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Tecido Social
Correio Eletrônico da Rede Estadual de Direitos Humanos - RN

N. 017 – 20/12/03

ENTREVISTA

Evanize Sydow

(Jornalista da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos)

"Em 2003, a situação dos Direitos Humanos no Brasil piorou em muitas áreas"

Por Antonino Condorelli

O relatório "Direitos Humanos no Brasil 2003" se refere à situação dos Direitos Humanos no primeiro ano de Governo Lula. Houve alguma mudança significativa, estrutural na sociedade brasileira com relação às violações dos Direitos Humanos?

Depois de acabar o relatório e fazer um balanço do que foi 2003 no âmbito dos Direitos Humanos, a conclusão à que chegamos foi que existiu uma expectativa muito grande na sociedade brasileira mas esta - infelizmente - não foi atendida. Em algumas áreas, 2003 foi pior do que os três anos anteriores (2000, 2001 e 2002): por exemplo, com relação aos assassinatos de indígenas, cujo número este ano aumentou muito. Onde houve alguma mudança, foi com relaço ao trabalho escravo. O Governo está se empenhando em erradicar este fenômeno, e o fato de que o Secretário Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Nilmário Miranda, use a expressão "erradicar" ao invés que a tradicional "combater o trabalho escravo" é sinal desta mudança de atitude e de pensamento. Na prática, houve um aumento significativo na fiscalização de fazendas denunciadas por trabalho escravo e um aumento de trabalhadores libertados, que foram quase 8.000. Só que, segundo os nossos cálculos, por cada trabalhador libertado existem outros três sendo escravizados, portanto o que se faz ainda é muito insuficiente. Em geral, nossa análise é que o ano de 2003 não foi bom na área dos Direitos Humanos.

O Governo Lula afirma ter colocado os direitos econômicos, sociais e culturais no mesmo plano dos civis e políticos, realizando desta maneira uma mudança. Isto é verdade? Como foi a situação neste âmbito?

Também não houve melhoras. No relatório há alguns artigos sobre a questão da dívida externa e os Direitos Humanos: estes mostram que realmente não houve nenhum avanço nesta área. Como também não houve na questão da militarização dos Estados Unidos, que atinge o Brasil através da base de Alcântara, no Maranhão: o acordo com a superpotência foi engavetado pelo Governo. Nossas conlusões são que, também no âmbito dos direitos econômicos, sociais e culturais não houve nenhuma melhora.

Na sua opinião, quais são as razões destas expectativas traídas?

Eu acho que é falta de vontade política. É verdade que vimos de oito anos de governo neoliberal que fez muitos estragos na questão dos Direitos Humanos e que, portanto, a tarefa não é fácil, mas quando vemos esta situação piorar, obviamente só podemos concluir que não houve vontade. Lógico que não podemos generalizar e dizer que não houve vontade de fazer nada: houve vontade real de mudar em determinados aspectos, mas na prática não se produziram melhoras substanciais.

Qual é o papel da sociedade civil organizada na luta pelo respeito dos Direitos Humanos?

Existem entidades que fazem o papel do Estado e outras que lutam para que o Estado assuma o seu papel. A Rede Social de Justiça e Direitos Humanos tem esta segunda posição: trabalhar para que o Estado cumpra seu dever. O nosso trabalho está fundamentado em denúncias e em educação popular: formar o cidadão para que ele vá atrás de seus direitos. Nós trabalhamos e acreditamos muito na formação: não dar o peixe, mas ensinar às pessoas a pescarem. A intenção deste relatório anual que produzimos é dar visibilidade às questões relativas aos Direitos Humanos para que outras entidades - não só nacionais, mas também internacionais, como a Organização dos Estados Americanos, a Organização Internacional do Trabalho, etc. - passem a exercer uma pressão sobre o Governo brasileiro.

Veja também:
- Lançado no Rio Grande do Norte o relatório Direitos Humanos no Brasil 2003
- DIREITOS HUMANOS NO BRASIL 2003

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