ABC
da Cidadania
João Baptista Herkenhoff
DÉCIMO
SEGUNDO CAPÍTULO
ALGUMAS
CONSIDERAÇOES, A TÍTULO DE CONCLUSÃO.
1. O desrespeito à Constituição,
na vida concreta do povo.
Na
vida cotidiana dos brasileiros, a Constituição
é muito desrespeitada. É desrespeitada
pelas autoridades, a começar das mais altas
autoridades. E é também desrespeitada
por muitos particulares.
Este
é um fato muito grave e bastante lamentável.
Se a Constituição é a “carta
magna” é a “lei maior”
do país, devia ser sempre respeitada.
Mas
essa constatação do desrespeito,
que a Constituição sofre, não
nos deve desanimar.
2.
O regime constitucional não é um
“presente” dos poderosos.
O
regime constitucional não é uma
doação dos poderosos ao povo. É
justamente o contrário. O regime constitucional
é uma conquista do povo.
A
Constituição não é
apenas um livro, artigos e mais artigos, parágrafos
e mais parágrafos, tudo bonitinho, prometendo
dignidade, justiça, dignidade humana.
A
Constituição tem de estar escrita
na alma do povo. Para isso é necessário
que haja o que chamamos de “educação
para a cidadania”.
3.
O uso deste “ABC da Cidadania”.
Este
“ABC da cidadania” pretende dar uma
contribuição à educação
para a cidadania.
Pode
ser lido individualmente pelas pessoas. Pode ser
discutido nas escolas, nas associações
de moradores, nos sindicatos e associações
profissionais, nas comunidades eclesiais de base
e em muitos outras instituições
da sociedade civil. Pode servir de roteiro para
pequenos cursos de cidadania. Trechos do livrinho
podem ser lidos em emissoras de rádio e
televisão.
O
autor entrega este trabalho aos seus concidadãos,
através da Secretaria de Cidadania da Prefeitura
Municipal de Vitória.
4.
Os milhões de brasileiros que não
são cidadãos.
Em todos os países do mundo, existem pequenas
faixas da população que não
desfrutam da cidadania. Isto acontece, mesmo em
países de longa tradição
democrática e de razoável distribuição
justa da renda social.
Mesmo
nesses casos em que a exclusão da cidadania
alcança “franjas da sociedade”
(ou seja, atinge um percentual pequeno de pessoas),
nosso repúdio deve ser manifestado. Isto
porque a cidadania deve ser universal. Dizendo
de outra maneira, tem direito ao reconhecimento
de sua dignidade humana e de ser valor. Ninguém
pode ser excluído da condição
de “cidadão”.
5.
A indignação e a reação
em face da cidadania negada.
A
exclusão social que violenta a maior parte
da população brasileira está
a exigir nossa indignação.
Uma
sociedade não tem futura se perde sua capacidade
de indignar-se.
Nós
temos de nos indignar em face da marginalização
que sacrifica milhões de irmãos
brasileiros.
Temos
de exigir providências dos Poderes Públicos
(reforma agrária, reforma urbana, política
de emprego, melhores condições de
trabalho, sistema de saúde pública
eficiente, sistema público de ensino de
ótima qualidade, moralidade administrativa
etc). Temos de dar também nossa contribuição,
como sociedade civil.
Temos
de compreender ainda que a miséria dos
países do Hemisfério Sul tem causas
internacionais. Nós somos explorados no
tipo de relação econômica,
monetária e comercial que vigora no mundo.
Junto
com os demais países da América
Latina, América Central, Ásia e
África, temos de exigir mudanças
na Economia mundial, de modo a libertar nossos
povos do jugo da opressão internacional.
Temos
de construir estruturas sociais internas e externas,
dentro das quais todos possamos dizer –
“somos cidadãos”. Vamos dizer
isso de peito erguido e com orgulho.
6.
Em busca da cidadania: a luta individual e a luta
coletiva
A
cidadania há de ser conquistada através
da luta individual e através da luta coletiva.
Há
situações concretas nas quais o
cidadão tem de travar uma luta individual
para conquistar seus direitos.
Essa
luta individual, solitária, que o cotidiano
da vida às vezes exige, é sempre
mais dura e difícil.
A
luta individual é mais penosa, mais longa,
com possibilidade de êxito menor. Porém,
se uma situação concreta reclama
a luta individual, não devemos recuar diante
dos obstáculos. Devemos buscar nossos direitos,
custe o que custar.
Mas
sempre que for possível, devemos recorrer
à luta coletiva.
Imaginemos
uma situação na qual várias
pessoas têm um mesmo interesse a defender
perante a Justiça. Ora, será muito
mais prático que se juntem para uma ação
em comum do que cada um lutar separadamente.
Pela
nova Constituição, os sindicatos,
as entidades de classe, as associações,
os partidos políticos podem ingressar coletivamente
em Juízo em favor de centenas ou milhares
de pessoas.
Também
quando se trata de uma luta extrajudicial (isto
é, uma luta fora da Justiça), será
sempre mais eficaz a luta coletiva.
Um
provérbio popular resume tudo isto que
estamos dizendo:
“Uma
andorinha só não faz verão”.
As
classes dominantes desencorajam as lutas coletivas.
Com freqüência, os líderes das
lutas coletivas são perseguidos, presos
e até mesmos assassinados.
Também
os meios de comunicação social,
freqüentemente a serviço das classes
dominantes, estimulam o individualismo. Citemos,
por exemplo, as novelas de televisão. Com
raras exceções, as histórias
das novelas são simplesmente histórias
individuais. Poucas vezes as novelas apresentam
as lutas coletivas, as lutas do povo. (Há
honrosas exceções, por parte de
alguns novelistas.)
Mesmo
sendo a novela um entretenimento, pode também
educar. As novelas e outros programas de televisão,
com muita constância, transmitem a mensagem
do individualismo. Assim atuando, dificultam o
avanço político do povo. (Aqui também
é preciso que se registrem as exceções,
que merecem todo aplauso.)
O
povo tem se aprender a vencer seus desafios, com
suas próprias forças. Mesmo que
o ambiente envolvente seja adverso, mesmo que
a luta coletiva não seja valorizada e enaltecida,
é a união que faz a força.
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