Reflexão
sobre sua passagem na SEDH - 2003 - 2010
Perly Cipriano
Ministro
Paulo de Tarso Vannuchi
Iniciei minha militância política
em 1960. Completei 50 anos de atuação
política consciente, mudei muito
nestes tempos, sem mudar de lado.
Ainda
na prisão, em 1979, juntamente com
outros presos políticos, iniciamos
a discussão para a criação
do Partido dos Trabalhadores. Após
alguns anos de vida no cárcere, que
parecem mais longos quando se está
no frescor da juventude, mergulhei de corpo
e alma neste sonho, contribuindo, como tantos
outros, na consolidação e
na organização do PT no Espírito
Santo e no Brasil. O engajamento político
levou-me ao cumprimento de incontáveis
tarefas partidárias: desde as mais
singelas às mais difíceis,
das viagens e reuniões intermináveis,
mas sempre exultantes quando pela força
dos argumentos se conseguia germinar em
algum quadrante distante do estado ou do
país a mensagem do novo e da esperança
encarnados pelo PT.
O
destino reservou-me nesta caminhada algumas
missões inesquecíveis: da
fundação do PT no Colégio
Sion em São Paulo, do primeiro candidato
da legenda ao governo do estado em 1982.
De presidente do diretório estadual
do PT em duas oportunidades e, mais recentemente,
da participação na elaboração
dos programas de governo de Lula em 2002
e 2006; além de ter participado de
todos os Encontros e Congressos estaduais
e nacionais do PT e ter sido homenageado
juntamente com o deputado Cláudio
Vereza no vigésimo aniversário
do nosso Partido.
Concomitantemente
à vida partidária, a convivência
antagônica que me foram impostas à
Repressão Militar, durante os anos
de chumbo em nosso país, fez ascender
em mim a paixão pelos Direitos Humanos,
traduzida na convicção de
que o respeito à dignidade da pessoa
humana é a pedra de toque de toda
edificação política
e que não pode ser demovida no processo
histórico que coletivamente, desde
o início, ambicionamos promover.
O
ativismo como militante de Direitos Humanos
certamente proporcionou maior qualidade
em minhas experiências parlamentares
desde Vereador em Vitória e Deputado
Estadual no Espírito Santo e atividades
administrativas na prefeitura de Vitória
na função de Chefe de Gabinete
e no Governo do Estado as atribuições
de Secretário de Estado da Justiça
e Cidadania.
Com
a vitória de Lula em 2002 fui empossado
como Subsecretário de Promoção
e Defesa dos Direitos Humanos na Secretaria
Especial dos Direitos Humanos da Presidência
da República.
Em
todos estes anos busquei de forma obstinada,
com o auxílio prestimoso de colaboradores
e servidores, amplificar o diálogo
público com os mais diversos setores
da sociedade civil, construindo pontes ao
livre trânsito dos Direitos Humanos,
a serem exercidos e multiplicados com fluidez,
eficiência e intensidade, chegando
até aos longínquos extremos
do país, em especial, onde a presença
do Estado ainda não se faz suficientemente
institucionalizada e a cidadania clama por
ser proclamada.
Seria
inexeqüível esgotar em uma carta
os grandes avanços conquistados no
âmbito da Subsecretaria de Promoção
e Defesa dos Direitos Humanos que, em parte,
se fazem refletir em dezenas de premiações,
títulos e condecorações,
destacando o título de Cidadão
Brasiliense, a Comenda Domingos Martins
no ES, o título de Cidadão
Natalense, entre outros. Tais honras demonstram
o reconhecimento às ações
e políticas públicas que,
institucionalmente, coube-me cumprir.
Contudo,
mesmo em um breve relato, ressalta-se a
realização histórica
de duas conferências nacionais do
Idoso (em 2006 e 2009) e da primeira conferência
nacional LGBT (2008), abrilhantadas pela
participação do presidente
da República e que, em razão
dos resultados alcançados, reverberaram
na comunidade internacional, inclusive nas
Nações Unidas, realçando
o papel de destaque do Brasil no continente
Americano quanto às políticas
nacionais de Direitos Humanos.
Neste
período, novos atores sociais, alguns
inclusive alijados do debate público
sobre Direitos Humanos, a exemplo das comunidades
Ciganas e Pomeranas, foram incorporados
na agenda política da SDH.
Esferas
representativas e autônomas da sociedade
brasileira, como as Universidades e os diversos
segmentos de manifestação
religiosa, aprofundaram seus vínculos
com os Direitos Humanos tornando-se parceiros
freqüentes na elaboração
e implementação do Plano Nacional
de Educação em Direitos Humanos
e no aprofundamento do diálogo entre
Religiões e Direitos Humanos.
Minha
atuação na SDH é confirmativa
de que, em Direitos Humanos, nada se avança
sem a abrangência do diálogo
que se faz indispensável em toda
atividade política. O avanço
nasce do comprometimento, e este só
se fertiliza na confiabilidade das interlocuções
que emerge de nossas vivências, sentimentos
e da franqueza de nossos compromissos.
Diante
dos resultados conquistados e do compromisso
que tenho com os Direitos Humanos, com o
PT e com a democratização
do País, não se entende o
pedido de afastamento do cargo que exerço.
Essa conduta, no último ano do governo
Lula e às vésperas das eleições
de 2010, não é razoável,
nem politicamente justificável.
Contudo,
não pretendo discutir publicamente
as motivações pessoais ou
políticas do Ministro. Não
quero explicitar divergências, tampouco
apontar erros e equívocos. Com isto
tento evitar desgastes para SEDH e principalmente
ao Partido dos Trabalhadores. Restará,
portanto ao Ministro, a minha exoneração.
Retornarei
para o ES, meu Estado de origem, com olhares
sempre para o futuro, enriquecidos pela
experiência de uma vida intensa, com
a serena tranqüilidade de que em meu
exercício os critérios e valores
orientadores de toda esta história,
que não é só minha,
foram rigorosamente preservados.
Abraçarei com humildade e determinação
os novos desafios coletivos para fortalecer
o PT e fazer avançar as conquistas
do governo Lula bem como eleger a companheira
Dilma Roussef, presidenta do Brasil.
Atenciosamente,
Perly
Cipriano
Subsecretario Nacional de
Promoção
e Defesa dos Direitos Humanos
10/6/2010
Queremos manifestar nossa solidariedade
e reconhecimento pelos sete anos e meio
de trabalho sério e engajado à
frente da Subsecretaria Nacional de Promoção
e Defesa dos Direitos Humanos da Secretaria
de Direitos Humanos.
Lendo seu depoimento, objeto de uma dissertação
de mestrado, temos a certeza de que não
há adversidade que tire de você
a serenidade que só as pessoas de
bem conseguem transmitir. A reflexão
que você fez sobre o período
que passou na prisão continua válido
para o momento atual, requer tão
somente um exercício de contextualização.
... ”uma pessoa condenada a noventa
e quatro anos a prisão é uma
coisa terrível, desmonta muitas coisas
que você imaginava. Mesmo quando se
é movido por um ideal, a gente faz
uma revisão do que aconteceu; “era
assim, não era, devia ser”.
Mas em momento nenhum perdi esse sonho,
mesmo quando condenado a noventa e tantos
anos. Na cadeia o tempo tem uma dimensão
própria. Passar um ano, dois anos,
cada ano na cadeia, cada dia é mais
que uma semana, cada semana é mais
que um mês, cada mês é
mais que um ano. A despeito de todas as
adversidades a gente não deixava
de cultivar a esperança, se apegava
a alguma coisa distante, como por exemplo,
a idéia de que as ditaduras passarão,
assim como o fascismo passou. Esse tipo
de exercício alimentava, nos dava
esperança. Quando as pessoas deixavam
de intervir nessa realidade dura, perdiam
o sentido da vida. Porque o sentido da vida
foi aquele nos levou a prisão. Imagine,
eu preso, condenado a noventa e tantos anos,
chegar à conclusão que nada
do que fiz valeu a pena. Se isso acontecesse
eu me acabava, até fisicamente”.
Caro companheiro Perly, assim como muitas
ditaduras se passaram, esse momento também
passará. Como você mesmo disse:
“Sonho é uma coisa que deve
estar sempre sendo alimentado. Quando se
tem um ideal a gente olha para frente. Acredito
que o sonho é um pouco parecido com
uma estrela. A pessoa está perdida
em alto- mar olha para uma estrela e vai
remando seguindo a estrela”.
Siga sonhando, olhando o futuro sem esquecer
seu passado, semeando o bem e nos enchendo
de orgulho. Nossa solidariedade e nossos
agradecimentos por sua dedicação,
honestidade e generosidade.
Mary Caetana Aune-Cruz
Secretária Nacional
Adjunta - Comunidade Bahá'í
do Brasil
Iradj Roberto Eghrari
Professor do UNIEURO. Brasília
- DF
Marcos Terena
Articulador dos Direitos
Indígenas
Valcilene Pinheiro
Coordenadora do Programa
de Atenção Integral á
Saúde do Idoso de São Sebastião/DF
Maria José Barbosa da Silva
Pastoral dos idosos
Mariza Mercadante
Militante ambiental
Márcia Aparecida Nery
Movimento Espírita
de Brasília
Roberto Monte
Centro de Direitos Humanos
e Memória Popular e DHNET
Maju Werneck Muniz
CDL/DF
Mariana M. K. Zandonade
Procuradora da Fazenda Nacional
Geysa Melo
Economista
Martha Lucia Del Hierro
Militante de Direitos Humanos
em San Juan de Pasto/ Colômbia
Anna Cristina B. Perez
Socióloga
Sônia Missagia Mattos
Cientista político
e Antropóloga - UFES
Jesus
Carlos Delgado Garcia Gestor de
Projetos Sociais
Irma
Rossetto Passoni Ex-Deputada
Federal pelo PT
Márcio
Franklin
Estudante e Militante Social
Armelino
Passoni Ex-Vereador pelo
PT
Maria
de Nazaré Tavares Zenaide
Maria
do Carmo da Silva Medeiros Educadora
e Militante dos Direitos Humanos RN
Aluízio
Matias dos Santos
Presidente do Conselho Estadual de Direitos
Humanos RN
Flávio
José de Oliveira Silva
Educador e Militante de Direitos Humanos
RN
CARTA
DE SOLIDARIEDADE A PERLY CIPRIANO DO NÚCLEO
DE CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS DA UFPB
O
Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos
da UFPB vem manifestar publicamente o apoio
e a solidariedade ao companheiro Perly Cipriano,
Subsecretário Nacional de Promoção
e Defesa dos Direitos Humanos da Secretaria
Especial de Direitos Humanos da Presidência
da República-SEDH-PR, que foi exonerado
pelo Ministro Paulo Vannuchi no dia 18 de
junho do corrente ano, do cargo que exercia
desde 2003.
O
companheiro Perly tem uma trajetória
pessoal de promoção e defesa
dos direitos humanos que remonta aos tempos
da luta contra a ditadura e pela democratização
do Brasil; foi preso político durante
toda a década de setenta, e quando
saiu da prisão continuou a sua militância
e o seu engajamento destacando-se pela sua
integridade pessoal e dedicação
à causa dos direitos humanos. Na
SEDH-PR atuou com abnegação
e competência visitando todos os recantos
do Brasil, recebendo com grande disponibilidade
e atenção os pedidos e as
solicitações dos movimentos
de direitos humanos, implementando e viabilizando
uma série de projetos de atendimentos
à população, realizando
com muita eficácia uma ponte entre
o governo e a sociedade civil.
Perly
é uma figura querida, respeitada
e reconhecida por todo o amplo movimento
de direitos humanos, que merecia continuar
à frente do seu trabalho. Entendemos
que o Ministro possui a autoridade para
substituir os seus colaboradores, mas entendemos
igualmente que, pela relevância dos
serviços prestados, a sua demissão
não poderia ter acontecido desta
forma, e neste momento, há poucos
meses do fim do mandato do presidente Lula.
Solicitamos,
portanto ao Ministro, pelo qual temos o
maior apreço, uma explicação
pública e uma reconsideração
da sua decisão que deixou perplexa
a comunidade dos direitos humanos no Brasil.
Atenciosamente
João
Pessoa, 23 de junho de 2010
Giuseppe
Tosi
Coordenador de Núcleo
de Cidadania e Direitos Humanos
Se
meu povo conseguiu ser ouvido em suas reivindicações
pelo governo Lula, devemos a Perly Cipriano
Mirian Stanescon Batuli,
Cigana do clã Kalderash
Se meu povo conseguiu ser ouvido em suas
reivindicações pelo governo
Lula, devemos a Perly Cipriano
O Povo Cigano com a saída do Dr.
Perly por certo sentirá a dor que
só se sente quando se perde um pai,
pois ele era e será sempre lembrado
como nosso grande amigo e patriarca.
Só nos resta a esperança que
quem ocupe o lugar de tão nobre senhor,
tenha o mesmo dom, sensibilidade, perseverança
de trabalhar em prol, não somente
do povo cigano mas, em prol dos idosos,
da juventude, dos gays, dos negros etc,
etc... da maneira incansável e com
a mesma dedicação do Dr. Perly.
O que para mim que sou testemunha do quanto
ele se dedicou em prol dos menos favorecidos
e injustiçados em nosso querido país,
tenho o direito de DUVIDAR.
Com a saída do Dr. Perly o sentimento
é de orfandade.
De novo estaremos entregues a nossa própria
sorte.
Graças a Deus e com a ajuda deste
senhor, meu povo hoje tem seu Dia Nacional
decretado pelo Presidente LULA, teve uma
cartilha editada e distribuída em
vários Estados do Brasil, ensinando
ao meu povo o Direito de ter Direitos, e
ver suas 29 propostas ouvidas e aprovadas
tanto nas Conferência Nacional de
Direitos Humanos, como na 1ª e 2ª
Conferência Nacional de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial.
Se hoje, o Povo Cigano, saiu do esquecimento
e está sendo incluído em políticas
públicas agradecemos a este senhor.
Tenho certeza que não somente o povo
cigano neste momento de profunda tristeza
se sente órfão, mas, sim todos
àqueles que enfrentam o preconceito
e a discriminação em nosso
Pais.
Acho que quem mais perdeu foi o própria
Secretaria Nacional de Direitos Humanos,
pois perde o seu mais eficaz e incansável
membro e colaborador. LAMENTÁVEL!!!.
Na esperança de dias melhores e de
maior Justiça para todos.
Mirian Stanescon Batuli
Cigana do clã Kalderash
Conselheira da CNPIR e SEPPIR
Delegada e conselheira da Comissão
de Direitos Humanos da OAB- RJ
Tenho o maior respeito e considero o Ministro
Paulo Vannuchi, reconhecidamente um grande
aliado na luta pelos Direitos Humanos em
nosso País. Feito essas resalvas,
nao posso admitir como razoável a
demissão do companheiro Perly Cipriano,
companheiro que faz parte dos Direitos Humanos,
do PT, enfim, constitui sua vida verdadeira
legenda.
É obvio que o Ministro Paulo Vannuchi
pode demitir e admitir qualquer auxiliar,
mas Perly tem toda a nossa solidariedade
e cabe ao Ministro dos Direitos Humanos,
recebedor em outras oportunidades de tantas
homenagens e solidariedade, neste caso especifico,
lamentavelmente não tem pelo menos
a minha solidariedade, a qual reservo em
sua integralidade para PERLY CIPRIANO.
Sugiro
outras pessoas se manifestar ou quem sabe
seguir o exemplo da Paraiba e fazer uma
ou mais notas de solidariedade a PERLY
Nota
de Solidariedade de Jessie Jane Vieira de
Sousa
Companheiros,faço minhas as palavras
do MARCELO. Perly foi nosso companheiro
de prisão e com quem temos partilhado
a vida desde então. Nada justifica
o afastamento do companheiro!!!