Coleção Memória das Lutas Populares no RN
Hélio Vasconcelos

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Textos sobre Hélio Xavier de Vasconcelos

Depoimentos de Clara e León Góes

Hélio Xavier de Vasconcelos, para nós, o Vermelhinho! E nunca soube se o apelido era pela cor da pele ou pela ideologia... provavelmente os dois. Eu era pequena e a primeira notícia que tive dele, na vida, foi da sua prisão. Hélio estava preso em um quartel diferente do que estava meu pai. Ele conseguira um habeas corpus e tiveram que soltá-lo. Pegou a malinha e não andou um quarteirão, prenderam ele de novo. As famílias entraram em pânico com esse requinte dos golpistas. Meu pai que estava preso, esperando pelo dele, o habeas corpus que minha mãe conseguira, com o advogado. Armaram então um esquema de ir para Recife por estradas vicinais e, lá, pegar o avião para o Rio. Aqui nos reencontramos. Ele passava lá por casa nos finais de semana, aos sábados tinha a feijoada e domingo os passeios com as crianças: nós.

Vermelhinho era responsável por uma marca que esteve sempre associada ao período da ditadura: a alegria. A alegria permanecia em nossas vidas. Apesar do horror, do medo, dos sequestros, dos assassinatos, das notícias da derrota de um projeto de país que perdeu a guerra para isso que se vê hoje entre os políticos: nenhum respeito pela coisa pública.

Hélio era a alegria, um sujeito muito engraçado e meu pai era louco por ele. Contava histórias bizarras do sertão e extraia frases que transformava em bordões: “senta que o leão é manso” ou, “tá danado de bom, coronel”.

No carnaval, chegava de banho tomado, cheiroso, o cabelo ralo grudado na cabeça, todo lampeiro (como dizia Nena); vinha buscar papai. Iam ver os “tipos populares”. Chegavam quando o dia amanhecia... felizes! Mais ainda quando passavam por algum grupo da TFP (Tradição, Família, e Propriedade) com seus estandartes vermelhos colhendo assinaturas para alguma safadeza ou maldade. Meu pai se divertia, gritava “Comunistas” ! Eles ficavam loucos tentando convencer aos dois que, apesar dos estandartes, eram contra o comunismo.

Helinho chegava em casa branco. Professor, falava com moderação, não faça isso. Esses caras lutam, praticam artes marciais... vão dar uma surra na gente! Papai ria... iam assim, D. Quixote e Sancho, trocando de lugar pela vida a fora... trocando de lugar pela morte a fora... Mermelinho como minha irmã o chamava.

Clara Góes

 


Sobre Hélio Vasconcelos

Eu não posso dizer o que sei de Vermelhinho. Assim como não posso dizer o que sei do meu pai. Assim como não posso dizer o que sei de mim. Posso dizer: que sujeito engraçado! Que sujeito inteligente! Que amor o meu pai tinha por ele; e ele por meu pai.
Vermelhinho devia ter uns 53 anos quando me elegeu como seu guru musical. Eu tinha 12 e falava sobre Paulinho da Viola, Cartola, Chico Buarque entre outros. Éramos da mesma idade.
Vermelhinho morreu aos 12 anos de idade como Newton Navarro e Moacyr de Góes.

León Góes

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