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Tecido Social
Correio Eletrônico da Rede Estadual de Direitos Humanos - RN

N. 072 – 30/07/04

ENTREVISTA 

Pinky Wainer - Artista plástica 

“A arte não tem a obrigação de se juntar às causas sociais, mas gosto quando elas se encontram

Por Antonino Condorelli

Artes plásticas e luta pelos Direitos Humanos: na sua visão, que relações podem se estabelecer entre estas duas manifestações do agir humano?

Acho que as duas manifestações podem se unir de acordo com o desejo do artista. Não acredito que a arte tenha nenhuma obrigação de se juntar à causas humanitárias. Mas gosto muito quando elas se encontram. Sou filha de uma geração onde as questões políticas eram importantes e continuo acreditando nisso.

Segundo você, a arte pode ser – ou pode se transformar em - instrumento de transformação social?

Não acredito nisso não. Seria como acreditar que filmes violentos aumentam a violência real. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Manifestações artísticas com finalidade política são mais “panfletos” do que arte (este meu trabalho, inclusive). Porém esse tipo de trabalho também tem seu espaço e razão de ser e todos temos liberdade absoluta de  fazer o que quisermos  sem  regras, seguindo nossas emoções.

Com a massificação da cultura, todas as formas de expressão não finalizadas à produção de lucro viraram cada vez mais bibelôs intocáveis relegados a “torres de marfim” como museus, coleções particulares, etc. Como pode a arte não massificada chegar às periferias, às comunidades urbanas e rurais, à rua, enfim, à maioria das pessoas?

Infelizmente as grandes coleções de arte precisam dos museus onde podem ser preservadas e cuidadas. E também guardadas com segurança já que são patrimônio da humanidade. No caso acho que seria legal que o governo incentivasse as pessoas a irem aos museus. Mas isso é um sonho que só se vê nos países desenvolvidos. No meu painel escrevi que “a educação é subversiva”. É preciso uma boa educação formal para se aprender a pensar e usufruir da boa arte. A arte contemporânea está cada vez mais sofisticada e sutil. Infelizmente é muito difícil que ela seja compreendida pelas populações com pouca escolaridade.

A intervenção urbana que está preparando no centro de São Paulo, com a colaboração do escritor Ferréz, denuncia a matança de garotos e garotas da periferia e a falta de elucidação destes crimes, o que pode incomodar muita gente. Durante a preparação do trabalho, receberam algum tipo de ameaça ou pressão?

Não recebi nenhum tipo de pressão oficial. Conheci um universo de gente boa, bem intencionada e batalhadora, mas também encontrei gente que aparentemente quer melhorar o mundo e no fundo não quer mudar nada. É incrível como a dor do outros pode ser usada para se conseguir dinheiro e prestígio. Outra coisa que me deixou pasma foi a quantidade de trabalhos, pesquisas, estatísticas, foruns, debates, relatórios, comissões, impressos, papel, tinta etc. Juntei muito material. Um dia fiz uma pilha enorme com tudo que tinha recolhido e só me perguntava: mas pra que tudo isso se nada muda? E fiz o painel “Quem é que pode mudar tudo isso, quem manda nessa porra?”.

O projeto recebeu o apoio da Prefeitura?

Sim. Apoio para o conceito do projeto, convite para colocá-lo no Agosto Negro, ajuda para a burocracia etc... Mas nenhum dinheiro. Estou pagando todo o projeto. É importante que isso seja dito porque penso que seria muito oportunista mexer com esse tema de ser patrocinada! Faço muitos trabalhos comerciais e acredito que de vez em quando é preciso fazer uma coisa pessoal, que não vise ao lucro: um trabalho “para afirmar minha existência” como disse Dostoiévski.

Como nasceu a idéia deste projeto?

Meu filho, João Wainer, é fotógrafo e fez um belo trabalho no Carandiru publicado em livro no ano passado: Aqui dentro – Páginas de uma memória – Carandiru, por Maureen Bisilliat, André Caramante, João Wainer, Editora Imprensa Oficial do Estado de São Paulo). Acompanhando o trabalho dele fiquei fascinada pelas facas usadas dentro do presídio. E comecei todo um trabalho em cima de facas, violência, e o tema foi andando e mergulhei nesse universo onde a banalidade do mal é cotidiano.

Como avalia a política cultural do Governo com relação às artes plásticas?

Ih! Tô fora! Não avalio nada nem acho que exista política cultural do Governo para as artes plásticas e nem acho que tenha que ter!

Veja também:
- Licença, senhor S.A. Intervenção urbana de Pinky Wainer

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