OLHAR
SOBRE OS MUNICÍPIOS
RIO DOS ÍNDIOS (CEARÁ-MIRIM)
Um resquício indígena no vale do
Ceará-Mirim
Por
Alcides Sales*
A
população da comunidade de Rio dos Índios, no município de
Ceará-Mirim, descende diretamente de indígenas, apesar de
que sua memória coletiva não conserva a consciência destas
origens. Ferreira Nobre, primeiro historiador da região, registrou
a presença de 700 índios na localidade. Sua fonte foi o censo
de 1835, embora este já estivesse
desatualizado na época da pesquisa, posto que a edição de
seu livro Breve Notícia da Província do Rio Grande do Norte
só ocorreu em 1877.
A
comunidade foi conhecida até a primeira metade do século XX
como Veados. Em 1930, o agricultor Ubaldo Bezerra registrou
uma nova propriedade sua com o nome de Rio dos Indios, tirado de um canal aberto alguns
anos antes pelos moradores da comunidade, que ainda eram reconhecidos
como indígenas. O canal tinha o objetivo de drenar a água
dos rios que inundam o vale nos invernos, tornando impraticável
a agricultura nas suas terras.
Pouquíssimos
indivíduos de pele escura possuem terras no vale do Ceará
Mirim, com a exceção da maior parte dos habitantes de Rio
dos Índios, o que parece confirmar sua origem. A Lei de Terras
de 1850, que mandou redistribuir as terras indígenas, deve
ter confirmado esta posse. São pequenas faixas que começam
próximo à BR-101 e terminam dentro do vale.
Esta
posse é constantemente ameaçada por poderosos locais, especialmente
o ex-Senador Geraldo Melo, detentor de um enorme poder e influência
no município e cuja esposa é atualmente prefeita da cidade.
Eles se valem da inexistência de títulos de posse de boa parte
das terras e extendem descaradamente suas cercas, grilando
as propriedades dos habitantes da comunidade, que não têm
como se defender.
*Professor
e desenhista
Veja
também:
-
Ceará-Mirim e Maracajaú: Caravana de Direitos
Humanos em comunidades e assentamentos da zona rural
- MARACAJAÚ (MAXARANGUAPE).
O turismo só traz miséria e devassa o meio-ambiente