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AGOSTO DE 1974

Como sempre o jornaleiro, nos domingos, toma o café da manhã comigo, é um garoto de 12 anos, hoje trouxe-me um peixe, um Beta de presente, perguntei-lhe o porque do presente, respondeu-me, a senhora anda triste e minha mãe de terreiro mandou que lhe trouxesse este peixe, que iria lhe trazer alegria, pois está preparado. Fingi acreditar no poder do peixe, e fiquei comovida com a preocupação dele por mim.

O clima da repartição é de terror, de pânico, o irmão do Gel. Theobaldo, Gilson Calábria, cumprindo ordens do Secretário dos Transportes, Abelardo Neves, continua demitindo, e usando expressões violentas com os funcionários.

Não desejo que ontem, se faça hoje, nem que o hoje se faça amanhã.
Se ontem voltar a ser hoje, há o regresso, se hoje se fizer amanhã há também o regresso. Tudo que se desloca do tempo, logo se faz ilógico.
Não me arrependo de nada do que fiz, porque tudo o que fiz em minha vida, certo ou errado, fiz bem intencionada.

Estou muito preocupada com Samuel, preso, sem regalia, tuberculoso, pobre e, sobretudo só. Tem apenas algumas recordações de uma adolescência turbulenta, e de uma amor que partiu quando mais precisava. Resta-lhe a mãe, Severina, uma operária velha, mas de uma coragem que me contagia.

Este governo de Moura é uma anarquia, as repartições foram invadidas por um bando de rapazes, sem experiência, e sem bons propósitos, uma loucura nas repartições, o Eraldo ressuscitou múmias, trouxe os auxiliares dos museus e o Moura dos Jardins da Infância.

A campanha contra o Cel. Menna é violenta, o público e várias áreas de segurança contra ele. É protegido do Secretário de Segurança, Rui Lobo, e do Cel. Jaime do SNI, mas a situação dele é insustentável, a idade toda contra ele, e burramente não recua, é uma asno, ruidoso,, obstinado.

Tenho recebido muitas propostas de emprego do MDB, não tenho aceitado, não será correto.

Dr. Farias se acha muito nervoso, há momentos que está em pânico; Ninguém quer morrer, apesar da consciência plena, da inevitabilidade da morte. Farias é comerciante e se diz doutor, pe desajustado, e diz publicamente ser o homem forte da segurança

Agosto de 1974

Hoje fiquei sensibilizada, ia despreocupada pela rua quando um rapagão me abraçou e beijou-me. Assustei-me e quando olhei, descobri no homem os olhos do menino que fora meu aluno há 15 anos passado Robeato Helme, hoje concluinte de engenharia, conversamos, rimos, fomos felizes, ele voltou a ser a criança e eu a jovem.

Roberto Furtado- é um amigo, tem sido muito correto comigo. Tem se dedicado à luta pela liberdade, do perseguido político. Sempre me apoiou e não se deixou envolver nas fofocas de Paulo Cavalcanti, que sempre procurou denegrir a minha dignidade.

Tenho que ser prudente, há muita gente do DOI, indo visitar Artur.

Aradin detesta meus clientes, ele acha que os clientes me põem em risco.

Faleceu hoje Helenira, filha de Artur Geraldo Bomfim, em Salvador. Quando Artur foi preso, a garota estava com seis meses, fazia um ano que não via a filha, pois acompanhou a mãe, que passou a viver escondida para não ser presa.
Hoje 15, fui dar notícia a Artur, que começou a tremer, e não vou esquecer a máscara de dor que se estampou em seu rosto.
Quando me aproximei da grade, Poe-se de pé no centro da cela, parecia um leão ferido, era como se já soubesse tudo.
Falei com o Tte. Joseberto para providenciar logo um médico, que ministrou-lhe um coquetel. Saí arrasada, mais morta, morri um pouco. Regressei no fim da tarde, e procurei conversar com ele, melhorou muito, fiquei firme, equilibrada, procurei chamar-lhe à razão,fui rude, a fim de fazê-lo voltar ao normal. Saí muito nervosa, confundida, com tudo.

Ivanildo Sampaio Xavier, deseja falar-me com urgência, acredito que vai estourar novos problemas em Itamaracá.

,, 13 oris Trindade- Fernando Tasso de Souza- Rui Antunes- Sergio Murilo- Cláudio César- Virgílio Campos- Apoiaram-me em todos os momentos, inclusive quando era presa.

Devo registrar que José Neves, sempre se movimentou, para me liberar quando era detida, levava revistas, livros e dialogava com o secretário, terminava me liberando (Presidente da OAB-PE).


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