30.10.1974
Anotações
Inéditas de Mércia Albuquerque
Júlio
Santana está bem doente. Acredito que morrerá no cárcere. É uma lástima
que isto aconteça.
O
velho camponês apodrece no presídio Barreto Campelo, o Dr. Kleber, que é o
diretor, burríssimo, pior do que os alunos do Mobral, e para se manter na
direção do presídio, persegue os presos políticos, já que nada de
positivo pode apresentar.
Eu
não tolero esse animal disforme, que de homem só tem o nome, esse verme
fedorento.
Maltrata
os presos comuns, tortura, inclusive é acusado de assassinato e corrupção.
É
imoral, vive com uma assistente social desquitada, leviana, menos burra que
ele.
Apelo
para todos os santos, já que hoje o dia é consagrado, para que venha uma
anistia. Já é tempo de se abrir os cárceres, onde centenas de jovens
apodrecem.
Entre
a morte e a prisão, fico com a primeira.
Prisão é morte do físico, da alma.
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