V CARAVANA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS
RELATÓRIO
Uma Amostra da Realidade dos
Abrigos
e Asilos de idosos no Brasil
Comissão de Direitos Humanos
Câmara dos Deputados
Brasília, março de 2002
Relatório da V Caravana Nacional
De Direitos Humanos
Sistema Asilar Brasileiro
Brasília, março de 2002
APRESENTAÇÃO
ENTRE O SILÊNCIO E A MORTE
Deputado
Marcos Rolim
É
difícil saber quantos são os idosos institucionalizados
no Brasil. Pelos dados do governo, existem
hoje em torno de 19 mil idosos atendidos
em instituições asilares. O número pode
ser muito maior se levarmos em conta que
muitas das instituições do tipo não estão
cadastradas e outras tantas funcionam,
efetivamente, na clandestinidade. Durante
uma semana, em outubro de 2001, estivemos
visitando casas de internação de idosos
em quatro estados brasileiros. Ao todo,
foram 28 instituições visitadas
das quais apenas 6 nos pareceram
adequadas ou em boas condições. Pelo que
pudemos perceber, há um modelo largamente
hegemônico no Brasil quando falamos em
instituições para idosos: trata-se do
modelo asilar. Poderíamos definir esse
modelo afirmando que os asilos são aquelas
instituições onde se verifica, primeiramente,
uma segregação dos idosos diante da comunidade
de entorno. Como regra, os idosos estão
apartados de qualquer convivência comunitária;
não saem do asilo ou, quando o fazem,
realizam apenas breves e vigiadas incursões.
Além desta apartação, tão típica das "instituições
totais" (Goffmann), deveríamos agregar
outra característica fundamental, a saber:
o abandono. Os idosos internados em asilos
estão abandonados duplamente. Primeiro,
pela família; segundo, pela própria instituição.
Esse duplo esquecimento os condena a uma
realidade sempre idêntica, não raras vezes
definida por eles mesmos como um cotidiano
onde se "come e dorme". Aos idosos vitimados
por esse modelo asilar não se oferece
atividades. Para todos os efeitos, eles
estão internados em um espaço cuja realidade
se situa entre o silêncio e a morte. O
silêncio incontornável da vida que resta
e o silêncio futuro que resultará do fim
da vida.
Nos asilos, os idosos não são concebidos como cidadãos. São
resquícios, lembranças avulsas, lamentos. Pessoas tratadas como
absolutamente incapazes, mesmo quando no gozo pleno de suas faculdades
mentais ou independentes fisicamente. Não podem decidir o que quer que
seja, devem responder prontamente às normas internas definidas sempre por
outros, comer a comida que outros preparam, dormir e acordar nas horas de
praxe, tomar a medicação que lhes é dada e aguardar. Aguardar,
indefinidamente, por nada. Em grande parte das instituições, não possuem
sequer o direito ao nome próprio. Aqueles que interagem com eles, não
sabem seus nomes. O espaço que habitam não é o seu espaço. Dormem em
quartos onde as camas quase se tocam, junto com outros idosos que jamais
viram antes. Não possuem privacidade, nem contam com mobiliário próprio
que lhes permitam guardar seus pertences e ter a eles acesso. Nesses
espaços onde se estranham, não contam, em regra, com uma estrutura física
adaptada a sua condição física ou às dificuldades que passam a
experimentar para locomoção e outras atividades da vida diária (AVD). Os
asilos onde foram deixados costumam lhes construir armadilhas perigosas:
às vezes, uma escada íngreme, sem corrimões; às vezes, um banheiro úmido e
escorregadio, sem amparos. Por conta disso, caem freqüentemente e se
machucam.
Muitas dessas casas de idosos são, apenas, pequenos e
modestos empreendimentos privados pelos quais seus proprietários auferem
renda. Para isso, apropriam-se das aposentadorias, pensões e outros
benefícios dos internos; muitas vezes, manipulando diretamente os cartões
bancários de seus "clientes" e a generosidade da comunidade envolvidas em
campanhas beneficentes. Outras instituições manifestam o resultado de um
"espírito filantrópico" que se imaginou auto-suficiente. Nesses casos, a
boa intenção costuma ser rapidamente ultrapassada pelas carências e
dificuldades oferecidas aos próprios internos por conta da ausência
absoluta de qualquer profissionalismo, seja na administração das Casas,
seja no cuidado com os idosos. Tanto numa quanto noutra situação, o que
temos são depósitos de pessoas desassistidas.
Nossa Caravana permitiu conhecer um tanto dessas
instituições e nosso compromisso, com o presente relatório, além de
compartilhar a experiência que tivemos, é oferecer uma contribuição para o
desenvolvimento de políticas públicas que enfrentem, no Brasil, o desafio
de assegurar o envelhecimento com dignidade a todos.
Deveríamos dedicar mais atenção ao tema, senão por outro
motivo pelo fato de que ele tende a ser um dos grandes desafios das
próximas décadas. Todos os estudos demográficos em nosso país atestam um
fato inconteste: nossa população está envelhecendo proporcionalmente. De
um lado, pelo aumento da expectativa de vida; de outro, pela redução
abrupta das taxas de natalidade, o que se observa é o crescimento
proporcional da população com 60 anos ou mais. Em 1900, a expectativa de
vida no Brasil não ultrapassava os 33,7 anos; em 1940 alcançou os 39 anos
e, em 1950, os 43,2 anos. Em 1960 já era de 55,9 anos e entre as décadas
de 60 e 80, alcançou os 63,4 anos. Atualmente, está em 68 anos e em 2025
será de 80 anos. Hoje, as pessoas com mais de 60 anos já são 14,1 milhões
de brasileiros, o que significa 9,1% da população. Dentro de 20 anos, os
idosos em nosso país serão 32 milhões e representarão 15% do conjunto da
população. Ocuparemos, então, o sexto lugar no ranking mundial de
populações idosas. Em 2025, calcula-se, 2/3 dos idosos do mundo estarão em
países da "periferia": 284 milhões na China, 145 milhões na Índia, 32
milhões no Brasil e na Indonésia, 18 milhões no Paquistão, 17 milhões no
México e em Bangladesh e 16 milhões na Nigéria.
No caso brasileiro, essa evolução assinala uma radical
mudança no perfil demográfico e será a responsável pela duplicação da
população de idosos em 20 anos. O processo já tem registrado um impacto
considerável sobre as demandas por saúde e deverá alterar, também, as
políticas sociais. Na área da saúde, tem-se, atualmente, por exemplo, um
peso muito maior nas doenças crônicas degenerativas, o que tem implicado
em custos crescentes de internação, tratamento e medicação. Toda essa
mudança, não se fez acompanhar, ainda, seja por uma legislação moderna e
garantidora dos direitos dos idosos, seja por uma rede institucional que
lhes assegure proteção e amparo. A Política Nacional do Idoso (PNI),
resultante da Lei 8.842 de 04 de janeiro de 1994, ofereceu diretrizes
importantes que, não obstante, jamais constituíram algo mais do que uma
promessa. No âmbito governamental, observa-se a importância conferida aos
idosos quando se descobre o que os orçamentos públicos realizam em
programas destinados a eles.
Será preciso alterar esse quadro se quisermos nos preparar
para o desenvolvimento de políticas públicas na área nas próximas décadas.
Além de recursos e atenção das diferentes instâncias de governo, será
preciso assegurar algumas mudanças de ordem cultural em nosso país. Entre
nós, normalmente, a velhice é vista como o equivalente a um conjunto
progressivo de perdas. Ela seria, então, primeiramente, uma lenta e
inexorável "subtração de humanidade". Um olhar mais atento sobre o
processo de envelhecimento, todavia, haverá de concluir que este olhar
assinala um estereótipo cultural. Envelhecer é, ao largo das naturais
mudanças físicas e sensoriais, também um processo de crescimento. O
envelhecimento é, em primeiro lugar, uma das condições para a conquista da
sabedoria. Apenas a experiência acumulada e a reflexão madura podem nos
conduzir a esse lugar especial, tão valorizado, por exemplo, nas tradições
orientais. O vigor físico e a beleza do corpo, aliás, só podem adquirir um
status equivalente à felicidade em uma sociedade que se esvazia de
significações morais e que, por decorrência, despreza a cultura. De outra
parte, há que se questionar, também, a postura daqueles que, diante das
necessidades de cuidado a serem dispensados a um idoso no âmbito de sua
família, optam pela sua internação em um asilo. Essa prática, encontrada
não apenas entre as famílias mais carentes, mas também entre famílias de
classe média e alta, estrutura-se sobre a noção de que aquele idoso
transformou-se em um "estorvo". É preciso, então, "livrar-se dele". Ora,
parece evidente o quanto tal posição revela a respeito de determinada
insensibilidade moderna. Nos asilos que visitamos, recolhemos dezenas de
histórias que dão conta dessa maldade que nossas tradições parecem
amparar. Os idosos com quem conversamos desejavam, acima de tudo, estar no
convívio dos seus, repartir com seus filhos e netos a vida que ainda pulsa
e, quando falavam neles, era possível notar que seus olhos brilhavam. Por
que razão vamos continuar admitindo que os mais jovens privem os idosos
desse brilho?
-
RELATÓRIO:
I
- SÃO PAULO
A V Caravana Nacional de Direitos Humanos iniciou seus
trabalhos na cidade de São Paulo, segunda-feira, dia 15 de outubro. Além
dos Deputados Federais Padre Roque (PT/PR) e Marcos Rolim (PT/RS) , da
jornalista Janete Lemos, assessora da CDH e da assistente social Jurilza
Mendonça, representante da Comissão Especial do Idoso, do Conselho
Nacional dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da Justiça,
somaram-se aos trabalhos o Deputado Federal Arnaldo Faria de Sá (PL/SP) ,
o Dr. João Estevan da Silva, coordenador do Grupo de Atuação e Proteção ao
Idoso do Ministério Público de São Paulo e a Dra. Tomiko Born, assistente
social, representando a Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia.
Na Secretaria estadual de Assistência e
Desenvolvimento Social (SADS), há 525 Instituições
beneficentes/filantrópicas ou estatais para internação de idosos
regularmente inscritas. Desse total, há 194 asilos que integram a rede de
instituições conveniadas. Não se conhece o total de Casas de Repouso ou
Casas Geriátricas com fins lucrativos, mas sabe-se que elas estão
concentradas na cidade de São Paulo e nos municípios de maior porte. Não
há registros exatos sobre a demanda reprimida nos asilos de São Paulo,
mas, em 1999, a SADS estimava em 130 mil pessoas o número dos que
aguardavam vagas nas instituições asilares existentes.
A realidade das instituições asilares de São Paulo tem
experimentado um forte impacto nos últimos anos por conta da atuação do
Ministério Público Estadual. Em apenas 7 anos, a fiscalização sistemática
do MP fez com que 48 asilos fossem fechados e mais de 200 prisões de
proprietários e funcionários de instituições irregulares fossem
decretadas. Tais medidas projetaram seus efeitos em toda a rede permitindo
que a maioria das instituições realizassem investimentos para a melhoria
dos serviços prestados e adaptação de suas instalações. Como resultado,
alcançou-se avanços consideráveis em itens importantes como alimentação,
higiene e eliminação de barreiras arquitetônicas. Muito entretanto, ainda
resta por fazer, conforme nossa inspeção demonstrou.
1) ASSOCIAÇÃO "O RAIAR DO SOL" -
o primeiro
depósito de idosos
A primeira visita da Caravana foi à Associação "O Raiar
do Sol" no Cambuci , em São Paulo (Rua Luís Gama 500). A entidade
funciona muito precariamente em um antigo prédio do INSS e se mantém
graças a doações e promoções beneficentes. No dia de nossa visita
havia 93 idosos internados, cerca de 20% deles apresentando um quadro
de dependência. Do total de internos, 36 –segundo nos informou o
diretor – contribuem com as despesas de manutenção do asilo com suas
pensões ou aposentadorias. Como regra, os internos permanecem todo o
dia sem atividades. Não desfrutam, também, de privacidade e seu acesso
aos meios de comunicação é precário.
O prédio é absolutamente inadequado para uma instituição
de internação de idosos, a começar pelo fato de possuir 4 andares com
acessos exclusivos por escadas. Essa característica dificulta em muito
o deslocamento dos internos e faz com que alguns deles permaneçam
confinados aos seus quartos, sem condições de acesso ao pátio interno.
Essa é, por exemplo, a situação do Sr. João Coelho da Costa, 61 anos,
corinthiano, ex-sapateiro ortopédico, portador de deficiência física,
que se arrasta para ir ao banheiro, mas que não pode descer sozinho as
escadas.
Observamos uma carência de pessoal técnico
especializado. O responsável pela instituição, Sr. Djalma Batista de
Oliveira, é enfermeiro e trabalha no "Raiar do Sol" como voluntário.
Em que pese o esforço e a atenção que parecem caracterizar sua postura
na relação com os idosos, o fato é que a população ali residente
encontra-se em situação de abandono. A maior parte dos internos não
recebe visita de familiares nem desenvolve qualquer atividade externa.
Muitos parecem, inclusive, conformados com essa situação, como se não
restasse mesmo outro destino aos velhos. Seu Milton, por exemplo, 72
anos, que veio de Minas Gerais para São Paulo em 1935, aposentado pela
construção civil, nos disse que vive de suas recordações e que já não
se importa com nada: "- A gente luta tanto para educar e criar os
filhos que quando fica velho já não tem mais nada....Fica só a
recordação, eu fui..."
Trabalham no estabelecimento 22 pessoas, sendo 12
cuidadores, 4 auxiliares de enfermagem, 4 auxiliares de serviços
gerais e 1 assistente social, além do diretor. Não recolhemos qualquer
relato indicando situações de maus tratos ou de violência contra os
internos na instituição.
A associação "O Raiar do Sol" não está com sua
documentação legal regularizada, não dispondo, por isso, do registro
de utilidade pública. Segundo seu diretor, as despesas gerais com a
instituição alcançam a média de 22 mil reais/mês.
Pudemos perceber que pelo menos alguns dos internos que
pagam pela internação não possuem informações a respeito desse custo,
nem sabem situar ao certo o que foi feito de suas pensões e/ou
aposentadorias. Seu Américo, por exemplo, 71 anos, que morou 18 anos
em Portugal, que serviu ao Exército e que trabalhou muito tempo em
restaurantes e hotéis de São Paulo, afirma dispor de uma aposentadoria
de "mais ou menos 400 reais", mas não sabe o que é feito dela, nem
quanto daquele total é utilizado para pagar sua internação. Dona
Charlotte, 88 anos, húngara de nascimento e ex-professora de francês,
nos deu a entender que possuía propriedades e uma renda que lhe
permitiria viver uma outra situação ao final de sua vida.
2) CLÍNICA GERIÁTRICA JOÃO TONIOLO - O asilo na sua
versão rica
A Caravana tomou a decisão de visitar uma das inúmeras
Clínicas em São Paulo que abriga idosos das camadas mais privilegiadas
da sociedade. Nos interessava, sobretudo, o contraste com o tipo de
instituição de cuidados precários que acabávamos de conhecer.
Aleatoriamente, chegamos, então, à Clínica Geriátrica João Toniolo no
bairro da Aclimação (Rua Espírito Santo, 273).
A instituição, de natureza privada, é dirigida por
médicos geriatras e contava, no dia de nossa visita, com 23 internos.
A maioria dos internos apresentava um quadro de dependência. A equipe
de funcionários perfaz 14 profissionais, incluindo psicólogo,
terapeuta ocupacional, nutricionista e fisioterapeuta. A Clínica
funciona em uma casa com 10 quartos, mais 4 em uma área anexa, aos
fundos.
O custo médio de uma internação aqui fica em torno de
1.500 a 2.500 reais/mês.
A Clínica oferece musicoterapia aos internos e, tanto
quanto nos foi possível, constatar, dispõe dos recursos técnicos
necessários e indispensáveis aos cuidados dos idosos dependentes. Os
internos não dispõem de atividades externas.
Seja como for, o quadro geral nos pareceu guardar
semelhanças surpreendentes com outras instituições de natureza asilar,
destacadamente no que se refere à ausência de sentido que parece
revestir o cotidiano dos idosos ali internados. Nos chamou a atenção,
também, as limitações de espaço em toda a unidade e, especialmente, a
ausência de uma área maior para a permanência dos internos ao ar
livre.
3) CASA DO ANCIÃO - ociosidade, demência e
abandono
A Caravana deslocou-se para a periferia de São Paulo
chegando até uma instituição chamada de "Centro de Cidadania de São
Miguel Paulista (Avenida Coca, 85) onde funciona a "Casa do Ancião".
Ali, quando de nossa visita, estavam, depositados 57 idosos, muitos
deles com um quadro de dependência e, alguns, com problemas graves de
saúde mental. O responsável pela instituição, Sr. Ivo Tadeu Ribeiro, é
administrador e trabalha há 6 anos na área. Segundo nos informou,
possui uma despesa mensal de 24 mil reais, suportada com as
contribuições dos próprios idosos, com verbas públicas e com doações.
Há carência de pessoal técnico e os serviços médicos são
assegurados por trabalho voluntário. Também é voluntário o trabalho de
um profissional em nutrição. Na área de fisioterapia, há uma
estagiária, apenas. Os 9 funcionários que cuidam dos internos se
revezam em funções de limpeza e recebem, em média, 200 reais por
mês.
O espaço físico da unidade é absolutamente inadequado.
Inúmeras são as barreiras arquitetônicas para o deslocamento dos
internos. O quadro geral constatado no que se refere às condições de
higiene também é bastante precário.
Não há qualquer tipo de programa envolvendo atividades
com os idosos pelo que não se estimula sua autonomia. Aqui, passa-se o
tempo todo sentado, tomando sol ou assistindo televisão. Na palavra de
uma das internas: "A vida aqui é comer e dormir".
O isolamento social vai produzindo um quadro geral de
apatia e conformismo entre os internos. Dona Dirce, por exemplo, 62
anos, passa suas tardes sentada sem ter o que fazer, mas afirma:
"Estou bem no pedaço"; dona Maria Deonízia, 71 anos, diz, apenas:
"Estou mais perto do céu... a idade vem, entende? E a gente vai
baixando até que um dia abaixa e não levanta mais..."
Na instituição, encontramos casos de pessoas não idosas
com um quadro de demência e abandono.
4) "LAR DAS MÃEZINHAS" – aqui se aprende o valor do
silêncio
Nossa quarta e última visita em São Paulo foi ao "Lar
das Mãezinhas", na Penha ( Rua Júlio Collaço, 179). A instituição
abrigava na data de nossa inspeção 40 idosas sendo que, desse total,
25 apresentavam um quadro de dependência. A responsável pela unidade,
dona Ivani Milani de Almeida, trabalha há 12 anos na área e nos
informou que a despesa mensal do asilo fica em torno de 14 mil reais.
A instituição recebe verbas públicas, arrecada cerca de 50% das
internas o correspondente a um salário mínimo por mês (20X180 reais,
portanto) obtendo os valores restantes com doações junto à
comunidade.
O Lar das Mãezinhas é, do ponto de vista arquitetônico,
quase uma armadilha. As condições de acessibilidade e deslocamento
são, mais do que precárias, perigosas. Em alguns pontos da
instituição, uma queda pode ser fatal. O asilo não dispõe de
refeitório o que obriga as internas a fazerem as refeições em suas
camas.
Um dos alojamentos coletivos possui, exatamente, 23
camas o que faz lembrar um hospital improvisado em um campo de
batalha. Outro quarto possui 9 camas. Essa característica, além de
outras repercussões negativas, praticamente elimina qualquer chance de
privacidade das internas.
Também aqui não há um corpo técnico mínimo e os recursos
humanos disponíveis são muito precários. A casa conta com a boa
vontade de um assistente social e um psicólogo, ambos em trabalho
voluntário.
Logo no corredor de entrada da instituição, pode-se ler
um cartaz onde se escreveu: "Feliz de ti que já conheces o valor do
silêncio" , uma frase que parece resumir bem o destino que se pretende
reservar àquelas idosas e a tantos outros que, por infelicidade,
terminarão seus dias em um asilo.
Tanto quanto nos foi possível constatar, a relação das
cuidadoras com as internas é, em regra, bastante impessoal e
desprovida de um investimento afetivo, o que, muito facilmente, pode
pavimentar o terreno para práticas de maus tratos. Dona Adelina, por
exemplo, que não pode caminhar – nem se deslocar pela casa porque não
há cadeiras de rodas disponíveis – estava com dois grandes hematomas
nos seus antebraços. Uma das atendentes, perguntada pelo deputado
Marcos Rolim sobre a razão de uma daquelas marcas, respondeu
rapidamente que aquela "mãezinha" tinha se machucado batendo o braço
no criado mudo. Quando o deputado mostrou a outra marca no outro braço
da idosa, a explicação não pôde ser mantida. Como as cuidadoras banham
dona Adelina em seu próprio leito, é bem provável que as marcas nos
braços sejam o resultado de uma manipulação diária feita às pressas ou
impacientemente.
Chamou nossa atenção o fato de que as cuidadoras, ao se
referirem às internas sob sua guarda como "mãezinhas", desobrigam-se
mais facilmente da tarefa de tratá-las pelos seus nomes próprios. Ora,
alguém reduzido a um epípeto é também alguém a quem se nega o direito
à individualização. Há, com efeito, uma epitetomania no trato com
idosos e expressões tão comuns do tipo "vovozinhas" ou "mãezinhas" só
aparentemente insinuam carinho. Como regra, elas são apenas o sinal de
uma distância.
A ociosidade nesse asilo é, também, a regra. Por ela,
todo um potencial criativo e produtivo de muitas daquelas idosas é
desprezado. Dona Josemira, por exemplo, tem apenas 59 anos mas foi
internada por conta de seqüelas de um AVC. Como não tem o que fazer,
passa o dia todo rabiscando poemas em um muito caprichado caderno que
exibe orgulhosamente. Ali escreveu coisas como: "a juventude é a
vitória da coragem" Ou, "Os anos enrugam o rosto. Renunciar ao ideal,
entretanto, enruga a alma". Ou , ainda: "Jovem é aquele que se admira,
que se maravilha..."
II - RIO DE JANEIRO
A Caravana, no Rio de Janeiro, trabalhou durante toda a
terça-feira, dia 16 de outubro e contou com a presença dos deputados
federais Padre Roque (PT/(PR) e Marcos Rolim (PT/RS); da jornalista e
assessora da CDH Janete Lemos; da assistente social Jurilza Mendonça,
representante da Comissão Especial do Idoso, do Conselho Nacional dos
Direitos da Pessoa Humana do Ministério da Justiça; da Dra, Elizabeth
Viana Freitas, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia (SBGG); de Isabel Monteiro Lopes, Presidente do Conselho
Estadual do Idoso; da deputada estadual Tânia Rodrigues (PSB), relatora da
CPI do Idoso da AL/RJ; Leila Cerqueira, assessora parlamentar da Alerj;
Sara Nigri, vice-presidente da Associação Nacional de Gerontologia. No Rio
de Janeiro, o trabalho desenvolvido pela Assembléia Legislativa, através
da CPI do Idoso, presidida pelo deputado estadual Sérgio Cabral e relatada
pela deputada estadual Tânia Rodrigues, permitiu um levantamento
sistemático da situação da qual teríamos, com nossa visita, uma pequena
mostra. Instalada em 7 de março de 2001, a CPI , a partir de um conjunto
de denúncias de maus tratos a idosos, providenciou na inspeção de 129
Asilos, Casas de Repouso e congêneres, cada uma delas com termo registrado
de inspeção. Seu serviço de "Disque-Idoso" recebeu 358 denúncias de maus
tratos, violência ou discriminação a idosos no RJ. O relatório final da
CPI, ao qual tivemos acesso antes mesmo de sua apresentação oficial,
impressiona pela gravidade das denúncias e amplitude do trabalho
realizado. No decorrer das inspeções, 11 instituições foram interditadas;
alguns dos seus responsáveis foram presos ou indiciados por
"Apropriação Indébita" (art. 168 do Decreto Lei 2.848/40, Código
Penal), ou por "Abandono de Incapaz" (art. 133) , ou por
"Omissão de Socorro" (art. 135) , "Maus Tratos" (art.136),
"Constrangimento Ilegal" (art. 146), "Cárcere Privado" (art.
148), "Tortura" (Lei 9.455/97) ou por "Propaganda Enganosa"
(art.37 da Lei 8.078/90 do Código de Proteção ao Consumidor). De todas as
instituições vistoriadas, verificou-se que 75 delas não possuíam Alvará de
Funcionamento, o que caracteriza uma situação de clandestinidade e
demonstra a inexistência de fiscalização. Para que se tenha uma idéia
aproximada do estado das instituições inspecionadas, 2 delas não possuíam
piso antiderrapante; 86 não possuíam escadas com corrimão; 76 não contavam
com barras de apoio nos banheiros e 77 estavam superlotadas. Para a CPI,
101 das instituições inspecionadas estavam em situação irregular
infringindo a legislação e a portaria 819/89 do Ministério da Saúde que
regulamenta o funcionamento desse tipo de instituição. Entre as
instituições visitadas, a CPI concluiu que apenas 11 ofereciam bons
serviços e uma atenção digna aos idosos.
5) ABRIGO EVANGÉLICO "RAZÃO DE VIVER" - religião e
solidão
A primeira instituição visitada no Rio de Janeiro foi o
Abrigo "Razão de Viver", em Realengo, Zona Oeste do Rio (Av.
Terterituba, 450, Jardim Novo Realengo). Trata-se de uma instituição
asilar de inspiração religiosa, dirigida pela senhora Lourdes Ferreira
da Silva, esposa de um pastor da comunidade (Abdias de Araújo
Ferreira). Quando de nossa visita havia 31 idosos internados.
A situação aqui, como que num espelho da realidade
social circundante, é de absoluta precariedade. A instituição funciona
em uma casa inadequada para a internação de idosos, com barreiras
arquitetônicas e ausência de adaptações como corrimões ou camas
protegidas. Há uma rampa que dá acesso a um pavimento superior, mas a
sua inclinação está muito além dos 10 graus preconizados pelas normas
técnicas de forma que ela mesma passa a oferecer riscos. Não há
técnicos disponíveis para o trabalho com os idosos, nem cuidados
médicos ou de outros profissionais da área de saúde para com os
internos dependentes. Ao todo, apenas 7 pessoas trabalham no asilo,
sem carteira assinada e ganhando, em média, 200 reais por mês. Não foi
possível recolher informações sobre o orçamento da instituição, nem
sobre as suas fontes de financiamento.
Quanto à medicação, constatamos que cada um dos internos
possui um vidro com seu nome, no interior do qual estão, misturados e
fora de suas embalagens, todos os remédios que ele deve tomar. A
medicação é distribuída sem qualquer controle ou supervisão
especializada e manipulada por "práticos".
Não há dieta específica aos internos que apresentam
problemas como a diabete ou hipertensão. Os idosos encontram-se em
total ociosidade, sem qualquer tipo de atividade que estimule sua
independência e em uma situação de isolamento social.
O abandono e a solidão são suportados pela maioria dos
internos como partes naturais de um desígnio divino. Dona Laura, por
exemplo, têm 4 filhos que não a visitam. Logo quando da nossa entrada
na instituição, iniciou uma longa conversa como deputado Marcos Rolim
a quem solicitou um favor muito especial: enquanto caminhavam pelo
asilo, dona Laura pediu ao deputado assentimento para que ela lhe
apresentasse as suas amigas como seu filho, o que fez, alegremente, o
tempo todo. Dona Augusta, 81 anos e completamente lúcida, também sabe
o que é a solidão. Ainda jovem perdeu as duas pernas quando foi
atropelada e vive, por isso, em uma cadeira de rodas. Sua história é
mais triste porque perdeu seus 4 filhos em um acidente no interior de
São Paulo. As crianças se deslocavam em uma Kombi para passar suas
férias na casa de uma amiga de dona Augusta quando o veículo chocou-se
com um caminhão. Morreram todos. O marido de dona Augusta a culpou
pelo trágico desfecho e , depois disso, só lhe cumprimentava dizendo:
" -Bom dia, criminosa.." Dona Augusta termina essa história com os
olhos úmidos e com a expressão: "- Se sofrimento matasse..." Dona
Augusta é crente da Assembléia de Deus. Além de não ter as duas pernas
é seqüelada de AVC, o que lhe retirou também o movimento da mão
direita, mas se considera uma mulher feliz: " – Não posso andar, mas
tem gente que tem as duas pernas e não anda. É pior, não é?"
Essa instituição havia sido inspecionada pela CPI do
Idoso da AL/RJ em 19 de abril de 2001. As constatações feitas à época
(Anexo II do Relatório da CPI) foram as mesmas. Segundo a CPI, o
abrigo Razão de Viver "não tem a menor condição de funcionamento" (p.
22)
6) ABRIGO SÃO JOSÉ - mais abandono
A Segunda instituição visitada pela Caravana no Rio de
Janeiro foi o Abrigo São José, no Kosmos (Rua dos Caquizeiros, 851). O
diretor , Sr. Américo Sobral, era comerciante mas já atua na área há 6
anos. No dia de nossa visita havia 55 idosos no asilo. Ao todo, 13
pessoas trabalham na instituição e as despesas do asilo costumam
alcançar valores entre 8 a 10 mil reais/mês. A maioria dos internos
aqui, senão todos, pagam por suas internações com importâncias que,
segundo nos foi possível apurar, variam de 180 a 400 reais.
Essa instituição fica localizada em um terreno
privilegiado (10 mil metros quadrados) com espaços amplos de
circulação externa. A área faz lembrar um pequeno sítio, ou uma casa
de campo. Todo o terreno, entretanto, é cercado por muros altos o que
isola os internos do mundo exterior. Logo na entrada, há um cartaz
onde se lê: "Visitas às quintas e domingos – das 14 às 16 horas." Ora,
não há como se justificar tamanha limitação. Uma casa de internação de
idosos não precisaria, aliás, de qualquer restrição ao direito que os
internos possuem de privarem com seus familiares.
Os prédios onde os idosos estão alojados é todo marcado
por barreiras arquitetônicas. Os banheiros e os demais espaços de
circulação interna não possuem pisos anti-derrapantes e a higiene
deixa muito a desejar. Em alguns dos quartos, janelas e portas estavam
sem os vidros e havia infiltrações nas paredes. Os banheiros
necessitam de adaptações para que se tornem espaços seguros e
confortáveis. Dona Elisa experimentou, de uma forma muito dolorosa, a
insegurança nos banheiros: alguns dias antes de nossa visita, havia
sofrido uma queda, à noite, no banheiro contíguo ao seu quarto. Por
conta disso, quebrou o braço. Dona Elisa só foi atendida por um
profissional da instituição um dia após a queda. Na hora mais difícil
quem a ajudou foram suas colegas de quarto.
Todos os internos estão submetidos a mesma dieta. Isso é
um problema não apenas para aqueles que precisariam de uma dieta
especial por conta de problemas de saúde, mas também para gente como a
dona Zilá, por exemplo. Aos 86 anos, dona Zilá fala bem baixinho, mas
impressiona pelo raciocínio rápido e pela forma detalhada como relata
episódios de sua vida. Sofre, entretanto, com a comida porque não a
aprecia. Segundo suas palavras, tem "fastio" e, por isso, não come
quase nada. Dona Zilá nos contou que gostaria mesmo é de comer
caranguejo, mas que ali já havia perdido a esperança de voltar a
sentir o gosto de seu prato preferido...
Os internos não possuem privacidade e permanecem todo o
tempo ociosos. Na área externa há uma piscina que, entretanto,
permanecia cercada e, aparentemente, fora de uso. Os internos não
realizam atividades externas.
A CPI do Idoso da AL/RJ também inspecionou esse abrigo
no dia 18 de maio de 2001. Constatou as mesmas limitações e
irregularidades. Segundo o informe do anexo II da CPI, apurou-se que o
dono do estabelecimento manipulava o cartão magnético bancário de
alguns dos idosos internados que recebiam benefícios do INSS. ( p.36)
7) CASA DE REPOUSO SANTA ROSA - O asilo misterioso
da Tijuca
Nossa última visita no Rio quase não se realizou. O
responsável pela Casa de Repouso Santa Rosa, na Tijuca ( Rua Antônio
Salema, 63) Sr. Paulo Carvalho, fez o que pode para impedir nossa
entrada em sua instituição. Primeiro, atrás de uma grade do portão de
entrada, afirmou que não permitiria a entrada da Caravana. Depois,
tentou negociar a entrada de um grupo pequeno de participantes e, por
fim, a contragosto, aceitou a entrada de um grupo excluindo
terminantemente a imprensa. O Sr. Paulo argumentava temer os
resultados da visita sobre a saúde dos próprios idosos ali internados
que, segundo ele, poderiam "ficar agitados". A única pessoa que ficou
"agitada" com a nossa visita, entretanto, foi o Sr. Paulo Carvalho que
revelou-se um cidadão despreparado para as funções que desempenha e
dono de um comportamento agressivo e autoritário. Talvez, de qualquer
forma, houvesse outros motivos para que o administrador temesse a
nossa visita.
O responsável nos informou que o asilo mantinha 5 idosos
internados. Durante a nossa inspeção, entretanto, só foi possível
encontrar 4. Tentamos ter acesso a um segundo pavimento que, segundo o
Sr. Paulo, estava em obras. Não foi possível porque o administrador
não o permitiu. Segundo afirmou, o espaço estaria interditado por
laudo específico da vigilância sanitária. Também não nos foi permitido
acesso a qualquer documento da instituição e o Sr. Paulo recusou-se a
responder a maioria das perguntas feitas pelos integrantes da
Caravana. Tudo aqui parecia estar envolto pelas sombras...
Conforme pudemos constatar, não havia alimentos
suficientes, seja na geladeira, seja nos armários utilizados como
dispensa. Os banheiros da Casa são inadequados, o mesmo se podendo
dizer das rampas. Os quartos estavam com o piso encerado, o que
constitui uma ameaça aos internos.
Os internos não tem o que fazer na misteriosa Casa da
Tijuca. Dona Henriqueta, 93 anos, o afirma taxativamente: "Aqui é só
comer e dormir".
A CPI do Idoso da AL/RS esteve nessa instituição em 04
de maio de 2001. Constatou inadequação completa das instalações
arquitetônicas, desnível de piso, buracos, etc. banheiros não
adaptados, distância não regular entre as camas, péssimas condições de
higiene, desorganização, ausência de registro de evolução dos
pacientes nos prontuários, condições precárias de conservação dos
alimentos, etc. Também quando da visita dos técnicos da CPI, o dono da
instituição mostrou-se "muito irritado" (sic). (p. 119, Anexo II do
Relatório da CPI do Idoso)
III - PERNAMBUCO
A Caravana trabalhou, durante os dias 17 e 18 de
outubro, em Pernambuco, na cidade do Recife e em alguns municípios da
região metropolitana. Além dos deputados federais Padre Roque (PT/PR),
Marcos Rolim (PT/RS) , da jornalista e assessora da CDH Janete Lemos e
da assistente social Jurilza Mendonça , representante da Comissão
Especial do Idoso, do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Humana
do Ministério da Justiça, acompanharam a Caravana Paula Regina
Machado, presidente do Conselho Estadual do Idoso; Eliane Moura, da
Prefeitura Municipal; Carolina Marinho, assessora da Comissão de
Defesa da Cidadania da Assembléia Legislativa; Gilson Roberto de Melo
Barbosa, Promotor de Justiça; Margarida Santos, enfermeira da
Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco.
Além das visitas às instituições, a Caravana realizou
uma audiência pública com a participação de cerca de 50 pessoas
representando autoridades governamentais e entidades da sociedade
civil com atuação na área de atenção aos idosos, além de profissionais
do setor.
A Prefeitura de Recife, através da Secretaria Municipal
de Saúde, conjuntamente com a vigilância sanitária e como Ministério
Público, tem realizado um processo de fiscalização sistemática sobre
os abrigos da capital. Durante o ano 2001, até o mês de agosto, 157
inspeções já haviam sido realizadas. Segundo o "Relatório das
Inspeções das Instituições de Longa Permanência para Idosos no
Recife", datado de setembro de 2001, constatou-se que apenas 11% das
Instituições estavam com licença atualizada. Do total de unidades
inspecionadas, 67% delas foram autuadas. 33% encontravam-se de acordo
com a legislação. Realizada a coleta de amostras de água em 12
instituições de longa permanência de idosos, sete apresentaram
presença de coliformes fecais na água; ou seja: a água era imprópria
para o consumo humano.
8) ABRIGO CRISTO REDENTOR - Aqui pode-se amarrar
idosos
O primeiro asilo visitado pela Caravana em Pernambuco
foi o Abrigo Cristo Redentor, na periferia de Recife em Jaboatão dos
Guararapes (Av. Agamenon Magalhães, s/n), criado em 1944 e
administrado com o auxílio de irmãs e membros da Igreja católica.
O responsável pela instituição, Sr. Felipe do Rosário é
administrador de empresas e atua na área há 25 anos. No dia de nossa
visita, havia 150 idosos internados. O asilo possui 300 vagas.
Segundo o Sr. Felipe, cerca de 90 dos idosos ali
internados são dependentes. A despesa com a instituição fica em torno
dos 25 mil reais/ mês. O Abrigo Cristo Redentor recebe verbas federais
– 12.500 reais/ mês. O administrador relatou aos deputados que a
instituição funciona com um déficit mensal o que motiva uma série de
campanhas junto à comunidade para doações e auxílios. Após conversar
com os idosos, os deputados souberam que a norma da Casa é a cobrança
de uma taxa mínima de 180 reais / mês de cada idoso. Ora, 150 internos
recolhendo mensalmente 180 reais assegurariam à instituição uma renda
de 27 mil reais. Importância que somada às verbas do governo federal
totalizaria uma receita de 39,5 mil reais. A instituição teria lucro,
então? Perguntado diretamente sobre isso pelo deputado Marcos Rolim, o
Sr. Felipe do Rosário não ofereceu uma explicação convincente nem
mostrou a contabilidade da instituição. Como a instituição recebe
verbas públicas, seria interessante a realização de uma auditoria.
O Abrigo Cristo Redentor ocupa uma grande área com
espaços amplos de circulação externa e pavilhões onde ficam os
alojamentos dos idosos. A área externa, entretanto, é muito mal
aproveitada. Os alojamentos são imensos. Em um deles contamos 120
camas. Com essa estrutura física, os idosos não possuem qualquer
chance de privacidade. Toda a instituição precisaria de reformas
estruturais básicas para um mínimo de segurança e conforto para os
internos. Não há piso anti-derrapante nas áreas internas de circulação
e nos banheiros; não há assentos nos vasos sanitários, nem apoios para
facilitar seu uso; a higiene dos banheiros deixa a desejar, as camas e
os colchões são de péssima qualidade, não contam com grades protetoras
e são, em regra, muito baixas.
Foi possível perceber um tratamento despersonalizado das
cuidadoras aos idosos; como regra, os internos não são tratados pelo
nome próprio. Há restrição às visitas que só podem ocorrer duas vezes
por semana e pelo período de duas horas. Não se assegura a eles,
também, qualquer tipo de programação de atividades. Dona Joana, 91
anos, por exemplo, queixa-se de que não tem nada o que fazer e de que
gostaria que lhe fosse permitido, pelo menos, lavar suas próprias
roupas. Dona Joana já teve duas quedas, uma da cama e outra, no
banheiro. Ela e o marido estão internados ao custo de duas
aposentadorias. Tudo o que deseja é voltar para sua casa.
Pelo número de idosos internados, fica evidente a
carência de recursos humanos no asilo. Segundo o administrador, a
instituição conta com 1 psicólogo, 1 assistente social, 1
fisioterapeuta, 1 biomédico, 12 auxiliares de enfermagem e uma
recreadora. Segundo depoimento de alguns idosos, a recreadora já não
trabalhava na instituição. O manejo diário dos idosos acaba sendo
feito pelas 65 auxiliares de serviços gerais, supervisionadas pelo
trabalho voluntário de 6 irmãs.
Vários dos idosos se queixaram de que são proibidos de
se deitar durante o dia e que só podem retornar aos alojamentos ao
final da tarde. Essa, por exemplo, é uma das queixas de dona Maria do
Rosário, 71 anos, professora aposentada. Dona Maria foi descoberta
pelo deputado Marcos Rolim amarrada em uma cadeira de balanço. Segundo
a interna, ela era amarrada na cadeira para que não fizesse
"traquinagens". Perguntada sobre o tipo de traquinagens que ela
gostava de fazer, respondeu que todo o problema é que ela gostava
muito de fumar. Para que não fumasse, era presa à cadeira, todos os
dias.
9) LAR FRATERNAL LÍRIOS DO AMOR - nem fraternidade,
nem lírios, nem amor.
A segunda instituição visitada foi o "Lar Fraternal
Lírios do Amor", na cidade vizinha de Camaragibe (Estrada da Aldeia
s/n). Quando de nossa visita havia 52 pessoas internadas; quase todos,
idosos. A instituição "atende", também pessoas com problemas de saúde
mental e, como pudemos observar, um jovem autista. O asilo é uma casa
velha a qual se acrescentou algumas peças aos fundos. Nessa
instituição não se oferece, rigorosamente, qualquer cuidado aos
idosos. O lugar é, tipicamente, um depósito de velhos.
A responsável pelo asilo, dona Eronita Figueiredo de
Farias, é cabeleireira e atua na área há 15 anos. Do total de idosos
internados no asilo, 38 pagam pela internação. Há apenas 5 pessoas
trabalhando ali e nenhum recurso técnico ou especializado disponível.
Aos idosos não é oferecida qualquer atividade. Pelas péssimas
condições de alojamento, não se lhes permite, também, qualquer
privacidade. Os internos não saem da instituição e recebem raras
visitas de familiares. Estão, portanto, em situação de isolamento
social.
Aqui falta tudo. Higiene, por exemplo, ou forro nos
colchões, ou janelas nos quartos, ou cadeiras de rodas. A casa toda é
cheia de barreiras arquitetônicas e não dispõe das adaptações
necessárias para a segurança e conforto mínimos aos internados. Falta
assistência médica, faltam medicamentos, falta comida. O cenário não
evoca apenas miséria, mas negligência e maus tratos.
Durante a visita, vimos um senhor com uma grave ferida
no pé. Esse idoso dormia sentado em uma cadeira em uma área coberta
aos fundos da unidade. Sua ferida estava coberta de moscas e o pé
inteiro mostrava sinais de necrose. Ao lado dele, há um metro de
distância, um pequeno cercado – desses utilizados por bebês – era
ocupado por um jovem autista que permanecia ajoelhado no centro
daquele espaço movimentando ritimadamente e com rapidez seu tronco
para um lado e para o outro. No mesmo espaço, outros idosos com sinais
de demência vegetam sentados. Há sujeira por toda a parte. Um cão
feroz está amarrado a uma coleira ali perto e, na mesma área onde os
idosos estão, há um buraco de uns 6 metros quadrados por dois de
profundidade cercado por um único fio de arame farpado. Uma queda ali
pode ser fatal. Em diagonal ao buraco e na parte posterior da casa, em
frente ao galpão onde está o menino autista e alguns dos homens
velhos, há um outro "cercado". O espaço, dessa vez, é maior - talvez 9
metros quadrados , demarcado por móveis e restos de madeira. Ali
dentro, numa espécie de varanda, vive Rita Maria da Conceição, uma
senhora aparentando 60 anos, há dez anos no asilo, que não fala e que
apresenta sinais de doença mental. Por não saberem lidar com ela,
delimitaram seu espaço, como se estivesse presa. Já o cão é solto à
noite.
10) ASSOCIAÇÃO FILANTRÓPICA NOSSA SENHORA DE LOURDES
– isolamento social e abandono
Este asilo está localizado em Olinda (Rua José Alves de
Araújo, 299) e é administrado pela senhora Maria de Lourdes Oliveira
de Almeida, uma "prática" sem qualquer formação profissional que atua
há 11 anos na área.
Quando de nossa visita, havia 63 idosos internados (30
homens e 35 mulheres) . Desse total, 40 idosos apresentavam um quadro
de dependência.
O asilo é mantido pelas próprias contribuições dos
internos. !5 pessoas trabalham na instituição, sendo que há a visita
de um médico uma vez por semana.
Todo o espaço físico da instituição é inadequado com
inúmeras barreiras arquitetônicas ao deslocamento dos internos. Para
piorar o quadro, muitos idosos estão alojados no segundo pavimento do
prédio. O próprio prédio localiza-se muito perto de um "lixão", com
esgoto próximo.
Os recurso humanos disponíveis são totalmente
desqualificados e os internos permanecem em ociosidade absoluta. A
vigilância sanitária já determinou à proprietária a necessidade de
realização de inúmeras obras de adaptação, desde a colocação de barras
e corrimões até portas nos banheiros. Pelo que foi possível perceber,
a higiene é precária e muitos quartos enfrentam sérios problemas de
infiltração.
Aqui a atenção dispensada aos internos resume-se à
alimentação e aos leitos oferecidos.
11) NÚCLEO DE APOIO AO DOENTE DO INTERIOR - condições
subumanas
Essa Instituição, também em Olinda (Av. Correia de
Brito, 360) , é, na verdade, uma "casa de passagem" que se propõe a
auxiliar pessoas doentes que vêm do interior para tratamento na
capital. A grande maioria dos que estão aqui abrigados, não obstante é
de idosos. Quando de nossa visita, havia 40 idosos no asilo. Os
responsáveis pela instituição são Maria da Conceição de Santana e
Miguel Andrade da Silva. O asilo vive de doações e recebe apoio de um
Padre.
Apenas 4 pessoas trabalham no asilo, o que dá uma idéia
da precariedade da situação. Num único cômodo contamos 16 camas. Há
camas espalhadas pelos corredores e na varanda. Por decorrência, não
se oferece aos internos qualquer chance de privacidade. Os quartos, 4
ao todo, são pequenos e há apenas dois banheiros. As condições de
habitabilidade são, verdadeiramente, subumanas.
O pessoal que lida com os internos é totalmente
desqualificado e as condições de higiene da instituição são as piores
possíveis.
Encontramos frutas estragadas e alimentos mal
acondicionados.
12) CLÍNICA DE REPOUSO GERIÁTRICO DE RECIFE – I – O
mesmo modelo, os mesmos problemas
"Clínica de Repouso Geriátrico" é o nome dado a duas
instituições asilares, de um mesmo proprietário, situadas na mesma rua
(Ana Xavier 104 e 117) na Casa Amarela, em Recife. Para descrever
minimamente a situação que encontramos em cada uma delas, chamaremos
de Clínica I a situada no número 104 e Clínica II a situada no número
117.
A Clínica I é administrada por Judith Alves que atua na
área há 20 anos. Quando de nossa visita havia 34 idosos internados na
instituição, sendo que a grande maioria deles – cerca de 90% - era de
idosos dependentes. Os funcionários aqui, num total de 16 pessoas são
todos registrados e pagos pela Igreja.
As atividades desenvolvidas com os idosos possuem,
comumente, um sentido religiosos.
Duas vezes por semana um médico visita a instituição
atendendo aos internos. A Casa dispõe de uma enfermeira, uma
nutricionista e 4 auxiliares de enfermagem. Há, por certo carência de
pessoal.
Seria necessário, também, realizar algumas adequações na
estrutura física do prédio.
Os atendentes estavam participando de um curso de
"cuidadores de idosos", o que nos pareceu importante Percebemos um
certo nervosismo entre as pessoas que trabalham na instituição diante
de nossa visita e, especialmente, a postura assumida por alguns que
pareciam empenhados em não permitir que conversássemos isoladamente
com os internos.
Mesmo diante das limitações evidentes vividas pela
instituição, os internos manifestaram, no fundamental, determinada
satisfação com a atenção que recebem ali.
13) CLÍNICA DE REPOUSO GERIÁTRICO DE RECIFE – II - de
novo a ociosidade
A Clínica II é administrada pela Sra. Rosilda de Araújo
que atua na área há 30 anos. No dia de nossa visita havia 25 idosos
internados, sendo 20 deles dependentes. Os internos contribuem com um
mínimo de 180 reais, mas alguns chegam a pagar 350 reais por mês.
Segundo a informação que recebemos, a instituição é deficitária.
O Asilo possui 10 quartos para os homens aos fundos,
espaço onde há um único banheiro e 5 quartos para as mulheres na
frente, com dois banheiros. Tanto quanto foi possível observar, a
higiene é precária.
12 pessoas trabalham aqui, entre elas uma enfermeira, um
nutricionista, um médico e dois auxiliares de enfermagem. O médico
comparece três vezes por semana.
Os idosos vivem em ociosidade máxima. Aqui, como em
tantos outros asilos visitados, tem-se a impressão de que tudo o que
se espera daqueles idosos é que aguardem silenciosamente por suas
mortes.
14) CONVIVER GERIÁTRICO - Enfim, uma instituição
modelo
Nossa visita ao "Conviver Geriátrico" mostrou aos
integrantes da Caravana o quanto uma instituição de tratamento de
idosos pode oferecer condições dignas aos internos. A instituição;
localizada no bairro de Boa Viagem, no Recife ( Rua José Lopes, 95) é
administrada por Solange Beltrão que é administradora de empresas.
No dia de nossa visita, havia 25 idosos internados,
sendo cerca de 80% deles dependentes.
Pela proposta da instituição exige-se que todos os
internos tenham plano de saúde e que suas famílias responsabilizem-se
pela contratação e remuneração dos cuidadores do usuário. Além dos
cuidadores, trabalham na instituição 17 pessoas: uma enfermeira, uma
nutricionista, um fisioterapeuta, um médico, um terapeuta ocupacional,
8 auxiliares de enfermagem e 4 auxiliares de serviços gerais.
O espaço físico está plenamente adaptado ao perfil dos
internos e possui 10 suítes e 6 apartamentos duplos, o que garante,
além do conforto e da segurança, a privacidade dos idosos. Todos os
internos tem acesso aos meios de comunicação, recebem visitas com
freqüência e costumam realizar atividades externas, com
acompanhamento. Há um programa de atividades físicas, recreativas e
fisioterápicas. Os recursos humanos disponíveis são qualificados.
IV - PARANÁ
A Caravana esteve no Paraná durante os dias 19 e 20 de
outubro visitando instituições asilares em Curitiba e em Londrina.
Além dos Deputados Federais Padre Roque (PT/PR) e Marcos Rolim
(PT/RS), da jornalista e assessora da CDH Janete Lemos e da assistente
social e representante da Comissão Especial do Idoso, do Conselho
Nacional dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da Justiça,
Jurilza Mendonça, acompanharam a Caravana, na capital Rosana Beraldi
Bevervanço, promotora de Justiça do Centro de Apoio Operacional das
Promotorias de Defesa dos Direitos do Idoso; Maurílio Pinto,
representante da Sociedade Brasileira de Gerontologia e Geriatria;
Heloise Elaine Pereira e Rosilene de Fátima Pollis, assistentes
sociais do Ministério Público; Glaucia Kishida; Lucinéia Benckl de
Macedo; Joanna Alekissandra Kantikas, representantes da Secretaria de
Vigilância Sanitária e em Londrina Maria Ãngela Santine; Genilda
Pozzeti Stabile, representantes da Secretaria Municipal do Idoso;
Marcelo Viana de Castro da Vigilância Sanitária.
IV -a) Curitiba:
15) RECANTO TARUMÃ - uma experiência de
cuidado
O "Recanto Tarumã - Sociedade Socorro aos Necessitados"
(rua Konrad Adenauer, 295) é uma instituição tradicional de Curitiba,
fundada em 1921. No dia de nossa visita abrigava 120 idosos. Desse
total, pelo menos 32 apresentavam um quadro de dependência.
Mantido através de doações da comunidade e da
contribuição de 2/3 do valor das aposentadorias dos internos, o asilo
tem uma despesa mensal da ordem de 50 mil reais. Segundo as
informações colhidas junto à direção da casa administrada pelo Sr.
Mário Pelatto, 36 pessoas trabalham na instituição, entre elas 1
assistente social, 1 psicólogo, 1 enfermeira, 1 fisioterapeuta, 1
terapeuta ocupacional e 4 auxiliares de enfermagem.
As instalações, amplas e bem cuidadas, integram vários
pavilhões numa área construída 492 metros quadrados atravessada por
espaços de circulação externa ajardinados e gramados. Dentro da
unidade muitas atividades são desenvolvidas sendo que os idosos têm
acesso à marcenaria, horta, artesanato, jardinagem e jogos
variados.
A instituição conta com consultório médico, farmácia,
espaço para banho de paraplégicos, sala para curativos, sala de
fisioterapia, sala de jogos, etc. Embora algumas pequenas adaptações
sejam ainda necessárias, observamos a existência de piso
antiderrapante nas principais vias de circulação interna, corrimões,
anteparos e outros equipamentos fundamentais para a segurança e o
conforto dos idosos.
Mais importante ainda do que as boas condições físicas
da instituição foi perceber, na conversa com os internos, a existência
de um grau de satisfação incomum com os serviços prestados resultado
que costuma ser alcançado sempre que o cuidado é a regra.
16) ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO AO IDOSO VOVÓ JOANA -
outro caso de isolamento social
Esse asilo (rua Piauí, 1.224) nos oferece um novo
exemplo do modelo de isolamento social dos idosos que deve ser
superado urgentemente no Brasil. No dia de nossa visita, havia 24
idosos internados. Para "cuidar" desses seres humanos - alguns
precisando de cuidados intensivos - trabalham na instituição apenas 3
pessoas.
Os idosos não possuem qualquer programa de atividades
que estimulem sua autonomia. Não possuem privacidade alguma e, em um
dos quartos, contamos 17 camas. Todas as instalações físicas são
inadequadas e a higiene é bastante precária.
Não foi possível obter informações confiáveis e
detalhadas da responsável pela instituição a respeito do orçamento da
unidade e de seu financiamento. As únicas informações dão conta de que
o aluguel pago pela casa é de 1.400 reais e de que a instituição
arrecada recursos junto à comunidade com bingos, rifas, jantares
beneficentes, etc. Sabe-se que a instituição é considerada de
utilidade pública.
17) VOVÔ JUQUINHA - um espaço de
negligência
O asilo Vovô Juquinha (Rua Mem de Sá, 491) é uma
instituição não regularizada dirigida pela senhora Madalena Dias
Ferreira . No dia de nossa visita havia 14 idosos internados sendo
dois deles dependentes.
A Instituição é absolutamente inadequada para a
internação de idosos e lhes oferece, tão somente, o leito onde dormem
e as refeições.
O espaço físico é formado por 4 quartos (2,3 e 5 camas),
mas sala de estar e cozinha. O banheiro não recebeu qualquer das
adaptações necessárias à segurança e conforto dos idosos. Verificamos
infiltrações de água em várias peças.
Os internos não dispõem de qualquer programa de
atividades que estimulem sua independência; há carência de recursos
humanos e um estado geral de negligência na atenção aos idosos. Alguns
idosos afirmaram que se sentem bem e que são bem tratados.
18) ASSOCIAÇÃO CASA DE REPOUSO VOVÓ SABINA - outro
depósito
O asilo "Vovó Sabina" (Rua Joaquim Manuel de Carvalho,
481) em Curitiba, administrado pela Sra. Benita da Silva, é apenas
outro depósito de idosos. No dia de nossa visita eram 12 os internos
sendo que, desse total, pelo menos 4 apresentavam um quadro de
dependência. A instituição não conta com funcionários. Todo o serviço
é feito pela responsável e por sua filha.
Uma vez por mês, um médico oferece seus serviços à
instituição em trabalho voluntário.
Os internos não desenvolvem qualquer tipo de atividade e
não têm privacidade.
As instalações são inadequadas e não oferecem segurança
ou conforto aos internos.
O asilo é sustentado com as contribuições dos próprios
idosos que variam de 180 a 575 reais/ mês.
19) LAR AFAGO - um lugar de pouco
carinho
O asilo denominado "Lar Afago" (Rua Joaquim Manoel de
Carvalho, 466) de Curitiba enfrenta inúmeras dificuldades e termina
por reproduzir, exatamente, o modelo asilar que se pretende superar.
A responsável pela instituição, dona Clarisse Maria
Antunes, é atendente de enfermagem e atua na área há dois anos.
No dia de nossa visita, havia 17 idosos internados,
sendo que pelo menos 7 deles apresentavam um quadro de dependência.
Também aqui os idosos passam seus dias sem qualquer tipo
de atividade que estimule sua independência. As limitações que
encontramos repetem as mesmas situações já observadas na maioria das
instituições visitadas pela V Caravana. Observamos a falta de recursos
humanos qualificados e constatamos um quadro geral de negligência na
atenção dispensada aos internos, destacadamente quanto aos necessários
cuidados de saúde. Também no Lar Afago há a visita de um médico uma
única vez ao mês.
Segundo fomos informados, 6 pessoas trabalham na
instituição e outras três prestam serviços voluntários.
As despesas do asilo são custeadas com as aposentadorias
e pensões dos idosos internados. Alguns deles chegam a pagar 400
reais/mês.
Pelo que pudemos observar, os idosos recebem na
instituição o mínimo necessário para que prolonguem sua existência. O
Lar Afago, em verdade, não é propriamente um lugar de carinho.
20) CLÍNICA DE REPOUSO SANTA MARIA - necessidade de
adaptações
A Clínica de Repouso Santa Maria (Rua Rockfeller, 1.287)
ainda não dispunha de licença da vigilância sanitária quando de nossa
visita. Para que funcione regularmente será necessário implementar
algumas reformas na estrutura física e adaptar melhor seus espaços
internos.
Os responsáveis pela instituição são Hilda Pereira Leite
e Carlos Augusto Leite que atuam na área há 13 anos.
O aluguel da casa custa 3.300 reais/mês e os internos
contribuem, em média, com 300 reais.
Havia 45 idosos internados na Clínica quando a
visitamos. Não nos foi possível estimar o número de dependentes.
9 pessoas trabalham na instituição sendo duas delas
fisioterapeutas e uma terapeuta ocupacional. Um psicólogo, uma
nutricionista e um médico prestam serviços eventuais em regime de
voluntariado.
A cada 15 dias, a instituição organiza atividades
esportivas e de lazer com os idosos.
A Clínica conta com farmácia, refeitório, sala de estar,
quartos com 2,3 e 4 camas e uma área externa.
Aqui as visitas de familiares acontecem três vezes por
semana (quartas, sábados e domingos) das 14 às 17 horas.
A medicação e alguns equipamentos como fraldas são
adquiridos pelos familiares. Os remédios, de qualquer forma, estavam
bem acondicionados. A instituição possui um esterilizador e seus
prontuários estavam dentro dos padrões técnicos exigidos.
21) LAR DE UBERABA DE CIMA - sub-nutrição e
desidratação
O "Lar de Uberaba de Cima" (Rua Gabriel Passos Filho,
74) em Curitiba é uma instituição clandestina administrado pela
senhora Maria Sandoval que atua na área há pouco mais de um ano.
Quando de nossa visita, havia 6 idosos internados ali, todos
dependentes. Para cuidar deles, há apenas uma pessoa.
Examinando os idosos, o Dr. Maurílio Pinto, médico
geriatra, que acompanhou a Caravana em Curitiba representando a
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), constatou
sub-nutrição e desidratação dos internos.
As condições gerais da instituição, de fato, são
subumanas.
Os idosos não realizam qualquer atividade e estão em
regime de isolamento social. Toda a parte física da instituição é
inadequada, há casos de infiltração e a higiene é precária. Faltam
recursos humanos elementares para a devida atenção a idosos
dependentes. O quadro geral é de negligência e abandono.
-
LAR BOM SOSSEGO - Um bom exemplo de
casa-lar
A última visita em Curitiba nos reservou a agradável
surpresa de descobrir um modelo de "Casa- Lar" , uma das formas
alternativas ao modelo asilar, funcionando - e muito bem. O Lar Bom
Sossego, situado no Jardim Paranaense (Rua Campo Mourão, 200) é uma
boa instituição.
A responsável, dona Rita de Cássia de Paula, possui
curso de cuidadores de idosos e atua na área há 9 anos.
A instituição é uma Casa onde estão internados 6 idosos
convivendo em um regime que faz lembrar um tipo de estrutura familiar.
Três pessoas trabalham ali. Quando de nossa visita, foi possível
perceber que algumas crianças da família da responsável interagem
positivamente com os idosos o que possibilitou o desenvolvimento de
relações afetuosas bastante sensíveis e importantes tanto para os
idosos quanto para as crianças.
O Lar Bom Sossego recusa-se a abrigar mais idosos,
embora tivesse espaço físico para tanto. A responsável afirma que se
aceitasse novas internações não teria mais condições de cuidar bem de
todos, consciência que atesta uma notável diferença diante daqueles
administradores que fazem questão de superlotar suas casas como forma
de aumentar sua receita.
IV -b) Londrina:
Em Londrina, após um processo de fiscalização
iniciado em fevereiro de 2001 pela Prefeitura Municipal, através da
Secretaria Municipal do Idoso, foram vistoriadas 18 instituições –
casas de repouso e asilos. Como resultado, obteve-se a transferência
de 94 idosos, para outras instituições ou para suas famílias. Em março
de 2001, o prefeito de Londrina assinou o Decreto 096/2001 que fixou
normas de funcionamento de asilos, casas de repouso, clínicas
geriátricas e estabelecimentos congêneres destinados ao atendimento de
idosos em Londrina. O mesmo instrumento legal determinou que novos
estabelecimentos só serão autorizados após parecer técnico da
Vigilância Sanitária e da Secretaria Municipal do Idoso.
-
LONDRISAÚDE - no aguardo das adaptações
necessárias
O asilo "Londrisaúde" (Rua Lucila Balalaí, 149) opera
sem o alvará de funcionamento. A vigilância sanitária já determinou a
necessidade de várias adaptações como, por exemplo, na farmácia da
instituição.
4 pessoas trabalham no asilo, nenhuma com carteira
assinada. Há um médico que presta seus serviços no asilo três vezes
por mês ou "quando necessário".
O Londrisaúde funciona em uma casa (alugada por 650
reais/mês) de 240 metros quadrados. Além de 6 quartos, dispõe de sala
de estar, sala de jantar, cozinha e banheiros. Há algumas barreira
arquitetônicas a serem eliminadas, os banheiros não contam com os
amparos necessários ao uso dos vasos sanitários e estes não possuem
assento. Observamos algumas infiltrações e necessidade de uma higiene
mais cuidadosa nos quartos.
A responsável, Lídia de Souza e Silva, atua há 4
meses na área e cobra 300 reais por interno. Quando de nossa visita,
havia 12 idosos internados, sendo que dois deles apresentando um
quadro de dependência.
Constatamos um quadro de isolamento social e de
ausência de um programa de atividades que estimulem a independência
dos idosos; o padrão asilar, portanto.
Os Deputados Marcos Rolim e Padre Roque conversaram
demoradamente com um dos internos, senhor Geraldo Gütschow, 77 anos.
Seu Geraldo que luta tenazmente contra o câncer, não tem metade de sua
orelha direita e chama a atenção seja pelo seu porte físico, seja por
sua lucidez e determinação. Filho de alemães, aprendeu a lidar com
ervas medicinais e guarda em seu quarto uma impressionante quantidade
de misturas, chás, ungüentos e receitas naturais. Falando português
com um forte sotaque germânico, seu Geraldo nos contou que está
escrevendo a história de sua vida. Foi buscar o seu trabalho embaixo
do travesseiro de onde retirou uma grossa agenda enrolada em panos.
Ali constatamos um minucioso trabalho autobiográfico escrito em frente
e verso de centenas de páginas à caneta, com uma letra miúda e firme.
Um trabalho que, possivelmente, conte muito da saga dos imigrantes no
Paraná. Seu Geraldo se emocionou muito quando o Deputado Padre Roque
começou a falar com ele em alemão. Levantou-se, abraçou o deputado e
chorou. Talvez tenha se emocionado, também, pelo fato de alguém tê-lo
escutado.
24) CASA DE REPOUSO IRACEMA - outra casa
clandestina
Esse asilo funciona irregularmente no Conjunto Antares
(Rua Iracema, 67). A responsável , dona Marlene Oliveira Monteiro ,
auxiliar de enfermagem, atua há 11 meses na área e se queixou muito
das dificuldades financeiras da instituição. Dona Marlene demorou
muito para abrir o portão de ferro que dá acesso ao seu asilo. Os
deputados, após uma espera de 20 minutos, precisaram ameaçar que
chamariam a polícia se o portão não fosse aberto.
A Caravana constatou que estavam internados nessa
instituição 8 idosos.
Trabalham na casa um auxiliar de enfermagem e dois
auxiliares de serviços gerais.
Os internos não realizam qualquer tipo de atividade e
encontram-se em situação de isolamento social.
Há três quartos na casa (alugada por 430 reais). Um
deles com duas camas, outro com três e outro com seis.
A farmácia da instituição encontra-se absolutamente fora
dos padrões da vigilância sanitária e não há prontuários.
Há barreiras arquitetônicas a serem superadas e
necessidade de várias adaptações físicas.
Os internos sustentam a instituição pagando valores
entre 180 e 250 reais.
-
LAR OLIVEIRA PARA IDOSOS - histórico de
interdição
O Lar Oliveira para idosos é uma instituição
clandestina. Mais do que isso: a responsável, dona Cida Pereira,
auxiliar de enfermagem com 4 anos de atuação na área, já teve uma
outra casa que administrava interditada pela vigilância sanitária.
Após a interdição, mudou-se de lugar abrindo um novo asilo e repetindo
o mesmo padrão de depósito de idosos.
Quando da nossa visita, havia 12 idosos internados,
todos com algum tipo de dependência.
Cinco pessoas trabalham no asilo, todas da mesma família
da responsável.
Os internos sustentam a instituição com valores de 200
reais/mês, em média. O aluguel da casa é de 400 reais e o total das
despesas é de 2 mil reais/mês.
A casa possui três quartos (com 3 e 4 camas) e as
condições de higiene são precárias.
Nenhuma atividade é desenvolvida com os idosos e os
recursos humanos disponíveis não são qualificados.
-
CASA DE REPOUSO MARANATA - uma casa em boas
condições
A Casa de Repouso Maranata (Rua júlio Cesar Ribeiro,190)
, administrada por Lígia Ivone Critóvão, é, na verdade, uma Casa
Lar.
Quando de nossa visita, havia nove idosos internados,
todos dependentes.
Cada um dos internos aqui contribui com valores entre
400 e 600 reais/ mês. 90% deles possuem algum plano de saúde e a
grande maioria usufrui de serviços de fisioterapia.
A instituição conta com quatro auxiliares de enfermagem,
uma nutricionista, um auxiliar de serviços gerais e uma
cozinheira.
De maneira geral, pode-se afirmar que a instituição
encontra-se plenamente adequada no que diz respeito a sua estrutura
física e que as condições de higiene são boas.
Cada idoso possui uma pasta onde estão todos os
registros relevantes e os medicamentos estão bem
acondicionados.
-
ASILO SÃO VICENTE DE PAULA - um bom
padrão
O asilo São Vicente de Paula ( Rua Maria Leonia Milito,
499) foi fundado em 1952. Nossa visita pôde perceber um bom padrão de
atendimento aos idosos nessa tradicional instituição londrinense.
O asilo recebe verbas públicas (5 mil reais da
prefeitura) e recolhe dos internos 126 reais/mês. O total de suas
despesas mensais fica em torno dos 20 mil reais.
Quando de nossa visita havia 120 idosos internados,
sendo que, desse total, cerca de 70 apresentavam um quadro de
dependência.
Trabalham na instituição 24 pessoas. O asilo é campo de
estágio para a Universidade do Norte do Paraná (Unopar), o que lhe
assegura a presença de vários formandos em múltiplas disciplinas.
Há um programa consistente de atividades com os internos
envolvendo trabalhos manuais, música e dança, jardinagem, etc.
-
CENTRO DE APOIO GERIÁTRICO - padrão médico de
qualidade
O Centro de Apoio Geriátrico de Londrina (Rua Santos
Dumont, 975) funciona desde 1987. Seu atendimento pode ser considerado
padrão, especialmente pelos cuidados à saúde do idoso.
Quando de nossa visita, havia 20 idosos internados.
Cerca de 70% deles com um quadro de dependência.
O centro possui 1800 metros quadrados de área e 1000
metros quadrados de área construída. O aluguel é de 3.300 reais. Sua
despesa fica em torno dos 17 mil reais/ mês. Os internos pagam um
valor básico de 920 reais e arcam com os custos de fraldas e
medicamentos, entre outras despesas.
15 pessoas trabalham aqui e os recursos humanos
disponíveis são de alta qualidade.
Há um programa consistente de atividades para os
internos envolvendo terapia ocupacional, fisioterapia, atividades
recreativas, etc.
O espaço físico é bom e está completamente adaptado; há
cuidados com a higiene.
Alguns dos idosos recebem visitas diariamente.
c) RECOMENDAÇÕES:
I - Que seja instalado, imediatamente, o Conselho
Nacional do Idoso.
II - Que o governo federal crie, imediatamente, a
Coordenação Nacional da Política do Idoso.
III - Que o Programa Nacional de Cuidadores de Idosos,
instituído pela portaria interministerial 5.153/99, que prevê a
formação de recursos humanos para tratamento domiciliar e
institucional de idosos seja, finalmente, executado.
IV - Que as instituições tipicamente asilares sejam,
progressivamente, desativadas em favor de uma política pública que
privilegie o atendimento domiciliar, as Casas Lares , os Hospitais-Dia
e os Centros de Convivência, conforme diretrizes da Política Nacional
do Idoso.
V - Que, em caráter emergencial, o governo federal, os
governos estaduais e as prefeituras, assegurem o deslocamento para
instituição de natureza hospitalar de todos os idosos portadores de
doenças infecciosas ou que necessitem de assistência médica permanente
ou de cuidados intensivos de enfermagem que estejam internados em
instituições asilares de caráter social, garantindo, desta forma, o
disposto pelo parágrafo único do inciso IX do artigo 4 da Lei
8.842/94.
VI - Que o Poder Público assegure, através da
fiscalização sistemática, que as instituições destinadas ao cuidado e
tratamento de idosos atendam, além do disposto pela legislação e
normas municipais ( Plano Diretor, Código de Edificações, Normas de
Prevenção de Incêndio, entre outras) , pelo menos, as seguintes
necessidades físico-espaciais, mantidas as proporções de acordo com as
diferentes modalidades de tratamento:
1) Programa para uma casa com 20 idosos Dimensão mínima
(m2 )
-
Sala para direção administrativa
......................................................12,00
-
Sala atendimento
multiprofissional..................................................12,00
-
Sala de
convivência..........................................................................30.00
-
Sala de
enfermagem.........................................................................10,00
-
Almoxarifado...................................................................................10,00
-
Refeitório.........................................................................................30,00
-
Cozinha............................................................................................16,00
-
Área de serviço/lavanderia (com
tanque)........................................04,00
-
Depósito
.......................................................................................04,00
-
Banheiros p/func.com armários (masc e
fem.)................................06,00
-
Dormitórios (máximo para 4 pessoas e 5 m2 por .........................100,00
-
Banheiros ( pelo menos 1 vaso para cada 5 idosos e 1
chuveiro para 10)
-
Áreas externas p/atividades (no mínimo 1 m2
por idoso)................20,00
2) As instituições de cuidado e tratamento de idosos
devem estar situadas em locais com facilidade de acesso ao transporte
coletivo e, preferencialmente, próximas aos serviços de saúde do
município, serviços de comércio e espaços de lazer e cultura,
favorecendo a integração do idoso, independente e mesmo o dependente,
à comunidade do entorno.
3) As instituições de cuidado e tratamento de idosos
devem ser compreendidas como locais de moradia prevendo, portanto, a
participação dos usuários na definição das rotinas e normas de
convivência bem como na qualificação individualizada dos ambientes,
destacadamente aqueles mais íntimos e reservados como os quartos .
Deve-se estimular, que nesses espaços, os idosos possam ter acesso a
uma série de elementos que atuem sobre sua memória física e
afetiva.
4) As instituições de cuidado e tratamento de idosos
devem ser, preferencialmente, de um único pavimento térreo. Todas os
desníveis externos ou internos devem ser dotados de rampas e escadas,
de fácil limpeza e conservação, antiderrapantes, uniformes e
contínuos.
5) Nos caminhos, nas áreas de circulação e em locais
específicos onde os idosos precisam de apoio (banheiros, rampas,
escadas, etc.) as instituições devem contar com corrimões conforme
especificado pela NBR 9050/ABNT.
6) Rampas e escadas devem ser executadas segundo as
mesmas normas da ABNT, observadas as exigências de corrimão e
guarda-corpo. Complementarmente, destacam-se a necessidade
de:
-
No primeiro e último degrau da escada dotá-los de
luz de vigília permanente;
-
Executar o corrimão de forma a torná-lo contrastante
em relação à parede onde for fixado para fácil e rápida
identificação e utilização;
-
No caso de acesso à edificação, a escada e a rampa
deverão Ter, no mínimo, 1,50m de largura;
-
No início e no término das escadas deve ser
instalada uma cancela, para controle de fechamento e/ou
abertura.
7) Corredores devem ter a largura mínima de 1,50m e ser
dotados de corrimãos de ambos os lados. Pisos, paredes e portas devem
ser bem visualizados através de variações de revestimento ou cor. Os
corredores e demais áreas de circulação devem estar livres de qualquer
obstáculo (como móveis, vasos, etc.)
8) Os espaços de circulação externa devem contar com
áreas verdes, com caminhos e bancos para descanso à sombra, solarium
protegido dos ventos e locais para jardinagem e outras atividades ao
ar livre. Os locais destinados à jardinagem e hortas devem ser
providos de canteiros elevados (como se fossem mesas, com altura
indicada da parte superior de 0,70m) para possibilitar seu manuseio
por pessoas sentadas.
9) A área de circulação de veículos deve ser isolada da
área de circulação externa de idosos.
10) As áreas internas devem ser dotadas de boa
ventilação e contar com condições ideais de iluminação natural e
artificial. Os interruptores devem ser luminosos.
11) Todas as áreas internas devem ser dotadas de
campainhas para emergência (nos dormitórios, esse equipamento deve se
situar junto à cabeceira das camas) e sistemas de segurança/prevenção
de incêndio com previsão de rápido e seguro escoamento de todos os
residentes.
12) As portas que separam as diferentes peças da
instituição devem possuir um vão livre igual ou maior que 0,80m. As
portas devem ser preferencialmente de correr, com trilhos embutidos no
piso, ou de abrir com dobradiças verticais, dotada de comando de
abertura de alavanca. Deve ser previsto 0,60m , contíguo ao vão da
porta, para facilitar o alcance da maçaneta.
13) As janelas devem ter peitoris de 0,70m para melhorar
a visibilidade, corrimão suplementar com 0,90m do piso para maior
segurança e comando de abertura de alavanca, quando se tratar de novas
construções.
14) Os assentos de poltronas e cadeiras, com uma altura
recomendada de 0,42 a 0,46m, devem ser revestidos por material
impermeável. É indicada a altura de 0,46 a 0,51m para as camas.
15) É expressamente vedado o uso de beliches e de camas
de armar bem como a instalação de divisórias improvisadas.
16) Os banheiros devem ser dotados de campainha de
alarme. Não deve se utilizar revestimentos que produzam brilhos e
reflexos para evitar desorientação ou confusão visual. Os boxes para
vaso sanitário e chuveiro devem ter a largura mínima de 0,80m, além do
espaço para o cuidador auxiliar o idoso. Deve ser previsto, no mínimo,
um box para chuveiro e um para vaso sanitário que permita o uso de uma
pessoa em cadeira de rodas, conforme especificações da NBR 9050/ABNT,
excetuada a altura da borda dos vasos sanitários que deve ser de 0,43m
do chão.
17) Nos chuveiros não é permitido qualquer desnível em
forma de degrau para conter a água. Indica-se o uso de grelhas
contínuas, desde que respeitada a largura máxima entre os vãos de
1,5m. Deve ser evitado o uso de cortinas de plástico e portas de
acrílico ou vidro para o fechamento do box de chuveiro. As barras de
apoio devem ser instaladas e ter dimensões conforme a NBR 9050/ABNT,
além de se, preferencialmente, em cortes contrastantes com a
parede.
VII - Que seja aprovado o projeto de Lei n ......./2002,
de autoria dos Deputados Marcos Rolim (PT/RS) e Padre Roque (PT/PR)
que estabelece normas básicas para o funcionamento dos
estabelecimentos que prestam atendimento integral institucional a
idosos como Asilos, Casas de Repouso, Clínicas Geriátricas e
congêneres e dá outras providências.
PROJETO DE LEI Nº 6.163 DE 2002
(Dos Srs. Marcos Rolim - PT/RS e Padre Roque - PT/PR
)
Estabelece normas básicas para o
funcionamento de estabelecimentos que prestam
atendimento integral institucional a idosos como
Asilos, Casas de Repouso, Clínicas Geriátricas e
congêneres e dá outras providências.
Art. 1) Considera-se estabelecimentos que prestam
atendimento integral institucional a idosos aqueles que, com denominações
diversas, abrigam em caráter asilar pessoas com 60 anos ou mais, sob
regime de internato ou não, mediante pagamento ou não, durante um período
indeterminado.
Parágrafo único – Para efeitos dessa lei, não se
consideram os estabelecimentos do tipo "República de Idosos", "Centros de
Convivência", "Centro-Dia" e "Casas Lares" com até 8 idosos.
Art. 2) Antes de iniciada a construção, reforma ou
instalação de qualquer estabelecimento destinado ao atendimento integral
institucional a idosos, a Autoridade Sanitária deverá ser consultada
emitindo parecer quanto ao local e ao projeto.
Parágrafo primeiro - O habite-se será fornecido, após
vistoria feita pela Autoridade Sanitária.
Parágrafo segundo - O alvará de funcionamento só será
fornecido após aprovação pela Autoridade Sanitária do projeto de
atendimento aos idosos onde deverá constar, obrigatoriamente, a equipe
técnica a ser contratada, a grade de atividades a ser oferecida aos
internos e o plano de viabilidade financeira da instituição.
Art. 3) Os responsáveis pelos estabelecimentos de
atendimento integral institucional a idosos ficam obrigados a repassar, no
ato de ingresso do idoso na instituição, cópia da presente Lei aos
familiares e a fixá-la no interior da instituição, em local visível e de
fácil acesso a todos os internos.
Art. 4) Os estabelecimentos de atendimento integral
institucional a idosos serão cadastrados pela Autoridade Sanitária em três
modalidades distintas: Modalidade I, destinada a idosos independentes ;
Modalidade II, destinada a idosos independentes e a idosos com dependência
moderada e Modalidade III, destinada a idosos com dependência total em
pelo menos uma atividade de vida diária (AVD).
Art. 5) Os estabelecimentos de atendimento integral
institucional a idosos cadastrados na modalidade I terão capacidade máxima
de 40 internos; os cadastrados na modalidade II terão capacidade máxima de
22 internos e os cadastrados na modalidade III terão capacidade máxima de
20 internos.
Art. 6 ) Além do já disposto pela Legislação
Municipal (Plano Diretor, Normas de Edificação, Normas de Prevenção de
Incêndio, entre outras) , os estabelecimentos de atendimento integral
institucional de idosos devem observar, pelo menos, as seguintes
necessidades físico-espaciais, mantidas as proporções de acordo com as
diferentes modalidade de tratamento:
Programa para uma casa com 20 idosos Dimensão Mínima
(m2)
-
Sala para direção
administrativa............................................... 12,00
-
Sala de atendimento
multiprofissional..................................... 12,00
-
Sala de
convivência..................................................................
30,00
-
Sala de
Enfermagem.................................................................
10,00
-
Almoxarifado............................................................................
10,00
-
Refeitório..................................................................................
30,00
-
Cozinha.....................................................................................
16,00
-
Área de Serviço/lavanderia (com
tanque)................................. 04,00
-
Depósito
Geral..........................................................................
04,00
-
Banheiros para funcionários com
armários............................... 06,00
-
Dormitórios (máximo para 4 pessoas e 5 m2 por
leito)........... 100,00
-
Banheiros (pelo menos um vaso para cada 5 idosos e 1
chuveiro
c/água quente para cada 10 idosos)
-
Áreas externas p/atividades (com um mínimo de 1 m2 por
idoso) 20,00
Art. 7) As instituições de cuidado e tratamento de
idosos devem estar situadas em locais com facilidade de acesso ao
transporte coletivo e, preferencialmente, próximas aos serviços de saúde
do município, serviços de comércio e espaços de lazer e cultura,
favorecendo a integração do idoso independente e, mesmo, do dependente à
comunidade.
Art. 8) As instituições de cuidado e tratamento de
idosos devem ser compreendidas, para todos os efeitos, como locais de
moradia prevendo, portanto, a participação dos usuários na definição das
rotinas e normas de convivência, bem como na qualificação individualizada
dos ambientes, destacadamente aqueles mais íntimos e reservados como os
quartos. Deverão estimular que, nesses espaços, os idosos possam ter
acesso a uma série de elementos que atuem sobre sua memória física e
afetiva.
Art. 9) As instituições de cuidado e tratamento de
idosos devem ser, preferencialmente, de um único pavimento térreo. Todos
os desníveis externos ou internos devem ser dotados de rampas e escadas,
de fácil limpeza e conservação, antiderrapantes, uniformes e
contínuos.
Parágrafo único - as rampas devem possuir declividade
máxima de 5 %, piso antiderrapante e proteção lateral. Se externas,
deverão ser cobertas.
Art. 10) Nos caminhos, nas áreas de circulação e em
locais específicos onde os idosos precisam de apoio (banheiros, rampas,
escadas, etc.) as instituições devem contar com corrimões conforme as
especificações da ABNT.
Art. 11) Rampas e escadas devem ser executadas segundo
as mesmas normas da ABNT, observadas as exigências de corrimão e
guarda-corpo. Complementarmente, destaca-se a necessidade de:
-
No primeiro e último degrau da escada dotá-los de luz de
vigília permanente;
-
Executar o corrimão de forma a torná-lo contrastante em
relação à parede onde for fixado para fácil e rápida identificação e
utilização;
-
No caso de acesso à edificação, a escada e a rampa
deverão ter, no mínimo, 1,50m de largura.
-
No início e término das escadas deve ser instalada uma
cancela, para controle de fechamento e/ou abertura.
Art. 12) Os corredores devem ter a largura mínima de
1,50m e ser dotados de corrimãos de ambos os lados. Pisos, paredes e
portas devem ser bem visualizados através de variações de revestimento e
cor. Os corredores e demais áreas de circulação devem estar livres de
qualquer obstáculo (como móveis, vasos, etc.)
Art. 13) Os espaços de circulação externa devem contar
com áreas verdes, com caminhos e bancos para descanso à sombra , solarium
protegido dos ventos e locais para jardinagem e outras atividades ao ar
livre. Os locais destinados à jardinagem e hortas devem ser providos de
canteiros elevados para possibilitar o manuseio por pessoas sentadas.
Art. 14) A área de circulação de veículos deve ser
isolada da área de circulação externa dos idosos.
Art. 15) Todas as áreas internas devem ser dotadas de
campainhas para emergência e sistema de segurança/prevenção contra
incêndios, com previsão de rápido e seguro escoamento de todos os
residentes. Nos dormitórios, haverá campainha em cada cabeceira de
cama.
Art. 16) As portas devem ter um vão livre igual ou maior
que 0,80m sendo, preferencialmente, de correr (com trilhos embutidos no
piso) ou de abrir com dobradiças verticais, dotadas de comando de abertura
e alavanca.
Art. 17) Cadeiras, poltronas e sofás devem ser
revestidos por material impermeável e a altura dos assentos deve ser entre
0,42 e 0,46m.
Art. 18) Nos dormitórios, cada interno disporá de espaço
próprio e móveis para uso particular de tal forma que possa guardar seus
pertences e ter a eles acesso privado.
Art. 19) As camas terão altura entre 0,46 e 0,51m sendo
expressamente vedado o uso de beliches e de camas de armar, bem como a
instalação de divisórias improvisadas.
Art. 20) Os banheiros contarão com, pelo menos, um box
para vaso sanitário e chuveiro que permita o uso por uma pessoa em cadeira
de rodas conforme especificações da ABNT, excetuada a altura dos vasos
sanitários que deve ser de 0,43m do chão.
Art. 21) Os banheiros deverão contar com piso
antiderrapante , campainha de alarme, e barras de apoio em cores
contrastantes com a parede.
Art. 22) É expressamente vedada a permanência de
qualquer pessoa portadora de doença que exija assistência médica
permanente ou cuidados intensivos de enfermagem em instituições asilares
de caráter social.
Art. 23) As instituições deverão proceder a separação do
lixo contaminado, acondicionando-o em sacos plásticos diferenciados por
cor e sinalização não permitindo o seu transporte por áreas de cozinha
e/ou armazenagem de alimentos.
Parágrafo único – compreende-se, para os efeitos dessa
lei, como lixo contaminado resíduos como curativos, seringas e agulhas,
caixas ou recipientes usados de medicamentos e restos de alimentos.
Art. 24) Todos os idosos, ao serem admitidos na
instituição, deverão ser registrados em ficha cadastral própria, de acordo
com norma própria da Autoridade Sanitária. Cada um deles terá prontuário
próprio para registro de sua evolução e controle de medicação.
Art. 25) Não serão admitidas restrições de horários ou
de dias da semana às visitas aos idosos. Os internos têm o direito de
receberem familiares e amigos a qualquer momento, bastando para isso a sua
vontade.
Art. 26 ) Cada instituição de atendimento aos idosos
colocará um telefone à disposição dos internos, permanentemente, definindo
com eles as normas para seu uso racional.
Art. 27) Cada instituição deve possibilitar aos internos
condições de deslocamento para atividades externas e visitações a Igrejas,
museus, praças, cinemas, teatros, praças esportivas, mercados, etc.
Art. 28) Essa lei entra em vigor na data de sua
publicação.
Art. 29) As instituições já existentes de atendimento de
idosos deverão encaminhar à Autoridade Sanitária, no prazo de 9
0 (noventa) dias a contar da publicação desse Lei, seu cronograma de
adaptação às normas aqui definidas.
Parágrafo primeiro - O cronograma de adaptação de que
trata o caput desse artigo deverá prever uma primeira fase de
reformas para o primeiro ano de vigência da Lei e uma Segunda fase de
adaptação final até o final do segundo ano de vigência.
Parágrafo segundo - As entidades que, após o prazo de
dois anos de vigência da Lei, não tiverem realizado as adaptações
necessárias ao cumprimento das normas aqui definidas, serão interditadas.
JUSTIFICATIVA
Em outubro do ano de 2001, realizamos, pela Comissão de
Direitos Humanos da Câmara Federal, a "V Caravana Nacional de
Direitos Humanos" que escolheu como tema a realidade das
instituições asilares que prestam atendimento a idosos. Estivemos em 4
estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Paraná.
Visitamos um total de 28 instituições e pudemos recolher uma amostra
significativa de uma realidade dramática e, ainda hoje, pouco
conhecida em nosso país.
O que vimos consta do relatório específico da Caravana
que, a exemplo do que ocorreu com todas as demais, alinhavou, também,
recomendações e medidas para o enfrentamento do problema. O presente
projeto de Lei procura enfrentar um dos aspectos mais agudos da
questão: a realidade das instituições asilares que vêm se
multiplicando à margem de qualquer legislação específica de âmbito
nacional.
Registre-se a relevância do tema em um país que
envelhece rapidamente. Segundo todos os levantamentos e estudos sobre
o perfil demográfico brasileiro, temos que nossa população vem
envelhecendo proporcionalmente desde os anos 60. Esse processo está
largamente condicionado, de um lado, pela redução abrupta, nas últimas
décadas, da natalidade no Brasil e, de outro, pelo aumento da
expectativa de vida dos brasileiros. Atualmente, temos cerca de 14
milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que perfaz 9,1% da
população. Dentro de 20 anos, os idosos brasileiros serão 32 milhões e
representarão cerca de 18% do total da população. Essas estimativas
deverão situar o Brasil em sexto lugar no ranking das populações
idosas no mundo (!)
Essa mudança de perfil demográfico no Brasil repercute
largamente sobre as políticas sociais e já altera as demandas dos
serviços de saúde, por exemplo. Do total de idosos no Brasil,
estima-se que cerca de um milhão e setecentos mil deles vivem abaixo
da linha de pobreza. Desse universo de idosos em situação de
miserabilidade, cerca de 450 mil passaram a receber benefícios de
prestação continuada previstos pela LOAS. Temos, portanto,
seguramente, mais de um milhão de idosos desamparados em nosso país.
Uma parte significativa desses idosos encontra-se, hoje, em
instituições do tipo asilar. Nas próximas décadas, o problema tende a
se agravar substancialmente.
Desde a aprovação da Política Nacional do Idoso – Lei
8.842 de 04 de janeiro de 1994 e do Decreto1.948 de 03 de julho de
1996 – abriu-se no país uma nova fase para a elaboração de políticas
públicas de proteção e amparo ao idoso. Esse processo, que poderá ter
com a aprovação do Estatuto do Idoso um passo ainda mais
significativo, não foi capaz, até agora, de regrar efetivamente as
instituições que prestam serviços na área de atenção aos idosos. Os
únicos instrumentos de que dispomos são duas portarias
regulamentadoras: a primeira, de número 810 de 22 de setembro de 1989,
do Ministério da Saúde e a segunda, de número 73 de maio de 2001, do
Ministério da Previdência Social. Independentemente da qualidade
desses dois documentos, o fato é que eles tem servido muito mais como
uma referência técnica ou um padrão ideal do que como um conjunto de
regras operantes e delineadoras de uma política capaz de alterar o
perfil atual dos asilos e instituições congêneres.
Que perfil é esse? Pelo que pudemos observar em nossa
viagem, a grande maioria das instituições asilares no Brasil não
dispõem das mínimas condições de funcionamento e, por decorrência,
estão incapacitadas de oferecer aos idosos que abrigam um padrão de
vida digno. Como regra, os Asilos, Abrigos, Casas de Repouso, Lares de
Idosos ou mesmo Clínicas Geriátricas, são , na verdade, depósitos de
seres humanos que aguardam silenciosamente pela morte.
As instituições que visitamos, com honrosas exceções,
estavam superlotadas. Alguns dos alojamentos funcionavam como se
fossem enfermarias de campanha em condições deploráveis de higiene,
sem o necessário apoio técnico e, rigorosamente, sem oferecer qualquer
cuidado aos internos. Em várias instituições vimos pessoas sem
qualquer formação manipulando medicamentos acondicionados fora de suas
embalagens em vidros rotulados com os nomes dos idosos. Em outros,
constatamos falta de comida e alimentos em estado avançado de
putrefação. Normalmente, essas instituições são verdadeiras armadilhas
para os idosos. Algumas são escuras e cheias de obstáculos
arquitetônicos; muitas funcionam em prédios com mais de um andar,
possuem escadas perigosas ou rampas íngremes. Seus pisos não contam
com adaptações antiderrapantes, seus banheiros, além de fétidos não
oferecem amparos ou adaptações indispensáveis à segurança dos
internos. Como decorrência, as quedas fazem parte do cotidiano dessas
instituições e vitimam idosos a todo momento. Dificilmente tais
estabelecimentos contam com serviços de profissionais habilitados na
área de saúde. Quando muito, há a prestação de serviços dessa
natureza, em caráter esporádico, como trabalho voluntário. Os internos
não contam com qualquer estímulo a sua autonomia. Permanecem todo o
dia, em regra, sem qualquer tipo de atividade. Muitos deles descrevem
essa rotina afirmando que nos lugares onde foram abandonados o que se
faz é "comer e dormir". Boa parte dessas instituições recebem idosos
independentes e idosos com uma situação de dependência grave. Outras,
terminam por ser, também, depósitos de doentes mentais, idosos ou não.
Não raro, há casos de maus tratos e denúncias de violências praticadas
contra os idosos por aqueles que deveriam lhes estar oferecendo
cuidados. Em Recife, por exemplo, em uma das instituições que
visitamos, encontramos uma senhora, perfeitamente lúcida e saudável,
que era amarrada em uma cadeira de balanço, todos os dias. Seus
"cuidadores" adotaram esse procedimento para que ela não fumasse (!)
O quadro mais grave, não obstante, é mesmo o do abandono
dos idosos nessas instituições. Se sabemos que muitos dos
estabelecimentos de atenção a idosos no Brasil funcionam,
efetivamente, como pequenas empresas lucrativas onde, inclusive,
proprietários manipulam cartões bancários dos internos se apropriando
de suas aposentadorias, pensões ou benefícios de prestação continuada,
também é necessário registrar que a maioria das instituições enfrenta
toda a sorte de dificuldades financeiras e sobrevive graças à caridade
pública. Há, de fato, da parte de vários dos administradores e
proprietários desses estabelecimentos, uma genuína disposição
filantrópica e, em alguns casos, uma dedicação elogiável aos internos.
Estabelecimentos com essas características devem receber, então, de
parte do poder público, o apoio necessário e, através de convênios,
também os recursos financeiros indispensáveis. Para isso, entretanto,
devem se adaptar a normas elementares de funcionamento pelas quais se
pretende, a um só tempo, revitalizar a rede filantrópica de
assistência e superar, paulatinamente, as características mais
marcantes de um modelo asilar que tem sido, antes de tudo, responsável
pela produção de sofrimento.
As disposições que apresentamos nesse projeto de lei
procuram recolher algumas das orientações centrais das portarias
técnicas já citadas – precisamente as que possuem uma natureza básica
de caráter permanente - concentrando as atenções nas instituições
definidas como prestadoras de "atendimento integral institucional" ,
tema cuja urgência dispensa maiores comentários. Recolhemos,
igualmente, algumas das sugestões oferecidas pela SBGG (Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia) – seção São Paulo e algumas
das normas do decreto regulamentador dos asilos promulgado pela
Prefeitura Municipal de Londrina (PR), recentemente. Introduzimos
algumas disposições de conteúdo garantista que expressam nossa
sensibilidade após a realização da V Caravana e nos inspiramos,
também, nos esforços realizados pela CPI do Idoso da AL/RJ.
A aprovação desse projeto de lei, para o qual
solicitamos a atenção dos nobres pares, é fundamental para que
tenhamos a força legal capaz de impulsionar uma verdadeira mudança no
perfil institucional dos estabelecimentos que prestam cuidados aos
idosos no Brasil. Com uma Lei dessa natureza, estados e municípios
poderão dispor de uma referência para o desenvolvimento de políticas
públicas humanistas que se somem aos esforços que devemos realizar
para a garantia de um envelhecimento com qualidade de vida para todos
os brasileiros.
Deputado Marcos Rolim – PT/RS Deputado Padre Roque -
PT/PR
d) ANEXOS:
d-1) - TERMINOLOGIA
Listamos, a seguir, algumas expressões e conceitos
bastante empregados quando tratamos de políticas públicas com relação
aos idosos, definindo-as sumariamente com base nos documentos
oficiais.
1) Ação terapêutica - processo de tratamento de
um agravo à saúde por intermédio de medidas farmacológicas e não
farmacológicas, tais como: mudanças no estilo de vida, abandono de
hábitos nocivos, psicoterapia, entre outros.
2) AIH (Autorização de Internação Hospitalar) -
documento de autorização e fatura de serviços hospitalares do SUS, que
engloba o conjunto de procedimentos realizados em regime de
internação.
3) Assistência domiciliar - assistência realizada
na residência do idoso mediante o fornecimento de equipamento e
desenvolvimento de ações terapêuticas mais complexas, implicando em
orientação e supervisão sistemática do cuidador domiciliar.
4) Autodeterminação - capacidade do indivíduo
exercer sua autonomia, de decidir sobre sua vida.
5) Cuidador - pessoa, membro ou não da família,
que cuida do idoso dependente ou doente, com ou sem remuneração. Suas
tarefas envolvem o acompanhamento das atividades diárias do idoso e
seu auxílio na alimentação, higiene pessoal, medicação de rotina e
outros serviços necessários excluídos aqueles para os quais sejam
requeridos técnicas ou procedimentos identificados com profissões
legalmente estabelecidas, particularmente na área de enfermagem.
6) Deficiência - expressão de processo
patológico, como uma alteração de função de sistemas, órgãos e membros
do corpo, que podem ou não gerar incapacidade.
7) Demência - síndrome progressiva e
irreversível, composta de múltiplas perdas cognitivas adquiridas e
pela presença de um estado de confusão mental aguda (de uma
desorganização súbita do pensamento). As funções cognitivas a serem
afetadas pela demência incluem a memória, a orientação, a linguagem, a
práxis, a agnosia (incapacidade de reconhecer informações sensoriais),
as construções, a prosódia (boa pronúncia) e o controle executivo.
8) Geriatria - ramo da ciência médica voltado à
promoção da saúde e o tratamento das doenças e incapacidades da
velhice.
9 ) Gerontologia - área do conhecimento
científico voltado para o estudo do envelhecimento em sua perspectiva
mais ampla, em que são levados em conta não somente os aspectos
clínicos e biológicos, mas também as condições psicológicas, sociais,
econômicas e históricas.
10) Dependência - é a condição daquele que requer
o auxílio de outras pessoas para realização de atividades da vida
diária.
11) Idoso - A Organização das Nações Unidas (ONU)
, desde 1962, considera idoso o indivíduo com idade igual ou superior
a 60 anos. O Brasil, no texto da Lei 8.842/94 adota esse mesma
definição. (Art. 2 do capítulo I)
12) Incapacidade - deficiência no desempenho de
determinada função na extensão, amplitude e intensidade consideradas
normais.
13) Iatrogenia - qualquer agravo à saúde causado
por uma intervenção médica.
d-2) - DOENÇAS MAIS COMUNS NA VELHICE E CUIDADOS
BÁSICOS
Em 1999, o Ministério da Previdência e Assistência Social –
MPAS e a Secretaria de Estado de Assistência Social – SEAS, editaram um
documento com informações básicas sobre o cuidado com os idosos. ("Idosos,
Problemas e Cuidados Básicos") Trata-se de um trabalho muito útil aos
idosos, em primeiro lugar, mas, notadamente àqueles que convivem com
idosos ou que atuam profissionalmente como cuidadores. Selecionamos, para
esse registro em anexo, as observações do documento citado, elaboradas por
uma qualificada equipe de profissionais, a respeito das doenças mais
comuns na velhice. Pela linguagem simples e acessível, julgamos que a
reprodução desse capítulo pode interessar a todos.
(....) "Preliminarmente temos que lembrar que velhice não
significa doença. Todos nós podemos chegar a idades mais avançadas
"vendendo saúde" se nos prepararmos para isso com hábitos de vida
saudáveis: alimentação correta, exercícios físicos, trabalho e alegria de
viver. Estudos realizados em nosso país mostram que grande número de
idosos têm boa saúde e só 18% apresentam problemas importantes.
Mas se prestarmos atenção aos idosos que têm problemas de
saúde, poderemos observar que há algumas doenças que são mais comuns entre
eles. Temos certeza que todos já encontraram idosos com hipertensão,
diabetes, doenças dos ossos ou das juntas, doenças do coração,
ressecamento do intestino, depressão e, em menor número, com câncer,
doenças do pulmão, como bronquite ou enfisema, ou com doenças infecciosas,
como pneumonia ou infecção urinária.
Os idosos freqüentemente apresentam várias doenças ao mesmo
tempo e geralmente elas são de longa duração, sendo que muitas não tem
cura, mas têm tratamento para controlá-las e permitir que a pessoa
continue vivendo normalmente, igual aos outros.
Por outro lado, em alguns casos as doenças podem levar à
imobilidade, às quedas, à confusão mental, à incontinência (perda
involuntária da urina ou fezes) ou a várias alterações causadas pela
falta, excesso ou erro na medicação ou na dieta.
Faremos algumas considerações à respeito das doenças mais
freqüentes:
Hipertensão arterial
É sem dúvida, uma das doenças mais comuns entre os idosos. A
Organização Mundial de Saúde considerou os valores de 140/90 mmHg como
sendo os níveis limítrofes, acima dos quais o indivíduo é considerado
hipertenso. No idoso, porém, os valores são de 160 mmHg ou mais para
pressão sistólica e 95 mmHg ou mais para pressão diastólica.
A hipertensão é muito importante, porque, quando não
controlada, pode ser a causa de várias doenças, principalmente o derrame,
a angina (dor no coração) e o infarto.
Quase nunca a causa da hipertensão é conhecida, no entanto,
existem fatores considerados de risco que podem favorecer o seu
aparecimento. Assim, são considerados os fatores constitucionais e os
ambientais.
Fatores constitucionais entre os quais alguns são da própria
pessoa, não se podendo fazer nada para evitá-los, como:
· Idade: a média da pressão arterial é maior quanto maior
for a faixa etária;
· Sexo: é mais freqüente em mulheres;
· Fatores genéticos: é mais comum na raça negra e nos
descendentes de hipertenso.
Fatores ambientais são dependentes da vontade da pessoa,
como:
· Ingestão excessiva de sal;
· Álcool: a ingestão de três doses de bebida diariamente
favorece a hipertensão;
· Gordura: principalmente a animal;
· Tabagismo;
· Fatores ligados ao trabalho: estresse, ruído, calor
excessivo;
· Excesso de peso.
A hipertensão pode ser uma doença leve, moderada ou grave e
é o médico que vai verificar isso para poder tratar o paciente, sendo por
vezes necessário tomar remédios e outras vezes não.
Independente da gravidade da doença algumas medidas sempre
deverão ser tomadas e são tão importantes quanto os remédios. São
elas:
· Redução da ingestão de sal;
· Redução do peso corporal para os pacientes obesos;
· Redução da ingestão de gordura;
· Eliminação do consumo de bebidas alcoólicas;
· Prática de exercícios físicos aeróbicos (caminhada,
natação, dança);
· Abandono do fumo;
· Aumento do teor de alimentos com fibras na
alimentação.
O paciente hipertenso deverá ser acompanhado sempre pelo
médico e é este profissional que indicará a freqüência das consultas.
Quando o paciente puder pertencer a uma "liga de hipertensos" ou outro
serviço de saúde específico para hipertensos, será atendido por uma equipe
de vários profissionais que lhe ajudarão de uma forma muito mais completa
a controlar a sua doença.
Diabetes Mellitus
O diabetes mellitus é uma doença causada pelo aumento de
açúcar (glicose) no sangue. O pâncreas produz a insulina que controla a
entrada de glicose nas células do corpo para que possam produzir energia.
Todas as vezes são ingeridos açúcares (massas e doces), o pâncreas lança
no sangue determinada quantidade de insulina necessária para o
aproveitamento desses alimentos.
No diabetes, tal mecanismo não funciona convenientemente. Em
conseqüência, os açúcares ingeridos não são aproveitados e o teor de
glicose aumenta no sangue causando os sintomas da doença. Por exemplo, a
glicose em excesso é eliminada pelos rins carreando grande quantidade de
água e o paciente começa a urinar muito e ter muita sede; além disso, não
sendo produzida energia pelo aproveitamento da glicose, o organismo retira
essa energia das gorduras ocasionando emagrecimento.
Para que uma pessoa fique diabética, em geral, é preciso que
seja predisposta ao diabetes, sendo que vários fatores podem favorecer o
aparecimento da doença, tais como: obesidade, sedentarismo, infecção,
trauma emocional ou determinados medicamentos.
O diabetes no jovem se manifesta principalmente pelos
seguintes sintomas: urina muito, sente muita sede, come muito e perde
peso. Pode sentir também fraqueza e prurido vulvar (coceira nos genitais
da mulher). Estes pacientes geralmente não produzem insulina e, por isso,
precisam fazer uso diário desta substância.
As pessoas que apresentam diabetes em idades mais avançadas
(quase sempre após os 40 anos), geralmente não precisam usar insulina
porque elas produzem um pouco, só que ela não funciona adequadamente.
Estes pacientes muitas vezes têm que tomar remédios orais para ajudar no
controle da doença. A forma clínica pode ser atípica, diferente dos
sintomas dos jovens.
Perda de peso, fadiga, prurido vulvar, infecção do trato
urinário ou incontinência urinária, são alguns sinais e sintomas presentes
no idoso com diabetes mellitus. Vários pacientes se apresentam ao médico
já com complicações da doença, tais como: catarata, alterações nos rins,
redução da visão ou ulcerações crônicas nos pés. Isto se deve ao fato de
muitos permanecerem sem sintomas por um período prolongado de suas
vidas.
As vezes o idoso com diabetes pode ter dormências nos pés, o
que facilita que a pessoa se machuque e não perceba, facilitando as
infecções. As deformidades nos pés, o uso de cigarro, a obesidade, a
hipertensão arterial e o aumento de gorduras no sangue favorecem o
aparecimento de úlceras nos pés. Toda pessoa com diabetes deve observar
os pés diariamente.
O paciente com diabetes também pode apresentar hipoglicemia,
que é a diminuição
do açúcar no sangue. Nos pacientes que usam insulina pode
ser conseqüente de dose indevidamente elevada, administração em horário
impróprio, falta ou insuficiência de uma
refeição ou exercício físico intenso fora da rotina do
indivíduo. Os pacientes que tomam
remédios orais podem ter hipoglicemia quando associam bebida
alcóolica em grande quantidade ou permanecem em jejum prolongado. A
hipoglecia no idoso pode se manifestar como confusão mental ou dormências
transitórias ou, às vezes, como nos jovens, com sudorese, tremores,
sensação de fraqueza e fome, palpitações e tontura. Nas hipoglecemias
prolongadas e freqüentes as funções renal e cardiovascular podem ser
afetadas e aumenta a predisposição aos derrames e quedas.
Os objetivos do tratamento do diabetes mellitus são:
prevenir hiperglicemia após a pessoa ter se alimentado (prevenir o
aparecimento dos sintomas de perda da glicose como perda da glicose, como
perda excessiva de urina e desidratação), prevenir a hipoglicemia quando o
paciente estiver usando insulina ou remédio oral (confusão mental,
sudorese, queda), atingir e manter o peso corpóreo ideal, manter as
gorduras do sangue (triglicerídeos e colesterol) em níveis normais e
prevenir ou retardar complicações vasculares, alterações da retina, dos
nervos e dos rins.
Independente da idade de aparecimento do diabetes, além da
insulina ou do remédio oral (quando necessário) a dieta e o
exercício físico fazem parte do tratamento e são importantes
quanto os remédios.
O tratamento dietético consiste, basicamente, em reduzir e
equilibrar a ingestão de açúcar (doces e massas) para sobrecarregar o
mínimo possível o mecanismo regulador deficiente da glicose sangüínea,
pois a alimentação de um diabético é uma dieta normal que contém calorias
suficientes para sua atividade e manutenção do peso e é adequada em
proteínas, minerais e vitaminas. Os alimentos devem ser distribuídos em 5
ou 6 refeições durante o dia, com horários regulares.
De modo geral, devem ser excluídos da dieta: açúcar e
qualquer preparação que o contenha sobremesas constituídas por doces,
geléias, gelatinas, bombons, frutas adoçadas, refrigerantes, bolos), mel,
melado e rapadura. Usar adoçantes artificiais. Deve-se evitar bebidas
alcoólicas, carnes gordurosas, frituras, salame, toucinho, bacon, salsicha
e pele de aves. Os vegetais folhosos em geral, tomate, pimentão e jiló
podem ser ingeridos à vontade e os demais devem obedecer prescrição
individual de quantidades, haja vista não ter restrição a nenhum.
Incluir alimentos protéicos de alta qualidade, como carne e
leite em quantidade moderada.
O consumo de frutas deve ser estimulado, observando-se as
limitações, principalmente para a banana ( 1 unidade/dia), caqui (1
unidade/dia), uva (15 unidades/dia) e manga (1 unidade/dia).
Outro ponto fundamental no tratamento é o exercício físico,
pois ele contribui para a redução do peso corporal, melhora o controle da
glicose no organismo, permite mais liberdade na dieta e diminui a dose do
remédio oral ou da insulina. Melhora também, o estado circulatório,
psíquico e físico em geral. São recomendados os exercícios aeróbicos, como
a caminhada, por períodos de 20 a 30 minutos. Deve-se realizar uma
avaliação cardiovascular adequada inicialmente. A quantidade de exercícios
deverá ser incrementada progressivamente.
Doenças músculo-esqueléticas
As queixas mais freqüentes entre os pacientes idosos
relacionada com "reumatismos" são dores nas cadeiras (coluna lombar ou
lombalgia), dores nas costas, dores nas pequenas e grandes juntas do corpo
(articulações do ombro, quadril, joelhos e mãos) e dores musculares. Essas
dores podem ser causadas por diversas doenças que recebem o nome geral de
"reumatismo".
Entre elas a mais comum é a osteoartrose, ou simplesmente
artrose. A artrose é uma doença que poderíamos dizer, típica do
envelhecimento, pois ela é causada pelo envelhecimento das cartilagens
articulares, fato que determina o "desgaste das juntas" e causam dor. É
nesta doença que aparecem os bicos de papagaio nas radiografias. Outras
doenças músculo-esqueléticas que determinam dores e alterações nas pessoas
idosas são: osteoporose ("ossos frágeis e quebradiços"), artrite
reumatóide ("reumatismo deformante das mãos e punhos"), gota ("alteração
devido aos níveis sangüíneos elevados do ácido úrico"), cânceres ósseos,
entre outras.
É claro que sendo doenças diferentes, devem ser prevenidas e
tratadas de modo diferente. Entretanto, existem alguns pontos comuns que
podem ser observados no sentido de ajudar e orientar a pessoa idosa para
uma busca correta de tratamento e/ou melhora de sua qualidade de vida.
Entre esses pontos podemos citar:
1. Toda pessoa que tem dor óssea, articular ou muscular
intensa, que piora dia-a-dia, que não melhora com analgésicos comuns, que
são acompanhadas de outros sintomas, como febre e emagrecimento, devem ser
orientadas no sentido de procurar assistência médica.
2. As pessoas obesas devem ser orientadas para perder peso,
pois este é um fator agravante de dores articulares.
3. Os idosos que se recolhem a vida sedentária, devem ser
estimulados a se expor ao sol e fazer exercícios, como a caminhada, por
exemplo, desde que o façam com segurança e de preferência antes das 10h.
da manhã. A dança também é um bom exercício físico, pois além da atividade
física, ajuda na socialização do idoso.
4. A dieta baseada em leite e derivados é útil na prevenção
da osteoporose. Deve-se dar preferência ao leite desnatado, queijo branco,
ricota e coalhadas, para não elevar os níveis sangüíneos de colesterol.
Peixe é uma excelente fonte de vitamina D, que ajuda absorver o
cálcio.
5. Evitar pegar pesos além dos limites para idade.
6. Evitar situações que possam propiciar quedas.
7. Evitar esforços repetitivos.
8. Abolir ou reduzir o consumo de bebidas alcoólicas, fumo e
café.
9. Para as pessoas da terceira idade que têm dores
articulares por algum tipo de "reumatismo", do tipo "inflamatório", nos
períodos sem dor, estão muito bem indicados a hidroginástica e natação,
que são excelentes meios para ampliar os movimentos da juntas
(articulações), uma vez que a água anula a força da gravidade e auxilia
nos exercícios. Também exercícios específicos para as juntas das mãos e
pendulares para os ombros ajudam o idoso a se libertarem de rigidez e
melhoram sua qualidade de vida.
Uma queixa muito comum entre os idosos é a dor lombar e a
melhor maneira de preveni-la ou não permitir que ela piore, é adotar bons
hábitos posturais. Entre estes podemos destacar os seguintes:
1. Para dormir deve-se adotar posições corretas, isto é, não
dormir em decúbito ventral ("de barriga para baixo"). Se dormir sobre os
ombros, o melhor é usar travesseiro alto. Se dormir em decúbito dorsal
("barriga para cima"), pode-se usar travesseiro baixo. Deve-se escolher um
colchão firme, de consistência não tão dura como solo e nem irregular e
mole. Ele deve ter a elasticidade necessária para modelar e apoiar o
corpo.
2. Procurar não ficar muito tempo sentado, e se o fizer,
nunca sentar-se em bancos baixos sem encosto, pois isso aumenta a
curvatura da coluna lombar e piora ou desencadeia
dor. Evitar sentar-se em sofás e poltronas. Se tiver de
permanecer sentado, não fazê-lo por muito tempo e escolher cadeiras mais
altas, com apoios dorso-lombar e para os braços.
3. Ao assistir televisão, colocar o aparelho de TV na altura
dos olhos, nunca acima, para evitar dores no pescoço.
4. Quando for apanhar um objeto do solo ou levantar algum
peso, sempre flexionar o joelho e aproximar o peso do corpo. Se a dor
lombar já estiver instalada ou se instalar agudamente, enquanto se procura
ajuda médica, deve-se proceder da seguinte maneira:
· Repouso no leito é o principal item no tratamento da dor
na coluna. Esse repouso deve ser feito com as pernas encolhidas se o
paciente deitar-se de lado ou com um apoio sob as pernas se estiver em
decúbito dorsal ("de barriga para cima").
· O uso de calor, como bolsa de água quente durante 20
minutos, por duas vezes ao dia, no local da dor, também é um ótimo início
de tratamento.
· Além disso, pode ser instituído também, o tratamento com
medicamentos e/ou
fisioterapia. Entretanto, estes só devem ser prescritos por
médicos.
· Nunca permitam que sejam feitas manipulações em pacientes
idosos sem a orientação médica, principalmente sem fazer radiografias,
pois isto pode levar a conseqüências desastrosas. Muito cuidado com
massagistas não habilitados!
Osteoporose
A osteoporose é uma doença muito comum nos idosos,
principalmente entre as mulheres depois da menopausa. Com a osteoporose os
ossos vão se tornando frágeis e quebradiços. Embora não exista a cura para
a osteoporose, ela pode ser controlada e muitas vezes prevenida. As
principais medidas na prevenção e/ou tratamento da osteoporose são:
· Exercícios: os exercícios que colocam o pé no solo, como
caminhada, corrida e dança, são os melhores. Eles devem ser feitos de 3 a
5 vezes por semana e de acordo com o
equilíbrio e capacidade de cada um, sem se expor a esforços
exagerados. Também é útil que esses exercícios sejam feitos nas primeiras
horas da manhã, pois o sol, nesse horário contém mais raios ultravioleta
que fabricam vitamina D na pele, a qual é indispensável para a melhor
absorção do cálcio que favorece a fabricação do osso.
· Dieta rica em cálcio: esta é conseguida com leite e
derivados, como já foi mencionado. Entretanto, idosos, as vezes têm
intolerância ao leite. Nesses casos recomenda-se o uso de cálcio
medicamentoso. O uso de farelo de casca de ovo proporciona cálcio à
alimentação de modo barato, entretanto a quantidade de casca de ovos
requeridas para fornecer a quantidade de cálcio é tão grande, que só esse
método se torna impraticável
(em torno de 40 cascas de ovos para 800 mg de cálcio, que é
a dose mínima diária).
· Terapia de Reposição Hormonal: é o melhor meio de se
evitar e tratar a osteoporose na mulher, onde ela é mais freqüente, na
proporção de 10 para um homem. Na menopausa há, normalmente, uma
diminuição de produção do hormônio feminino, o estrogênio e com isso,
inicia-se um processo de perda óssea. Isso ocorre, em torno dos 50 anos.
Se nessa fase a mulher procurar um ginecologista e se submeter a um
tratamento com
hormônios, certamente terá muito menor chance de desenvolver
a doença.
Alterações dos órgãos dos sentidos
Os sentidos são partes do nosso organismo que servem para
receber e sentir as mudanças no meio ambiente em que nos encontramos.
Existem nos seres humanos cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar
e tato.
Tato
Todos os órgãos dos sentidos podem sofrer alterações durante
a velhice, menos o tato. Este somente é prejudicado em presença de doenças
e, mesmo assim, só em regiões especificas. Isto é muito importante, pois
nos permite perceber que sempre poderemos dar a mão amiga e o braço
carinhoso à pessoa querida, independente da sua idade.
Visão
A visão sofre várias alterações, o que leva a maioria dos
idosos à necessidade de usar óculos para enxergar as coisas de perto.
Existem alterações importantes como, por exemplo, dificuldade de
distinguir as cores e/ou a profundidade, pois estes fatos contribuem para
a queda. Algumas doenças dos olhos são mais freqüentes em idades mais
avançadas como o glaucoma e a catarata. Estas são doenças crônicas e o
paciente geralmente não sente nada por muito tempo, mas que se não forem
tratadas, podem levar à cegueira. Por essa razão todo o idoso deve ir ao
oftalmologista (médico de olhos) anualmente. Importante salientar que não
há contra-indicação à cirurgia de catarata por causa da idade. Em qualquer
etapa da vida, mesmo com mais de 90 anos, a pessoa pode se beneficiar com
esta cirurgia. Somente a presença de doenças e não a idade pode
contra-indicar esse tipo de cirurgia.
Audição
A audição está diminuída em aproximadamente 30% nos idosos.
Essa alteração, na
maioria das vezes, ocorre em razão do envelhecimento do
sistema auditivo. Quando existe
mais de duas pessoas falando ou se a televisão estiver
ligada e conversamos com um idoso,
mesmo saudável, haverá certamente dificuldade de
comunicação. Outra causa relativamente fácil de ser diagnosticada e
tratada é o acúmulo de cera dentro dos ouvidos. Se há dificuldade de
audição, nem sempre adianta gritar. O idoso tem dificuldade com sons muito
agudos, vozes muito finas.
Se a pessoa tem dificuldade de audição o melhor a fazer
é:
· verificar se há cera acumulada e providenciar a sua
retirada por profissional competente (não use cotonete ou qualquer outro
objeto, pois ele empurra ainda mais o cerume para dentro do ouvido);
· não gritar ao tentar se comunicar com o idoso; fique
diante dele, reduza as outras fontes de ruído (televisão, rádio etc.), de
modo que ele possa ler seus lábios ou entender seus gestos;
· lembrar que existem outras alterações menos comuns que
também afetam a audição, como tumores ou inflamações. Por isso é
necessário levar o idoso ao otorrinolaringologista (médico que examina os
ouvidos, garganta e nariz) sempre que houver diminuição de audição.
Paladar e olfato
O paladar e o olfato também podem estar diminuídos. Isso faz
com que o idoso perca, muitas vezes, o interesse pela comida. É importante
temperar bem os alimentos, não com muito sal, mas com cebola, alho, cheiro
verde e outros temperos, para evitar que o idoso fique desnutrido.
É bom lembrar que a alteração de qualquer órgão dos sentidos
afeta muito a qualidade de vida do idoso, trazendo conseqüências como
isolamento e até depressão. Deve-se, portanto, estar atento para pedir
ajuda ao médico e poder corrigir, da maneira possível, o problema.
Considerações sobre alimentação no idoso
A alimentação é uma atividade básica para a sobrevivência e
é influenciada por inúmeros fatores: os aspectos sócio-culturais, a idade,
o estado físico e mental, a situação econômica e o estado geral de saúde.
A forma de comer, os tipos de alimentos, a reunião em torno das refeições
refletem aspectos sociais e culturais importantes para interação e
convivência comunitária.
Para o idoso essa atividade de vida diária assume papel
relevante, uma vez que as doenças que os idosos apresentam (doenças do
coração, demência, artrites etc.) podem influenciar e alterar sua
habilidade e independência para alimentação. Como a população idosa está
aumentando, também cresce a freqüência de problemas relacionados à
alimentação e nutrição.
Em vista disso, um dos primeiros cuidados com os alimentos
está relacionado com a limpeza das mãos e boca (incluindo a prótese
dentária, se houver) antes e após as refeições.
É importante que as refeições sigam uma rotina regular,
mantendo constantes os horários pré-estabelecidos, os locais das
refeições, os utensílios (pratos, talheres e copos). O horário, sempre que
possível, deve ser o mesmo da família do idoso, possibilitando-se assim a
interação e o contato das gerações. Mas, se o idoso apresentar um estado
de grande confusão mental, recomenda-se fazer refeições em ambiente
tranqüilo, sem muito barulho. O cuidador deve anunciar a atividade que
fará ("Vamos começar a almoçar", "O cardápio de hoje é…", "Vou partir o
frango") e estimular o idoso a participar da atividade ("Poderia pegar o
guardanapo, por favor"). Na medida do possível é interessante que as
refeições contenham os mesmos alimentos dos demais membros da família. No
entanto, em virtude da sensibilidade digestiva, cuidar, em especial, da
higiene dos utensílios e dos alimentos, evitando o uso de restos
alimentares, de alimentos mal conservados, de enlatados e embutidos. O
local para as refeições deve ser bem iluminado (muitos idosos apresentam
diminuição da visão), arejado e tranqüilo. Os utensílios (pratos, talheres
e copos) devem ser resistentes e inquebráveis, colocando na frente do
idoso apenas o que for realmente necessário, evitando-se distrair sua
atenção durante a alimentação. Caso ele seja muito confuso ou apresente
grande tremor nas mãos, sugere-se a utilização de toalhas antiderrapantes
ou pratos com ventosas de borracha que se fixam às mesas e, também, pratos
com as laterais elevadas, evitando-se que a comida seja derramada. Os
copos e as xícaras podem ser adaptados, caso o idoso tenha dificuldade em
fechar os dedos ou pouca força muscular para levá-los à boca. A adaptação
de alças de diferentes tipos, o uso de tampas e canudos plásticos também
ajudam. Quanto aos talheres, esses podem ter seus cabos aumentados ou
engrossados, dependendo da limitação de movimentos do idoso. Para
aquele com grande tremor nas mãos indica-se aumentar o peso
dos talheres contribuindo para controlar ou modificar os tremores.
Os utensílios visam sempre aumentar a independência e a
participação do idoso nas atividades de vida diária. Mas é fundamental
utilizar os adequados à idade e não infantizá-lo durante a alimentação
(por exemplo, caso ele apresente grande confusão mental ou limitação
física que o impeça de cortar a carne, esta deve ser colocada em seu prato
já cortada em pequenos pedaços).
O cuidador deverá ser orientado pelo nutricionista e/ou
médico, respeitando sempre possível as preferências alimentares do idoso,
e seguir com disciplina as dietas especiais nos casos de doenças como, por
exemplo, diabetes, hipertensão, obesidade etc. Essas dietas devem ser
nutritivas, equilibradas e conter os tipos de alimentos adequados,
conforme o gráfico da página seguinte.
Com a diminuição da sensibilidade do paladar e do olfato,
indica-se usar na alimentação mais temperos naturais como cebola, alho,
tempero verde, ervas aromáticas, evitando pimenta e usando moderadamente o
sal.
Requer especial atenção a temperatura dos alimentos para se
evitar acidentes. Em relação aos idosos confusos procurar não misturar
alimentos com consistência diferentes numa mesma refeição (quando líquidos
e sólidos são administrados juntos, o idoso tenderá a engolir os sólidos
sem a mastigação necessária). Deve-se, também, promover contraste de cor
entre os alimentos e o prato, e entre o prato e a toalha, visando
facilitar a orientação e percepção visual.
A alimentação de idosos dependentes ou em estágios avançados
de doenças é uma atividade que requer tempo, tranqüilidade e habilidade. O
cuidador deve utilizar palavras claras, frases curtas e objetivas, e
anunciar o que irá fazer, solicitando a colaboração do idoso, por menor
que seja, e utilizar palavras de estímulo e incentivo.
Quando a alimentação for via sonda enteral ou gástrica, deve
ser feita sempre com o idoso sentado, com calma e paciência, em
consistência líquida e em pequenas porções. Após a administração da dieta
pela sonda é indispensável injetar água para mantê-la limpa, evitando o
risco de entupimento.
Para finalizar deve-se enfatizar que as adaptações sugeridas
visam facilitar a alimentação e aumentar a independência do idoso, devendo
ser propostas segundo o grau de confusão mental, incapacidades físicas e
distúrbios de conduta que eventualmente poderão fazer parte do quadro
clínico do doente idoso.
Adaptações ambientais
O idoso para mover-se em sua casa com independência e
segurança precisa de um ambiente adaptado às suas necessidades. Este
ambiente deve ser modificado para prevenir acidentes, aumentar a
funcionalidade dos diferentes cômodos, simplificar e tornar mais seguras
as atividades do dia-a-dia sem, contudo, perder as características
próprias da residência.
Alguns objetos verdadeiramente significativos (fotografias,
quadros, enfeites) devem ser mantidos desde que não ofereçam perigo. No
caso de idosos que apresentam grande confusão mental, objetos supérfluos,
cortantes, de vidro ou muito pequenos devem ser retirados do acesso
fácil.
Os móveis devem estar dispostos de maneira a aumentar os
espaços livres e a circulação. Sofás e cadeiras podem ser cobertos com
tecidos laváveis para facilitar a limpeza e evitar odores, no caso de
idosos com incontinência urinária. As mesas podem ter as quinas protegidas
com pontas plásticas e devem ter os tampos bem afixados aos pés. As camas,
caso seja necessário, podem ser adaptadas com grades a noite.
O piso deve ser antiderrapante, de cor única e sem mudanças
de nível. Os tapetes pequenos devem ser retirados ou afixados ao assoalho
com fitas adesivas apropriadas. O brilho no assoalho deve ser evitado,
pois aumenta a desorientação de idosos confusos.
As janelas devem possibilitar boa ventilação do ambiente e
ter dispositivos de proteção (telas, grades e trincos), no caso de idosos
confusos, deprimidos etc. As portas devem ser amplas para facilitar, caso
seja necessário, a passagem de cadeiras de rodas. Devem ter maçanetas
retas nos cômodos onde se quer facilitar o acesso e maçanetas redondas
onde se quer dificultá-lo. As portas de vidro devem ter uma faixa colorida
na altura dos olhos para facilitar a discriminação para idosos com
diminuição da visão e confusão mental.
As escadas devem ter corrimão de cor contrastante com a
parede e o piso deve ser
antiderrapante. Os degraus podem ter uma faixa de
sinalização (no final de cada degrau) de cor forte para facilitar a
orientação, no caso de confusão mental ou diminuição da visão. Caso o
idoso seja agitado ou confuso, as escadas devem ser fechadas por portões
para dificultar-lhe a utilização e possíveis acidentes.
A iluminação deve ser adequada (sem sombras e reflexos) e
presente em todos os cômodos, com intuito de evitar o aumento da confusão
ao entardecer. Os interruptores de luz devem ser distribuídos por vários
lugares no mesmo cômodo, visando aumentar e facilitar a utilização pelo
idoso. Durante a noite, caso este queira ir, por exemplo, ao banheiro,
deve ser mantida uma luz acesa para sua orientação.
Os banheiros são os locais onde as quedas ocorrem com maior
freqüência, necessitando, portanto, de adaptações que sejam práticas e
aumentem a segurança. Nos boxes devem ser instaladas barras laterais de
apoio e deve-se colocar piso antiderrapante ou tapetes de borracha
afixados ao chão por ventosas. Barras laterais também devem ser instaladas
no vaso sanitário, que poderá ter a altura da tampa elevada, através de um
dispositivo adaptado. As torneiras do chuveiro e pias devem ter a forma
reta para facilitar o manuseio pelos idosos com limitações físicas e
confusão mental. Os espelhos devem ser retirados, evitando-se aumentar a
desorientação no caso de idosos confusos. Visando-se evitar as freqüentes
quedas de sabonete, pode-se prendê-lo com um cordão às torneiras ou
utilizar sabonete líquido. A temperatura da água também deve ser motivo de
preocupação do cuidador, pois idosos com alteração da sensibilidade tátil
e/ou confusos podem se queimar no banho. Os aparelhos elétricos
(barbeadores, secadores) devem se guardados em locais seguros, assim como
todos os medicamentos.
A cozinha é outra dependência da casa que oferece grande
perigo para os idosos. O fogão com panelas quentes, o gás e os produtos
tóxicos de limpeza podem causar inúmeros acidentes com variadas
conseqüências. Deve-se dificultar o acesso dos idosos mais confusos a essa
dependência sem a companhia do cuidador. Os objetos cortantes e produtos
tóxicos devem ser acondicionados em prateleiras altas ou em armários com
chaves.
As alterações e adaptações do ambiente devem ser feitas de
forma simples, com consentimento e participação, quando possível, do
idoso, objetivando facilitar sua rotina e aumentar a segurança.
Higiene, vestuário e cuidados com a pele
Com o envelhecimento podem ocorrer várias mudanças no
organismo do idoso e interferir na capacidade da pessoa cuidar-se sozinha.
Dentre as atividades do dia-a-dia, a higiene pessoal e a troca de roupas
são necessidades inerentes ao ser humano. Entretanto, quando essas
necessidades estão afetadas nos idosos, isso pode torná-los dependentes de
outras pessoas.
Os cuidados de higiene constituem momento de muita
intimidade em qualquer idade, mas nunca é demais lembrar que muito de
nossos idosos e idosas nunca mostraram seus corpos. Eles podem ter
dificuldades de se despir diante de estranhos e mesmo de familiares. Por
isso o banho e todos os cuidados de higiene devem ser feitos num clima de
máxima tranqüilidade e discrição.
Devem ser lembrados, portanto, os aspectos sócio-culturais
individuais de maneira a adequar os cuidados relacionados à higiene,
vestuário e com a pele. Acrescente-se que se deve utilizar o momento do
banho para observar as condições do idoso, comunicando-se com ele e
estimulando todos os movimentos e tarefas que o idoso possa realizar
sozinho.
O que observar na pele do idoso
Ao comentar sobre higiene corporal é preciso ficar claro que
a pele do idoso é mais seca, com menor elasticidade, com alterações da
circulação e da hidratação, o que pode torná-la mais frágil, gerando
complicações.
Algumas doenças ou infecções podem elevar a temperatura do
corpo, aumentando a
transpiração (suor). Além disso, deve-se considerar a
nutrição da pessoa, pois esta pode influenciar o estado geral da pele,
pelos e unhas. No exame da pele devem ser observados:
· cor: pálida, rosada, roxa ou azulada (cianótica);
· textura: áspera, lisa, macia, gordurosa, seca, úmida;
· alterações: vermelhidão (rubor), brilho, áreas roxas
(hematomas), equimoses (sangue por baixo da pele), cicatrizes, úlceras de
decúbito (ulceração da pele devida à prolongada permanência no leito);
· lesões: localização, distribuição, dimensão, forma,
consistência e temperatura. Além disso, observar as unhas, pois estas
podem se apresentar quebradiças e espessas; e o cabelos podem se
apresentar mais ralos e esbranquiçados. Deve-se também levar em
consideração que, na higiene corporal, algumas condições comprometem a
integridade da pele do idoso como imobilização, redução da sensibilidade,
alterações nutricionais, secreções (substâncias secretadas por uma
glândula), excreções (eliminação de material desnecessário e nocivo),
insuficiência da circulação e alguns dispositivos como gessos e
ataduras.
Abordaremos a seguir os cuidados com a pele, a higiene e a
troca de vestuário.
Cuidados com a pele, higiene e troca de vestuário
Higiene matinal e da boca
A higiene matinal consta da lavagem das mãos e higiene da
boca, incluindo as próteses dentárias (dentaduras). A higiene oral é o
primeiro procedimento a ser mencionado. Objetiva evitar acúmulo de
alimentos entre os dentes e a infecção, oferecendo ao idoso uma sensação
de bem-estar. Ensinar o idoso a escovação correta, utilizando escova
dental, creme e o fio dental, água limpa e toalha.
Cuidados com as próteses dentárias, acentuando que elas
devem estar firmes na boca do idoso, devendo serem limpas com a mesma
freqüência que seriam os dentes. Outras práticas de higiene oral deverão
ser estimuladas de acordo com experiências regionais como o uso de raspa
de juá para esfregação nos dentes e o uso do palito. Além disso, as
medidas de higiene corporal como banho de chuveiro e de cama também são
necessidades básicas visando o conforto e o bem-estar do idoso, de acordo
com o seu nível de dependência. A necessidade de banho diário deve ser
avaliada pelo cuidador e pelo idoso. Em regiões mais frias o banho
completo pode se limitar apenas à higiene das mãos, pés, rosto e partes
íntimas.
Banho de chuveiro
O banho de chuveiro é ideal, pois oferece maior conforto e
uma higiene mais completa, no entanto, algumas medidas de segurança
precisam ser tomadas para evitar acidentes. São sugeridas algumas
recomendações:
· colocação de uma cadeira ou banco no interior do boxe;
· uso de espelho inclinável ou levar o espelho até o idoso
para que ele possa se observar;
· instalar um apoio fixo ao lado do vaso sanitário;
· preferir um chuveiro que possa ter a altura ajustável ou
permitir ao menos que o idoso use o chuveirinho e a esponja para que ele
participe, enquanto puder, do seu próprio
cuidado;
· colocar alças de apoio nas laterais do boxe;
· ter suporte de sabonete ao alcance do idoso;
· piso não escorregadio (uso de tapete antiderrapante);
· boa iluminação;
· sempre que possível ter um espaço livre de l,5 m, para
facilitar a movimentação do idoso dentro do banheiro;
· torneira tipo alavanca ou com abertura fácil para o
paciente;
· altura adequada do vaso sanitário, nem muito alta nem
muito baixa;
· trilho de apoio para as toalhas;
· eliminar degraus no acesso ao banheiro.
Todos os dispositivos de apoio e segurança deverão ser
adequados às condições físicas do idoso em questão. Além disso, deve ser
tomado cuidado com a porta do banheiro, devendo esta estar sempre
destrancada, pois, se o idoso tiver algum problema, o familiar poderá ter
livre acesso.
Após avaliação da pele, esta deve ser higienizada com água
morna e sabão neutro, lembrando sempre que a pele do idoso é sensível e
mais fácil de apresentar lesões e irritações. Para enxugar a pele deve-se
utilizar toalha suave e movimentos leves. Após o banho, recomendam-se
massagens com cremes ou óleos com movimentos firmes, propiciando melhora
da circulação e da circulação. As roupas devem ser confortáveis, de acordo
com o clima. Além disso, recomenda-se o uso de chinelos (sempre com
fechamento adaptado atrás para evitar quedas) ou sapatos confortáveis, não
apertados, com solas de borracha, promovendo maior segurança ao idoso,
evitando quedas.
Banho no leito
O banho no leito deve ser realizado quando o idoso é
dependente. Pacientes com grande dificuldade de se mover (por exemplo,
após derrame, fratura de perna etc.) podem precisar de banho no leito. Se
o idoso é muito pesado ou sofre muita dor ao mudar de posição, deve-se
preferir o banho de leito e contar, sempre que possível, com ajuda de
outra pessoa para evitar acidentes e cansaço excessivo do cuidador, além
de oferecer mais cuidados, segurança e conforto ao doente. Esse é também o
momento do cuidador avaliar a integridade da pele, dos cabelos, das unhas
e da higiene oral.
O primeiro passo importante é organizar todo o material
necessário tais como: bacias, comadre, água morna, sabão suave, toalhas,
escova de dente, pasta dental, lençóis, forros plásticos e roupas,
evitando assim a interrupção do banho.
A higiene dos cabelos é outro aspecto a ser mencionado.
Muitos idosos têm um tabu de lavar com pouca freqüência os cabelos.
Explicar a eles a importância dessa higiene, que serve também como um
estímulo para a circulação sanguínea do couro cabeludo. Auxiliá-los a
secar bem. O idoso acamado transpira muito, necessitando higiene mais
constante.
A higiene deve sempre iniciar pela seqüência cabeça-pés:
primeiro os olhos, rosto, ouvidos, pescoço. Lavar os braços, o tórax e a
barriga, secando-os e cobrindo-os. Especial cuidado na região sob as mamas
nas mulheres, enxugando bem para evitar assaduras e micoses. Usar pomada
de óxido de zinco. A seguir passa-se às pernas, secando-as e
cobrindo-as.
No decorrer do banho colocar um forro plástico e apoiar a
bacia com água morna sobre a cama, lavando os pés com água e sabão,
realizando a higiene entre os dedos. Observar as alterações físicas na
pele e na área entre os dedos dos pés, e as condições das unhas. A secagem
deve ser rigorosa, procurando, se possível, colocar talco nos pés, porém
não entre os dedos. As costas são lavadas, secas e massageadas com óleos
ou cremes hidratantes para ativar a circulação. A higiene dos genitais e
região anal deve acontecer diariamente e após as eliminações urinária e
fecal, procurando evitar umidade e assaduras.
Durante a higiene corporal no paciente acamado deve-se fazer
movimentação ativa e passiva do corpo para facilitar a circulação
sanguínea e evitar a atrofia dos músculos. As regiões de proeminências
ósseas (ossos mais salientes) devem ser examinadas para observação dos
pontos de pressão com presença de vermelhidão, endurecimento, bolhas ou
hematomas, ou mesmo estágios mais avançados de úlcera de pressão
(feridas). Essas regiões precisam ser protegidas do excesso de pressão com
uso de travesseiros, almofadas ou colchões especiais (de ar, água ou
espuma tipo "caixa de ovo"). Mudanças de posição precisam ser feitas com
freqüência pelo menos duas em duas horas e com rodízio de posições,
evitando manter o paciente sobre a região afetada.
Se você perceber que o momento do banho é difícil para seu
paciente (gemidos, dor, testa franzida ou agressividade), peça ao médico
para avaliar a necessidade de usar um medicamento analgésico, para
facilitar o cuidado e diminuir o sofrimento e as contraturas do
paciente.
Tipos de roupas
O idoso deve escolher o seu vestuário, respeitando-se o
estilo de cada um. As roupas devem ser de fácil manuseio, evitando assim
dificuldades para a colocação da mesma. Favorecer a independência,
deixando-o ajudar no que for possível.
Considerações finais
O profissional e/ou cuidador deve avaliar os problemas
específicos da pele, unhas e boca do idoso para implementar o cuidado de
higiene corporal e oral. O objetivo é melhorar o conforto, manter a
integridade e limpeza da pele, da cavidade oral, do couro cabeludo,
cabelos e unhas. Tais estratégias devem ser recomendadas aos idosos
independentes e aos dependentes, entretanto, a técnica deve ser adaptada a
cada situação.
Tente descobrir e respeite as dificuldades do doente,
esclareça-o enquanto você realiza os gestos mesmo os mais banais, esteja
disposto a ouvi-lo.
Transtornos do sono: insônia e sonolência excessiva
As queixas relacionadas ao sono são extremamente freqüentes,
tanto no idoso sadio quanto no doente. Independente da etiologia
constituem causas importantes de comprometimento da qualidade de vida. O
envelhecimento, ao contrário da doença, não provoca grandes alterações no
ciclo sono/vigília. Assim, transtornos do tipo insônia ou sonolência devem
ser considerados como alterações que devem, tanto quanto possível, serem
aliviadas.
Insônia
Insônia é um termo que comporta diversas situações: pode
significar demora para adormecer, despertares noturnos e despertar precoce
(acordar muito cedo), e sensação de "sono que não descansa". Pode ser uma
manifestação de uma doença orgânica, psiquiátrica, uso ou suspensão de
medicamentos e também reação a uma situação de natureza psicossocial.
Pacientes com demência tendem, com a evolução do quadro, a apresentar
alteração do sono, agitação noturna. Esta situação, contudo, está presente
em outras condições tais como:
· insuficiência cardíaca (coração deficiente quanto a função
de bombear sangue);
· asma ou falta de ar;
· desejo de urinar várias vezes no período noturno;
· dor devido a várias causas, inclusive a artrite;
· regurgitação de "suco gástrico", manifestando-se como
tosse noturna;
· depressão;
· ansiedade.
Estas condições devem ser do conhecimento do médico
assistente, posto que representam risco para o paciente. A administração
de hipnóticos (remédios para dormir) é nestes casos desaconselhável e até
mesmo perigosa. Grande parte dos quadros de insônia está relacionada ao
uso ou retirada de medicamentos ou substâncias estimulantes contidas nos
alimentos. Neste caso sobressai a cafeína. O uso de bebidas alcoólicas é
também uma causa importante desta alteração. Entre os medicamentos que
podem causar transtorno do sono merecem destaque os antidepressivos,
medicamentos usados na asma e mesmo hipnóticos. O uso de diuréticos deve
ser considerado causa de insônia quando determina aumento da freqüência de
micções no período noturno.
Sonolência
A sonolência diurna pode constituir uma evidência de
insônia. Pacientes que não dormem bem no período noturno podem apresentar
sonolência diurna. É também compatível com doenças, tal como depressão, ou
ser conseqüente ao uso de medicamentos, entre os quais hipnóticos e
tranqüilizantes.
Pacientes que tenham sofrido queda ou acidentes de outra
natureza podem evoluir com sonolência, fato que demanda avaliação médica
imediata.
Muitos idosos apresentam um nível de apatia que pode
associar-se à sonolência. Nestes casos pode haver acometimento da glândula
tiróide ou reação ao uso de medicamentos como diuréticos, por serem estes
possíveis causadores de perda de alguns minerais pela urina, notadamente o
potássio.
O que deve ser observado
A observação e mesmo a anotação em diário das alterações do
sono apresentadas pelo idoso doente podem constituir a chave diagnóstica
que possibilita a adoção de terapêutica adequada. É fundamental tratar a
causa da insônia e não apenas induzir o sono com medicamentos.
Identificar a dificuldade do paciente relativa ao
sono
Como já se mencionou, o termo insônia comporta diversas
conotações, devendo estas serem identificadas corretamente. O paciente tem
dificuldade para conciliar o sono ou após adormecer acorda e não mais
adormece. Veja se existe um fator que possa estar relacionado a
dificuldade de adormecer. O paciente queixa-se de dor ou cãimbras nas
pernas? Tem pesadelos noturnos e acorda assustado? No primeiro caso o
médico pode ajudar com a administração de fármacos (medicamentos). No caso
de cãimbras tente água tônica de quinino. Se o paciente sob seus cuidados
é portador de doença do coração ou do pulmão, comunique ao médico as
dificuldades do sono, posto que podem ser indicativas de piora ou
desestabilização do quadro básico.
Sendo a dificuldade para dormir ocasionada por freqüentes
despertares com intuito de urinar, verifique se o paciente usa diurético
(medicamentos). A dose pode ser exagerada ou horário da administração
inadequado. Este grupo de medicamentos não deve ser administrado no
período noturno.
Se o paciente apresenta insônia e tosse noturna, mas não no
período diurno, suspeitar de regurgitação do conteúdo do estômago. Neste
caso existe um refluxo do "suco gástrico" que, estando o paciente deitado,
este é drenado para as vias respiratórias, sendo a tosse uma reação a esta
situação.
Despertar precoce, acordar cada vez mais cedo e não voltar a
dormir pode ser um sintoma de depressão. Discuta com o médico esta
possibilidade.
Identificar as condições correlatas, uso de medicamentos ou
substâncias
Grande parte dos distúrbios do sono está asssociada ao
consumo de cafeína e álcool. Bebidas como café, chá e refrigerantes do
tipo "cola" contêm elevadas quantidades de cafeína e, dependendo da
sensibilidade do paciente, podem causar insônia. Nenhuma destas bebidas
deve ser consumida após as l6 horas por pacientes que sofrem de insônia.
Alguns idosos não devem consumi-las em nenhuma circunstância. Verifique se
na bula de medicamentos que o paciente está usando existe cafeína na
fórmula. Alguns analgésicos e fortificantes podem conter esta substância e
assim contribuir para insônia.
Tenha em mente que o alcoolismo nos idosos pode se
apresentar de forma camuflada. As doenças que cursam com dor podem
interferir no sono. Dores no sistema osteoarticular são importantes
fatores causais e requerem tratamento específico.
Outra situação relevante é a ocorrência de prurido (coceira)
que é suportado durante o dia, mas causa desconforto a noite. Neste caso a
causa mais comum é a xerodermia (pele seca) que pode ser tratada com
cremes hidratantes. Alguns pacientes podem apresentar incontinência (perda
de urina) e sentirem-se incomodados pela umidade resultante. É desejável
que nenhum idoso tome líquidos após as 18 horas e que seja estimulado a
urinar antes de dormir. O uso de fraldas pode trazer conforto e melhorar o
sono.
Avalie as condições ambientais
O quarto no qual o paciente dorme deve ser tanto quanto
possível silencioso, com temperatura agradável. Estas condições estão
sendo atendidas? Considerando-se que os velhos têm maior dificuldade na
escuridão, existe alguma luz acesa que a noite possa servir de referência
no caso de despertar, posto que a escuridão pode gerar pânico e induzir
insônia? O quarto onde o paciente dorme conta com aparelho de televisão
para uso dele ou do cuidador? Esta é uma situação que deve ser evitada. A
pessoa deve "ir para a cama" com o objetivo de dormir e não para assistir
televisão ou ler.
Existe algum fator psicossocial relacionado?
A insônia pode ser transitória, circunstancial. Pode
aparecer em períodos de agravamento de doença ou morte do cônjuge ou outro
familiar. Muitos idosos são sensíveis a acontecimentos tais como notícias
de morte, acidentes e catástrofes. Pacientes com demência podem alterar
seu padrão de sono quando internados em hospital ou transferidos de
domicílio ou cidade. Até mesmo a mudança da disposição do mobiliário pode
gerar insegurança e agitação noturna.
Conduta
Muitas condutas já foram apresentadas
nos itens anteriores. No conjunto as ações
devem levar em consideração os itens que
serão expostos a seguir.
Caracterize bem o tipo de alteração
do sono
Esta caracterização é fundamental
para correção do transtorno. Descreva
o que considera insônia ou as situações
nas quais se verifica sonolência.
Mantenha um ambiente adequado
para o sono
Verifique os itens relacionados
ao conforto térmico e ao silêncio. Mantenha
uma luz indireta acesa com o objetivo
de servir como referência ao idoso doente
caso este acorde no período noturno. Retire
o aparelho de televisão do quarto. Este
ambiente deve estar associado a idéia
de dormir.
Estabeleça uma rotina para dormir
Procure ter um horário para encaminhar
o paciente ao leito. Se, contudo, este
permanecer inquieto, com dificuldade para
adormecer, não insista. Melhor retirá-lo
do quarto e considerar alternativas que
possam relaxar o paciente. Uma pequena
caminhada no próprio domicílio, ouvir
música ou mesmo a ingestão de uma xícara
de leite quente podem auxiliar o sono.
Evite administrar líquidos no
período noturno
Não administre líquidos após as
18 horas. Atenda às necessidades de hidratação
no período diurno. Chás e cafés são tolerados
até as l6 horas, portanto, estas bebidas
deverão ser evitadas após este horário.
Informe
ao médico assistente a medicação em uso
Muitos idosos têm vários médicos
e consomem uma quantidade maior de medicamentos.
Mantenha um lista desses fármacos e informe
o consumo. Medicações adquiridas sem receita
médica devem ser relatadas.
Seja prudente no uso de medicação
Muitos casos de insônia só serão
aliviados com o uso de hipnóticos (medicamentos
para dormir). Esta é uma situação que
envolve obrigatoriamente o médico. Procure
informá-lo do resultado terapêutico. Verifique
se a medicação está causando sonolência
diurna, o que pode ser indicativo de efeito
prolongado. Alguns idosos desenvolvem
reações paradoxais com estas drogas, podendo
apresentar agitação e exacerbação do transtorno
do sono. Sugere-se que os idosos sejam
medicados quando já no leito, pois alguns
medicamentos têm ação muito rápida e podem
provocar o sono no momento em que o paciente
vai ao banheiro ou mesmo permanece circulando
pelo interior do domicílio. Medicamentos
tranqüilizantes ou indutores do sono podem
ocasionar quedas. Esteja atento a queixas
de tontura ou desequilíbrio.
Considerações
finais
Transtornos do sono no idoso doente
ou mesmo sadio são causados por um grande
número de condições. A opção de tratar
somente o sintoma pode não ser a mais
adequada. O problema, como já foi enfaticamente
exposto, deve ser corretamente caracterizado.
Muitas das ações corretivas podem ser
adotadas pelo cuidador. O uso de hipnóticos
deve ser reservado para casos selecionados
e deverão ser administrados com cautela
e somente por indicação do médico assistente.
Alterações
do comportamento: irritação, agitação
e agressividade
No
dia-a-dia com idosos é possível que aconteçam
alterações no seu comportamento habitual,
que podem gerar grande impacto nas relações
com os parentes e cuidadores. Problemas
de comportamento por vezes serão motivos
pelos quais os familiares colocarão os
idosos em uma instituição. Estes problemas
representam também um fator de risco para
os próprios idosos doentes, uma vez que
podem causar acidentes tais como ferimentos
resultantes de fragmentos de vidro ou
espelho que ele próprio quebrou, além
de agressões e quedas. Estamos com este
material tentando esclarecer algumas dúvidas
e erros comuns, bem como dar sugestões
com intuito de enfrentar estas situações
difíceis.
Causas de alteração do comportamento
Preliminarmente cumpre esclarecer
que a alteração do comportamento não é
culpa da idade. Assim, mudanças súbitas
do comportamento não devem ser atribuídas
ao envelhecimento ou a manifestações obscuras
tal como, por exemplo, "esclerose". Elas
costumam estar relacionadas: a alterações
no cérebro, como é o caso das demências;
ao uso de medicamentos; ou, ainda, a causas
psicossociais, tais como perda de familiares,
mudanças ou situações conflituosas na
família.
Como acontece
Irritação e agressividade podem se expressar sob a forma
verbal com comentários impróprios, acusações indevidas, suspeitas de
infidelidade ou roubo. O cuidador por ser a pessoa mais próxima do
paciente pode se constituir no alvo principal deste comportamento.
Atitudes violentas e agressão
física não são freqüentes nos idosos doentes,
porém têm muita importância porque implicam
em risco para quem cuida ou até mesmo
para pessoas estranhas. Podem até provocar
um ruptura entre o cuidador e o doente.
Quando acontecem, em geral apresentam-se
sob a forma de "unhadas" ou bofetadas.
Uma forma menos agressiva sob o ponto
de vista físico, mas altamente desmoralizante,
é o ato de "cuspir" na pessoa mais próxima,
seja no momento de administrar medicamentos
ou na alimentação.
O que se pode fazer
As alterações de comportamento,
principalmente quando súbitas ou agudas,
devem ser prontamente relatadas ao médico
que cuida do idoso. Ainda que represente
uma manifestação psíquica pode significar
a existência de outras doenças como infecções
(pneumonia, infecção urinária), problemas
de coração (infarto ou arritmia) ou mesmo
acidente vascular cerebral ("derrame").
Muitas vezes, como nos casos de demência,
o comportamento se torna permanentemente
alterado, o que evidencia a necessidade
do cuidador aprender a conviver com o
problema e também procurar não responder
às provocações ou questionamentos do paciente,
mesmo que os mais absurdos. O limite de
tolerância é o limite de segurança do
paciente. Estas alterações, apesar de
seus aspectos negativos, têm que ser encaradas
pelo cuidador sem ressentimentos ou vergonha.
O que observar
A
observação e o ulterior relato ao médico
das condições relacionadas a agitação
e agressividade podem constituir pontos
importantes para o diagnóstico e tratamento
da situação.
Quando acontece?
A
agitação, irritação ou agressividade está
relacionada a algum período do dia ou
ao uso de alguma medicação? Muitos idosos
ficam confusos ou agitados no "pôr do
sol" ou então no período noturno. As causas
desta alteração não são conhecidas, mas
devem ser abordadas com ações preventivas
como colocar mais luz nos ambientes e
condutas que reforcem o sentimento de
segurança dos pacientes, tais como sentar-se
ao lado e mesmo segurar a mão. Por vezes
o horário da agitação coincide com a administração
de medicamentos. Os idosos são muito sensíveis
a remédios, sendo que os sintomas comportamentais
podem indicar efeito indesejado dos mesmos.
Mesmo medicamentos tranqüilizantes podem
causar agitação e irritabilidade.
O comportamento agressivo é permanentemente
direcionado a uma pessoa?
O comportamento agressivo direcionado
a uma pessoa em particular pode estar
relacionado a experiências prévias do
paciente ou mesmo a idéias delirantes
em relação ao alvo de seu comportamento.
Não raramente o marido ou a esposa são
pessoas para as quais as manifestações
de irritação e agressividade são dirigidas,
principalmente quando estes forem autores
de repetidos questionamentos em relação
às afirmações ou condutas confusas dos
pacientes.
O idoso tem prisão de ventre?
Já se mencionou que alterações
súbitas do comportamento costumam estar
associadas a doenças. Mesmo um idoso com
diagnóstico de demência pode no curso
da doença desenvolver ou aumentar agitação
e irritabilidade devido, por exemplo,
a uma pneumonia ou mesmo dificuldade para
evacuar. Uma situação que, pelo potencial
de recuperação, demanda vigilância é a
associação de imobilidade, desidratação,
constipação intestinal (prisão de ventre)
e agitação. Idosos em pós-operatório (após
cirurgia), imobilizados por fraturas ou
acidentes vasculares tendem a desenvolver
desidratação e constipação intestinal.
Esta situação pode desencadear quadro
dramático de agitação, que será prontamente
resolvida com a evacuação e reidratação.
Um fator de confusão é que alguns idosos
nesta condição eliminam fezes pastosas
em pequena quantidade, o que leva o cuidador
a acreditar que o paciente evacuou. Trata-se
de falsa diarréia, manifestação na qual
uma verdadeira "rolha de fezes" (fecaloma)
impede a passagem das fezes. As repetidas
contrações do intestino podem amolecê-las
e assim facilitar a eliminação destas
pequenas quantidades de fezes, confundindo
a pessoa que cuida.
Aconteceu mais alguma coisa?
O
idoso doente pode desenvolver agitação
e irritabilidade devido a situações de
caráter psicossocial, tais como mudança
de domicílio, internação em hospital,
alteração de rotinas e morte ou doença
de pessoa por quem tenha grande afeto.
Uma vez mais lembramos a importância de
medicamentos como fator desencadeante
de agitação. É importante informar o médico
todos os medicamentos em uso, mesmo aqueles
que são adquiridos sem receita médica.
O paciente sofreu alguma queda
ou trauma nos últimos meses?
Quedas e traumas cranianos podem
apresentar complicações tardias. Nesta
situação ocorre o hematoma subdural (presença
de coágulo no cérebro). Os sintomas dependem
do volume de sangue, podendo acontecer
até 90 dias depois do acidente. Por isso,
diante de um idoso agitado, tente se lembrar
se não houve nenhuma queda recente. O
médico deve ter conhecimento de todos
os acidentes e particularmente quedas
que o paciente possa ter apresentado.
Como agir
Toda
ação relacionada ao velho doente, agitado
ou mesmo agressivo deve se pautar no conceito
de que não é culpa do paciente. Este comportamento
foge ao controle do próprio paciente,
constituindo manifestação de transtorno
orgânico ou psíquico. Algumas sugestões
são apresentadas a seguir que ajudarão
a lidar com o problema.
Compartilhe o problema
Sendo esta uma situação de grave
repercussão na família, todos devem estar
cientes da ocorrência e preparados para
conviver com as possíveis manifestações.
Freqüentar grupos de apoio e auto-ajuda
(Associação de Alzheimer, Associação de
Parkinson) pode facilitar o papel do cuidador,
seja pela convivência com pessoas em igual
situação ou pelo aprendizado de condutas
adotadas em casos semelhantes.
Peça ajuda, procure auxílio médico,
discuta todos os aspectos que julgar importantes
Agitação,
irritabilidade e agressividade são situações
complexas que podem ser tratadas ou atenuadas
com recurso médico. A suspensão de um
determinado medicamento, hidratação e
evacuação de fezes podem reverter completamente
o quadro de agitação. Existem medicamentos
que permitem controle dos sintomas, mas
só devem ser usados com a orientação do
médico. O cuidador não deve aumentar a
dose de medicamentos tranqüilizantes na
tentativa de conter um paciente agitado
ou agressivo, salvo por orientação médica.
Identifique os riscos domésticos
Pacientes agitados, irritados
têm risco aumentado de trauma e acidentes.
Alguns com doença de Alzheimer podem não
identificar a imagem refletida no espelho
como sendo sua e quebrar o espelho. Instrumentos
de corte e pontiagudos devem ser retirados
da visão do paciente; as armas de fogo,
eliminadas; tapetes escorregadios e escadas
constituem um fator de risco para quedas.
Crie estratégias para distrair
o paciente
Idosos agitados, com irritação
ou agressivos são pouco receptivos a argumentos
racionais, mas podem responder a ações
como música, mudar de assunto, contato
com animais, caminhada, passeios de automóveis
ou pequeno lanche. Identifique se uma
dessas ou outra altenativa pode ajudá-lo
a tranqüilizar o paciente.
Proteja-se
O papel do cuidador de um idoso
agitado ou agressivo não é gritar, reagir
com fúria ou de descontrole diante de
situações dramáticas. Tampouco se recomenda
passividade tendo em visita o desgaste
emocional e o risco de lesão física. Não
tente conter ou amarrar o paciente, pois
isso costuma deixá-lo ainda mais nervoso,
angustiado, além de ser um atentado à
sua dignidade. Em todos os casos a imobilização
do idoso no leito ou cadeira tem resultados
conflitantes, sendo considerada medida
extrema. Evite discussões desnecessárias,
não altere o tom de voz e peça ajuda a
outras pessoas que tenham relação com
o paciente. Não esgote sua capacidade
emocional, não deixe de dormir um número
mínimo de horas. Aqui lembramos a necessidade
de envolvimento de outras pessoas da família
ou cuidadores suplementares.
Cuide-se muito bem
Também você cuidador pode desenvolver
problemas de saúde. Não hesite em procurar
um médico quando se sentir cansado, esgotado
ou ficar muito triste. Tente ter seus
momentos de lazer, tenha boas relações
de amizade e não se sinta só. Peça ajuda
a alguém quando o cansaço for muito acentuado.
Ninguém, nem você é de ferro… Lembre-se
que para que você cuide bem é importante
que você também esteja bem cuidado.
Instabilidade e quedas
Os episódios de instabilidade
do andar e as quedas são muito freqüentes
nos dois extremos da vida: infância e
velhice. A incidência de quedas entre
os idosos é alta e muitas vezes elas não
são devidamente valorizadas, sendo consideradas
como próprias da idade.
O que é e quais as conseqüências
da queda
Queda é uma perda total e involuntária do equilíbrio do
corpo. As quedas constituem causa importante de enfermidade e mortalidade
pelas suas conseqüências. Em alguns casos, determinam um estado de
incapacidade importante ou invalidez. As conseqüências podem ser:
· lesões (ferimentos, cortes, fraturas, contusões, entorses,
hematomas);
· problemas psicológicos (medo de cair, insegurança,
ansiedade);
· perda da auto-estima, da auto-confiança, superproteção da
família;
· imobilidade;
· isolamento;
· depressão;
· internação em hospital ou asilo.
· morte;
Porque o idoso cai mais?
Apesar de ser difícil evitar todas as quedas e suas
complicações, é muito importante
identificar o que está ocasionando
as quedas no idoso.O esquema abaixo representa
o círculo vicioso que demonstra por si
só, sem a necessidade de qualquer explicação
adicional, o motivo pelo qual as quedas
são mais freqüentes em idosos.
Fatores de risco de quedas
Nos
episódios de queda freqüentemente estão
presentes fatores considerados de risco.
Tais fatores são os extrínsecos (ambientais),
os intrínsecos (próprios da pessoa) e
a possível associação de ambos.
Conseqüências leva a novas quedas
QUEDA
Insegurança
Medo de cair
Instabilidade
Desvantagens
Depressão
Superproteção familiar
Isolamento
Perda da auto-estima
Lesões
Fatores ambientais
Entre os fatores relacionados ao ambiente deve-se considerar
os seguintes:
· pisos escorregadios, móveis, tapetes, pequenos animais de
estimação:
· locais mal iluminados (quarto, banheiro);
· escadas (principalmente o primeiro e o último degrau);
· fios de extensão, objetos espalhados
pelo chão.
Fatores intrínsecos
Os fatores intrínsecos, ou seja, os relacionados com a saúde
do idoso são:
· doenças cardiovasculares (desmaio, infarto do miocárdio,
arritmia cardíaca);
· distúrbio do sistema nervoso (tonturas, vertigens,
labirintopatias, seqüela de derrame, doença de Parkinson, demência,
alteração do andar e do equilíbrio, alterações sensoriais);
· desnutrição;
· alcoolismo;
· doenças dos ossos e das articulações (artrose, artrites,
reumatismo), principalmente as localizadas em toda extensão da coluna e
nas extremidades inferiores;
· anormalidades e deformidades dos pés (joanetes),
calosidades, dedos em garra;
· problemas da audição e da visão, como catarata, glaucoma,
cegueira, diplopia (visão dupla), que acabam diminuindo ou confundindo as
pistas ambientais;
· imobilidade e fraqueza muscular;
· uso inadequado de medicamentos (sedativos, antipsicóticos,
antidepressivos, antihipertensivos), polifarmácia (uso concomitante de
várias medicações);
· depressão, alterações emocionais.
Associação
de fatores intrínsecos e extrínsecos
A associação de fatores ambientais
e os relacionados à saúde do idoso acabam
dando origem a outros fatores, que podem
ser causas importantes de episódios de
queda.
É melhor prevenir do que remediar
Os idosos que relatam uma ou mais
quedas deverão ser cuidadosamente avaliados
mesmo que as quedas não tenham resultado
em ferimentos graves. Deverão ser feitas
perguntas sobre a seqüência dos eventos
que levaram ao episódio, quais os fatores
que antecederam a queda, o que aconteceu
no decorrer do episódio e o que ocorreu
após ele, procurando esclarecer a causa
da queda. Assim, são fundamentais perguntas
como: O que a pessoa estava fazendo ao
cair? Quando foi a queda? A que horas
ocorreu? Onde? Como foi? Tropeçou? Escorregou?
O que sentiu? Quais as conseqüências?
Estava tomando algum remédio? Se estava
tomando alguma medicação, este deverá
ser anotado. Como foram as quedas anteriores?
O ideal seria obter um relato de uma testemunha
da queda. Uma vez conhecidas as circunstâncias
da queda pode-se saber se foi ocasionada
por problemas de saúde, por fatores ambientais
ou por associação de ambos.
O que se deve fazer depois da
queda
Certificar-se que o paciente respira
bem, que não houve perda dos sentidos;
perguntar se sabe o que aconteceu, se
sabe onde está; verificar se a pressão
está boa (se for possível, medi-la), se
não houve fratura. É prudente não tentar
levantar o idoso se houver suspeita fratura
de algum osso. É preciso ter clareza que
o idoso pode ser mobilizado.
Como
evitar novas quedas
As informações obtidas orientarão a elaboração de um plano
de prevenção de episódios futuros, a escolha de medidas que devem ser
tomadas para evitar novas quedas e para amenizar os efeitos das que já
ocorreram. As medidas a serem adotadas são as que se seguem:
· medidas sob orientação médica;
· medidas de apoio psicológico, destacando-se aquelas que
não criam no idoso e na família receio exagerado de novas quedas;
· medidas de terapia física, orientadas e prescritas por
profissionais (fisioterapeuta e terapeuta ocupacional), visando
conservação e aumento da força muscular, redução da dor, aumento da
mobilidade articular, correção das deformidades articulares e dos vícios
de postura corporal, e melhora do equilíbrio;
· treinamento do andar, reforço dos músculos e uso adequado
de instrumentos de auxílio (bengalas, andadores, muletas), que constituem
medidas úteis na prevenção;
· medidas educativas visando a
maior capacidade do idoso para enfrentar
problemas de saúde e para conquistar melhores
condições de vida junto aos familiares,
à comunidade e à sociedade. Nos pacientes
muito confusos e agitados, a contenção
no leito ou na cadeira não assegura a
ausência de quedas. Esta situação piora
a agitação, cansa o paciente e lhe dá
a sensação de tortura e desrespeito, além
de piorar a confusão mental (ele acha
que está preso num manicômio, que querem
a sua ruína, etc.). Pode favorecer a ocorrência
de fraturas costais, de osteoporose e
mesmo de imobilidade, podendo acarretar
ulceração de decúbito, além de piorar
a aceitação de dieta e de líquidos e comprometer
a respiração do paciente. A contenção,
além disso, não substitui a supervisão
adequada nem oferece conforto ao paciente.
Perda involuntária de urina e
de fezes. Constipação intestinal
Os
idosos podem apresentar vários problemas
de saúde. Entre eles destacam-se a incontinência
urinária (perda involuntária de urina),
fecal e a constipação intestinal (intestino
"preso")
Incontinência urinária
A incontinência urinária é mais
freqüente que a fecal, entretanto, as
duas podem ocorrer ao mesmo tempo, podendo
acarretar problemas físicos, psicológicos
e de mal-estar.
Tipos
A incontinência urinária constitui um problema social ou
higiênico e pode ser de dois tipos:
· Aguda: que está relacionada a uma situação clínica
ou cirúrgica e pode ser resolvida quando essa situação desaparecer. Este
tipo de incontinência pode aparecer também quando o idoso apresenta
infecções, quando se apresenta confuso ou no caso de restrição da
mobilidade (de caminhar);
· Persistente: classificada em quatro tipos, de
acordo com vários estudiosos, cujas
caracterizações encontram-se abaixo.
1 – Incontinência por transbordamento. Neste caso o paciente
costuma urinar pequenas quantidades, não associadas à sensação de urgência
de urinar. Na verdade há um esvaziamento incompleto da bexiga e a pessoa
urina por transbordamento. Tende ocorrer mais a noite, caracterizando a
noctúria.
2 – "Urge" incontinência. É a perda involuntária de urina
associada à vontade de urinar. A pessoa é obrigada a correr para o
banheiro quando sente vontade e nem sempre dá
tempo de evitar a perda de urina. Pode ser observada em
pacientes com doença de Parkinson, escleroses, derrames e quando ocorrem
infecções no trato urinário, e em mulheres na menopausa por falta de
hormônio (estrógeno).
3 – Incontinência de estresse. É caracterizada por perda
involuntária de urina quando a pressão da bexiga é maior que a da uretra,
devido a elevação da pressão da barriga. Este tipo aparece com mais
freqüência durante atividades físicas tais como andar, fazer exercícios,
curvar-se, levantar peso, tossir, rir e espirrar.
4 – Incontinência funcional. A
perda de urina está associada à dificuldade
de encontrar o banheiro ou um local adequado
para urinar. Pode acontecer em pacientes
com dificuldades para caminhar, com falhas
de memória (esquece que tem que urinar
ou onde fica o banheiro), com distúrbios
visuais ou em uso de medicamentos que
pioram a capacidade de caminhar (lentidão,
insegurança, instabilidade, desequilíbrio).
Ocorre também quando há barreiras ambientais
que impedem o acesso da pessoa ao banheiro
(banheiro fora de casa, mal iluminado,
com degraus, porta pesada, porta que não
permite a passagem de andadores, bengalas
ou cadeira de rodas).
Avaliação do tipo de incontinência
urinária
Para definir o tipo de incontinência urinária deve-se
realizar uma avaliação médica e de enfermagem, cujo objetivo são:
· Caracterizar bem o problema quanto a:
– duração, freqüência e hábitos de urinar;
– sensações apresentadas durante e após urinar;
– repercussão dos episódios de incontinência na vida do
idoso (vergonha, tristeza,
indiferença);
– hábitos higiênicos;
– líquidos ingeridos;
– fatores do ambiente do idoso;
– mobilidade do idoso;
– capacidade de atenção, aprendizagem e memória.
· Avaliar o tipo de incontinência
e, a partir daí, traçar a conduta para
idosos incontinentes, baseando-se no controle
urinário. Tal conduta exige suporte familiar
e de enfermagem. Após esta etapa, definir
os resultados a serem alcançados, bem
como as estratégias de intervenção.
Estratégias de intervenção
As estratégias variam de acordo com a exata definição da
conduta a ser adotada, ou seja, o tratamento será medicamentoso e/ou por
meio de procedimentos para controle urinário. A incontinência pode ter
tratamento com medicamentos, devendo-se nestes casos instruir o idoso e/ou
cuidador quanto ao uso dos medicamentos, horários, dosagens, vias de
administração e efeitos colaterais, registrando mudanças na pressão
arterial e estado mental. Entre os procedimentos de treinamento para o
controle urinário destacam-se:
– treinamento da bexiga e do hábito de urinar, através do
qual o idoso incontinente
gradualmente estende seu intervalo de micção (urinar) para o
padrão normal, objetivando modificar a função da bexiga para manter o
idoso seco;
– biofeedback, consiste em ensinar ao paciente a inibir
voluntariamente as contrações da bexiga ou contrair os músculos do
assoalho pélvico de forma a manter a continência, diminuindo os episódios
de incontinência urinária;
–
utilização de coletores externos (sistema
de coletor externo e fraldões), que também
oferecem vantagem para o controle urinário.
Em todos os casos deve-se proceder a uma
avaliação do ambiente, dando atenção especial
às barreiras ambientais tais como: espaço
livre para andar, degraus, luz suficiente
e a não colocação de materiais em excesso
no banheiro.
Incontinência fecal
A
incontinência fecal é um dos problemas
de saúde que afeta a qualidade de vida
dos idosos. Com o envelhecimento o controle
da defecação vai se alterando pela hipotonia
muscular (fraqueza), pela diminuição ou
perda da sensibilidade da ampola retal
ou, ainda, devido à perda do reflexo anal
(contração do esfíncter anal). A incontinência
fecal é a alteração da necessidade de
eliminação de fezes, na qual há perda
do controle do esfíncter, com conseqüente
perda de fezes sem que a pessoa perceba,
levando a um distúrbio na eliminação do
conteúdo intestinal. A incontinência fecal
costuma vir associada à incontinência
urinária e é mais freqüente em pacientes
com problemas mais acentuados de memória.
Tipos
A incontinência fecal pode ser dividida em quatro grupos de
acordo com as causas
precipitantes:
– relacionada aos problemas de cólon (parte do intestino
grosso), reto e ânus como, por exemplo, tumores, inflamações e outras;
– constipação crônica (intestino "preso"), com episódios de
diarréia e, as vezes, de
incontinência fecal;
– lesões neurológicas diversas tais como demências, derrames
e outras;
– ingestão de medicamentos tais
como laxantes, analgésicos, opiáceos.
Avaliação da incontinência fecal
A falta de controle da defecação pode representar uma perda
da independência da pessoa. Deve-se tentar descobrir sua causa, corrigir a
dieta, ingerir bastante líquido, favorecer horários regulares de ida ao
banheiro para treinar um novo horário para o intestino, não ridicularizar
o paciente, proceder a uma higiene cuidadosa e eliminar odores no quarto
para limitar o constrangimento criado pela situação. É importante também
que os cuidadores fiquem atentos para:
– observação das características das fezes (quantidade,
coloração, consistência e
freqüência);
– eliminação de gases, presença de distensão abdominal (a
presença de barriga muito inchada pode ser sinal de obstrução intestinal,
o que pode levar o idoso à morte);
– higiene, cor da pele na região do ânus;
– evitar períodos muito longos sem defecar (quanto mais
tempo ficam as fezes retidas mais difícil é eliminá-las, criando um
círculo vicioso);
–
não confundir eliminação de fezes pastosas
em pequenas quantidades com diarréia,
o que leva o cuidador a acreditar que
o paciente evacuou. Trata-se de "diarréia
espúria", manifestação na qual uma verdadeira
"rolha de fezes" (fecaloma) impede a passagem
das fezes. As repetidas contrações do
intestino podem amolecê-las e assim facilitar
a eliminação destas pequenas quantidades
de fezes, confundindo a pessoa que cuida.
Constipação intestinal
A constipação intestinal ("intestino
preso", "prisão de ventre") é a dificuldade
e passagem irregular de pequena quantidade
de material fecal na parte grossa do intestino,
devido a uma redução na freqüência das
evacuações e dificuldade na eliminação
de fezes endurecidas. Não é um problema
normal com as mudanças do envelhecimento,
entretanto, é mais freqüente em idosos
quando comparado com os adultos.
Causas
As causas da constipação podem ser:
– primárias, referem-se ao trânsito intestinal lento, à
diminuição do tônus intestinal (ligeiro grau de contração nos músculos) e
da força muscular abdominal, pouca ingestão de
líquidos e de alimentos ricos em fibras, má dentição,
inatividade física e perda do reflexo da evacuação;
– secundárias, devido ao uso inadequado
de drogas, problemas do cólon, ânus e
reto, doenças diversas, inclusive as neurológicas
e psiquiátricas.
O que fazer
No caso do idoso apresentar problema
de constipação tente levantar dados sobre
a condição do idoso e hábitos alimentares
e outros. Frente a isso estabelecer um
padrão de re-treinamento de horários para
ingestão de líquidos, de alimentos e de
atividades do cotidiano. A intervenção
deve ser natural com alimentos tais como
administração de farelos nas alimentações,
ameixas ou outras frutas secas e também
as frescas. Estimular o idoso para maior
ingestão de líquidos. O uso do banheiro
deve ser individual, oferecendo apoio
ao idoso quanto ao tempo e estimulação
para a evacuação. Além disso, esclarecer
quanto às crenças culturais de que os
movimentos intestinais regulares devem
ser diários. A orientação aos idosos deve
ser de manter a regularidade intestinal,
pelo menos três vezes por semana. Caso
a intervenção não seja adequada ou se
o idoso apresentar problemas relacionados
às causas secundárias, é conveniente encaminhá-lo
a um serviço médico. Não tome condutas
como uso de laxantes ou enemas (clister)
por conta própria. É recomendável consultar
um especialista.
Considerações
finais
As
incontinências urinária e fecal, e a constipação
intestinal são problemas de saúde muito
freqüentes entre os idosos. Cabe à equipe
de profissionais e ao cuidador avaliar
o tipo de incontinência e a constipação
para traçar as condutas. O objetivo da
atenção é resgatar o equilíbrio das eliminações
e facilitar o dia-a-dia do idoso e de
sua família, poupando-o, sempre que possível,
do constrangimento da incontinência.
Sobre
a demência
O
que é demência?
É uma doença em que as células
do cérebro morrem mais rapidamente do
que no envelhecimento normal. Isto leva
a um declínio geral da capacidade e das
habilidades da pessoa. Produz perda de
memória, confusão, comportamentos estranhos
e mudanças na personalidade. É uma doença
desconcertante. Não se conhece ainda as
causas, não há cura, e o tratamento que
pode ser oferecido é pouco. Como os mesmos
sintomas podem resultar de outras causas,
possivelmente tratáveis, é importante
fazer um diagnóstico correto. A demência,
por si, geralmente não é causa de morte
e a pessoa pode sofrer da doença durante
vários anos antes de falecer de outra
causa.
Sintomas da demência:
· tornar-se muito esquecido, principalmente com relação a
acontecimentos recentes e nomes;
· estar confuso quanto a hora, dia e local, e perder-se em
lugares conhecidos;
· ter dificuldade em falar e passar a repetir as mesmas
coisas várias vezes;
· não conseguir compreender o que lhe é dito;
· ter dificuldade em executar tarefas domésticas e
negligenciar a higiene pessoal;
· comportar-se na cozinha de maneira perigosa, deixando que
os alimentos se queimem ou abrindo o gás esquecendo de acender o fogão;
· comportar-se de maneira inadequada, por exemplo, saindo de
pijama ou vagando pelas ruas a noite;
· esconder ou perder as coisas e acusar os outros de tê-las
roubado;
· ver ou ouvir algo que não existe;
· ficar facilmente zangado, chateado ou agressivo
A medida que a doença progride,
os sintomas tornam-se mais óbvios e incapacitantes
Porque é necessário um diagnóstico
correto?
É muito importante obter-se um diagnóstico médico, caso uma
pessoa de meia idade ou idade avançada desenvolva alguns destes sintomas.
Muitas condições confundem-se com sintomas de demência, mas podem ser
reversíveis, por exemplo, a perda da memória e confusão são sintomas da
demência incurável, mas podem ter outras causas, especialmente se o
aparecimento foi repentino. São causas comuns de sintomas semelhantes aos
da demências:
· quadros infeciosos, como a pneumonia e ou infecção renal.
O tratamento da infecção acabará com os sintomas;
· deficiência da glândula tireóide ou deficiência
vitamínica, que são completamente tratáveis;
· deficiência química, como na doença de Parkinson, que é
controlável;
· outros distúrbios cerebrais, tumores, derrames ou
ferimento na cabeça podem temporária ou permanentemente, afetar parte do
cérebro, levando à confusão e a outros sintomas da demência. Estas
condições, as vezes, podem ser tratadas e curadas;
· medicamentos - os idosos geralmente não necessitam de
doses tão altas de medicamentos como as pessoas mais jovens. Mesmo os
efeitos de drogas comuns, como soníferos, duram muito mais tempo no idoso.
Eles podem também estar tomando remédios que em combinação, poderiam
causar sintomas parecidos com os da demência.
· depressão profunda- é comum no idoso e geralmente
tratável;
· mudanças nos relacionamentos- por exemplo, doença ou morte
do parceiro ou de amigo próximo;
· mudanças nos hábitos da pessoa,
ou do ambiente, como mudar de casa.
Dez
sinais de alerta
1. problemas com a memória- que NÃO seja causado por abuso
de álcool ou ferimento na cabeça, e que piora com o tempo;
2. problemas de linguagem- dificuldade para dar nomes aos
objetos, achar a palavra
certa para usar numa frase, e muitas vezes, dizer palavras
sem nexo;
3. fechos e botões são difíceis de fechar- a pessoa tem
dificuldade para se vestir;
4. falta de higiene- podem não se importar com a aparência e
podem não querer tomar banho;
5. mudança brusca de humor, muitas vezes sem razão aparente.
Podem estar calmo e de repente se tornar amedrontado, furioso ou
agressivo;
6. raciocínio deficiente- comportamento estranho, vestir a
roupa na ordem errada ou
tirar a roupa em público;
7. podem se perder em lugares conhecidos, até no próprio
bairro;
8. reconhecer a família e amigos fica progressivamente
difícil;
9. as vezes tem recordações da infância, mas não se lembra
de nada que aconteceu no mesmo dia;
10.
desconfiado dos outros, podendo acusá-los
de roubar ou esconder suas coisas, seu
dinheiro e outros objetos pessoais.
Mudança brusca de humor na demência
O cuidador, pode sentir que as
vezes a pessoa demenciada se comporta
de maneira muito agressiva. Isto pode
tomar a forma de abuso verbal ou ameaças,
destruição ou danificação de propriedades,
ou violência física. Tal comportamento
pode assustar e gerar ansiedade sobre
como melhor lidar com isto. O demenciado
é, logicamente, uma pessoa, e vai reagir
às circunstâncias de maneira particular.
Mas se observar bem as situações nas quais
ocorre a agressividade e os eventos que
levaram a estes incidentes agressivos,
o cuidador poderá talvez identificar o
que desencadeia o comportamento e tentar
evitá-lo.
Causas comuns da mudança de humor
1. comportamento defensivo: a pessoa pode se sentir
humilhada porque é forçada a aceitar assistência para executar tarefas
íntimas como se lavar. Mesmo que ela não consiga
fazer só, pode parecer que sua independência e privacidade
estão sendo ameaçadas;
2. falta de competência: a pessoa pode estar se sentindo
pressionada porque não consegue mais enfrentar as solicitações do diárias
como fazia há pouco. Pode se sentir fracassada se não conseguir fazer
coisas simples ou responder perguntas fáceis;
3. má compreensão: pode estar confusa porque não compreende
mais o que está acontecendo ou estar aflita ao perceber um declínio em
suas habilidades. Acusações de que alguém roubou algo seu que não está
encontrando pode ser apenas uma maneira dela se proteger contra a
realidade de suas habilidades deficientes;
4. medo: esta é outra razão para a agressividade. Ela pode
estar com medo porque não reconhece mais certos lugares ou pessoas. Pode
estar convencida de que deveria estar em outro lugar, ou muito ansiosa
porque acredita que a pessoa veio visitá-la é um estranho que entrou a
força em sua casa. Um ruído súbito ou pessoa se aproximando por trás de
repente, pode aterrorizá-la e causar uma reação agressiva;
5. reação exagerada: a pessoa pode ficar ansiosa por causa
de mudanças na rotina, da presença de muitas pessoas, de um acontecimento
especial, de barulho ou outras distrações, e poderá se agitar porque não
consegue se conter na situação;
6.
defesa e manipulação da atenção: a agressividade
da pessoa pode também ser uma reação defensiva
á tentativa do cuidador de conter ou controlar
o "andar sem rumo" ou mesmo uma atitude
para chamar a atenção. Se isto acontecer
deve-se tentar outra maneira de tratar
do assunto, em vez de se concentrar na
reação que a situação causou.
Medidas Preventivas
· reduzir as exigências feitas à pessoa e assegurar que há
uma rotina tranqüila sem estresse e sem distrações que confundem;
· tentar gastar mais tempo explicando o que está
acontecendo, passo a passo, em frases simples e dando tempo para que ela
reaja. Mesmo que não possa sempre entender as
palavras, a atenção plena e o tom de voz calmo do cuidador
podem tranquilizar a pessoa;
· estimular a independência e permitir que a pessoa faça
tudo que puder, mesmo que isto leve mais tempo;
· evitar confrontação com a pessoa sempre que possível,
distraindo sua atenção ou
sugerindo uma alternativa;
· elogiar conquistas e evitar críticas. Focalizar as
habilidades remanescentes da pessoa;
· explicar aos amigos e parentes que a pessoa não os
reconhece e que precisará ser
tranquilizada. Vozes agudas e movimentos bruscos,
especialmente vindos por trás da pessoa, podem perturbá-la;
· ficar alerta para os sinais de ansiedade ou agitação e
reassegurar ou distrair a pessoa de maneira mais apropriada;
· encontrar atividades adequadas para estimular o interesse
e aumentar a confiança;
· assegurar que a pessoa faça exercícios suficientes,
especialmente se ela tem tendência a "andar sem rumo";
· consultar o médico se achar
que a pessoa pode estar sofrendo algum
desconforto, pois o aparecimento de problemas
orgânicos podem ocasionar grandes mudanças
de humor.
O que o cuidador não deve fazer com a pessoa
demenciada
· não confrontar, nem discutir;
· não tomar como ofensa pessoal as atitudes agressivas
momentâneas da pessoa;
· não levantar o tom de voz;
· não tentar conduzir ou iniciar qualquer forma de contato
físico, "encurralando" a pessoa ou se aproximando por trás;
· não provocar, caçoar ou rir dela;
· não usar punições ou castigos para tentar corrigir
mudanças de humor.
É comum a pessoa com demência
sofrer mudanças súbitas de humor. Pode
ser que inicie um dia aparentemente normal
e tranqüilo e de repente a pessoa se torna
agressiva, grita, cospe, bate em quem
estiver mais próximo, joga o que encontra
à mão e se torna extremamente abusiva.
Um adulto confuso, agressivo ou violento
pode chocar toda família, mas assusta
especialmente as crianças e os adolescentes
que não compreendem o que está acontecendo.
É importante lembrar que esta agressividade
não é consciente, mas faz parte da doença.
Resulta de danos cerebrais e de algo que
engatilhou uma resposta comportamental
anormal. Este "algo" pode ser uma má interpretação
do que está acontecendo ao seu redor,
ou do excesso de estímulos causados por
muitas pessoas no ambiente, muito barulho,
crianças agitadas ou por outras razões.
O mais importante nesta hora é procurar
manter a calma. O ideal é afastar pelo
menos dois metros, e se possível retirar-se
do ambiente por algum tempo, certificando-se
de que não haverá perigo para a pessoa
ficar só. Não se deve tentar ou "encurralar"
esta pessoa agressiva, pois tornaria pior
a situação. A pessoa demente necessita
de um ambiente de rotina, sem rádio ou
televisão em volume alto o dia inteiro,
sem muitas visitas, e não se deve esperar
dela mais do que ele dá conta no momento.
Não importa como era o seu passado, esta
pessoa está perdendo gradativamente as
suas habilidades e isto muitas vezes lhe
é extremamente frustrante.
Emergências no domicílio
Os
idosos costumam ter várias doenças ao
mesmo tempo. São doenças crônicas, isto
é, enfermidades que não têm cura e, assim,
é preciso conviver com elas, não levando
o idoso à morte rapidamente. As doenças
crônicas podem causar complicações, principalmente
se não forem bem controladas. As pessoas
idosas que necessitam de cuidados são,
em geral, mais frágeis, mais debilitadas.
São pessoas que apresentaram seqüelas
e complicações de suas doenças crônicas.
Por isso necessitam de cuidados diários
de alguém que as ajude em diversas atividades.
O que são situações de emergência
Com
os idosos, de uma hora para outra, pode
ocorrer uma piora súbita, repentina ou
um acidente, alterando por completo a
rotina diária. São as emergências. Por
esse motivo, o cuidador deve estar atento,
pois uma emergência precisa de ação imediata,
firme, segura, caso contrário o idoso
pode morrer. Qualquer alteração na rotina,
como sonolência excessiva, apatia, confusão
mental, agitação, agressividade etc.,
pode ser um sinal de que algo novo, diferente
que aconteceu no quadro clínico, precisando
de avaliação imediata. Não deixar para
depois.
Quais são as emergências mais
comuns
As
emergências mais comuns são as que se
seguem e que serão expostas de maneira
sucinta.
Confusão mental (delirium)
É particularmente comum em pacientes idosos. A pessoa fica
desorientada, sem saber se localizar no tempo (dia, hora, ano etc.) e no
espaço (local), muita agitada, irritada e falando coisas sem sentido. O
nível de consciência varia muito, uma hora a pessoa está ativa, outra
hora, sonolenta e a atenção fica prejudicada. Para quem está cuidando, é
causa de muita aflição, pois a comunicação fica difícil. O cuidador perde
o controle da situação. É um quadro que necessita de avaliação médica
imediata, pois pode ser ocasionado por pneumonia, infecção nos rins,
desidratação, infarto do coração, traumatismo de crânio, pressão baixa,
derrame e muitas outras doenças graves. O tratamento de qualquer dessas
causas é a melhor forma de tirar o paciente do estado de confusão. Com o
tratamento certo, a confusão costuma desaparecer em poucos dias. É
importante estar sempre ao lado do paciente, numa atitude calma, de apoio.
Não dê calmantes por conta própria.
Quedas
Quedas
são freqüentes em pessoas frágeis. Podem
ter como conseqüência uma fratura de fêmur,
de costela, da coluna, da bacia, do braço
ou mesmo um trauma de crânio. Vários problemas
de saúde podem predispor a cair. Toda
queda, portanto, merece uma avaliação
para se descobrir a causa e, assim, prevenir
outra queda. Se foi um problema de saúde,
chamar o médico do paciente. Se foi um
acidente ou um problema do ambiente (tropeçar,
escorregar, trombar, pisar em falso),
discutir maneiras de tornar o ambiente
mais seguro. Ficar de olho no estado de
consciência, caso tenha batido a cabeça.
Peça ajuda a outra pessoa para levantar
o idoso que caiu. Transmita segurança.
Não ridicularize e não culpe o idoso.
Falta de ar
Em um episódio de falta de ar, o idoso apresenta dificuldade
para respirar, a respiração é rápida e curta, muitas vezes ofegante e, em
geral, apresenta tosse, que pode ser seca ou com catarro. A causa pode ser
uma infecção nos pulmões (pneumonia), uma crise de bronquite ou alguma
doença cardíaca (infarto ou insuficiência cardíaca aguda). Geralmente vem
acompanhada de confusão mental. Sonolência e arroxeamento de lábios e
dedos são sinais de gravidade.
Atenção: pessoas idosas podem apresentar pneumonia sem ter
febre. Procurar avaliação médica urgente.
Engasgos
Ocorrem
quando o alimento não desce para o estômago,
caindo nas vias aéreas respiratórias.
Se a pessoa engasgar com alimento sólido
de tamanho grande (um pedaço de carne,
por exemplo), pode morrer sufocada. Tente
retirá-lo com o dedo ou abraçando a pessoa
pelas costas e apertando na altura da
boca do estômago. Uma complicação mais
freqüente é a pneumonia de repetição.
Em geral, os idosos engasgam mais com
líquidos. É importante ter presente que
o idoso não deve ser alimentado na posição
deitada. Sentá-lo muito bem. Comida de
consistência pastosa (gelatina, mingau
mais grosso, purê de batata etc.) é melhor
nesses casos. Não insistir em alimentar
em caso de engasgo.
Vômitos
Um grande perigo é a ocorrência
de vômitos com a pessoa deitada de barriga
para cima, pois, assim, há grande possibilidade
de ocorrer a aspiração do vômito para
dentro dos pulmões, levando a uma pneumonia
sempre grave. Se os vômitos forem freqüentes,
poderá acontecer desidratação. Um idoso
desidratado pode apresentar outros sinais:
piora do estado geral, confusão mental,
pressão baixa, funcionamento prejudicado
dos rins, além de estar mais sujeito a
morrer. Na maioria das vezes não é possível
dar água pela boca, havendo necessidade
de aplicar soro na veia até que um remédio
para vômito seja utilizado e, principalmente,
até que se trate a causa. Procure o médico,
caso necessite.
Diarréia
Diarréia é o aumento do número
de evacuações, sendo que as fezes são
mais líquidas. O idoso com diarréia freqüente
fica desidratado com facilidade. Quando
ocorrer diarréia, os alimentos com fibras
(verduras, legumes, frutas, feijão) e
os alimentos concentrados (rapadura, doces
etc.) deverão ser suspensos. Oferecer
líquidos em grande quantidade. É difícil
saber quando é necessário chamar um médico
para um problema que é tão comum e temporário.
Como uma regra, procurar ajuda quando
a diarréia durar mais de dois dias ou
ocorrer em associação com febre e calafrios,
com vermelhidão na pele ou se tiver sangue
nas fezes. Diabéticos e aqueles doentes
que estão tomando medicamentos para o
coração podem apresentar complicações
mais cedo.
Desmaio
É
a perda de consciência mesmo que seja
por segundos. É necessário investigar
a causa, pois há muitas doenças que produzem
desmaio: convulsões, pressão baixa, doenças
do coração, pouco açúcar no sangue (hipoglicemia),
derrame e outras. Procurar manter o indivíduo
deitado, com a cabeça baixa. Verificar
se bateu a cabeça ou se fraturou algum
osso. Se for possível, medir a pressão
e sentir os batimentos do pulso.
Convulsões
São os "ataques" epilépticos.
Podem ser parciais, com as convulsões
acontecendo apenas em uma parte do corpo
ou podem ser generalizados (em todo corpo).
Ao se presenciar uma convulsão, colocar
a pessoa deitada, cercá-la de almofadas
para que não se machuque, coloque um pano
ou toalha dentro da boca, para que não
morda a própria língua. Ao final da crise
a pessoa acorda um pouco confusa, sem
saber onde está e o que aconteceu. Pode
sentir dor no corpo e também perder o
controle da urina e das fezes. Tranqüilize-o
(a). Não precisa ter medo porque a convulsão
não é doença contagiosa. Deve ser procurado
cuidado médico o mais rápido possível.
Sangramentos
Se o sangramento for de uma ferida
ou corte, procure estancá-lo com uma forte
compressão (aperto), de preferência com
alguma coisa gelada, sobre a área, elevando,
além disso, o segmento machucado. Se o
sangramento não parar, pode-se garrotear
(passar um laço apertado) acima do local
que está sangrando. Quando o sangramento
for interno ele pode se exteriorizar através
de vômitos, pelo ânus ou, ainda, vindo
dos pulmões com a tosse. O sangramento
pode ser procedente do nariz. Esses tipos
de sangramento necessitam de avaliação
médica imediata, mesmo se for em pequena
quantidade. É importante salientar que
fezes escuras, amolecidas e com mau cheiro,
parecendo borra de café, é um tipo de
sangramento intestinal, apesar de não
ter sangue vivo. É importante comunicar
ao médico este tipo de sangramento, informar
sobre a palidez da pele, se o paciente
sua frio, se a pressão cai muito rápida.
Seguir as orientações médicas e, se for
o caso, levar o paciente imediatamente
para um hospital, para que sejam tomadas
medidas necessárias. Lembrar que um sangramento,
até prova em contrário, é um fato sério
e urgente.
Mudança de comportamento
Muitas doenças no idoso podem
levar a mudança do comportamento: agitação,
delírio, irritação, agressividade, insônia
confusão mental. Da mesma forma a mudança
de comportamento por apatia e desinteresse
também pode significar uma situação de
emergência. Nesses episódios os idosos
podem falar sem parar, ficar andando pela
casa o tempo todo, xingar, arrancar sondas,
cateteres e curativos, ferir-se, acidentar-se;
podem partir, inclusive, para agressão
física. Idosos com demência ("esclerose")
apresentam este quadro mais freqüentemente.
É preciso uma avaliação médica urgente.
Sonda de alimentação entupida
Mesmo naqueles casos em que a
dieta por sonda é dada de forma correta,
pode acontecer o entupimento da mesma.
Em geral, os pacientes com sonda não conseguem
engolir pela boca e, nessa situação, poderão
ficar desidratados, com grande possibilidade
de apresentar queda de pressão, problemas
nos rins, entre outros. Chame a enfermeira
para avaliar a situação. Se não conseguir
desentupir, haverá necessidade de trocá-la
o mais rápido possível.
Hipertermia
É
o aumento da temperatura corporal em dias
de muito calor. A conduta será levar o
idoso a um lugar fresco, retirar as cobertas,
dar líquidos se estiver consciente, colocar
compressas frias em cada lado do pescoço,
debaixo dos braços, nas virilhas e nas
dobras das pernas.
Considerações finais
As emergências podem acontecer
a qualquer pessoa. O melhor é estar sempre
muito bem informado e sempre atento à
evolução do paciente. Quando ocorrer uma
emergência deve-se tentar manter a calma.
Para isto o ideal é ter um planejamento
prévio, detalhando o que fazer em cada
situação, a quem procurar e pedir socorro
e com quais recursos pode contar na comunidade.
Numa consulta de rotina solicitar ao médico
que oriente o que fazer em caso de dor,
febre e pressão alta. Se possível pedir
que prescreva medicamentos. Tenha o número
dos telefones de ajuda e socorro em lugar
de fácil lembrança e acesso. Ao se dirigir
ao hospital leve documentos da pessoa
(carteira de identidade ou profissional
e, se tiver, do plano de saúde). É muito
importante levar também todos os remédios
que o idoso estiver usando, mesmo os que
podem ser comprados sem receita.
Uso
de medicamentos
Uso
de remédios em idosos
Com o avançar da idade produzem-se
modificações no nosso organismo que podem
alterar as respostas aos medicamentos.
Esse é motivo pelo qual as dosagens dos
remédios para os idosos podem ser diferentes.
A polifarmácia, ou seja, o uso de muitos
remédios, implica em custo elevado do
tratamento, assim como aumenta a possibilidade
de reações entre os medicamentos (interação
medicamentosa) e de reações não desejadas
(efeitos colaterais). Essas são três mais
freqüentes em idosos do que nos jovens.
Uso da denominação comum (nome
genérico)
A
Organização Mundial de Saúde (OMS) instaurou
na década de 50 um programa para identificar
cada droga mediante um nome único, nome
genérico – Denominação Comum Internacional
(DCI). Segundo este nome genérico, um
medicamento tem a mesma composição qualitativa
e quantitativa, mesma forma farmacêutica
que outro remédio com outro nome fantasia.
Nessas condições, é possível a substituição
de um medicamento por outros equivalentes,
denominados similares. Exemplos: Ácido
acetil salicílico = AAS, Aspirina; Diclofenaco
= Voltaren, Cataflan, Inflaren.
Cumprimento do tratamento prescrito
O
cumprimento do tratamento é a maneira
como o paciente segue as indicações prescritas
pelo médico: dieta, remédios, mudanças
de estilo de vida. O não cumprimento da
receita pode ocasionar inúmeros problemas
à saúde, uma vez que muitos pacientes
abandonam o tratamento total ou parcialmente
ou cometem erros na maneira de usar sua
medicação.
Conselhos gerais para uso correto
de medicamentos
Segue abaixo alguns conselhos para uso de medicamentos:
· o idoso deve ser estimulado a assumir a responsabilidade
pelo tratamento, tomando os medicamentos sozinho ou sob orientação,
passando os cuidados para outra pessoa somente quando se encontre
impossibilitado (por exemplo, quando apresenta falhas de memória,
deficiência visual ou outras limitações);
· caso haja mais de um cuidador responsabilizando-se pela
administração de medicamentos, será conveniente anotá-los em um papel
diariamente e riscá-los conforme forem sendo ministrados;
· os medicamentos destinados a mais de uma pessoa no lar
devem ser separados e mantidos afastados para evitar erros;
· o prazo de validade dos medicamentos deve ser observado,
mantendo estes distante de umidade, calor, luz e crianças;
· o nome dos medicamentos deve ser colocado em rótulos com
letras legíveis para sua melhor visualização, orientando o idoso para
utilização de uma lupa, se necessário;
· as medicações devem ser separadas para o uso diário em
frascos identificados, conforme o horário em que deverão se tomadas, caso
o idoso tenha dificuldade visual, seja analfabeto ou não consiga
manipulá-las;
· o idoso deve manter consultas médicas periódicas,
informando o médico sobre todos os medicamentos e tratamentos
utilizados;
· devem ser utilizados somente medicamentos recomendados por
médicos;
· é necessário levar os medicamentos que estão utilizados às
consultas médicas;
· as doses recomendadas devem ser seguidas rigorosamente,
não se devendo aumentá-las ou diminuí-las sem orientação médica;
· devem-se observar possíveis alterações ou efeitos que
possam ser causados pelos medicamentos e comunicar ao médico;
· não se pode deixar o idoso esquecer de tomar os
medicamentos;
· programe o horário dos medicamentos com atividades do dia
(café da manhã, almoço, jantar etc.);
· coloque as medicações em local visível;
· utilize um esquema com horários, por escrito ou colocando
a tampinha das caixas dos medicamentos e outros lembretes como os que se
seguem:
- lave sempre as mãos com água e sabão antes de pegar nos
medicamentos;
- controle a data de vencimento;
- faça o possível para que o nome do medicamento e a dose
sejam os receitados;
- se for administrar um medicamento durante a noite, nunca o
faça com a luz apagada e lembre de confirmar o nome e a dose;
- evite guardar os medicamentos em geladeira a menos que
seja indicado e também em lugares úmidos, pois podem ser alterados;
- não utilize o armário do banheiro para guardar os
medicamentos, pois são muito úmidos;
- não aconselhe medicamentos a terceiros, nem aceite
conselhos de vizinhos, amigos ou parentes, pois um medicamento que é bom
para uma pessoa pode ser prejudicial para outro;
- portador de alergia a algum
medicamento deve ter sempre uma advertência
em lugar visível.
Uso correto de administração das
distintas formas farmacêuticas
A forma farmacêutica é a maneira
como o medicamento se apresenta. É importante
conhecê-las e detalhar alguns conselhos.
Uso oral
· Os medicamentos de uso oral devem ser tomados com água e
não com outro tipo de bebida (leite, suco, chás, café ou bebidas
alcoólicas).
· Os medicamentos não devem ser manipulados (esvaziar as
cápsulas) sem consultar o médico.
· Os medicamentos devem ser tomados em pé ou sentado,
engolido sem mastigar, a não ser que seja indicado.
· Os medicamentos de uso sublingual
devem ser colocados debaixo da língua
e esperar que se dissolvam, não devendo
ser ingerido com água.
Formas oftalmológicas
São colírios e pomadas para aplicação nos olhos.
· Deve-se ter cuidado para que a extremidade do frasco não
toque nos olhos para não contaminar.
· As preparações oftálmicas, uma vez abertas, devem ser
usadas e não é conveniente que sejam aproveitadas novamente.
· Para aplicar um colírio deve-se inclinar a cabeça
ligeiramente para trás, baixar a pálpebra inferior, colocando as gotas na
cavidade assim formada.
· Para aplicar as pomadas nos
olhos deve-se inclinar a cabeça para trás,
baixar a pálpebra inferior e colocar a
pomada na cavidade, nunca diretamente
no olho; manter os olhos fechados por
um ou dois minutos para que possa espalhar
por igual.
Formas para ouvido
São as formas farmacêuticas para serem aplicadas no
ouvido.
· Como primeira medida o frasco deve ser aquecido entre as
mãos, devendo-se após reclinar a cabeça com suavidade e virar a orelha
para cima e para trás para que o medicamento penetre.
· O conta-gotas deve ser colocado sobre a orelha com
cuidado, procurando não encostar; a gota deve cair de modo que deslize
pelas paredes do ouvido;
· Uma vez colocadas as gotas,
é aconselhável permanecer inclinado alguns
minutos; não tampar o ouvido com algodão
seco, pois pode absorver as gotas.
Formas tópicas
Consiste na aplicação de medicamentos
sobre a pele em forma de pomadas, cremes
e outros. Para conseguir um efeito local,
a pele deve ser lavada antes de cada aplicação.
Depois de cada aplicação o cuidador deve
lavar as mãos cuidadosamente para evitar
que o medicamento chegue aos olhos e boca.
Formas de uso retal
Consiste na introdução de preparados sólidos (supositórios),
cremes ou pomadas no ânus.
· Os supositórios devem ser colocados na geladeira para
endurecer.
· Retirar a embalagem do supositório e introduzir no ânus
com a parte mais fina para dentro; juntar as nádegas, fazendo força por
alguns instantes.
· Evitar as evacuações por uns vinte minutos depois da
aplicação, a não ser que o
supositório tenha efeito laxante; caso o supositório saia
por inteiro é necessário colocar outro.
· Com respeito à aplicação de
cremes e pomadas é necessário primeiramente
lavar e secar a área retal: a quantidade
a ser aplicada deve ser pequena e distribuída
adequadamente.
Preparados
vaginais
São preparados para serem usados na vagina. Podem ser de
formas sólidas (óvulos,
comprimidos) ou cremes.
· Lembre-se de tirar as embalagens que envolvem os
óvulos.
· A paciente deve deitar-se e separar as pernas; o remédio
deve ser colocado na vagina o mais profundamente possível; durante uns
cinco minutos depois da aplicação é importante que os quadris continuem um
pouco levantados.
· Deve-se usar um aplicador para as formas de creme e, uma
vez utilizado, limpá-lo com água quente e depois guardá-lo.
· Usar de preferência a noite.
Preparados de uso nasal
São medicamentos para serem colocados no nariz.
· Antes da aplicação do medicamento deve-se assoar levemente
o nariz; quando colocar é preferível respirar pela boca, sentar-se e
inclinar a cabeça para trás; colocar o conta gotas em um dos orifícios do
nariz, sem respirar, apertar o conta-gotas e pingar o número correto de
gotas recomendado.
· Repetir o mesmo processo no outro orifício nasal.
· Manter a cabeça inclinada alguns
instantes para que o produto penetre nos
pulmões; respirar pela boca e não procurar
assoar o nariz nesse tempo. É possível
perceber um gosto de medicamento na boca.
Interações medicamentosas
É a maneira como um medicamento reage com um alimento, com
outro medicamento, com álcool, com fumo quando usados ao mesmo tempo.
Observações
Em caso de surgirem reações não desejadas procurar o médico
ou pronto-socorro,
informando sobre o medicamento que o paciente faz uso. Deve
ser ressaltado que o cuidador deve seguir a orientação do médico quanto:
· freqüência de uso dos medicamentos;
· horário;
· antes ou depois das refeições;
· o que eles podem provocar.
Cabe ao cuidador a responsabilidade de cuidar e orientar
quanto ao uso correto dos
medicamentos, uma vez que as pessoas idosas que requerem
cuidados são, na sua maioria,
dependentes fragilizados. O tratamento medicamentoso pode
acarretar dificuldades para o idoso e para os cuidadores que o administra,
sendo oportuno apresentar algumas recomendações, afim de facilitar o
tratamento e evitar complicações. A apresentação das diversas de formas
farmacêuticas e, para cada uma delas, ensinar as maneiras de
administrá-las, além de expor um elenco de conselhos gerais para uso
correto dos medicamentos, teve a finalidade precípua de facilitar o
trabalho do cuidador, transmitindo segurança a ele e à pessoa idosa, que é
o maior beneficiário deste e dos demais ensinamentos constantes deste
manual.
d-3)
- OS DIREITOS DOS IDOSOS NA CONSTITUIÇÃO
Constituição
Federal:
Título II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
Capítulo II
Dos Direitos Sociais
Art. 7) São direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social:
XXIV – aposentadoria
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício
de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
estado civil.
Capítulo VII
Da Administração Pública
Seção II
Dos Servidores Públicos Civis
Art. 40) O servidor será aposentado:
I - por invalidez permanente, sendo os proventos
integrais quando decorrentes de acidente em serviço, moléstia
profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificadas
em lei, e proporcional nos demais casos:
II - compulsoriamente aos setenta anos de idade, com
proventos proporcionais ao tempo de serviço;
III - voluntariamente:
-
aos trinta e cinco anos de serviço, se homem e aos
trinta, se mulher, com proventos integrais;
-
aos trinta anos de efetivo exercício em funções de
magistério, se professor e vinte e cinco, se professora, com proventos
integrais;
-
aos trinta anos de serviço, se homem e aos vinte e
cinco, se mulher, com proventos proporcionais a esse tempo;
-
aos sessenta e cinco anos de idade, se homem e aos
sessenta, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de
serviço.
Parágrafo primeiro – Lei complementar poderá
estabelecer exceções ao disposto no inciso III, "a" e "c", no caso de
exercício de atividades consideradas penosas, insalubres ou
perigosas.
Parágrafo segundo - A lei disporá sobre a
aposentadoria em cargos ou empregos temporários.
Parágrafo terceiro – O tempo de serviço público
federal, estadual ou municipal será computado integralmente para
efeitos de aposentadoria e de disponibilidade.
Parágrafo quarto – Os proventos da aposentadoria
serão revistos, na mesma proporção e na mesma data, sempre que se
modificar a remuneração dos servidores em atividade, sendo também
estendidos aos inativos quaisquer benefícios ou vantagens
posteriormente concedidos aos servidores em atividade, inclusive
quando decorrentes da transformação ou reclassificação do cargo ou
função em que se deu a aposentadoria na forma da lei.
Parágrafo quinto – Os benefícios da pensão por morte
corresponderá à totalidade dos vencimentos ou proventos do servidor
falecido, até o limite estabelecido em lei, observado o disposto no
parágrafo anterior.
Título VIII
Da Ordem Social
Capítulo II
Da Seguridade Social
Seção IV
Da Assistência Social
Art. 203) A assistência social será prestada a quem
dela necessitar, independente de contribuição à seguridade social, e
tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à
adolescência e à velhice;
II - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal
à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir
meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família, conforme dispuser a lei.
Capítulo VII
Da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso
Art. 229) Os pais têm o dever de assistir, criar e
educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Art. 230) A família, a sociedade e o Estado têm o
dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na
comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o
direito à vida.
Parágrafo primeiro – Os programas de amparo aos
idosos serão executados preferencialmente em seus lares.
Parágrafo segundo - Aos maiores de sessenta e
cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos
urbanos.
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