Coleção
Memória das Lutas Populares no RN
Coleção Memória Histórica
Raimundo Ubirajara de Macedo - Volume X
Raimundo
Ubirajara de Macedo
Raimundo
Ubirajara de Macedo; Ubirajara Macedo; Bira; Birinha. Em qualquer
uma dessas denominações encontraremos um grande homem,
apesar de medir 1,56cm de altura. Um gigante que enfrentou a repressão
de 1964 que o condenou a onze meses de prisão e o tachou
de “elemento comunista” no processo aberto contra ele.
Um cidadão nascido na cidade de Macaíba (RN) que se
tornou funcionário do então Departamento de Correios
e Telégrafos, em cujo seio se formaram, na época do
golpe, os grupos de “dedos-duros” responsáveis
pelas denúncias que culminaram com sua prisão e a
de outros companheiros de repartição.
Cidadão que mais tarde encontraria no jornalismo o canal
para o aprofundamento de sua ideologia nacionalista e a consequente
postura política de defender sua pátria do domínio
estrangeiro e o trabalhador brasileiro da humilhação
imposta pelo poder econômico que esmagava sua autoestima.
Foi essa sua linha de ação que o transformou em alvo
do processo opressor que os militares impuseram ao país num
período em que a nação buscava reformas. Militares
que, além de tudo, ainda lhe atribuíram uma cor que
não encontrei definição em nenhuma das pesquisas
que fiz a respeito: leucodermo.
Esse homem, marido e pai encontrou forças para enfrentar
o general-diretor do DCT e lutar pela revogação de
sua transferência para a cidade de Cáceres, em Mato
Grosso, fronteira com a Bolívia, terra da qual muitos companheiros
não tiveram retorno nem deles se soube mais notícias.
Agarrou-se ao sentimento de amor à família, pensou
no seu potencial como servidor público e não podia
imaginar-se distante da profissão que acabara de iniciar:
jornalismo. Tudo isso estava em São Paulo e foi lá
que conseguiu ficar e concluir seu período de prisão
domiciliar, alcançada após habeas corpus impetrada
pelo advogado Ítalo Pinheiro.
É esse cidadão que o Centro de Direitos Humanos e
Memória Popular integra à sua coleção
DVD Multimídia Memória das Lutas Populares do RN -
volume 10. Ao participar desse projeto, Ubirajara Macedo vê
registrada sua história política e cidadã,
e vislumbra alcançar as gerações atuais que
se encontram nas escolas públicas e sofrem com a desinformação
generalizada e padecem diante da ignorância de fatos tão
importantes que marcaram a vida do seu país.
Ao lado de outros valorosos batalhadores pela liberdade e pela igualdade
de direitos, Ubirajara compõe os quadros de militantes políticos
e partidários que enfrentaram os dissabores das grades e
dos maus-tratos. Alguns sucumbiram diante da violência das
torturas, e muitos ainda permanecem insepultos. Mas nenhum deles
teve seu intelectual destruído, viu diminuída sua
capacidade de resistência, nem seus sonhos apagados.
Ubirajara Macedo, 94 anos, é uma referência desse período.
Solidário, fiel, fraterno. Uma dócil criatura que
respondeu processo por atividades subversivas, mas que na realidade
apenas assumiu-se como nacionalista autêntico. Tudo que ele
sempre quis foi ver seu país livre e soberano. Por isso lutou,
sofreu, e também conheceu e conviveu com pessoas que o ajudaram
a crescer com ser humano, que lhe mostraram que a integridade faz
do homem um indivíduo melhor para o seu próximo.
Thais Marques
Jornalista
Natal (RN), julho 2014
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