GRUPO DE UNIÃO E CONSClÊNCIA NEGRA 
 Nova Iguaçu-RJ

HISTÓRICO DO GRUPO DE NEGROS DE 1978 a 1981, baseado nos Relatórios dos Encontros e pronunciados no

Encontro Nacional de 5 a 7 de setembro de 1981

 

Meus queridos amigos,

“Que Olorum — o Inacessível, o Deus Cria­dor de todas as coisas, que nossos ancestrais adoraram que Olorum que se comunica com os mortais através de seus intermediários, os seus orixás — nos manda um axê, uma graça de bênçãos para que possamos viver estes dias trio intensamente no amor e no discernimento de tudo o que podemos fazer por nós mesmos, Negros, e por nossos irmãos marginalizados, nesta terra que nossos antepassados cativos construíram com seu suor e sangue”.

Fui convidada pela Comissão que se reuniu em abril para programar esse Encontro, para fazer uma palestra de abertura dos trabalhos. O assunto seria o histórico de nossos grupos de Negros. A razão da escolha é que estive em todas as reuniões desde o inicio. E o que devo fazer é contar como os velhos das tribos —a caminhada do grupo. Uma reflexão sobre a ação porá luz sobre o caminho a ser continuado.

Vamos á história. Talvez tenhamos de colocar o 1~’ de setembro como data aniversaria de nosso grupo, pois foi neste dia em 1978 que se deu o 1º Encontro do «Grupo de Estudo de assuntos ligados á Evangelização do Negro brasileiro»,na sede da CNBB em Brasília. Esse Encontro teve como objetivos:

1º. Dar subsídios para que, na elaboração do Plano Bienal da CNBB, fosse considerada prio­ridade a Evangelização do Negro brasileiro.

2º. Elaborar estudos sobre os cultos afro-bra­sileiros para serem levados pelos bispos brasilei­ros a Puebla.

3º. Formação de um Grupo de Estudos sobre «Evangelização e Cultos afro-brasileiros, talvez ligado á CNBB.

A esse Encontro compareceram 14 participan­tes entre bispos, padres e religiosas.

Para alcançar os objetivos propostos os traba­lhos foram iniciados com uma exposição do Pe. François l’Espignay sobre o Candomblé. Pe. François, francês, convive há vários anos com uma comunidade de Candomblé, em Salvador. Após sua palestra sobre a «teologia» do Can­domblé, a cosmovisão, a fé desse povo surgi­ram, não conclusões, não sugestões pastorais mas perguntas, interrogações, perplexidade. Tal­vez até hoje essas perguntas estejam sem res­posta com certeza elas aparecem em cada curva de nossa caminhada.

O Pe. François se perguntava: «Será que tenho que anunciar Jesus Cristo e o Evangelho a um povo que tem uma fé viva, que exprime sua fé através de ritos próprios e que se relaciona com Deus através desses ritos? Ou devo ter ou­tra forma de abordagem, de contato com eles?

Será que nessa maneira de conceber e aceitar as coisas de Deus, pode ser anunciada a eles que têm outra cultura?

Será que eles não podem ter o orixá como mediador entre eles e Deus como nós temos Je­sus Cristo?»

Após a exposição de Pe. François os partici­pantes fizeram seus comentários, suas interrogações:

«Converter é culturalizar ou converter é rela­cionar, mudar o tipo de relacionamento?»

«Para que serve a presença do padre cató­lico, para mostrar que eles (do Candomblé) têm razão, que estão certos ou serve para que eles se sintam à vontade?»

«Minha presença, respondeu o Pe. Fran­çois, mostra o direito que eles têm de manifes­tar sua fé, conforme sua cultura. Não é esse o principio das CEBs: Fé e Religião a partir do povo? Valorizar o que é do povo. Valorizar. Muito bem. Mas dialogar é mais do que valori­zar, é confrontar, é enriquecer-se mutuamente. A expressão: «Nós, a Igreja, temos errado, talvez seta melhor de que esta outra: «Vocês têm razão».

«Como o Negro vê a Igreja?»

Como expressão do poder. A Igreja é dos brancos.

«A Igreja agiu e ainda age como libertadora entre os povos?»

(Silêncio).

E assim as perguntas se sucederam, e chegou-se a algumas conclusões:

— E importante que o Negro aceite sua rea­lidade de ser Negro, se orgulhe de sua raça.

— Repensar sobre o que o Pe. François está fazendo: «viver com... conviver ...

— Foi também dado como importante encon­trar tinia bula do Papa Paulo III que tala sobre o Negro «capaz de receber os sacramentos, capaz de salvação». Essa bula daria o embasamento histórico-eclesiástico ao batismo dos negros «sen­do seres racionais, têm direito á liberdade e à propriedade da terra em que vivem». Foi com certeza a 1 defesa dos Direitos Humanos.

Constatou-se também que «no Brasil temos um grande número de negros e mulatos. E o que chama atenção é a marginalidade em que eles vivem».

«De que lado deve estar a Igreja de Cristo?

— A Igreja esteve até agora não só Jorge dos Negros mas esmagando-os».

«O estudo sobre o Negro brasileiro foi feito em geral «de cima para baixo».

Foi também feito o questionamento:

— Como cristãos, o nosso problema é a re­ligião afro-brasileira, ou é o Homem que vive nu­ma determinada situação sócio-político-econômica?

— O problema com que nos defrontamos é um problema do culto, da Pastoral ou é um pro­blema do Homem? É a religião que está em jogo, ou está em logo o Homem que mantém essa religião?»

Foram tomadas decisões mais ou menos teóri­cas:

Devemos ver o Homem marginalizado a partir de suas manifestações religiosas, isto é, o            Homem esmagado que manifesta seu esmagamento através da religião.

O instrumental da Teologia deveria ser mais social-psicológico do que tem sido até agora.

— Não é a Igreja que deve questionar mas que deve ser questionada.

A Igreja se afasta dos esmagados, dos Ne­gros, dos desempregados, aias Deus está lá. A Igreja deve ir lá, encontrar Deus na base.

— A escravidão é um “pecado estrutural”. Nós sabemos que os conventos tinham seus escravos. Estudos recentes têm mostrado como congrega­ções religiosas, não só tinham escravos mas fa­ziam tráfico.

As atitudes a serem tomadas pela Igreja devem ter três aspectos: ecumênico, pastoral e social mi audição, reflexão penitencial e atuação.

— A atitude da Igreja deve mudar: em lugar de irmos aos Negros para convertê-los, deveríamos dar condições para que eles venham a nós e nos convertam”.

No fim desse l Encontro chegou-se a algu­mas propostas mais práticas:

— Formar tini grupo experimental, sem nome, sem a proteção oficial da CNBB, um grupo profético de reflexão, esclarecimento e conscientiza­çâo.

— Programou-se uma reunião para o dia 5 de dezembro de 78 cujo objetivo seria: Aprofundar estas idéias e concretizar nossos propósitos.

O 2º Encontro no dia 5 de dezembro/78 rea­lizou-se em 5. Paulo, no Instituto Paulo VI. Mas a reunião não andava, chegou o momento em que se começou a jogar idéias que não levavam a nada. Aí surgiu a sugestão: por que devem os brancos reunir-se para tratar dos problemas dos Negros? por que o Negro deve continuar a ser objeto de estudo dos brancos? por que não se daria condições para que sacerdotes e religiosos negros se reunissem para estudar sua própria realidade dentro da Igreja?

Apesar das manifestações de temor de alguns — compreensível aliás — a idéia foi aceita por todos, mas somente um ano depois, em dezem­bro de 1979, é que o grupo conseguiu reunir-se novamente em São Paulo, para planejar o «En­contro dos Agentes de Pastoral Negros».

Decidiu-se que o Encontro não limitaria a par­ticipação a sacerdotes e religiosos mas se abri­ria aos leigos. O Encontro foi marcado para fevereiro de 1980.

O Encontro de Sacerdotes, Religiosos e Leigos Negros aconteceu nos dias 13, 14 e 15 de fe­vereiro de 1981. Éramos 25 pessoas de sete Es­tados do Brasil e o Encontro deu-se em Capão Redondo-SP.

Esse Encontro já é o inicio da nossa história, da história do nosso grupo. Os Encontros ante­riores foram a nossa pré-história.

O objetivo do Encontro foi a reflexão sobre os seguintes temas:

— A realidade de SER NEGRO na Igreja ca­tólica do Brasil.

— Que espaço deve o Negro brasileiro — en­quanto Negro e Cristão — ocupar na Igreja?

Neste Encontro o Pe. Mauro fez o que estou fazendo agora, relatou os antecedentes do En­contro, a caminhada feita, os motivos que nos levaram a estarmos reunidos naquele lugar e na­queles dias e os objetivos propostos.

Seguimos a seguinte dinâmica:

1) Constatação da realidade — o Negro den­tro desta realidade sócio-político-econômica

2) Depoimentos de fatos reais, pessoais, rela­cionados com a problemática do Negro, na socie­dade e na Igreja.

3) Reflexões e debates sobre o que tinha sido proposto.

E chegamos á conclusão de que:

— o Negro brasileiro é um povo marginalizado na sociedade civil e na Igreja.

Mas notou-se nos participantes do Encontro o despertar de uma consciência critica, um inte­resse grande em conhecer nossas raízes negras o desejo e a necessidade de nos assumirmos como Negros.

E nos propusemos a trabalhar dentro da Igre­ja e na sociedade para transformar esta menta­lidade racista que nos faz afastar-nos de nossa cultura e nos «envergonhar de nossa identidade de Negros.

Sentimos também necessidade de conhecer pro­fundamente os cultos de nossos antepassados, de vívenciar a cultura, a arte e todos os valores da cultura africana.

Antes de apresentarmos nossas propostas fo­ram feitas algumas considerações sobre:

— a atitude histórica da Igreja em relação ao Negro durante a Escravidão oficial e depois dela.

— a situação da população negra na socie­dade civil.

E o nosso propósito comum foi este: «Queremos nos unir e nos reunir para refletir, para conscientízar-nos, para planejar tarefas e ações, também com não-negros, para a constru­ção de uma sociedade e uma Igreja justas, fra­ternas, não preconceituosas, respeitadoras dos povos e de suas culturas».

E as nossas propostas surgiram quase espon­tâneas depois desses três dias de reflexão:

1) Criar um grupo tarefa central com os en­cargos de:

— recolher noticias e outro material das bases.

— fazer circular experiências e informações dos vários grupos.

— ajudar na reflexão e incentivo pastoral junto aos núcleos.

2) Formar grupos negros de estudo e ação nos Estados.

3) Tomar contato com grupos negros: religio­sos, políticos, culturais já existentes e eventualmente participar deles.

4) Descobrir, valorizar e incentivar lideranças negras nas comunidades e na ação pastoral.

5) Contactar africanos atualmente residentes no Brasil com a finalidade de uma possível in­tegração e intercâmbio.

6) Conhecimento e divulgação da cultura negra.

7) Um possível encontro do Papa com negros; fazer uma carta a CNBB fazendo um apelo para que eles, ao fazerem o roteiro, alertassem o Papa para que em todos os Encontros observe a pre­sença negra nos grupos:

Corpo Diplomático.

Bispos, clero, religiosos.

Lavradores, operários, favelados.

Verificaria então como essa presença é escassa nas classes mais altas e mais densa nas classes mais baixas e, a partir disso, desse uma men­sagem à Igreja do Brasil.

8) Esforço para que um outro encontro como este se repita, com os mesmos participantes, mas abrindo para outros convidados que não pude­ram estar neste primeiro encontro. Este encon­tro deveria ser ainda este ano.

Quando foi apresentado o Relatório desse En­contro, a Irmã Duma, uma das relatoras apre­sentou dois anexos para complementar o estudo que tinha sido feito:

O primeiro sobre a ideologia do Embranque­cimento, e o segundo, um resumo histórico sobre as posições pastorais da Igreja diante dos Cultos Afro-brasileiros.

 

* * *

 

O tempo foi passando, e os 25 participantes do Encontro de Capão Redondo começaram a agir uns, formando grupos, outros multiplicando conversas pessoais, outros estudando, participan­do de Encontros de outros grupos negros    cada uni conforme sua capacidade, possibilidades e conforme a realidade do seu ambiente foi lan­çada a semente na terra.

O grupo tarefa que havia planejado o Encon­tro dos Negros, promoveu uma reunião em que vários participantes do Encontro de fevereiro de 1980 em Capão Redondo. participaram junta­mente com vários assessores da CNBB.

Os principais assuntos da Reunião foram:

a) Avaliação do Encontro de fevereiro/80.

b) A caminhada feita pelos agentes de pasto­ral negros a partir de fevereiro/80.

c) Futuro do grupo tarefa.

d) Projetos e propostas concretas.

A avaliação do Encontro foi feita a partir da leitura do Relatório. Mais que urna avaliação, foi feita uma reflexão sobre os assuntos abordados.

Passando ao 2º item, a dinâmica foi na base de depoimentos e constatou-se que: Nesse curto espaço de 4 meses, já havia surgido vários grupos na base para a reflexão sobre a realidade do Negro brasileiro. Já se es­tava constatando a tomada de consciência do Negro em relação á sua identidade e já se estavam organizando movimentos para a luta dos Negros, muitos a partir de sua fé, com a cons­ciência da importância, da fidelidade e da per­severança nas lutas concretas do povo.

E constatou-se também a preocupação de não elitizar o grupo, de ir realmente às bases, aos negros da periferia, das favelas, aos negros ope­rários, domésticas etc.

Mas notou-se que ainda: havia um forte processo de embranqueci­mento entre os negros da classe média, espe­cialmente entre sacerdotes e religiosas.

— era grande a dificuldade que têm as supe­rioras religiosas em permitir a integração das Irmãs negras nos grupos.

— Era necessária maior troca de informações e experiências.

Todos estavam conscientes de que a caminhada seria lenta e arriscada e que deveria ser assu­mida com coragem, firmeza e otimismo.

Além desses depoimentos dos Negros, houve questionamentos, principalmente feitos pelos pa­dres, a respeito da Teologia católica e os cultos africanos. Por isso ficou acertado um encontro para um diálogo ecumênico entre o Pe. François I’Espignay e o Frei Leonardo, assessor da CNBB para a linha Ecumênica da Igreja.

No fim de dois dias de reunião, chegamos ás seguintes decisões:

— Encerramento das funções do grupo tarefa que programou o encontro de fevereiro/80.

— Criação de uma Comissão composta pelos 5 Negros presentes: Mauro, Elvira, Dico, Corina, Maria Raimunda. Tal comissão deveria ser com­plementada mais tarde.

— Decidiu-se uma próxima reunião para os dias 6 e 7 de setembro de 1980.

— Corina foi escolhida como Secretária Execu­tiva do grupo.

— O grupo teria liberdade de convidar para suas Reuniões e Encontros estudiosos não-negros da cultura e problemática afro-brasileira, e que, embora o grupo negro não esteja ligado nem dependente diretamente da CNBB, poderá dar apoio e. esclarecimento á linha II quando esta achar necessário.

Falou-se também sobre a falta e necessidade de apoio financeiro para a continuidade dos tra­balhos do grupo negro.

No fim foi feita uma avaliação que deu essa reunião como muito positiva para a caminhada do grupo.

No Relatório. em anexo apareceram 2 contri­buições de Negros dos grupos. Um anexo foi uma carta da Ma. Auxiliadora de Nova Iguaçu falando sobre o problema da mulher negra da Baixada Fluminense e o outro anexo foi uma poesia de Wilson de Goiânia. O nome da poesia é NEGRO.

A reunião dos dia 6 e 7 de setembro reali­zou-se em 5. Paulo, em Taboão da Serra. Esse Encontro tinha como objetivos principais a am­pliação da Equipe animadora e a discussão da possibilidade de novos encontros.

O primeiro objetivo foi alcançado pois mais quatro pessoas foram integradas à Comissão, que ficou assim constituída: Mauro, Elvira, Corina, Dico, Ma. Raimunda, Carlos Henrique, Adair, Conceição e Daniel que ficou de indicar outro porque tinha de voltar à África, e indicou mais tarde o Vilson da Conceição, e o Haroldo de Goiânia que foi indicado pela Ma. Raimunda. Fi­camos de pedir a D. José Maria Pires para inte­grar a Comissão.

O 2º objetivo também foi alcançado pois foi decidido fazer um Encontro maior, levando em consideração as pessoas que participaram em fevereiro/80 e os grupos iniciantes. Foi também decidido que cada grupo de base deve man­dar ao menos 2 representantes às reuniões re­gionais e que elementos da Comissão devem ir às reuniões, na medida do possível.

Além dessas duas propostas ainda nos com­prometemos:

a) A descobrir mais negros que queiram fazer conosco esta caminhada e se comprometem na formação de grupos de base.

b) Que a nossa luta seja unida às lutas de todos os nossos irmãos explorados e sofridos.

c) Que cada grupo ou região descubra como comemorar o dia de Zumbi e como tornar co­nhecida sua história.

Também falamos sobre a necessidade de re­servar tini tempo para estudos sobre a história afro-brasileira Para isso poderíamos ser ajuda­dos pelo Pe. Mauro e por outros estudiosos mesmo não-negros.

Falamos também sobre a tentativa de começar a elaborar uni anteprojeto para o nosso grupo, para no futuro se chegar à elaboração de uni projeto-programa. Também abordou-se a ne­cessidade de tinia comissão tentar elaborar aí, gomas prioridades para unificar uni pouco as tarefas dos lideres dos grupos.

Nesta reunião foi também decidido que a Caixa central ficaria sob a responsabilidade da Corina. E a Elvira teria a função de Relações Públicas.

Falamos também sobre projetos financeiros.

No dia 29 e 30 de novembro/80 foi feita mais uma reunião à qual compareceram 9 pessoas das quais 6 da Comissão. Foi em Brasília.

Os assuntos abordados foram os seguintes

— Relatório sumário do que foi feito no dia 20 de novembro, dia de Zumbi.

— Discussão sobre o nome do grupo.

— Reflexão sobre a necessidade de um en­contro com as lideranças dos grupos de base, assim como de pessoas que queiram e possam iniciar novos grupos. Foi aí também que se de­cidiu convidar para o planejamento de Encontro o Atayde da Silva, da Prelazia de S. Felix do Araguaia e a Ma. Divina, de Arenópolís-GO.

Levantou-se também aí o problema da verba para as despesas de viagem e hospedagem, já que no Encontro de 6 e 7 de setembro, em Ta­boão da Serra quem financiou foi a Província dos Padres do Verbo Divino, de 5. Paulo, e o 1’ Encontro, em fevereiro/80 foi financiado pela CNBB.

Foi também falado da confecção de um livrinho sobre o NEGRO, que seria editado pela FNT. Foi também decidido cite ele fosse elaborado a partir das reflexões dos grupos de base. Falou-se também da necessidade de um boletim periódico do grupo

Foi novamente falado da necessidade de tini estudo sobre a história afro-brasileira e de novo se citou o nome do Pe. Mauro e outros estudiosos não-negros para ajudarem os grupos negros de base.

Durante as discussões e reflexões constatou-se a preocupação dos participantes, e dos grupos de base que eles representavam, para com a criança e a mulher negra e consequentemente para com a família negra. Foi pedido que se denunciasse fatos de violência para a Comissão que se encarregaria de passar ao conhecimento de todos os grupos.

Foi levantada a questão de que esta reunião feria como finalidade fazer um anteprojeto de estatuto. Mas achamos que os próprios grupos de base estão encontrando seu caminho, orienta­dos pelo objetivo comum.

Foi levantada a questão: “Quais os mecanis­mos que devemos usar para reunir os Negros?”

E a resposta dada após muita reflexão foi:

«Através de contatos pessoais, visitas ás fa­mílias negras, a partir da amizade. E partindo da realidade de cada bairro, associação, comu­nidade etc.

Outras perguntas de cunho teológico foram le­vantadas e ficaram para serem amadurecidas no grupo e retomadas no próximo Encontro.

Os representantes de Goiânia falaram sobre a Missa dos Quilombos cuja letra foi composta por

D. Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra e a música composta pelo Milton Nascimento.

Durante esta reunião tivemos ocasião de ouvir uma palestra do Pe. Mauro sobre Cultos Afro-­brasileiros e de participar dos grupos de estudo e do Plenário junto com os grupos de estudiosos que na Casa de Retiro das Irmãs da Assunção. na SGAN-611, Brasília-DF, estavam estudando o tema: Religião e Cultura.

Nos dias 17 e 18 de abril fizemos em Brasília mais uma reunião á qual compareceram 13 mem­bros, dos quais 5 da Comissão Central.

O objetivo principal da reunião era o plane­jamento do próximo Encontro Nacional.

Depois de muita discussão e reflexão chegamos ás seguintes decisões:

1) O Encontro Nacional foi marcado para os dias 5, 6 e 7 de setembro.

2) O local: a Baixada Fluminense.

3) Os participantes seriam Negros que traba­lham nas bases e os que querem e têm possibi­lidade de começar novos grupos.

4) Os objetivos do Encontro:

Trocas de experiências.

Reflexões sobre «como encontrar subsídios para a ação e estudo nos grupos de base: con­fecções de cartilhas, boletins, apostilhas, biblio­grafias etc.

— Reflexão sobre a continuação da busca de nossa Identidade de Negros: avaliação do ca­minho feito e planejamento de atividades.

5) Dinâmica dos trabalhos do Encontro: pe­quenos grupos de estudo sempre terminando cai assembléia gera!.

6) Preparação: os grupos de base deveriam preparar as pessoas escolhidas para representar os grupos no Encontro, através do estudo dos Relatórios das reuniões anteriores.

7) Todos os membros da Comissão deveriam na medida do possível participar do Encontro.

8) Foi feita a relação dos locais e o número de representantes de cada um ao Encontro. De­cidiu-se que seriam 54 pessoas: 13 da Comissão e 41 representantes dos grupos de base. «Essa relação não é de modo nenhum inflexível» - diz o Relatório.

Terminada essa V etapa partimos para outros assuntos:

1. A Pastoral dos Negros: Como sempre fa­zemos cm todos os Encontros e reuniões, recor­damos os objetivos do grupo:

“O objetivo primário do grupo é:

Levar o Negro a assumir sua identidade de Negro e se unir a outros Negros para unia re­flexão que se encaminhe para a ação, em vista da situação social, política, econômica e cultural do povo negro brasileiro.

Para isto o grupo querer ser independente de Credo Religioso e de Partido Político”.

2. Falou-se ainda do: Nome do grupo e da Missa dos Quilombos.

3. Foram dadas várias informações sobre:

— o andamento dos grupos.

— trabalhos feitos nas comunidades religiosas junto às Irmãs Negras.

— casos de discriminação nas escolas, am­biente de trabalho etc.

— projetos de dinheiro.

— possibilidade de maior divulgação dos tra­balhos do Grupo.

— necessidade de subsídios para reflexão dos grupos no dia 13 de maio (o que foi feito pelo grupo de Brasília).

4. Foi lido um discurso que Adolfo Perez EsquiveI, prêmio Nobel da Paz, fez em S. Paulo num encontro de Negros.

5. Foram escritas 2 cartas: uma a D. Adriano Hipólito, bispo de Nova Iguaçu, onde seria o Encontro Nacional, e outra a um Negro de Mato Grosso, baleado e preso por causa de problemas de terra.

No fim da reunião, como no fim de. todos os Encontros e Reuniões fizemos tinia Avaliação e como em todas elas, até agora, constatamos que cada uma foi um passo á frente na nossa cami­nhada, o grupo cresceu como grupo, na amizade e no compromisso e nosso crescer não é festivo, é sério mesmo.

E nós só temos que agradecer a Deus por isso. E agora devemos dar uma satisfação sobre a mudança de local do Encontro, de Nova lguaçu para Brasília: falta de uma casa para reunir o pessoal nestes dias. Procurou-se tarde, todos os locais já estavam tomados a meses, em Nova lguaçu. Achamos lugar em Brasília porque um grupo que deveria fazer Retiro na casa das irmãs da Assunção, desistiu e nós conseguimos a vaga.

Terminando, quero pedir desculpas e a com­preensão de todos pelas falhas na preparação do Encontro.

Agradeço a todos vocês, em nome da Comissão Central, pela sua vinda ao Encontro, mostra de sua boa vontade pois sei que o sacrifício de muitos foi grande.

E desejo que este Encontro seja o inicio de Lima nova etapa no nosso trabalho, tentando al­cançar cada vez melhor os nossos objetivos.

Sejam bem—vindos l

 

RELATÓRIO DO ENCONTRO NACIONAL

DO «GRUPO DE UNIÃO E CONSCIÊNCIA NEGRA»

 

Em Brasília, nos dias 5, 6 e 7 de setembro de 1981, realizou-se o Encontro Nacional do «Grupo de União e Consciência Negra. Eram 60 parti­cipantes de 14 Estados do Brasil, assim distri­buídos: GOIÁS, MINAS GERAIS, RIO DE JA­NEIRO, SÃO PAULO. BRASILIA, PARAÍBA, MARANHÃO, BAHIA, MATO GROSSO, SANTA CATARINA, RIO GRANDE DO SUL, PARANÁ, RONDÔNIA e ESPÍRITO SANTO.

O Encontro teve inicio ás 9:00 horas do dia 05, com uma oração orientada por Dom José Maria Pires, havendo em seguida unia breve apresentação dos participantes. O passo seguinte foi uma apresentação feita por Irmã Corina, que fez um breve histórico da caminhada do Grupo, baseando-se nos relatórios dos encontros e reu­niões anteriores. Logo a seguir os participantes dividiram-se em grupos para realizar os seguintes trabalhos:

1. Discutir a apresentação feita.

2. Sistematizar as experiências para serem apresentadas em plenário.

3. Apresentar proposta para o prosseguimento da caminhada dos grupos de base.

Na parte da tarde cada grupo, por estado, fez um breve relato de sua experiência na caminhada feita.

GOIÁS — Havia representantes de Goiânia, Piranha, Anápolis e Mineiros, em Goiás já exis­tem cinco grupos funcionando. Este ano em Goiânia, houve o primeiro encontro regional, com representantes de Mineiros e Arenópolis. Neste encontro se refletiu sobre a situação do negro na cidade e na zona rural, tratando-se ainda da si­tuação dos índios e dos direitos humanos. Deste encontro resultou as seguintes propostas:

1. Formação de uma comissão regional, com membros de cada cidade, esta comissão se reu­nirá de três em três meses.

2. Fundação do jornal «A Voz do Negro».

3. Estudo do rascunho de um livrinho sobre o negro, escrito em linguagem popular.

4. Organização de um grupo para angariar fundos através de festas, artesanatos, etc.

5. Procurar sempre mais amplo apoio dos movi­mentos populares: Sindicatos, grupos de base, etc.

6. Continuar formando outros grupos de negros e, através da comissão regional, visitar os grupos já existentes.

MINAS — Havia representantes de Varginha e Unaí. O trabalho mais organizado começou a dois meses. Antes trabalhavam com grupos de capoeira.

RIO DE JANEIRO — Havia representantes da região Norte da Capital.

CACHOEIRA DE MACACÚ, NOVA IGUAÇU, FAVELA DO CANTAGALO, e DA IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO e SÃO BENEDITO DOS HOMENS PRETOS.

REGIÃO NORTE DA CAPITAL: O grupo sur­giu em 1980 com 8 pessoas, estudar os proble­mas dos negros; este grupo tem como objetivo mais importante desenvolver um trabalho nas fa­velas, usando a história e criando um persona­gem negro.

CACHOEIRA DE MACACÚ: O grupo começou com uma pessoa que participou do primeiro en­contro Nacional em fevereiro de 80. O inicio foi difícil porque não tiveram muita receptividade. A partir da CPT (Comissão Pastoral da Terra) co­meçou um bom trabalho.

NOVA IGUAÇU: O grupo teve início com um encontro de 40 pessoas.

Este grupo continua a se encontrar periodica­mente e dele participa todo tipo de gente:

«MARGINAL, AGENTE DO DOPS e ETC».

Esse grupo começou a sofrer pressões por par­te de alguns padres e freiras, que alegam o pe­rigo do divisionismo, observa-se também que quando o negro adquire um certo grau de ins­trução, ele começa a querer impor suas idéias e a tomar a liderança do grupo.

FAVELA DO CANTAGALO: Na favela. sur­giu da própria base, principalmente das mulheres, através dos Círculos Bíblicos a reflexão sobre o problema do negro Brasileiro, 90% da popula­ção da favela é negra.

IRMANDADE DO ROSÁRIO: Esta Irmandade tem uma forte tradição histórica que os irmãos são orgulhosos em manter. Ela foi uma das tri­bunas do negro no passado, mas hoje não está engajada na luta pela solução dos problemas do negro no Brasil. Há também dentro da Irman­dade um trabalho que começou a se desenvolver junto ao grupo feminino e que tenta dar uma maior consciência á mulher negra. 1-lá ainda a tentativa de implantação do «Projeto Memória», para a recuperação e divulgação da história do negro brasileiro.

BANDEIRANTE: Uma das participantes da Irmandade é também membro do Bandeirantismo em nível Nacional. Sua constatação é a de que o Bandeirantismo não vai ás bases e a presença do negro aí é escassa ou quase nula.

S. PAULO — Havia representantes da capital

— Núcleos da periferia: Ermelindo Matarazzo Burgo Paulista, Vila Guarani — De um Terreiro de Umbanda, da Associação das Empregadas Domésticas, de uni trabalho de uns moradores de Cortiço e das cidades de: Cotia, ABCD, Osasco e Lins.

Os grupos existentes recebem a denominação de «Núcleos».

O conjunto de todos os núcleos formam o grupo da grande São Paulo. Estes "Núcleos" fazem soas reuniões semanais, quinzenais ou ainda mensais — e enviam representantes às assembléias regionais que se realizam periodica­mente.

ABCD: O grupo iniciou em Santo André or­ganizando-se em torno do negro e de seus pro­blemas. O grupo inicial desfez-se depois de algum tempo, organizando um novo grupo, para o qual foram convidadas pessoas de igreja e de fora da Igreja. já existem grupos funcionando:

Diadema, Vila Palmares e em Mauá estão ini­ciando:

ERMELINDO MATARAZZO: O grupo começou após o encontro Internacional de teólogos. Antes desse grupo, já funcionava o Movimento negro no bairro, a liderança encontrou dificuldade, inclusive por serem mulheres.

Constatavam que só era possível trabalhar com o negro quando ele aceita sua própria identidade e sente a discriminação. Uma das preocupações do grupo é não ter discriminação de nenhum as­pecto — O importante é ser Gente. Atualmente o grupo conta com 14 elementos conscientes da­quilo que querem. As reuniões são feitas em dois lugares, alternados por domingos, e a partir das experiências dos participantes dos grupos.

ASSOCIAÇÃO DAS EMPREGADAS DOMÉSTICAS: A Presidente, que é negra, falou da vergonha que têm a maioria das empregadas do­mésticas de se aceitarem como negras; falou ain­da da discriminação que estas pessoas sofrem, não s~? por serem domésticas mas, por serem ne­gras.

OSASCO: O Grupo tem tini ano de caminhada; quase não se vê negros na liderança dos movi­mentos populares

LINS: Há um grupo que se reúne. Esse grupo é constituído de dois elementos (vicentinos) e outros espíritas. Tentam fazer tini trabalho com famílias negras, e querem manter toma caixa comum para ajudar os estudos das crianças negras.

UMBANDA: O representante falou da proble­mática em relação à Igreja que continua marginalizando, com poucas exceções, os cultos Afro-­Brasileiros.

COTIA: O representante faz um trabalho na faculdade, com grupos de estudantes. Acha que nenhum grupo pode girar em torno de si mesmo deve descentralizar-se, expandir-se.

MORADORES EM CORTIÇOS: Em geral não estão despertados para a problemática do negro. Os negros que aí estão, de um modo geral, não se aceitam como tais. Alguns núcleos organiza­ram um trabalho com famílias negras, principal­mente com as mães, para um processo de cons­cientização na educação dos filhos, com vista a aceitarem, já, desde criança, sua própria negritude.

BRASILIA Havia representantes do Plano piloto e de Sobradinho. O grupo teve inicio em 1980; as reuniões são quinzenais e os assuntos até agora abordados foram os seguintes: troca de experiências, problema do negro no dia-a-dia, leitura e comentário de livros, revistas, e jornais. Estas reuniões são complementadas por seminá­rio, que tratam os seguintes assuntos: Escravidão, o Negro e a Educação no Brasil, a Igreja e o Negro, Sistema e Governo, Opção preferencial pelos pobres, etc. Em termos de trabalhos prá­ticos, constata-se: contatos com outras organiza­ções e com a periferia. Tem-se como meta organizar um trabalho com as bases. O grupo é ecumênico.

PARAÍBA Havia participantes apenas de João Pessoa. O grupo teve inicio em 80 com quatro pessoas que iniciaram a discussão. Numa segunda reunião, já mais ampla, o grupo deci­diu participar do lançamento do livro de Abdias do Nascimento; fazer um almoço africano. Este ano, um elemento do grupo visitou duas comu­nidades negras e houve ainda um casamento com um culto adaptado á cultura afro-Brasileira. Há um grupo na universidade, que se reúne sema­nalmente.

MARANHÃO O representante, de São Luiz, é um religioso Jesuíta que milita no Centro de Cultura Negra; trabalha com duas comunidades onde a maioria das pessoas é negra e é constituída de subempregados, peões, empregadas do­mésticas, etc. Há uma tentativa de unir os negros do centro e da periferia para uma caminhada comum. Já houve o primeiro encontro reunindo 11 agentes de Pastoral negros que se propuseram iniciar um trabalho de formação de grupos.

BAHIA — Havia representantes de Salvador. Sempre que necessário e possível, serão assesso­rados por estudiosos da cultura afro-brasileira, negros e não negros. Há um trabalho em arem­bepe e também com afoxés e blocos carnavales­cos negros. No mês de maio, a partir de invocações á Nossa Senhora, discutiu-se, nos grupos, a problemática do negro.

M. GROSSO —. Havia representante de São Felix do Araguaia. Existem vários grupos orga­nizados. Uns participam bem, outros querem es­conder sua raça. A Problemática do negro já foi levada para o Sindicato e na organização das festas e celebrações da Igreja este assunto é também abordado. Nos grupos discutiu-se muito também a problemática política do momento.

SANTA CATARINA — Havia um representante de Florianópolis. Há um trabalho no morro do Mocotó, onde já se começou a perceber que a maioria da população ai é negra. No inicio o enfoque foi sobre o HOMEM OPRIMIDO. Dos grupos participantes há várias pessoas de credos diferentes; este grupo é bem aberto. O maior desafio é a tentativa de conscientizar os Padres.

R. GRANDE DO SUL — Havia um represen­tante, estudante luterano, participante do grupo de negros em Porto Alegre. Este grupo é ecumê­nico, O grupo constatou que na igreja Luterana do Brasil 80Ç4 dos pastores são brancos: enquan­to que na África a maioria dos Pastores é negra.

RONDÔNIA — Havia representante de Ji-Para­ná. Há pouco tempo, começou um grupo com três pessoas, mas a problemática do grupo de ne­gros já vinha sendo abordada através da pasto­ral da saúde. O grupo conta com a ajuda dos padres Colombianos. A situação do negro em Rondônia é bem diferente da situação do negro do Sul e no Nordeste. As mulheres não trabalham fora, o que torna a problemática parecida à dos grandes centros Urbanos.

PARANÁ: tias representantes de Curitiba. O grupo começou há um ano, com 14 pessoas que, no momento, estão reduzidas. A maior dificuldade é arranjar local para as reu­niões que estão sendo realizadas nas casas das famílias. Está sendo programado um curso sobre ritos Afro-Brasileiros, com objetivo de conscientizar sobre a problemática negra.

ESPÍRITO SANTO — Havia representantes de Vitória, Caraciaba, e Campo Grande, O grupo ainda está na fase de conhecimento e formação de pessoas para trabalhar no movimento negro. O atual objetivo é formar grupos de reflexão. Há dificuldades e rejeição por parte de muitos negros.

Terminada esta primeira parte de apresenta­ção da caminhada dos vários grupos, houve, no dia seguinte, uma reflexão, por D. José Maria Pires, sobre «A IGREJA E O NEGRO», finda a qual foi aberto o debate. Os pontos mais abor­dados pelos participantes foram: — O envolvi­mento da Igreja com a escravidão.

— Posicionamento da Igreja em relação aos cultos afro-brasileiros.

— Possibilidade de a liturgia católica integrar elementos da cultura africana etc.

 

* * *

 

A terceira parte (Terceiro dia) teve como coletivo:

— Fazer o levantamento das propostas que já haviam aparecido nas etapas anteriores.

Apresentar as propostas que haviam sido trazidas das bases que ainda não tinham sido apre­sentadas, e ainda refletir sobre o resumo histó­rico do grupo a partir de setembro de 78. Após a discussão e aprofundamento nos grupos, as propostas aprovadas foram as seguintes

1. NOME DO GRUPO: Aprovado com 42 votos a favor, 8 contra e 10 abstenções; o nome: «GRUPO DE UNIÃO E CONSCIÊNCIA NEGRA».

Decidiu-se ainda que não usaria siglas, mas so­mente o nome por extenso.

2. COMISSÃO CENTRAL: Após os esclareci­mentos sobre a comissão central, esta foi colo­cada no inicio do encontro.

Sendo colocado no quadro de giz os nomes que compõem está comissão, confirmou-se as funções da mesma, assim descritas:

— Programar encontros e reuniões — Escutar as bases — Reunir os grupos e articulá-los entre si Fazer circular noticias — Servir como elo de união e fator de conscientização dos negros

Estar atento para que não haja vinculação do grupo a nenhum partido político.

— Definiu-se ainda como cargos específicos dentro da comissão a Secretária Executiva e Re­lações Públicas, sendo confirmadas nos mesmos, respectivamente, Ir. Corina e Elvira.

Foi ainda decisão da assembléia: Manter a atual comissão, acrescentando mais um represen­tante do nordeste, um de Minas Gerais, um da Igreja Luterana e uni da Umbanda. Estes novos membros deverão ser eleitos nas respectivas ba­ses, como vem sendo feito desde o inicio.

3. DIVISÃO DO «GRUPO DE UNIÃO E CONSCIÊNCIA NEGRA» EM 3 REGIONAIS: NORTE, CENTRO E SUL.

A assembléia decidiu que este assunto deverá ser discutido e aprofundado nas bases.

4. MISSA DOS QUILOMBOS E DIA DE ZUM­BI.

Decidiu-se que o grupo como tal não enviará representante á Missa dos Quilombos a ser ce­lebrada em Palmares e em Recife por ocasião da comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra ou dia de Zumbi. Cada grupo, usando sua criatividade, deverá preparar este dia — 20 de novembro — com objetivo de promover maior união dos grupos entre si e melhor conscientizar a todos da problemática atual do negro. Coube á comissão central a incumbência de preparar uni cartaz com o retrato de Zumbi e as seguintes frases: «ZUMBI, HERÓI DA RESISTÊNCIA NEGRA — GRUPO DE UNIÃO E CONSCIÊN­CIA NEGRA 20 DE NOVEMBRO DE 1981».

5. ENCONTRO NACIONAL DE 1982: Fixou-se a data e o local — 5 a 7 de setembro de 1982 na Baixada Fluminense. O grupo de Nova Igua­çu se responsabilizará pela organização deste Encontro, cabendo á comissão central decidir so­bre o número de participantes e providenciar ver­ba para as despesas de passagens, hospedagens e material de secretaria.

6. SUBSIDIO PARA ESTUDO E REFLEXÃO DOS GRUPOS: Elaboração de um livrinho sobre o negro. Esta elaboração será assumida pela FNT — Frente Nacional do Trabalho em qua­tro fascículos:

— História do Negro no Brasil e as diversas formas de sua resistência.

— Depoimento de pessoas que conheceram a escravidão.

— As tentativas de embranquecimento. — As atuais organizações de resistência do negro bra­sileiro.

O grupo de São Paulo comprometeu-se a pre­parar e enviar ás bases, para estudo e aprecia­ção, uni anteprojeto deste livrinho antes da primeira edição.

6.1. BOLETIM: Decidiu-se fazer um boletim, que será enviado às bases que o estudarão e enviarão criticas e sugestões com vista á ela­boração dos próximos números. Decidiu-se fa­zer uni boletim, receberá o nome de Boletim do GRUPO DE UNIÃO E CONSCIÊNClA NEGRA» e terá como Objetivos:

— Informar sobre o grupo.

— Publicar os objetivos e a caminhada do grupo.

— Relatar sobre os contatos entre outras instituições,            um vocabulário do grupo e Divulgação            afro-brasi­leiro.

6.2. REVISTA DO CET: O primeiro número deverá sair em novembro.

6.3. CRIAÇÃO DE UMA COMISSÃO CULTU­RAL: Com os seguintes objetivos:

— Fornecer subsídios aos grupos de base;

— Estudar e divulgar entre os grupos de base a história do negro e de sua resistência á es­cravidão.

— Pesquisar e remeter aos grupos de base a realidade do negro brasileiro hoje: situação sócio-econômica, cultural, violência contra o negro, grupos de resistência e reflexão, etc.

7. TENTATIVA DE SISTEMATIZAÇÃO: foi

pedido á comissão central que, baseando-se na caminhada já feita pelos diversos grupos, elabo­rasse um trabalho sistematizado, enviando-o ás bases, com o objetivo de deixar bem claros os seguintes pontos:

— Objetivos do «Grupo de União e Consciên­cia Negra;

— Atividades que podem e devem ser desen­volvidas pelos grupos.

— Funções da Comissão Central.

— Princípios que devem nortear a caminhada dos grupos.

8. CONTATO COM A LINHA II DA CNBB:

foi consenso unânime da assembléia que se man­tenha o vínculo que nos une à Linha II da CNBB. Decidiu-se que a comissão central manterá um encontro ainda este ano com Dom Âímelo Frosi a flui de mantê-lo a par da caminhada do grupo em geral e em especial do que foi refletido e decidido neste Encontro Nacional.

9. LITURGIA: Foi consenso da assembléia que se começasse a tentativa de introduzir nas cele­brações religiosas valores autenticamente africa­nos de expressão religiosa, tais como: atabaque, canções de ritmo africano, danças, etc. Para isso foi sugerido a criação de um grupo de trabalho que pesquise e elabore subsídios de celebrações litúrgicas com expressão afro-brasileira.

10. PRINCIPIOS: Por insistência do plenário foram elaborados alguns princípios que devem nortear a caminhada do grupo como tal:

Os grupos devem ter como objetivo principal a união dos negros e sua conscientização. — Devem ser formados a partir do dado da raça, e não do credo ou da ideologia político-partidária. — Ao manterem contatos com os cultos afro-brasileiros devem fazê-lo com respeito e não tra­zer as pessoas que frequentam esses cultos para os grupos como objeto de folclore.

Devem lutar ao lado de outras movimentos populares: sindicatos, associações de empregada doméstica, associação de bairros, clubes de mães, associações rurais, CEBS, CPT, CPO, programas de saúde, etc.

Os que estão ligados ã Igreja devem conti­nuar a encontrar-se para ver a situação do negro a partir do dado da fé dentro da luta do povo. Devem ainda fazer contato com outros grupos além de suas reuniões ordinárias.

Sempre que necessário e possível, serão assessorados por estudiosos da cultura afro-brasileira, negros e não negros.

Num trabalho final cinco assuntos foram abor­dados e debatidos em pequenos grupos, que apre­sentaram as seguintes sugestões, aprovadas em plenário:

 

1. SUBSIDIO, ESTUDOS, FORMAÇÃO

 

— Organização e apresentação de teatro, poe­sia, recreação, organização, danças, capoeira, jo­grais, etc.

— Visando a campanha da Fraternidade de 1982 — EDUCAÇÃO PARA TODOS. Fazer uma pesquisa da realidade do negro frente á es­cola: discriminação, não acesso aos cursos su­periores, canscientízação da comunidade sobre o problema. etc.

— 1982, fazer uma pesquisa sobre a violência contra o negro, visando a Campanha da Frater­nidade de 1983.

— Confronto entre o ONTEM e o HOJE: fa­zer uma critica histórica da realidade passada, procurando ver hoje quais as injustiças que con­tinuam a ser praticadas. Deve-se usar como meios para isto imagens objetivas que levem à compreensão da realidade e a ter Lima visão cri­tica frente à ideologia reinante, a partir da rea­lidade negra.

— Penetrar na realidade local dos cultos afro-­brasileiros compartilhando e ouvindo membros das diversas religiões: candomblés, Umbandas, macumba, procurando-se descobrir a negritude destes gestos — Trabalhar com criança negra — ela é bonita, tem valor, é importante visando uma educação para que esta criança se aceite como é. Conscientizar famílias e professores so­bre o assunto.

— Trabalhos com as famílias negras através de visitas, bate-papo, etc.

— Troca de Experiência e maior comunicação entre os grupos de base.

— Pista para a abor­dagem do problema do negro:

1. Sondagem, bate-papo;

2. Amizade: conhecer pessoas do local onde se vai trabalhar.

3. Estudar a melhor maneira e oportunidade de formar grupos — de preferência famílias negras.

4. Aproveitar de todas as oportunidades para divulgar o trabalho do grupo.

 

2. PROBLEMA POLÍTICO DOS GRUPOS NE­GROS:            RAÇA E CLASSE

 

Violência e medo da repressão: sabendo do fato, solidarizar-se através de telegrama, denún­cia nos jornais, etc. Orientar os negros para que tirem documentos. Fazer a Igreja comprometer-se, usando sua influência na defesa dos negros violentados na Sociedade.

— Documentar com recortes de jornais, revis­tas, etc, as violências contra o negro, levando ao conhecimento do grupo de reflexão. O negro fa­velado que vem da zona rural: dar ênfase à cultura rural como o primeiro momento de ajuda para que essa mudança para o meio urbano seja menos violenta e garanta a conscientização e a luta do negro.

 

3. PROBLEMA POLÍTICO DO GRUPO DE UNIÃO E CONSCIÊNCIA NEGRA

 

— Há uma necessidade urgente de se refletir nos grupos as eleições, os partidos políticos.

— Estudar a organização da atual conjuntura política.

— Ajudar os grupos a entenderem o que é partido político de oposição.

    Compreender que ação política não se reduz ao partidarismo.

— Orientar os companheiros para que não votem nos opressores do povo.

Não fazer movimento negro desvinculado das lutas populares. Ter cuidado de não perder o elemento raça.

— Pertencer ao grupo Negro não impede a militância em partidos políticos. O Grupo deve ajudar e questionar esta mílitância.

 

4. FÉ AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS

 

— Acentuar nos grupos um ecumenismo real, onde cada um possa manifestar uma fé com li­berdade e respeito mútuo.

— Conhecer a caminhada histórica das irman­dades e sensibilizar seus membros à reflexão so­bre a problemática do negro, hoje.

— Fazer celebrações com elementos afro-brasi­leiros.

— Aproveitar os instrumentos, as expres­sões corporais, como um elemento de conscienti­zação das pessoas para que se crie uma liturgia que respeite a cultura negra.

— Procurar conhecer com largueza de espirito os valores dos cultos afro-brasileiros Fazer uma critica severa aos livros de catequese e suas imagens alienantes e tendenciosas.

— Leitura do êxodo para refletir sobre a problemática negra.

— A partir de um fundamento bíblico, mostrar a igualdade dos homens perante Deus.

— Os Pais devem educar os filhos com vistas a que estes aceitem sua própria identidade.

 

5. FINANÇAS

 

— Como as bases se organizarão financeira­mente?

— Venda de artesanatos típicos da raça negra.

— Promoção de festas com vendas de comidas típicas, cobranças de ingressos etc.

No decorrer do encontro ficou pendente uma sugestão que não foi devidamente amadurecida, devendo ser aprofundada nos grupos de base, que a enriquecerão com propostas mais concretas. Esta sugestão é a seguinte: «Cobrar do Estado unia Indenização por todo o processo de escravi­dão sofrido por nossos antepassados».

 

AVALIAÇÃO

 

Na avaliação ficou constatado o seguinte: — O método foi bom, favorecendo a participação e dando margem a que fossem abordados os assun­tos programados, havendo uni processo de cres­cimento. Houve excesso de intervenções faltando algum momento esclarecimentos solicitados, havendo igualmente momento de rigidez da coorde­nação e não distribuição de funções, com alguns desequilíbrios, agressões, fraquezas. — Conteúdo bom, proposta ótima, enriquecedora. Todavia inove em certo momento falta de direção; al­gumas pessoas abusaram do uso da palavra e outros não expressaram por timidez. O tempo foi bem aproveitado, embora não se tenha dei­xado espaço para a leitura do relatório e algumas vezes discutidos assuntos não importantes.

— Local muito bom, acolhedor e disponível. Participação excelente, embora alguns são também preparado nas bases, o que dificultou o enriquecimento nos debates e reflexões

Alguns momentos de festividades nos plená­rios, alguma dificuldade no entrosamento entre pessoas e grupos. Organização boa, faltando to­davia miais horário para animação e recreação faltou também recepção na rodoviária. Houve certo radicalismo na maneira de se refletir a Igreja e na recepção a um estudioso não negro no Encontro. Os participantes luteranos e de Umbanda não tiveram espaço para falar sobre seus trabalhos. Em alguns momentos a lingua­gem não fui popular.

 

 

Adquira o CD-ROM Enciclopédia Digital Direitos Humanos II
O maior acervo sobre DH em língua portuguesa, revisto e atualizado

www.dhnet.org.br