Coleção Memória das Lutas Populares no RN
Djalma Maranhão

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Músicas para Djalma Maranhão
Edrisi Fernandes

Nas décadas de 30 e 40 no Brasil, o custo de produção de um disco era baixo e sua difusão majoritariamente gratuita, o que permitiu às gravadoras obterem lucros vantajosos. Com a sofisticação da técnica e o desenvolvimento da indústria fonográfica houve melhoria na qualidade das gravações, mas os custos de produção encareceram substancialmente, dificultando a divulgação das músicas menos comerciais.

Ao longo dos anos 50 as gravadoras foram deixando de investir em marchinhas, folguedos, folias, “bois” e outras músicas “brejeiras”. Apesar de algumas tentativas isoladas, a música mais folclórica passou a ser considerada um investimento fonográfico sem retorno; as multinacionais preferiam incrementar os lançamentos de música estrangeira, utilizando matrizes vindas do exterior, com custos reduzidos, numa prática que hoje se conhece como “dumping”. O lucro fácil passou a imperar no mercado, e com isso os artistas locais foram perdendo o espaço e o entusiasmo.

Dessa maneira ocorreu o declínio da música menos comercial, que perdendo apoio da indústria fonográfica e, consequentemente, dos meios de comunicação, acabaria não tendo mais condições de sobrevivência. Restava aos admiradores, além dos clássicos inolvidáveis, músicas como os sambas-enredo e sambas de quadra que, graças ao prestígio crescente das escolas de samba na capital federal (então, o Rio de Janeiro), não dependiam dos discos para se popularizar.

Na capital do Rio Grande do Norte, depois da Segunda Guerra Mundial o lazer das massas girava predominantemente em torno do futebol, do cinema e dos “forrós”. No período junino, quadrilhas eram realizadas nas ruas, resgatando memórias interioranas e ultramarinas. No primeiro ano da primeira administração de Djalma Maranhão (1956) fazia três anos que um grupo de danças folclóricas fundado pelo mestre Cornélio Campina da Silva (1908-2008) em 1935, e que em 1949 era conhecido simplesmente como “São João na Roça”, não fazia uma apresentação pública. O folclorista Luís da Câmara Cascudo sugeriu que a agremiação, que em meados dos anos 50 era informalmente chamada de “Grupo de danças cornelianas”, passasse a se chamar “Araruna” (nome de uma dança), e obteve de Djalma o apoio para seu registro oficial, passando o grupo a ser conhecido, a partir de 24/07/1956, como “Sociedade de Danças Antigas e Semi-desaparecidas Araruna”, sendo essa entidade regulamentada pelo decreto nº 50.517, de 02/05/1961. A sede foi erguida em regime de mutirão, com material doado pela prefeitura e em terreno doado por esta, no bairro das Rocas.

Na época dos mandatos municipais de Djalma, o estado do RN acordou novamente para o fato de ser privilegiado pela sua grande importância cultural no contexto brasileiro – com a “modernidade”, muita gente havia esquecido que, em 1928, Mário de Andrade havia visitado o Rio Grande do Norte e levado “o canto e o encanto” do “coqueiro” Chico Antônio para o mundo, junto com a memória de “bois”, catimbós e batuques de herança africana.

Sob o patrocínio de Djalma e com a inspiração de Veríssimo de Melo, Luís da Câmara Cascudo e outros entusiastas da cultura, Natal redespertou para o fato do RN possuir alguns dos mais tradicionais e autênticos grupos de autos populares e danças folclóricas e “folclorizadas” do Brasil, como Araruna, Besouro, Bode, Boi Calemba, Caboclinhos, Camaleão, Capelinha de Melão, Caranguejo, Chegança, Côco de Zambê, Congo, Jara, Maneiro Pau, Maria Rita, Mazurca, Miudinho, Mulher Rendeira, Pastoril, Pau Pereira, Reisado e Sete Roda, no primeiro grupo, e Polca, Valsa e Xote, no grupo das danças “folclorizadas” (com acompanhamento musical simples – geralmente sanfona e uns poucos instrumentos de percussão).

Homem do povo na acepção mais ampla da palavra, Djalma participava ativamente dos folguedos populares, e adentrava noites dançando em muitos deles. Em suas duas administrações municipais incentivou grupos de “índios” e “papangus”, prestigiou escolas de samba, estimulou a atividade de cordelistas, cantadores, compositores, instrumentistas, cantores e repentistas, não importando sua educação teórica. Procurou despertar o interesse das pessoas para os valores culturais populares, com apresentações de grupos folclóricos nas ruas e praças de Natal. Isso, por sua vez, repercutiu numa profusão de músicas sobre Djalma e para Djalma, nos mais variados estilos (baião, embolada, hino, jingle, marchinha, samba, xote, etc.), com música original ou parodiada. Muitas dessas músicas foram silenciadas à força, mas felizmente a memória pode mais.

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Selo Comemorativo dos 100 Anos de Djalma Maranhão, utilizado em nosso Memorial Online, Exposição Fotográfica, publicações, cartazes e material de divulgação.