GRUPO
DE UNIÃO E CONSClÊNCIA NEGRA
Nova Iguaçu-RJ
HISTÓRICO DO
GRUPO DE NEGROS DE 1978 a 1981, baseado nos Relatórios dos
Encontros e pronunciados no
Encontro
Nacional de 5 a 7 de setembro de 1981
Meus queridos
amigos,
“Que Olorum —
o Inacessível, o Deus Criador de todas as coisas, que nossos
ancestrais adoraram que Olorum que se comunica com os mortais
através de seus intermediários, os seus orixás — nos manda um
axê, uma graça de bênçãos para que possamos viver estes dias
trio intensamente no amor e no discernimento de tudo o que podemos
fazer por nós mesmos, Negros, e por nossos irmãos
marginalizados, nesta terra que nossos antepassados cativos
construíram com seu suor e sangue”.
Fui convidada
pela Comissão que se reuniu em abril para programar esse
Encontro, para fazer uma palestra de abertura dos trabalhos. O
assunto seria o histórico de nossos grupos de Negros. A razão da
escolha é que estive em todas as reuniões desde o inicio. E o
que devo fazer é contar como os velhos das tribos —a caminhada
do grupo. Uma reflexão sobre a ação porá luz sobre o caminho a
ser continuado.
Vamos á história.
Talvez tenhamos de colocar o 1~’ de setembro como data
aniversaria de nosso grupo, pois foi neste dia em 1978 que se deu
o 1º Encontro do «Grupo de Estudo de assuntos ligados á
Evangelização do Negro brasileiro»,na sede da CNBB em Brasília.
Esse Encontro teve como objetivos:
1º. Dar subsídios
para que, na elaboração do Plano Bienal da CNBB, fosse
considerada prioridade a Evangelização do Negro brasileiro.
2º. Elaborar
estudos sobre os cultos afro-brasileiros para serem levados
pelos bispos brasileiros a Puebla.
3º. Formação
de um Grupo de Estudos sobre «Evangelização e Cultos
afro-brasileiros, talvez ligado á CNBB.
A esse Encontro
compareceram 14 participantes entre bispos, padres e religiosas.
Para alcançar os
objetivos propostos os trabalhos foram iniciados com uma exposição
do Pe. François l’Espignay sobre o Candomblé. Pe. François,
francês, convive há vários anos com uma comunidade de Candomblé,
em Salvador. Após sua palestra sobre a «teologia» do Candomblé,
a cosmovisão, a fé desse povo surgiram, não conclusões, não
sugestões pastorais mas perguntas, interrogações, perplexidade.
Talvez até hoje essas perguntas estejam sem resposta com
certeza elas aparecem em cada curva de nossa caminhada.
O Pe. François
se perguntava: «Será que tenho que anunciar Jesus Cristo e o
Evangelho a um povo que tem uma fé viva, que exprime sua fé
através de ritos próprios e que se relaciona com Deus através
desses ritos? Ou devo ter outra forma de abordagem, de contato
com eles?
Será que nessa
maneira de conceber e aceitar as coisas de Deus, pode ser
anunciada a eles que têm outra cultura?
Será que eles não
podem ter o orixá como mediador entre eles e Deus como nós temos
Jesus Cristo?»
Após a exposição
de Pe. François os participantes fizeram seus comentários,
suas interrogações:
«Converter é
culturalizar ou converter é relacionar, mudar o tipo de
relacionamento?»
«Para que serve
a presença do padre católico, para mostrar que eles (do
Candomblé) têm razão, que estão certos ou serve para que eles
se sintam à vontade?»
«Minha presença,
respondeu o Pe. François, mostra o direito que eles têm de
manifestar sua fé, conforme sua cultura. Não é esse o
principio das CEBs: Fé e Religião a partir do povo? Valorizar o
que é do povo. Valorizar. Muito bem. Mas dialogar é mais do que
valorizar, é confrontar, é enriquecer-se mutuamente. A expressão:
«Nós, a Igreja, temos errado, talvez seta melhor de que esta
outra: «Vocês têm razão».
«Como o Negro vê
a Igreja?»
Como expressão
do poder. A Igreja é dos brancos.
«A Igreja agiu e
ainda age como libertadora entre os povos?»
(Silêncio).
E assim as
perguntas se sucederam, e chegou-se a algumas conclusões:
— E importante
que o Negro aceite sua realidade de ser Negro, se orgulhe de sua
raça.
— Repensar
sobre o que o Pe. François está fazendo: «viver com... conviver
...
— Foi também
dado como importante encontrar tinia bula do Papa Paulo III que
tala sobre o Negro «capaz de receber os sacramentos, capaz de
salvação». Essa bula daria o embasamento histórico-eclesiástico
ao batismo dos negros «sendo seres racionais, têm direito á
liberdade e à propriedade da terra em que vivem». Foi com
certeza a 1 defesa dos Direitos Humanos.
Constatou-se também
que «no Brasil temos um grande número de negros e mulatos. E o
que chama atenção é a marginalidade em que eles vivem».
«De que lado
deve estar a Igreja de Cristo?
— A Igreja
esteve até agora não só Jorge dos Negros mas esmagando-os».
«O estudo sobre
o Negro brasileiro foi feito em geral «de cima para baixo».
Foi também feito
o questionamento:
— Como cristãos,
o nosso problema é a religião afro-brasileira, ou é o Homem
que vive numa determinada situação sócio-político-econômica?
— O problema
com que nos defrontamos é um problema do culto, da Pastoral ou é
um problema do Homem? É a religião que está em jogo, ou está
em logo o Homem que mantém essa religião?»
Foram tomadas
decisões mais ou menos teóricas:
Devemos ver o
Homem marginalizado a partir de suas manifestações religiosas,
isto é, o
Homem esmagado que manifesta seu esmagamento através da
religião.
O instrumental da
Teologia deveria ser mais social-psicológico do que tem sido até
agora.
— Não é a
Igreja que deve questionar mas que deve ser questionada.
A Igreja se
afasta dos esmagados, dos Negros, dos desempregados, aias Deus
está lá. A Igreja deve ir lá, encontrar Deus na base.
— A escravidão
é um “pecado estrutural”. Nós sabemos que os conventos
tinham seus escravos. Estudos recentes têm mostrado como congregações
religiosas, não só tinham escravos mas faziam tráfico.
As atitudes a
serem tomadas pela Igreja devem ter três aspectos: ecumênico,
pastoral e social mi audição, reflexão penitencial e atuação.
— A atitude da
Igreja deve mudar: em lugar de irmos aos Negros para convertê-los,
deveríamos dar condições para que eles venham a nós e nos
convertam”.
No fim desse l
Encontro chegou-se a algumas propostas mais práticas:
— Formar tini
grupo experimental, sem nome, sem a proteção oficial da CNBB, um
grupo profético de reflexão, esclarecimento e conscientizaçâo.
— Programou-se
uma reunião para o dia 5 de dezembro de 78 cujo objetivo seria:
Aprofundar estas idéias e concretizar nossos propósitos.
O 2º Encontro no
dia 5 de dezembro/78 realizou-se em 5. Paulo, no Instituto Paulo
VI. Mas a reunião não andava, chegou o momento em que se começou
a jogar idéias que não levavam a nada. Aí surgiu a sugestão:
por que devem os brancos reunir-se para tratar dos problemas dos
Negros? por que o Negro deve continuar a ser objeto de estudo dos
brancos? por que não se daria condições para que sacerdotes e
religiosos negros se reunissem para estudar sua própria realidade
dentro da Igreja?
Apesar das
manifestações de temor de alguns — compreensível aliás — a
idéia foi aceita por todos, mas somente um ano depois, em dezembro
de 1979, é que o grupo conseguiu reunir-se novamente em São
Paulo, para planejar o «Encontro dos Agentes de Pastoral Negros».
Decidiu-se que o
Encontro não limitaria a participação a sacerdotes e
religiosos mas se abriria aos leigos. O Encontro foi marcado
para fevereiro de 1980.
O Encontro de
Sacerdotes, Religiosos e Leigos Negros aconteceu nos dias 13, 14 e
15 de fevereiro de 1981. Éramos 25 pessoas de sete Estados do
Brasil e o Encontro deu-se em Capão Redondo-SP.
Esse Encontro já
é o inicio da nossa história, da história do nosso grupo. Os
Encontros anteriores foram a nossa pré-história.
O objetivo do
Encontro foi a reflexão sobre os seguintes temas:
— A realidade
de SER NEGRO na Igreja católica do Brasil.
— Que espaço
deve o Negro brasileiro — enquanto Negro e Cristão — ocupar
na Igreja?
Neste Encontro o
Pe. Mauro fez o que estou fazendo agora, relatou os antecedentes
do Encontro, a caminhada feita, os motivos que nos levaram a
estarmos reunidos naquele lugar e naqueles dias e os objetivos
propostos.
Seguimos a
seguinte dinâmica:
1) Constatação
da realidade — o Negro dentro desta realidade sócio-político-econômica
2) Depoimentos de
fatos reais, pessoais, relacionados com a problemática do
Negro, na sociedade e na Igreja.
3) Reflexões e
debates sobre o que tinha sido proposto.
E chegamos á
conclusão de que:
— o Negro
brasileiro é um povo marginalizado na sociedade civil e na
Igreja.
Mas notou-se nos
participantes do Encontro o despertar de uma consciência critica,
um interesse grande em conhecer nossas raízes negras o desejo e
a necessidade de nos assumirmos como Negros.
E nos propusemos
a trabalhar dentro da Igreja e na sociedade para transformar
esta mentalidade racista que nos faz afastar-nos de nossa
cultura e nos «envergonhar de nossa identidade de Negros.
Sentimos também
necessidade de conhecer profundamente os cultos de nossos
antepassados, de vívenciar a cultura, a arte e todos os valores
da cultura africana.
Antes de
apresentarmos nossas propostas foram feitas algumas considerações
sobre:
— a atitude
histórica da Igreja em relação ao Negro durante a Escravidão
oficial e depois dela.
— a situação
da população negra na sociedade civil.
E o nosso propósito
comum foi este: «Queremos nos unir e nos reunir para refletir,
para conscientízar-nos, para planejar tarefas e ações, também
com não-negros, para a construção de uma sociedade e uma
Igreja justas, fraternas, não preconceituosas, respeitadoras
dos povos e de suas culturas».
E as nossas
propostas surgiram quase espontâneas depois desses três dias
de reflexão:
1) Criar um grupo
tarefa central com os encargos de:
— recolher
noticias e outro material das bases.
— fazer
circular experiências e informações dos vários grupos.
— ajudar na
reflexão e incentivo pastoral junto aos núcleos.
2) Formar grupos
negros de estudo e ação nos Estados.
3) Tomar contato
com grupos negros: religiosos, políticos, culturais já
existentes e eventualmente participar deles.
4) Descobrir,
valorizar e incentivar lideranças negras nas comunidades e na ação
pastoral.
5) Contactar
africanos atualmente residentes no Brasil com a finalidade de uma
possível integração e intercâmbio.
6) Conhecimento e
divulgação da cultura negra.
7) Um possível
encontro do Papa com negros; fazer uma carta a CNBB fazendo um
apelo para que eles, ao fazerem o roteiro, alertassem o Papa para
que em todos os Encontros observe a presença negra nos grupos:
Corpo Diplomático.
Bispos, clero,
religiosos.
Lavradores, operários,
favelados.
Verificaria então
como essa presença é escassa nas classes mais altas e mais densa
nas classes mais baixas e, a partir disso, desse uma mensagem à
Igreja do Brasil.
8) Esforço para
que um outro encontro como este se repita, com os mesmos
participantes, mas abrindo para outros convidados que não puderam
estar neste primeiro encontro. Este encontro deveria ser ainda
este ano.
Quando foi
apresentado o Relatório desse Encontro, a Irmã Duma, uma das
relatoras apresentou dois anexos para complementar o estudo que
tinha sido feito:
O primeiro sobre
a ideologia do Embranquecimento, e o segundo, um resumo histórico
sobre as posições pastorais da Igreja diante dos Cultos
Afro-brasileiros.
*
* *
O tempo foi
passando, e os 25 participantes do Encontro de Capão Redondo começaram
a agir uns, formando grupos, outros multiplicando conversas
pessoais, outros estudando, participando de Encontros de outros
grupos negros cada
uni conforme sua capacidade, possibilidades e conforme a realidade
do seu ambiente foi lançada a semente na terra.
O grupo tarefa
que havia planejado o Encontro dos Negros, promoveu uma reunião
em que vários participantes do Encontro de fevereiro de 1980 em
Capão Redondo. participaram juntamente com vários assessores
da CNBB.
Os principais
assuntos da Reunião foram:
a) Avaliação do
Encontro de fevereiro/80.
b) A caminhada
feita pelos agentes de pastoral negros a partir de fevereiro/80.
c) Futuro do
grupo tarefa.
d) Projetos e
propostas concretas.
A avaliação do
Encontro foi feita a partir da leitura do Relatório. Mais que
urna avaliação, foi feita uma reflexão sobre os assuntos
abordados.
Passando ao 2º
item, a dinâmica foi na base de depoimentos e constatou-se que:
Nesse curto espaço de 4 meses, já havia surgido vários grupos
na base para a reflexão sobre a realidade do Negro brasileiro. Já
se estava constatando a tomada de consciência do Negro em relação
á sua identidade e já se estavam organizando movimentos para a
luta dos Negros, muitos a partir de sua fé, com a consciência
da importância, da fidelidade e da perseverança nas lutas
concretas do povo.
E constatou-se
também a preocupação de não elitizar o grupo, de ir realmente
às bases, aos negros da periferia, das favelas, aos negros operários,
domésticas etc.
Mas notou-se que
ainda: havia um forte processo de embranquecimento entre os
negros da classe média, especialmente entre sacerdotes e
religiosas.
— era grande a
dificuldade que têm as superioras religiosas em permitir a
integração das Irmãs negras nos grupos.
— Era necessária
maior troca de informações e experiências.
Todos estavam
conscientes de que a caminhada seria lenta e arriscada e que
deveria ser assumida com coragem, firmeza e otimismo.
Além desses
depoimentos dos Negros, houve questionamentos, principalmente
feitos pelos padres, a respeito da Teologia católica e os
cultos africanos. Por isso ficou acertado um encontro para um diálogo
ecumênico entre o Pe. François I’Espignay e o Frei Leonardo,
assessor da CNBB para a linha Ecumênica da Igreja.
No fim de dois
dias de reunião, chegamos ás seguintes decisões:
— Encerramento
das funções do grupo tarefa que programou o encontro de
fevereiro/80.
— Criação de
uma Comissão composta pelos 5 Negros presentes: Mauro, Elvira,
Dico, Corina, Maria Raimunda. Tal comissão deveria ser complementada
mais tarde.
— Decidiu-se
uma próxima reunião para os dias 6 e 7 de setembro de 1980.
— Corina foi
escolhida como Secretária Executiva do grupo.
— O grupo teria
liberdade de convidar para suas Reuniões e Encontros estudiosos não-negros
da cultura e problemática afro-brasileira, e que, embora o grupo
negro não esteja ligado nem dependente diretamente da CNBB, poderá
dar apoio e. esclarecimento á linha II quando esta achar necessário.
Falou-se também
sobre a falta e necessidade de apoio financeiro para a
continuidade dos trabalhos do grupo negro.
No fim foi feita
uma avaliação que deu essa reunião como muito positiva para a
caminhada do grupo.
No Relatório. em
anexo apareceram 2 contribuições de Negros dos grupos. Um
anexo foi uma carta da Ma. Auxiliadora de Nova Iguaçu falando
sobre o problema da mulher negra da Baixada Fluminense e o outro
anexo foi uma poesia de Wilson de Goiânia. O nome da poesia é
NEGRO.
A reunião dos
dia 6 e 7 de setembro realizou-se em 5. Paulo, em Taboão da
Serra. Esse Encontro tinha como objetivos principais a ampliação
da Equipe animadora e a discussão da possibilidade de novos
encontros.
O primeiro
objetivo foi alcançado pois mais quatro pessoas foram integradas
à Comissão, que ficou assim constituída: Mauro, Elvira, Corina,
Dico, Ma. Raimunda, Carlos Henrique, Adair, Conceição e Daniel
que ficou de indicar outro porque tinha de voltar à África, e
indicou mais tarde o Vilson da Conceição, e o Haroldo de Goiânia
que foi indicado pela Ma. Raimunda. Ficamos de pedir a D. José
Maria Pires para integrar a Comissão.
O 2º objetivo
também foi alcançado pois foi decidido fazer um Encontro maior,
levando em consideração as pessoas que participaram em
fevereiro/80 e os grupos iniciantes. Foi também decidido que cada
grupo de base deve mandar ao menos 2 representantes às reuniões
regionais e que elementos da Comissão devem ir às reuniões,
na medida do possível.
Além dessas duas
propostas ainda nos comprometemos:
a) A descobrir
mais negros que queiram fazer conosco esta caminhada e se
comprometem na formação de grupos de base.
b) Que a nossa
luta seja unida às lutas de todos os nossos irmãos explorados e
sofridos.
c) Que cada grupo
ou região descubra como comemorar o dia de Zumbi e como tornar conhecida
sua história.
Também falamos
sobre a necessidade de reservar tini tempo para estudos sobre a
história afro-brasileira Para isso poderíamos ser ajudados
pelo Pe. Mauro e por outros estudiosos mesmo não-negros.
Falamos também
sobre a tentativa de começar a elaborar uni anteprojeto para o
nosso grupo, para no futuro se chegar à elaboração de uni
projeto-programa. Também abordou-se a necessidade de tinia
comissão tentar elaborar aí, gomas prioridades para unificar uni
pouco as tarefas dos lideres dos grupos.
Nesta reunião
foi também decidido que a Caixa central ficaria sob a
responsabilidade da Corina. E a Elvira teria a função de Relações
Públicas.
Falamos também
sobre projetos financeiros.
No dia 29 e 30 de
novembro/80 foi feita mais uma reunião à qual compareceram 9
pessoas das quais 6 da Comissão. Foi em Brasília.
Os assuntos
abordados foram os seguintes
— Relatório
sumário do que foi feito no dia 20 de novembro, dia de Zumbi.
— Discussão
sobre o nome do grupo.
— Reflexão
sobre a necessidade de um encontro com as lideranças dos grupos
de base, assim como de pessoas que queiram e possam iniciar novos
grupos. Foi aí também que se decidiu convidar para o
planejamento de Encontro o Atayde da Silva, da Prelazia de S.
Felix do Araguaia e a Ma. Divina, de Arenópolís-GO.
Levantou-se também
aí o problema da verba para as despesas de viagem e hospedagem, já
que no Encontro de 6 e 7 de setembro, em Taboão da Serra quem
financiou foi a Província dos Padres do Verbo Divino, de 5.
Paulo, e o 1’ Encontro, em fevereiro/80 foi financiado pela
CNBB.
Foi também
falado da confecção de um livrinho sobre o NEGRO, que seria
editado pela FNT. Foi também decidido cite ele fosse elaborado a
partir das reflexões dos grupos de base. Falou-se também da
necessidade de um boletim periódico do grupo
Foi novamente
falado da necessidade de tini estudo sobre a história
afro-brasileira e de novo se citou o nome do Pe. Mauro e outros
estudiosos não-negros para ajudarem os grupos negros de base.
Durante as
discussões e reflexões constatou-se a preocupação dos
participantes, e dos grupos de base que eles representavam, para
com a criança e a mulher negra e consequentemente para com a família
negra. Foi pedido que se denunciasse fatos de violência para a
Comissão que se encarregaria de passar ao conhecimento de todos
os grupos.
Foi levantada a
questão de que esta reunião feria como finalidade fazer um
anteprojeto de estatuto. Mas achamos que os próprios grupos de
base estão encontrando seu caminho, orientados pelo objetivo
comum.
Foi levantada a
questão: “Quais os mecanismos que devemos usar para reunir os
Negros?”
E a resposta dada
após muita reflexão foi:
«Através de
contatos pessoais, visitas ás famílias negras, a partir da
amizade. E partindo da realidade de cada bairro, associação,
comunidade etc.
Outras perguntas
de cunho teológico foram levantadas e ficaram para serem
amadurecidas no grupo e retomadas no próximo Encontro.
Os representantes
de Goiânia falaram sobre a Missa dos Quilombos cuja letra foi
composta por
D. Pedro Casaldáliga
e Pedro Tierra e a música composta pelo Milton Nascimento.
Durante esta
reunião tivemos ocasião de ouvir uma palestra do Pe. Mauro sobre
Cultos Afro-brasileiros e de participar dos grupos de estudo e
do Plenário junto com os grupos de estudiosos que na Casa de
Retiro das Irmãs da Assunção. na SGAN-611, Brasília-DF,
estavam estudando o tema: Religião e Cultura.
Nos dias 17 e 18
de abril fizemos em Brasília mais uma reunião á qual
compareceram 13 membros, dos quais 5 da Comissão Central.
O objetivo
principal da reunião era o planejamento do próximo Encontro
Nacional.
Depois de muita
discussão e reflexão chegamos ás seguintes decisões:
1) O Encontro
Nacional foi marcado para os dias 5, 6 e 7 de setembro.
2) O local: a
Baixada Fluminense.
3) Os
participantes seriam Negros que trabalham nas bases e os que
querem e têm possibilidade de começar novos grupos.
4) Os objetivos
do Encontro:
Trocas de experiências.
Reflexões sobre
«como encontrar subsídios para a ação e estudo nos grupos de
base: confecções de cartilhas, boletins, apostilhas, bibliografias
etc.
— Reflexão
sobre a continuação da busca de nossa Identidade de Negros:
avaliação do caminho feito e planejamento de atividades.
5) Dinâmica dos
trabalhos do Encontro: pequenos grupos de estudo sempre
terminando cai assembléia gera!.
6) Preparação:
os grupos de base deveriam preparar as pessoas escolhidas para
representar os grupos no Encontro, através do estudo dos Relatórios
das reuniões anteriores.
7) Todos os
membros da Comissão deveriam na medida do possível participar do
Encontro.
8) Foi feita a
relação dos locais e o número de representantes de cada um ao
Encontro. Decidiu-se que seriam 54 pessoas: 13 da Comissão e 41
representantes dos grupos de base. «Essa relação não é de
modo nenhum inflexível» - diz o Relatório.
Terminada essa V
etapa partimos para outros assuntos:
1. A Pastoral dos
Negros: Como sempre fazemos cm todos os Encontros e reuniões,
recordamos os objetivos do grupo:
“O objetivo
primário do grupo é:
Levar o Negro a
assumir sua identidade de Negro e se unir a outros Negros para
unia reflexão que se encaminhe para a ação, em vista da situação
social, política, econômica e cultural do povo negro brasileiro.
Para isto o grupo
querer ser independente de Credo Religioso e de Partido Político”.
2. Falou-se ainda
do: Nome do grupo e da Missa dos Quilombos.
3. Foram dadas várias
informações sobre:
— o andamento
dos grupos.
— trabalhos
feitos nas comunidades religiosas junto às Irmãs Negras.
— casos de
discriminação nas escolas, ambiente de trabalho etc.
— projetos de
dinheiro.
— possibilidade
de maior divulgação dos trabalhos do Grupo.
— necessidade
de subsídios para reflexão dos grupos no dia 13 de maio (o que
foi feito pelo grupo de Brasília).
4. Foi lido um
discurso que Adolfo Perez EsquiveI, prêmio Nobel da Paz, fez em
S. Paulo num encontro de Negros.
5. Foram escritas
2 cartas: uma a D. Adriano Hipólito, bispo de Nova Iguaçu, onde
seria o Encontro Nacional, e outra a um Negro de Mato Grosso,
baleado e preso por causa de problemas de terra.
No fim da reunião,
como no fim de. todos os Encontros e Reuniões fizemos tinia
Avaliação e como em todas elas, até agora, constatamos que cada
uma foi um passo á frente na nossa caminhada, o grupo cresceu
como grupo, na amizade e no compromisso e nosso crescer não é
festivo, é sério mesmo.
E nós só temos
que agradecer a Deus por isso. E agora devemos dar uma satisfação
sobre a mudança de local do Encontro, de Nova lguaçu para Brasília:
falta de uma casa para reunir o pessoal nestes dias. Procurou-se
tarde, todos os locais já estavam tomados a meses, em Nova lguaçu.
Achamos lugar em Brasília porque um grupo que deveria fazer
Retiro na casa das irmãs da Assunção, desistiu e nós
conseguimos a vaga.
Terminando, quero
pedir desculpas e a compreensão de todos pelas falhas na
preparação do Encontro.
Agradeço a todos
vocês, em nome da Comissão Central, pela sua vinda ao Encontro,
mostra de sua boa vontade pois sei que o sacrifício de muitos foi
grande.
E desejo que este
Encontro seja o inicio de Lima nova etapa no nosso trabalho,
tentando alcançar cada vez melhor os nossos objetivos.
Sejam
bem—vindos l
RELATÓRIO
DO ENCONTRO NACIONAL
DO
«GRUPO DE UNIÃO E CONSCIÊNCIA NEGRA»
Em Brasília, nos
dias 5, 6 e 7 de setembro de 1981, realizou-se o Encontro Nacional
do «Grupo de União e Consciência Negra. Eram 60 participantes
de 14 Estados do Brasil, assim distribuídos: GOIÁS, MINAS
GERAIS, RIO DE JANEIRO, SÃO PAULO. BRASILIA, PARAÍBA, MARANHÃO,
BAHIA, MATO GROSSO, SANTA CATARINA, RIO GRANDE DO SUL, PARANÁ,
RONDÔNIA e ESPÍRITO SANTO.
O Encontro teve
inicio ás 9:00 horas do dia 05, com uma oração orientada por
Dom José Maria Pires, havendo em seguida unia breve apresentação
dos participantes. O passo seguinte foi uma apresentação feita
por Irmã Corina, que fez um breve histórico da caminhada do
Grupo, baseando-se nos relatórios dos encontros e reuniões
anteriores. Logo a seguir os participantes dividiram-se em grupos
para realizar os seguintes trabalhos:
1. Discutir a
apresentação feita.
2. Sistematizar
as experiências para serem apresentadas em plenário.
3. Apresentar
proposta para o prosseguimento da caminhada dos grupos de base.
Na parte da tarde
cada grupo, por estado, fez um breve relato de sua experiência na
caminhada feita.
GOIÁS — Havia
representantes de Goiânia, Piranha, Anápolis e Mineiros, em Goiás
já existem cinco grupos funcionando. Este ano em Goiânia,
houve o primeiro encontro regional, com representantes de Mineiros
e Arenópolis. Neste encontro se refletiu sobre a situação do
negro na cidade e na zona rural, tratando-se ainda da situação
dos índios e dos direitos humanos. Deste encontro resultou as
seguintes propostas:
1. Formação de
uma comissão regional, com membros de cada cidade, esta comissão
se reunirá de três em três meses.
2. Fundação do
jornal «A Voz do Negro».
3. Estudo do
rascunho de um livrinho sobre o negro, escrito em linguagem
popular.
4. Organização
de um grupo para angariar fundos através de festas, artesanatos,
etc.
5. Procurar
sempre mais amplo apoio dos movimentos populares: Sindicatos,
grupos de base, etc.
6. Continuar
formando outros grupos de negros e, através da comissão
regional, visitar os grupos já existentes.
MINAS — Havia
representantes de Varginha e Unaí. O trabalho mais organizado
começou a dois meses. Antes trabalhavam com grupos de capoeira.
RIO DE JANEIRO
— Havia representantes da região Norte da Capital.
CACHOEIRA DE
MACACÚ, NOVA IGUAÇU, FAVELA DO CANTAGALO, e DA IRMANDADE DE
NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO e SÃO BENEDITO DOS HOMENS PRETOS.
REGIÃO NORTE DA
CAPITAL: O grupo surgiu em 1980 com 8 pessoas, estudar os problemas
dos negros; este grupo tem como objetivo mais importante
desenvolver um trabalho nas favelas, usando a história e
criando um personagem negro.
CACHOEIRA DE
MACACÚ: O grupo começou com uma pessoa que participou do
primeiro encontro Nacional em fevereiro de 80. O inicio foi difícil
porque não tiveram muita receptividade. A partir da CPT (Comissão
Pastoral da Terra) começou um bom trabalho.
NOVA IGUAÇU: O
grupo teve início com um encontro de 40 pessoas.
Este grupo
continua a se encontrar periodicamente e dele participa todo
tipo de gente:
«MARGINAL,
AGENTE DO DOPS e ETC».
Esse grupo começou
a sofrer pressões por parte de alguns padres e freiras, que
alegam o perigo do divisionismo, observa-se também que quando o
negro adquire um certo grau de instrução, ele começa a querer
impor suas idéias e a tomar a liderança do grupo.
FAVELA DO
CANTAGALO: Na favela. surgiu da própria base, principalmente
das mulheres, através dos Círculos Bíblicos a reflexão sobre o
problema do negro Brasileiro, 90% da população da favela é
negra.
IRMANDADE DO ROSÁRIO:
Esta Irmandade tem uma forte tradição histórica que os irmãos
são orgulhosos em manter. Ela foi uma das tribunas do negro no
passado, mas hoje não está engajada na luta pela solução dos
problemas do negro no Brasil. Há também dentro da Irmandade um
trabalho que começou a se desenvolver junto ao grupo feminino e
que tenta dar uma maior consciência á mulher negra. 1-lá ainda
a tentativa de implantação do «Projeto Memória», para a
recuperação e divulgação da história do negro brasileiro.
BANDEIRANTE: Uma
das participantes da Irmandade é também membro do Bandeirantismo
em nível Nacional. Sua constatação é a de que o Bandeirantismo
não vai ás bases e a presença do negro aí é escassa ou quase
nula.
S. PAULO —
Havia representantes da capital
— Núcleos da
periferia: Ermelindo Matarazzo Burgo Paulista, Vila Guarani — De
um Terreiro de Umbanda, da Associação das Empregadas Domésticas,
de uni trabalho de uns moradores de Cortiço e das cidades de:
Cotia, ABCD, Osasco e Lins.
Os grupos
existentes recebem a denominação de «Núcleos».
O conjunto de
todos os núcleos formam o grupo da grande São Paulo. Estes
"Núcleos" fazem soas reuniões semanais, quinzenais ou
ainda mensais — e enviam representantes às assembléias
regionais que se realizam periodicamente.
ABCD: O grupo
iniciou em Santo André organizando-se em torno do negro e de
seus problemas. O grupo inicial desfez-se depois de algum tempo,
organizando um novo grupo, para o qual foram convidadas pessoas de
igreja e de fora da Igreja. já existem grupos funcionando:
Diadema, Vila
Palmares e em Mauá estão iniciando:
ERMELINDO
MATARAZZO: O grupo começou após o encontro Internacional de teólogos.
Antes desse grupo, já funcionava o Movimento negro no bairro, a
liderança encontrou dificuldade, inclusive por serem mulheres.
Constatavam que só
era possível trabalhar com o negro quando ele aceita sua própria
identidade e sente a discriminação. Uma das preocupações do
grupo é não ter discriminação de nenhum aspecto — O
importante é ser Gente. Atualmente o grupo conta com 14 elementos
conscientes daquilo que querem. As reuniões são feitas em dois
lugares, alternados por domingos, e a partir das experiências dos
participantes dos grupos.
ASSOCIAÇÃO DAS
EMPREGADAS DOMÉSTICAS: A Presidente, que é negra, falou da
vergonha que têm a maioria das empregadas domésticas de se
aceitarem como negras; falou ainda da discriminação que estas
pessoas sofrem, não s~? por serem domésticas mas, por serem negras.
OSASCO: O Grupo
tem tini ano de caminhada; quase não se vê negros na liderança
dos movimentos populares
LINS: Há um
grupo que se reúne. Esse grupo é constituído de dois elementos
(vicentinos) e outros espíritas. Tentam fazer tini trabalho com
famílias negras, e querem manter toma caixa comum para ajudar os
estudos das crianças negras.
UMBANDA: O
representante falou da problemática em relação à Igreja que
continua marginalizando, com poucas exceções, os cultos Afro-Brasileiros.
COTIA: O
representante faz um trabalho na faculdade, com grupos de
estudantes. Acha que nenhum grupo pode girar em torno de si mesmo
deve descentralizar-se, expandir-se.
MORADORES EM
CORTIÇOS: Em geral não estão despertados para a problemática
do negro. Os negros que aí estão, de um modo geral, não se
aceitam como tais. Alguns núcleos organizaram um trabalho com
famílias negras, principalmente com as mães, para um processo
de conscientização na educação dos filhos, com vista a
aceitarem, já, desde criança, sua própria negritude.
BRASILIA Havia
representantes do Plano piloto e de Sobradinho. O grupo teve
inicio em 1980; as reuniões são quinzenais e os assuntos até
agora abordados foram os seguintes: troca de experiências,
problema do negro no dia-a-dia, leitura e comentário de livros,
revistas, e jornais. Estas reuniões são complementadas por seminário,
que tratam os seguintes assuntos: Escravidão, o Negro e a Educação
no Brasil, a Igreja e o Negro, Sistema e Governo, Opção
preferencial pelos pobres, etc. Em termos de trabalhos práticos,
constata-se: contatos com outras organizações e com a
periferia. Tem-se como meta organizar um trabalho com as bases. O
grupo é ecumênico.
PARAÍBA Havia
participantes apenas de João Pessoa. O grupo teve inicio em 80
com quatro pessoas que iniciaram a discussão. Numa segunda reunião,
já mais ampla, o grupo decidiu participar do lançamento do
livro de Abdias do Nascimento; fazer um almoço africano. Este
ano, um elemento do grupo visitou duas comunidades negras e
houve ainda um casamento com um culto adaptado á cultura
afro-Brasileira. Há um grupo na universidade, que se reúne semanalmente.
MARANHÃO O
representante, de São Luiz, é um religioso Jesuíta que milita
no Centro de Cultura Negra; trabalha com duas comunidades onde a
maioria das pessoas é negra e é constituída de subempregados,
peões, empregadas domésticas, etc. Há uma tentativa de unir
os negros do centro e da periferia para uma caminhada comum. Já
houve o primeiro encontro reunindo 11 agentes de Pastoral negros
que se propuseram iniciar um trabalho de formação de grupos.
BAHIA — Havia
representantes de Salvador. Sempre que necessário e possível,
serão assessorados por estudiosos da cultura afro-brasileira,
negros e não negros. Há um trabalho em arembepe e também com
afoxés e blocos carnavalescos negros. No mês de maio, a partir
de invocações á Nossa Senhora, discutiu-se, nos grupos, a
problemática do negro.
M. GROSSO —.
Havia representante de São Felix do Araguaia. Existem vários
grupos organizados. Uns participam bem, outros querem esconder
sua raça. A Problemática do negro já foi levada para o
Sindicato e na organização das festas e celebrações da Igreja
este assunto é também abordado. Nos grupos discutiu-se muito
também a problemática política do momento.
SANTA CATARINA
— Havia um representante de Florianópolis. Há um trabalho no
morro do Mocotó, onde já se começou a perceber que a maioria da
população ai é negra. No inicio o enfoque foi sobre o HOMEM
OPRIMIDO. Dos grupos participantes há várias pessoas de credos
diferentes; este grupo é bem aberto. O maior desafio é a
tentativa de conscientizar os Padres.
R. GRANDE DO SUL
— Havia um representante, estudante luterano, participante do
grupo de negros em Porto Alegre. Este grupo é ecumênico, O
grupo constatou que na igreja Luterana do Brasil 80Ç4 dos
pastores são brancos: enquanto que na África a maioria dos
Pastores é negra.
RONDÔNIA —
Havia representante de Ji-Paraná. Há pouco tempo, começou um
grupo com três pessoas, mas a problemática do grupo de negros
já vinha sendo abordada através da pastoral da saúde. O grupo
conta com a ajuda dos padres Colombianos. A situação do negro em
Rondônia é bem diferente da situação do negro do Sul e no
Nordeste. As mulheres não trabalham fora, o que torna a problemática
parecida à dos grandes centros Urbanos.
PARANÁ: tias
representantes de Curitiba. O grupo começou há um ano, com 14
pessoas que, no momento, estão reduzidas. A maior dificuldade é
arranjar local para as reuniões que estão sendo realizadas nas
casas das famílias. Está sendo programado um curso sobre ritos
Afro-Brasileiros, com objetivo de conscientizar sobre a problemática
negra.
ESPÍRITO SANTO
— Havia representantes de Vitória, Caraciaba, e Campo Grande, O
grupo ainda está na fase de conhecimento e formação de pessoas
para trabalhar no movimento negro. O atual objetivo é formar
grupos de reflexão. Há dificuldades e rejeição por parte de
muitos negros.
Terminada esta
primeira parte de apresentação da caminhada dos vários
grupos, houve, no dia seguinte, uma reflexão, por D. José Maria
Pires, sobre «A IGREJA E O NEGRO», finda a qual foi aberto o
debate. Os pontos mais abordados pelos participantes foram: —
O envolvimento da Igreja com a escravidão.
—
Posicionamento da Igreja em relação aos cultos afro-brasileiros.
— Possibilidade
de a liturgia católica integrar elementos da cultura africana
etc.
*
* *
A terceira parte
(Terceiro dia) teve como coletivo:
— Fazer o
levantamento das propostas que já haviam aparecido nas etapas
anteriores.
Apresentar as
propostas que haviam sido trazidas das bases que ainda não tinham
sido apresentadas, e ainda refletir sobre o resumo histórico
do grupo a partir de setembro de 78. Após a discussão e
aprofundamento nos grupos, as propostas aprovadas foram as
seguintes
1. NOME DO GRUPO:
Aprovado com 42 votos a favor, 8 contra e 10 abstenções; o nome:
«GRUPO DE UNIÃO E CONSCIÊNCIA NEGRA».
Decidiu-se ainda
que não usaria siglas, mas somente o nome por extenso.
2. COMISSÃO
CENTRAL: Após os esclarecimentos sobre a comissão central,
esta foi colocada no inicio do encontro.
Sendo colocado no
quadro de giz os nomes que compõem está comissão, confirmou-se
as funções da mesma, assim descritas:
— Programar
encontros e reuniões — Escutar as bases — Reunir os grupos e
articulá-los entre si Fazer circular noticias — Servir como elo
de união e fator de conscientização dos negros
Estar atento para
que não haja vinculação do grupo a nenhum partido político.
— Definiu-se
ainda como cargos específicos dentro da comissão a Secretária
Executiva e Relações Públicas, sendo confirmadas nos mesmos,
respectivamente, Ir. Corina e Elvira.
Foi ainda decisão
da assembléia: Manter a atual comissão, acrescentando mais um
representante do nordeste, um de Minas Gerais, um da Igreja
Luterana e uni da Umbanda. Estes novos membros deverão ser
eleitos nas respectivas bases, como vem sendo feito desde o
inicio.
3. DIVISÃO DO «GRUPO
DE UNIÃO E CONSCIÊNCIA NEGRA» EM 3 REGIONAIS: NORTE, CENTRO E
SUL.
A assembléia
decidiu que este assunto deverá ser discutido e aprofundado nas
bases.
4. MISSA DOS
QUILOMBOS E DIA DE ZUMBI.
Decidiu-se que o
grupo como tal não enviará representante á Missa dos Quilombos
a ser celebrada em Palmares e em Recife por ocasião da comemoração
do Dia Nacional da Consciência Negra ou dia de Zumbi. Cada grupo,
usando sua criatividade, deverá preparar este dia — 20 de
novembro — com objetivo de promover maior união dos grupos
entre si e melhor conscientizar a todos da problemática atual do
negro. Coube á comissão central a incumbência de preparar uni
cartaz com o retrato de Zumbi e as seguintes frases: «ZUMBI, HERÓI
DA RESISTÊNCIA NEGRA — GRUPO DE UNIÃO E CONSCIÊNCIA NEGRA
20 DE NOVEMBRO DE 1981».
5. ENCONTRO
NACIONAL DE 1982: Fixou-se a data e o local — 5 a 7 de setembro
de 1982 na Baixada Fluminense. O grupo de Nova Iguaçu se
responsabilizará pela organização deste Encontro, cabendo á
comissão central decidir sobre o número de participantes e
providenciar verba para as despesas de passagens, hospedagens e
material de secretaria.
6. SUBSIDIO PARA
ESTUDO E REFLEXÃO DOS GRUPOS: Elaboração de um livrinho sobre o
negro. Esta elaboração será assumida pela FNT — Frente
Nacional do Trabalho em quatro fascículos:
— História do
Negro no Brasil e as diversas formas de sua resistência.
— Depoimento de
pessoas que conheceram a escravidão.
— As tentativas
de embranquecimento. — As atuais organizações de resistência
do negro brasileiro.
O grupo de São
Paulo comprometeu-se a preparar e enviar ás bases, para estudo
e apreciação, uni anteprojeto deste livrinho antes da primeira
edição.
6.1. BOLETIM:
Decidiu-se fazer um boletim, que será enviado às bases que o
estudarão e enviarão criticas e sugestões com vista á elaboração
dos próximos números. Decidiu-se fazer uni boletim, receberá
o nome de Boletim do GRUPO DE UNIÃO E CONSCIÊNClA NEGRA» e terá
como Objetivos:
— Informar
sobre o grupo.
— Publicar os
objetivos e a caminhada do grupo.
— Relatar sobre
os contatos entre outras instituições,
um vocabulário do grupo e Divulgação
afro-brasileiro.
6.2. REVISTA DO
CET: O primeiro número deverá sair em novembro.
6.3. CRIAÇÃO DE
UMA COMISSÃO CULTURAL: Com os seguintes objetivos:
— Fornecer subsídios
aos grupos de base;
— Estudar e
divulgar entre os grupos de base a história do negro e de sua
resistência á escravidão.
— Pesquisar e
remeter aos grupos de base a realidade do negro brasileiro hoje:
situação sócio-econômica, cultural, violência contra o negro,
grupos de resistência e reflexão, etc.
7. TENTATIVA DE
SISTEMATIZAÇÃO: foi
pedido á comissão
central que, baseando-se na caminhada já feita pelos diversos
grupos, elaborasse um trabalho sistematizado, enviando-o ás
bases, com o objetivo de deixar bem claros os seguintes pontos:
— Objetivos do
«Grupo de União e Consciência Negra;
— Atividades
que podem e devem ser desenvolvidas pelos grupos.
— Funções da
Comissão Central.
— Princípios
que devem nortear a caminhada dos grupos.
8. CONTATO COM A
LINHA II DA CNBB:
foi consenso unânime
da assembléia que se mantenha o vínculo que nos une à Linha
II da CNBB. Decidiu-se que a comissão central manterá um
encontro ainda este ano com Dom Âímelo Frosi a flui de mantê-lo
a par da caminhada do grupo em geral e em especial do que foi
refletido e decidido neste Encontro Nacional.
9.
LITURGIA: Foi consenso da assembléia que se começasse a
tentativa de introduzir nas celebrações religiosas valores
autenticamente africanos de expressão religiosa, tais como:
atabaque, canções de ritmo africano, danças, etc. Para isso foi
sugerido a criação de um grupo de trabalho que pesquise e
elabore subsídios de celebrações litúrgicas com expressão
afro-brasileira.
10.
PRINCIPIOS: Por insistência do plenário foram elaborados alguns
princípios que devem nortear a caminhada do grupo como tal:
Os
grupos devem ter como objetivo principal a união dos negros e sua
conscientização. — Devem ser formados a partir do dado da raça,
e não do credo ou da ideologia político-partidária. — Ao
manterem contatos com os cultos afro-brasileiros devem fazê-lo
com respeito e não trazer as pessoas que frequentam esses
cultos para os grupos como objeto de folclore.
Devem
lutar ao lado de outras movimentos populares: sindicatos, associações
de empregada doméstica, associação de bairros, clubes de mães,
associações rurais, CEBS, CPT, CPO, programas de saúde, etc.
Os
que estão ligados ã Igreja devem continuar a encontrar-se para
ver a situação do negro a partir do dado da fé dentro da luta
do povo. Devem ainda fazer contato com outros grupos além de suas
reuniões ordinárias.
Sempre
que necessário e possível, serão assessorados por estudiosos da
cultura afro-brasileira, negros e não negros.
Num
trabalho final cinco assuntos foram abordados e debatidos em
pequenos grupos, que apresentaram as seguintes sugestões,
aprovadas em plenário:
1.
SUBSIDIO, ESTUDOS, FORMAÇÃO
—
Organização e apresentação de teatro, poesia, recreação,
organização, danças, capoeira, jograis, etc.
—
Visando a campanha da Fraternidade de 1982 — EDUCAÇÃO PARA
TODOS. Fazer uma pesquisa da realidade do negro frente á escola:
discriminação, não acesso aos cursos superiores, canscientízação
da comunidade sobre o problema. etc.
—
1982, fazer uma pesquisa sobre a violência contra o negro,
visando a Campanha da Fraternidade de 1983.
—
Confronto entre o ONTEM e o HOJE: fazer uma critica histórica
da realidade passada, procurando ver hoje quais as injustiças que
continuam a ser praticadas. Deve-se usar como meios para isto
imagens objetivas que levem à compreensão da realidade e a ter
Lima visão critica frente à ideologia reinante, a partir da
realidade negra.
—
Penetrar na realidade local dos cultos afro-brasileiros
compartilhando e ouvindo membros das diversas religiões: candomblés,
Umbandas, macumba, procurando-se descobrir a negritude destes
gestos — Trabalhar com criança negra — ela é bonita, tem
valor, é importante visando uma educação para que esta criança
se aceite como é. Conscientizar famílias e professores sobre o
assunto.
—
Trabalhos com as famílias negras através de visitas, bate-papo,
etc.
—
Troca de Experiência e maior comunicação entre os grupos de
base.
—
Pista para a abordagem do problema do negro:
1.
Sondagem, bate-papo;
2.
Amizade: conhecer pessoas do local onde se vai trabalhar.
3.
Estudar a melhor maneira e oportunidade de formar grupos — de
preferência famílias negras.
4.
Aproveitar de todas as oportunidades para divulgar o trabalho do
grupo.
2.
PROBLEMA POLÍTICO DOS GRUPOS NEGROS:
RAÇA E CLASSE
Violência
e medo da repressão: sabendo do fato, solidarizar-se através de
telegrama, denúncia nos jornais, etc. Orientar os negros para
que tirem documentos. Fazer a Igreja comprometer-se, usando sua
influência na defesa dos negros violentados na Sociedade.
—
Documentar com recortes de jornais, revistas, etc, as violências
contra o negro, levando ao conhecimento do grupo de reflexão. O
negro favelado que vem da zona rural: dar ênfase à cultura
rural como o primeiro momento de ajuda para que essa mudança para
o meio urbano seja menos violenta e garanta a conscientização e
a luta do negro.
3.
PROBLEMA POLÍTICO DO GRUPO DE UNIÃO E CONSCIÊNCIA NEGRA
—
Há uma necessidade urgente de se refletir nos grupos as eleições,
os partidos políticos.
—
Estudar a organização da atual conjuntura política.
—
Ajudar os grupos a entenderem o que é partido político de oposição.
—
Compreender que ação política não se reduz ao
partidarismo.
—
Orientar os companheiros para que não votem nos opressores do
povo.
Não
fazer movimento negro desvinculado das lutas populares. Ter
cuidado de não perder o elemento raça.
—
Pertencer ao grupo Negro não impede a militância em partidos políticos.
O Grupo deve ajudar e questionar esta mílitância.
4.
FÉ AS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS
—
Acentuar nos grupos um ecumenismo real, onde cada um possa
manifestar uma fé com liberdade e respeito mútuo.
—
Conhecer a caminhada histórica das irmandades e sensibilizar
seus membros à reflexão sobre a problemática do negro, hoje.
—
Fazer celebrações com elementos afro-brasileiros.
—
Aproveitar os instrumentos, as expressões corporais, como um
elemento de conscientização das pessoas para que se crie uma
liturgia que respeite a cultura negra.
—
Procurar conhecer com largueza de espirito os valores dos cultos
afro-brasileiros Fazer uma critica severa aos livros de catequese
e suas imagens alienantes e tendenciosas.
—
Leitura do êxodo para refletir sobre a problemática negra.
—
A partir de um fundamento bíblico, mostrar a igualdade dos homens
perante Deus.
—
Os Pais devem educar os filhos com vistas a que estes aceitem sua
própria identidade.
5.
FINANÇAS
—
Como as bases se organizarão financeiramente?
—
Venda de artesanatos típicos da raça negra.
—
Promoção de festas com vendas de comidas típicas, cobranças de
ingressos etc.
No
decorrer do encontro ficou pendente uma sugestão que não foi
devidamente amadurecida, devendo ser aprofundada nos grupos de
base, que a enriquecerão com propostas mais concretas. Esta
sugestão é a seguinte: «Cobrar do Estado unia Indenização por
todo o processo de escravidão sofrido por nossos antepassados».
AVALIAÇÃO
Na
avaliação ficou constatado o seguinte: — O método foi bom,
favorecendo a participação e dando margem a que fossem abordados
os assuntos programados, havendo uni processo de crescimento.
Houve excesso de intervenções faltando algum momento
esclarecimentos solicitados, havendo igualmente momento de rigidez
da coordenação e não distribuição de funções, com alguns
desequilíbrios, agressões, fraquezas. — Conteúdo bom,
proposta ótima, enriquecedora. Todavia inove em certo momento
falta de direção; algumas pessoas abusaram do uso da palavra e
outros não expressaram por timidez. O tempo foi bem aproveitado,
embora não se tenha deixado espaço para a leitura do relatório
e algumas vezes discutidos assuntos não importantes.
—
Local muito bom, acolhedor e disponível. Participação
excelente, embora alguns são também preparado nas bases, o que
dificultou o enriquecimento nos debates e reflexões
Alguns
momentos de festividades nos plenários, alguma dificuldade no
entrosamento entre pessoas e grupos. Organização boa, faltando
todavia miais horário para animação e recreação faltou também
recepção na rodoviária. Houve certo radicalismo na maneira de
se refletir a Igreja e na recepção a um estudioso não negro no
Encontro. Os participantes luteranos e de Umbanda não tiveram
espaço para falar sobre seus trabalhos. Em alguns momentos a
linguagem não fui popular.
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