ENTREVISTA
Pinky
Wainer - Artista plástica
“A
arte não tem a obrigação de se juntar às causas sociais,
mas gosto quando elas se encontram”
Por Antonino Condorelli
Artes plásticas e luta pelos Direitos
Humanos: na sua visão, que relações podem se estabelecer
entre estas duas manifestações do agir humano?
Acho que as duas manifestações podem se unir
de acordo com o desejo do artista. Não acredito que a arte
tenha nenhuma obrigação de se juntar à
causas humanitárias. Mas gosto muito quando elas se encontram.
Sou filha de uma geração onde as questões políticas eram
importantes e continuo acreditando nisso.
Segundo você, a arte pode ser – ou
pode se transformar em - instrumento de transformação social?
Não acredito nisso não. Seria como acreditar
que filmes violentos aumentam a violência real. Uma coisa
é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Manifestações artísticas
com finalidade política são mais “panfletos” do que arte
(este meu trabalho, inclusive). Porém esse tipo de trabalho
também tem seu espaço e razão de ser e todos temos liberdade
absoluta de fazer
o que quisermos sem regras,
seguindo nossas emoções.
Com a massificação da cultura, todas
as formas de expressão não finalizadas à produção de lucro
viraram cada vez mais bibelôs intocáveis relegados a “torres
de marfim” como museus, coleções particulares, etc. Como
pode a arte não massificada chegar às periferias, às comunidades
urbanas e rurais, à rua, enfim, à maioria das pessoas?
Infelizmente as grandes coleções de arte
precisam dos museus onde podem ser preservadas e cuidadas.
E também guardadas com segurança já que são
patrimônio da humanidade. No caso acho que seria
legal que o governo incentivasse as pessoas a irem aos museus.
Mas isso é um sonho que só se vê nos países desenvolvidos.
No meu painel escrevi que “a educação é subversiva”. É preciso
uma boa educação formal para se aprender a pensar e usufruir
da boa arte. A arte contemporânea está cada vez mais
sofisticada e sutil. Infelizmente é muito difícil que ela
seja compreendida pelas populações com pouca escolaridade.
A intervenção urbana que está preparando
no centro de São Paulo, com a colaboração do escritor Ferréz,
denuncia a matança de garotos e garotas da periferia e a
falta de elucidação destes crimes, o que pode incomodar
muita gente. Durante a preparação do trabalho, receberam
algum tipo de ameaça ou pressão?
Não recebi nenhum tipo de pressão oficial.
Conheci um universo de gente boa, bem intencionada e batalhadora,
mas também encontrei gente que aparentemente quer melhorar
o mundo e no fundo não quer mudar nada. É incrível como
a dor do outros pode ser usada para se conseguir dinheiro
e prestígio. Outra coisa que me deixou pasma foi a
quantidade de trabalhos, pesquisas, estatísticas, foruns,
debates, relatórios, comissões, impressos, papel, tinta
etc. Juntei muito material. Um dia fiz uma pilha enorme
com tudo que tinha recolhido e só me perguntava: mas pra
que tudo isso se nada muda? E fiz o painel “Quem é que pode
mudar tudo isso, quem manda nessa porra?”.
O projeto recebeu o apoio da Prefeitura?
Sim. Apoio para o conceito do projeto, convite
para colocá-lo no Agosto
Negro, ajuda para a burocracia etc... Mas nenhum dinheiro.
Estou pagando todo o projeto. É importante que isso seja
dito porque penso que seria muito oportunista mexer com
esse tema de ser patrocinada! Faço muitos trabalhos comerciais
e acredito que de vez em quando é preciso fazer uma
coisa pessoal, que não vise ao lucro: um trabalho
“para afirmar minha existência” como disse Dostoiévski.
Como nasceu a idéia deste projeto?
Meu filho, João
Wainer, é fotógrafo e fez um belo trabalho no Carandiru
publicado em livro no ano passado: Aqui
dentro – Páginas de uma memória – Carandiru, por Maureen
Bisilliat, André Caramante, João Wainer, Editora Imprensa
Oficial do Estado de São Paulo). Acompanhando o
trabalho dele fiquei fascinada pelas facas usadas dentro
do presídio. E comecei todo um trabalho em cima de facas,
violência, e o tema foi andando e mergulhei nesse universo
onde a banalidade do mal é cotidiano.
Como avalia a política cultural do
Governo com relação às artes plásticas?
Ih! Tô fora! Não avalio nada nem acho que
exista política cultural do Governo para as artes plásticas
e nem acho que tenha que ter!
Veja
também:
- Licença, senhor S.A.
Intervenção urbana de Pinky Wainer