Coleção
Memória das Lutas Populares no RN
Aldemir Lemos
Textos
sobre Aldemir Lemos
Caro
Roberto Monte,
Parabéns pela valiosa contribuição que é
o resgate da história de luta por justiça e igualdade
social desses bravos homens, entre eles, o meu pai Aldemir Lemos.
No entanto, sinto que a história ainda não está
completa, há um vácuo.
Ao meu ver falta a contribuição daqueles que também
sacrificaram sonhos e vidas para que estes homens pudessem fazer
o que fizeram e se tornarem o que são. Especificamente refiro-me
aos seus familiares, ou seja, esposas e filhos, indivíduos
que também sofreram as mazelas, perseguições
e toda a sorte de dificuldades impostas pelo contexto de um período
ditatorial.
Mais uma vez vejo que o papel e a contribuição das
mulheres destes homens, suas esposas, não foram valorizados
e reconhecidos pela história, partido e militância
política.
A família, para além de aderirem ao ideal político
desses grandes homens, acreditaram em seus sonhos abdicando dos
seus próprios, comprometeram seus projetos de vida, sofreram
resignadamente todas as ausências e negligências de
seus (maridos e pais) certamente impostas pela dedicação
dos mesmos à causa e à luta.
Tais famílias (esposas e filhos) também sofreram física
e simbolicamente, toda sorte de privação, perseguição,
humilhação e exclusão pelo fato destes homens
serem considerados indivíduos perigosos à ordem imposta,
por serem tachados de comunistas, revolucionários, loucos,
utópicos.
Neste sentido, suas esposas e filhos também foram marginalizados
e excluídos.
Gostaria apenas de ressaltar que por trás destes homens valorosos
há grandes, fortes e dignas mulheres (esposas) que por resiliência
e, mais especificamente, por amor e dedicação à
estes homens, suas lutas e suas causas, foram provavelmente quem
mais contribuíram com sangue, suor e lágrimas para
as transformações que aconteceram em nossa realidade
e nosso país.
Cabe a elas o merecido lugar na história e o justo reconhecimento
de papel.
Um abraço.
Cláudio Neves, filho de Aldemir Lemos
Qual
a luz que me fez ser?
Cláudio Neves
Encontrei um texto que escrevi para meu pai em 2008 em seu aniversário.
Nunca tive coragem de mostrar a ele e a ninguém. Se você
quiser avaliá-lo e achar conveniente para o DVD fique a vontade.
Lembro-me de todas as incertezas, angústias e medos que permearam,
para além da dura e concreta realidade em que vivíamos,
os nossos sonhos.
Foram noites difíceis onde a construção de
um “PonTo” de luz na imensidão de um céu
tenebroso parecia-nos impossível apontar uma saída
das trevas.
Trilhamos dimensões complexas e obscuras entre o que era
possível fazer e o que sonhávamos realizar.
Assim foi a nossa trajetória sob a luz emitida por algumas
estrelas, sempre coerentes e focadas em um “PonTo”,
sem perderem o rumo e a retilinearidade do brilho de suas convicções.
Estrelas que clareavam - em uma perspectiva de maior abrangência
e singularidade - uma multidão de outras estrelas que ainda
nasciam e pairavam sem cor, sem força, sem futuro, portanto,
naquele momento sem perspectiva de emitir brilho.
Por onde andam as verdadeiras estrelas que - por emitirem luz própria
- tornaram o medo de um o futuro tenebroso em sonhos alentados por
uma esperança luminosa?
E por que hoje nos permitimos estar sob a luz de satélites
que apenas refletem um brilho que não lhes pertencem?
Será que cedemos o espaço da claridade dos sonhos
a uma iluminação ofusca e indireta de satélites
vagueantes por órbitas aleatórias que só desejam
o poder?
Ou quem sabe, nos permitimos cegar a vista da sensação
de vida, de sonhos e de futuro? Isto não é próprio
e condizente aos que descendem do pó dessas grandes estrelas?
É impossível a quem não emite luz enxergar
com clareza e muito menos iluminar com densidade!
Parece que hoje nos encontramos à mercê de uma cegueira
por ausência de luz, por incapacidade nossa de ver além
da escuridão e por impropriedade de quem pensa que brilha,
onde na realidade, só conseguem refletir meros lampejos!
Hoje nossa fonte luminosa não são mais estrelas distantes
da terra a vagar pelo universo infinito.
Ainda temos a dignidade dessas estrelas que se tornaram os faróis
que nos "aPonTam" o caminho onde devemos aportar o nosso
futuro.
Herdamos o dever de manter a luz sempre acessa para os que ainda
estão por vir.
Hoje o que nos resta ainda é poder contar com os velhos baluartes
detentores da luz: esses incansáveis e resilientes faróis!
Para a sorte de nossa visão limitada, eles ainda resistem
imponentes e resistentes ao tempo, pois estão fixados em
rochedos de dignidade e ainda persistem na hercúlea tarefa
de iluminar a vida de quem se aventura na imensa escuridão
de um mar de sonhos sem ter que recorrer a rastros de estrelas cadentes.
Para o farol que iluminou o caminho de minha conscientização
do que é ser gente, meu pai Aldemir Lemos.
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