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Tecido Social
Correio Eletrônico da Rede Estadual de Direitos Humanos - RN

N. 092 – 02/10/04

GRITO CONTRA A VIOLÊNCIA EM NATAL

Para Paulinho

Por Tatiana Morais Barbosa*

Uma historia como tantas outras. Paulinho está apaixonado, querem ver o pôr do sol. É correspondido. Eles se aproximam. Dois homens. Eles ordenam. Ela entrará nas estatísticas. São tantas. Violentadas. Paulinho deita-se sobre ela. Tentativa de proteger com seu corpo de menino um amor. Perfuram o corpo de Paulinho com cinco balas.

Paulinho agora é só uma imagem. Foi assim que o conheci. Uma imagem estampada no peito de centenas de homens e mulheres. Uma imagem estampada no peito de uma multidão a gritar por justiça e políticas públicas efetivas de combate à violência.

Uma multidão de histórias, perdas, dores, e o mais surpreendente: uma multidão de esperança. Uma multidão que não se recolheu, não se conformou nem implorou... Mas exigiu. Uma multidão marcada pelo desamor a gritar por amor.

Protesto que reuniu familiares e amigos de tantos outros “Paulinhos” teimando para que seus nobres guerreiros não se transformassem em vazias estatísticas. Assim como eu, tantos outros conheceram Paulinho no dia 26 de setembro do ano de 2004. Assim como eu, tantos outros ouviram e cantaram a musica preferida de Paulinho no dia 26 de setembro do ano de 2004. Assim como eu, tantos outros não conheceram Paulinho.

Mas de que importa? Os números indicam milhares de “Paulinhos” sem amanhã. Os números indicam que novos números se juntarão aos antigos. Os números indicam que são apenas números. Mães esperam os filhos que não irão regressar, filhos esperam os pais que já não existem. Mas de que importa? Esquecemos rápido, se é que um dia tivemos memória. Resolvemos rápido, se é que um dia houve problema. Calamos rápido, porque conformados estamos ao silencio.

Onde estava a imprensa no dia 26 de setembro do ano de 2004 quando uma multidão não calou pelas ruas da Zona Norte? Onde estavam os representantes eleitos pelo povo no 26 de setembro do ano de 2004 quando uma multidão não calou pelas ruas da Zona Norte? Onde estavam as Associações, Sindicatos, Partidos e ONGS no dia 26 de setembro do ano de 2004 quando uma multidão não calou pelas ruas da Zona Norte? Onde estava você?

Mas afinal de contas de que importa? Esqueçamos rápido, Paulinho já é apenas um número. Não para mim.

*Atriz e estudante de Natal, Rio Grande do Norte

Veja também:
- REFLEXÕES ELEITORAIS
- Eleições de 2004 em Natal: uma reflexão democrática
- A Ordem de Advogados do Brasil (OAB), Miguel Mossoró e a falta de bom senso
- Eu voto: o direito aos direitos das pessoas com deficiência
- AGRESSÃO À DIGNIDADE DOS IDOSOS - Fernanda "Stupid"

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