiteira potiguar, de sólidas
ligações com governos do Nordeste.
Antes de nomeado, José Agripino prestava
serviço para a EIT em São Luís,
onde a empresa mantém escritório
até hoje. Spinelli confirma: a indicação
de quadros técnicos, jovens, ligados ao
empresariado de ponta, para as capitais nordestinas,
obedecia à estratégia de perpetuação
do regime autoritário.
Embora
dependente dos recursos e das diretrizes técnicas
do governo federal, José Agripino, bom
de palanque, desembarca no Rio Grande do Norte
disposto a tocar, a qualquer custo, o projeto
d e poder do velho Tarcísio, seu pai. Inicia
em 1979 um programa habitacional que o torna popular.
Natural
de Mossoró, filho de pai paraibano e mãe
baiana, José Agripino faz parte do ginásio
em Natal, no Colégio Marista, onde estudam
os filhos da pequena burguesia. Aos 13 anos muda
para o Rio, onde cursa o Colégio Andrews.
Gradua-se em engenharia civil e faz pós-graduação
em estabilização de taludes.
Analisada
friamente, a trajetória de ânsia
pelo poder de José Agripino é exemplo
de sucesso nas urnas: governador em 1982, na primeira
eleição direta pós-1964,
contra ninguém menos que Aluízio
Alves; e novamente em 1990, em disputa com o primo
Lavoisier Maia (o mesmo que o nomeou filhote-prefeito
em 1979); e depois senador por dois mandatos.
Ajuda
dos milicos: o voto camarão
Voto
vinculado, invenção da ditadura,
que o povo apelidou de voto camarão: o
eleitor só podia votar em candidatos de
um mesmo partido, sob pena de anular o voto. Era
o que José Agripino precisava nas eleições
de 1982 para governador. Nem mesmo a popularidade
de Aluízio Alves conseguiu vencer a estrutura
montada em torno do jovem prefeito. Coordenador
da campanha de Aluízio, o jornalista Ticiano
Duarte detalha o que pesou a favor do adversário:
-
José Agripino foi beneficiado pelo voto
camarão. O PDS tinha tudo, estrutura maior,
poder, dinheiro. Eram quatro deputados do nosso
lado contra vinte e tantos do outro; eram seis,
oito prefeitos contra noventa. Cem vereadores
contra quinhentos. Aluízio venceu em Natal
por cem votos, mas perdeu feio no interior.
José
Agripino Maia toma posse em 15 de março
de 1983 e, dali a dois anos, será flagrado
numa reunião com auxiliares e 120 prefeitos,
acertando o que constituiria a maior fraude eleitoral
da história do Rio Grande do Norte.
Dessa
vez, José Agripino queria eleger prefeita
de Natal sua secretaria de Promoção
Social, Wilma Maia, em 1985. Tinham como adversário
o deputado estadual Garibaldi Alves Filho (PMDB),
sobrinho de Aluízio e hoje presidente do
Senado. O plano foi todo armado em quatro reuniões,
no Centro de Convenções, Zona Sul
de Natal.
José
Agripino simplesmente instruiu os prefeitos a
comprar títulos eleitorais, distribuir
presentes, incentivar tumultos nos processos de
votação e apuração
e, ainda, usa veículos oficiais com placas
frias para transportar eleitores do interior para
a capital. O caso ficou conhecido como Escândalo
Rabo-de-Palha, rótulo fornecido pelo próprio
José Agripino, que ao final de uma reunião
pediu:
-
Não podemos deixar rabo-de-palha.
Caros
Amigos reproduz aqui parte da conversa. Laudo
do Instituto Nacional de Criminalística,
da Polícia Federal, diz que a voz é
do governador.
José
Agripino -Os pobres estão indecisos. É
em cima desse povo que você tem que atuar.
Com uma feirazinha, com um enxoval, com umas coisinhas.
Iberê
Ferreira de Souza (secretário) - O povo
mais pobre que não se compromete, troca
o voto por qualquer coisa. Botar o milhp no bolso,
porque sem milho não funciona.
Álvaro
Alberto (financiador) - O meu jogo é aberto.
Se é preciso comprar os títulos,
vamos comprar. Tem que gastar dinheiro, tem que
chegar com o dinheiro.
O
conceito de democracia de Agripino é peculiar,
não é adequado a verbete de dicionário,
serve apenas a ele e seus apaniguados:
-
Vamos indicar ma área para vocês
trabalharem e inclusive nas áreas modestas,
de eleitores indecisos que são sensíveis
a uma conversa e a uma negociação,
que será feita por nós ou por eles.
Democracia é isto!
O
conceito de terrorista também:
-
E aí eu quero fazer um lembrete: importante
não é a quantidade de pessoal, é
a qualidade das pessoas, porque, se a gente traz
uma mocinha, como eu vi na eleição
de 82, mocinhas inexperientes, elas ocupam uma
função, não dão conta
do recado e perdem fácil para o comunista,
o terrorista, que vai se impor, intimidar e ganhar
no grito.
Incômoda
redemocratização
Com
a redemocratização e a nomeação
do peemedebista Aluízio Alves ministro
da Administração do governo Sarney,
os adversários de José Agripino
é que passam a dar as cartas em Brasília.
O plano do então governador, de "implodir"
o PMDB, não se concretiza. Pelo contrário.
Aluízio a autoconcessão da TV Cabugi
(afiliada da Globo) - sua família também
é dona de rádios e do jornal Tribuna
do Norte. Garibaldi Filho é eleito prefeito
de Natal. No ano seguinte, a chapa João,
Lavô e Jajá (João Faustino
para governador e Lavoisier Maia e José
Agripino, senadores) leva as duas vagas do Senado,mas
perde na "cabeça" para Geraldo
Melo,aliado dos Alves. O filhote não cai,
mas balança.
Nos
últimos trinta anos, alguns atos de José
Agripino povoam o folclore político da
região. Um deles, quem conta é o
colega Ailton Medeiros, blogueiro e apresentador
de programa de entrevistas de uma emissora de
televisão de Natal.
-
No primeiro governo de José Agripino, me
mandaram cobrir a visita do governador aos flagelados
do Seridó. Eu estava acompanhando o senador
Dinarte Mariz, quando José Agripino começou
a fumar numa piteira de ouro. Foi repreendido
por Dinarte: "O que é isso? Isso é
maneira de visitar os flagelados?" Daí,
o governador, meio sem jeito, apagou o cigarro.
Outro
detalhe é o gosto de José Agripino
por carros e equipamentos de som e imagem. Em
2002 declarou que tem um luxuoso Mercedes SL-320
de 114.500 reais; a sala de cinema instalada em
seu apartamento de Natal está avaliada
em mais de 150.000 reais.
Lourismo:
uma questão de bom gosto racial
Em
2006, o jornalista e escritor Orlando Rangel Rodrigues,
o Caboré, lançou Rabo-de-Palha:
o Jabá de Jajá. Caboré é
um tipo atuante, opositor da ditadura militar
e crítico feroz das oligarquias. Ganhou
notoriedade no Seridó nos anos 60 e 70
ao denunciar, na Rádio Rural, crimes de
pistolagem. Seu livro narra o Escândalo
Rabo-de-Palha de maneira engraçadíssima
e traz mais curiosidades sobre José Agripino.
Uma delas é o "lourismo". Define
o autor na página 89:
"...
era uma fauna que definia os mortais de puro sangue
do governo José Agripino. (...) criaram
a República de Jacumã, praia do
litoral norte potiguar. Belas mansões que
abrigavam, em veraneios, somente pessoas estritamente
do convívio palaciano: uma elite de políticos
de grandes currais eleitorais e empresários
bons de nota".
Segundo
Caboré, o lourismo não aceita, por
exemplo, Lula na presidência da República.
Peço para ele comentar estas declarações
do agropecuarista José Bezerra de Araújo
Júnior, suplente de José Agripino,
em entrevista para a Tribuna do Norte:
"Collor
foi o governo menos corrupto que o país
já teve" e "Eu acho que o Lula
é um populista analfabeto. Discrimino mesmo:
é analfabeto!"
-
Taí um exemplo do que faz o lourismo. Nunca
quiseram ver Lula presidente. São contra
metalúrgico, contra negro, contra pobre,
contra analfabeto. Acham que não têm
direito a nada. Convivo com muita gente do lourismo.
Já ouvi vários afirmarem ser contra
Barack Obama. Tem algum motivo dessa casta, dessa
elite ser contra Barack Obama a não ser
pelo fato de ele ser negro. Hein?
Com
a corda toda
De
volta ao governo em março de 1991 - após
derrotar o primo e ex-aliado Lavoisier -, José
Agripino deixa o cargo em abril de 1994 para concorrer
mais uma vez ao Senado. Volta a Brasília
sem que um escândalo de arrecadação
de seu governo seja esclarecido. O Ganhe Já
consistia numa loteria em que o cidadão
trocava notas fiscais por cupons que lhe davam
o direito de concorrer a prêmios - geladeira,
bicicleta, mochila. Transcrevo a manchete e o
começo de uma reportagem do JN, Jornal
de Natal, de 21 de novembro de 1994:
"A
Falência do Ganhe Já e o Arrocho
Fiscal. A campanha do Ganhe Já, denunciada
sistematicamente por este jornal como uma farsa,
que vendia uma falsa realidade do Rio Grande do
Norte (tendo inclusive motivado a decisão
do JN a não publicar qualquer anúncio
da campanha), faliu sem jamais ter alcançado
seu objetivo, aumentar a arrecadação
do Estado. Foi apenas um sangradouro de dinheiro
que financiou a Dumbo Publicidade e fornecedores
e levou o Erário a esvaziar-se a ponto
de o Estado não ter dinheiro em caixa sequer
para o pagamento da folha do funcionalismo."
O
semanário JN vendia 7.500 exemplares (nada
mal para uma cidade do tamanho de Natal). A reportagem
a seguir ilustra bem o que estava por atrás
do Ganhe Já:
"O
empobrecimento do Estado, que tem hoje uma legião
de 1 milhão de flagelados (...), se deu
na exata medida do enriquecimento de 'amigos do
peito' do governador, com destaque para os proprietários
da Dumbo Publicidade, responsável pela
farsa do Ganhe Já, que manteve quase toda
a imprensa amordaçada durante os quatro
anos de governo pefelista."
A
Dumbo Publicidade não tocava o dito programa
de arrecadação com zelo, como mostra
o JN de 28 de novembro de 1994:
"Como
tudo que cercou o Ganhe Já antes de sua
falência total, a participação
da empresa Informe Prestação de
Serviços Ltda., terceirizada pela Dumbo
Publicidade para executar a campanha, também
é um mistério. E dos mais nebulosos.
Contratada sem licitação, depois
que o então secretário de Fazenda
Manoel Pereira anulou inexplicavelmente a concorrência
que havia sido aberta justamente para se escolher
a firma que iria trabalhar no Ganhe Já,
a Informe viveu sempre nas sombras."
José
Agripino nunca processou o JN pelas denúncias.
De
bem com a vida
Rua
Carlos Passos, bairro do Tirol, área prá
lá de nobre. É aqui, no condomínio
Aurino Vila, que mora na cobertura com piscina
o senador José Agripino. É um edifício
de dezesseis andares, de mau gosto arquitetônico
- de fachada branca empastilhada. Não é
para qualquer um. É para o raro cidadão
que tem 1 milhão e meio de reais no bolso
sobrando. Grana, para José Agripino, não
é problema. Menos ainda depois que o INCRA
comprou, já no governo Lula, três
imóveis dentro da fazenda São João,
antes pertencente ao pai dele, Tarcísio,
em Mossoró. O governo comprou os imóveis,
com 3.985 hectares, por quase 4 milhões
de reais. Nada mal para quem já declarava
à Justiça Eleitoral, em 2002, quase
3 milhões de patrimônio.
Apuração
Estive
em Natal na segunda metade de fevereiro passado.
Durante uma semana consegui entrevistar apenas
três pessoas (e todas sem se identificar)
sobre o Rabo-de-Palha e o Ganhe Já. Ninguém
quer tocar no assunto. Fácil explicar:
a família de José Agripino, líder
do DEM (ex-PFL) no Senado, controla cinco rádios
e uma emissora de televisão, a TV Tropical
(afiliada da Record); Iberê Ferreira de
Souza, seu ex-secretário, é vice-governador
e secretário de Recursos Hídricos,
auxiliar justamente da governadora Wilma de Faria,
ex-mulher de Lavoisier Maia e secretária
de Promoção Social de José
Agripino que, caso vencesse Garibaldi Filho no
pleito de 1985, se tornaria a maior beneficiária
do Rabo-de-Palha.
Tem
mais, muito mais: Álvaro Alberto, financiador
de campanha envolvido no esquema, é um
sujeito muito rico. Foi dono da falida Associação
de Poupança e Empréstimo do Rio
Grande do Norte (Apern), hoje preside a Companhia
Hipotecária Brasileira (CHB), empresa de
obtenção de crédito com atuação
em todo o país. O próprio resultado
da eleição de 1985 ajudou o caso
a cair em esquecimento: Garibaldi Filho, hoje
presidente do Senado, venceu o pleito, ajudado
pela exposição do escândalo
pouco antes da eleição. Ou seja:
ganhou a eleição, para que contestar
o resultado? Outra ironia: Garibaldi Filho e José
Agripino hoje estão aliados, Costumam cumprir
agenda, percorrendo juntos o Estado.
O
Rabo-de-Palha é tabu em Natal, cidade onde
nasci e cresci ouvindo em casa, na escola, na
rua a história das "feirinhas do Centro
de Convenção" de que falava
Agripino. O mesmo acontece com o Ganhe Já.
Como todo lugar em que as oligarquias dominam
a política e controlam os veículos
de informação, esse tipo de assunto
fica restrito à casa dos envolvidos. O
que faz sentido: não existe lugar mais
apropriado para lavar a roupa suja.
TAL
PAI
Cinqüenta
e cinco deputados federais (10,7 por cento da
casa) detêm concessões de radiodifusão.
O Rio Grande do Norte encabeça o rol de
maiores detentores: metade da sua bancada.
O
deputado potiguar Felipe Maia (DEM), 34 anos,
filho de José Agripino e neto do velho
Tarcísio, possui cotas nas rádios
A Voz do Seridó e Rádio Curimataú
de Nova Cruz. Chama atenção o valor
das cotas: 32 reais. A declaração
de bens do parlamentar em 2006 mostra que sua
participação na Rádio Curimataú
é de apenas 10 reais; na outra, investiu
mais alto: 22 reais.
A
maior parte de seus quase 4 milhões de
reais declarados está numa de suas oito
contas do Fundo de Investimentos Sudameris. Felipe
tem apartamentos em bairro chique, empresa de
revenda de motos, contas em fundos de investimentos.
E ainda a Comav, que, mediante concessão
pública, transporta o combustível
que abastece aeronaves no aeroporto de Parnamirim
(Grande Natal).
Felipe
Maia tem participação, também,
na emissora de televisão do pai, a TV Tropical
(afiliada da Record), com 2.000 reais de cotas.
O artigo 54 da Constituição diz
que deputados e senadores não podem ter
participação no tipo de empresa
em que Felipe Maia atua: concessionárias
da administração pública.
E na Câmara dos Deputados ele é suplente
do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar...
Léo
Arcoverde, com colaboração
de Raquel Souza
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