Falando sobre a Exposição de Teotônio Roque
Lembranças
Lembro dos meninos correndo nos canteiros,
descalços e com os dentes estragados, abrindo sorrisos enormes. A vida
era só alegria.
Lembro da queda na rua, do choro no hospital, com
medo, gritando por mamãe, sem que deixassem ela ajudar na minha cura.
Lembro dos garotos vendendo picolé ou sonho de
noiva no sol escaldante da praia. Quando cresceram um pouco mais, alguns
passaram a vender drogas.
Lembro da primeira vez do amor. Da falta de
orientação de todos. E também da gravidez indesejada da vizinha M.,
com 12 anos.
Lembro das surras do pai de J. e da sua prisão
quando roubou uma caixa de chocolate no supermercado.
Tudo isso aconteceu com amigos da infância. Sei
que um enlouqueceu por causa das drogas; outro fugiu, cansou de apanhar
dos pais e foi procurar a felicidade em outro estado; alguns continuam
trabalhando em subempregos e poucos conseguiram estudar, fazer uma
faculdade e ocupar posições de destaque no disputado mercado de
trabalho.
Hoje, vejo as crianças que estão aí com fome,
cheirando cola, ou trabalhando (já com obrigação de levar alguma
coisa para casa, ajudando no sustento da família), ou sem freqüentar a
escola... e lembro dos amigos da infância, e percebo que todos somos
culpados por várias distorções sociais, e que temos muito a fazer,
muito a construir...
O Estatuto da Criança e do Adolescente está completando dez anos, é
um momento propício para fazermos uma avaliação crítica do nosso
papel enquanto cidadãos, vendo o que fizemos para melhorar este estado
de coisas ao longo desse tempo, e a partir de agora, diante dos graves
problemas ainda registrados, tomemos o partido da cidadania,
participando ativamente da luta por um mundo melhor.
Eugênio
Parcelle
Jornalista Amigo da Criança
e
editor do DN Educação, do Diário de Natal
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